Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
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Os Amanticidas estão chegando, por Aquiles Rique Reis

Os Amanticidas estão chegando, por Aquiles Rique Reis

Estão chegando Os Amanticidas*. Sugiro a vocês, leitora e leitor, que reservem alguns dinheiros para ouvi-los. São quatro os Amanticidas: Alex Huszar (voz e baixo), João Sampaio (guitarras, bandolim e cavaquinho), Joera Rodrigues (bateria) e Luca Frazão (violão de sete cordas). Eles estão chegando com Os Amanticidas (independente, com apoio do ProAC), CD de estreia, cujo título traz o próprio nome.

Jovens, criando uma sonoridade pessoal e intrasferível, o quarteto demonstra a que veio. E notem, já em seu primeiro trabalho. O som que criaram para representá-los mescla tradição (frevo, baião, canção, samba) com modernidade (pop, roquenrrol). Têm uma sonoridade que se presta tanto àquela quanto a esta.

Com exceção de uma, “Traste”, de autoria de Talismã, o repertório do grupo é todo autoral. São sete de Alex Huszar (sendo uma, “Quero Me Casar”, em que musicou versos de Carlos Drummond de Andrade, duas de João Sampaio e uma de Luca Frazão.

Todos os arranjos foram concebidos coletivamente. A percepção de cada acorde antecipa o que pretendem imprimir do início ao final da melodia e da harmonia. As levadas parecem ser mastigadas e digeridas a cada compasso. E assim é. Os Amanticidas encontraram uma forma consciente e premeditada de revelar o que têm em mente. Assim enriquecem suas músicas e suas ideias.

Bons instrumentistas, cada um tratou de dar o melhor para que seus sons cumprissem a função que inspirou e levou-os ao ofício. Os instrumentos soam bem, em desenhos uníssonos e também abertos. Os solos reforçam a pegada pop, tornando nítida a parceria com Paulo Lepetit, produtor do disco.

Seja através dos solos vocais de Alex Huszar, seja em participações vocais de Tom Zé e Arrigo Barnabé, e das flautas e pífanos de Clara Kok ou dos teclados de Rafael Montorfano, as músicas ganham força.

Por falar nisso, não posso deixar de mencionar a voz do solista: por vezes lembrando Siba, em outras Raul Seixas ou Itamar Assumpção, Huszar, apesar de ser competente, ainda carece de um pouco mais de pessoalidade. Digo isso porque vejo nele um grande potencial a ser lapidado. Aguardemos o segundo CD do grupo.

Prontos para se equiparar àqueles seus iguais, cuja música, assim como a deles, é feita hoje em São Paulo, certamente Os Amanticidas contribuirão para fortalecer e ampliar a histórica vocação para o vanguardismo da pauliceia, uma de suas virtudes incontestes.

Apesar da pouca duração do CD (dez músicas em menos de trinta e sete minutos), nele coube todo o início da história dos quatro rapazes e de seus extensos horizontes: ver a música como redenção das mágoas do mundo, cantar e tocar para ver-se melhor. Suas verdades soam sem dor, nem agonia. A cada acorde, a cada palavra, despem-se e nos fazem crer que ali estão seus presente, passado e futuro. Assim eu percebo Os Amanticidas.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

* O nome do grupo é uma homenagem a Itamar Assumpção, autor de “Amanticida”, gravada por ele no LP Às Próprias Custas S.A (1983).

Aquiles Rique Reis

Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

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