Operador do PMDB e ex-funcionários da Petrobras são condenados

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – O ex-diretor da Petrobras Jorge Luiz Zelada foi condenado a 12 anos e dois meses de prisão pelo juiz Sergio Moro, que comanda as atividades da Operação Lava Jato na Vara Federal de Curitiba. Zelada, que negou as acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por propina em contrato da estatal e não fechou acordo de delação premiada, poderá entrar com recurso. Na decisão, Moro afirma, ainda, que parte da propina foi repassada ao PMDB.
 
Na sentença, Sergio Moro acolheu a tese dos procuradores da força-tarefa, condenando, ainda, o ex-gerente da Petrobras, Eduardo Musa, à época funcionário de Zelada, a 11 anos e oito meses de prisão; o lobista João Augusto Rezende Henriques, o operador do PMDB no esquema e aliado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ); e Hamylton Pinheiro Padilha Junior e Raul Schmidt Felippe Junior, que teriam distribuído a propina aos funcionários da estatal, por meio de empresas em paraísos fiscais na Suíça e em Mônaco.
 
Eles foram acusados de receber ao todo US$ 31 milhões de propina em troca de facilitar a obtenção do contrato por navios-sonda, entre eles o Titanium Explorer, da americana Vantage Drilling, em 2008. 
 
“Segundo a denúncia, o acusado Jorge Luiz Zelada, na condição de Diretor Internacional da Petróleo Brasileiro S/A ­ Petrobrás, e o acusado Eduardo Musa, gerente da área internacional da Petrobras, teriam aceitado receber propina de cerca de trinta e um milhões de dólares do acusado Hamylton Padilha e do acusado originário Hsin Chi Su Nobu Su, para favorecer a contratação, em 22/01/2009, da empresa Vantage Drilling Corporation para afretamento do navio­ sonda Titanium Explorer pela Petrobrás ao custo de USD 1.816.000.000,00”, diz o despacho.
 
A distribuição do dinheiro teria ocorrido da seguinte forma: “Parte da propina foi repassada a Hamylton Padilha que se encarregou de pagar Jorge Luiz Zelada e Eduardo Musa e outra parte da propina foi repassada a João Augusto Rezende Henriques que se encarregou de distribuir a parte que caberia ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro ­ PMDB”, aponta a sentença.
 
Também é mencionado no despacho de Sergio Moro o mesmo esquema de corrupção referente a outro contrato, celebrado em 2008, no Rio de Janeiro, no valor de 15,5 milhões de dólares entre a Valencia Drilling Corporation, sedida na Ilhas Marschall, e uma off-shore controlada por João Augusto. Nessa negociação, a propina também seria destinada a Hamylton Padilha e ao partido de Cunha, ainda que o processo não obtivesse informações “de como os valores teriam sido repassados por João Henriques ao PMDB”.
 
Zelada foi o indicado pelo PMDB à Diretoria Internacional da Petrobras, assumindo o cargo após a saída de Cerveró, de 2008 a 2012. Foi preso em julho do ano passado, na 15a. fase da Lava Jato, denominada Conexão Mônaco, em referências às contas bancárias daquele país. Uma das motivações para a prisão do ex-diretor foi sua ligação com o consultor Raul Schmidt Felippe Júnior, que trabalhou para o estaleiro coreano Samsung, em um contrato em que surgiram indícios de pagamento de propina também ao PMDB.
 
Em depoimento ao juiz Sergio Moro, Eduardo Musa afirmou que na negociação para o navio Petrobras 10.000, Padilha explicou que seria cobrado um valor “em que estaria incluído o diretor e o pessoal que apoiou ele”. “E quem seria o pessoal que apoiou ele?”, questionou Moro. “Depois foi me dito pelo João Augusto que era o PMDB mineiro”, respondeu à Justiça o acusado.
 
“Ao final do depoimento, o acusado admitiu que, em outro contrato da Petrobrás, relativamente à aquisição pela Petrobrás do campo de exploração em Benin, teria efetuado transferência bancária, a pedido de terceiro, para conta no exterior que pertenceria a um agente político, o Presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Consentino da Cunha, já acusado em outra ação penal perante o Supremo Tribunal Federal”, destacou Moro.
 
“Agrego, além dos indícios de profissionalismo na prática de crimes de corrupção e lavagem, a
gravidade em concreto não só do crime que é objeto da presente ação penal, mas dos crimes por ele admitidos como o pagamento de propina ao atual Presidente da Câmara dos Deputados, terceiro na linha da sucessão presidencial”, concluiu o juiz na sentença.
 
Leia a decisão na íntegra:
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

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  1. Duras penas
    No mesmo dia de hoje, noticia-se a condenação de mais de 10 policiais militares do Rio a penas entre 10 e 13 anos de prisão pela bárbara prisão, tortura e morte do pedreiro Amarildo. Ou as penas dos torturadores assassinos foram muito brandas ou as dos condenados pelo juiz Moro muito severas: semelhantes é que não poderiam ser.

  2. Auditoria da Pricewaterhouse na Petrobras servia pra quê?

    Milhões sendo desviados da Petrobras e a auditoria britânica Pricewaterhouse não sabia de nada? Por que Moro não chamou os auditores dessa empresa para se explicarem? Esta é um questão que pouco se fala na Lava Jato. 

    Outra questão, que poderia virar post neste blog: O jornal Clarín anuncia que aumento da energia na Argentina chegará a 700%.  Mais informações no link a seguir: http://tijolaco.com.br/blog/o-aecio-argentino-mostra-o-que-e-a-direita-no-poder-700-a-mais-na-conta-de-luz/

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