Os dois lados da violência contra a mulher

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Governo interino indica “defensora da vida” para secretaria de Mulheres

Jornal GGN – Em meio aos debates sobre o caso de estupro coletivo ocorrido no Rio de Janeiro, apenas agora as autoridades em Brasília começaram a mostrar sua reação, mostrando-se chocados com relação a isso e pedindo a “devida punição” aos criminosos envolvidos.

O que se fala com um pouco menos de amplitude são os projetos na fila para votação no Congresso Nacional que não só colocam esse choque em dúvida, como pretendem dificultar o atendimento às vítimas.

Texto publicado no site HuffPost Brasil indica que, em 2015, o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) elaborou um projeto que não só retoma a necessidade do exame de corpo de delito para comprovar a violência sexual antes do atendimento médico, como retira o acesso à pílula do dia seguinte do atendimento à vítima. Segundo a revista Época, um dos autores desse projeto é o líder do governo interino na Câmara, deputado André Moura (PSC-SE), e contou com a assinatura de outros 13 deputados. A proposta foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara em outubro, e deve seguir para votação.

Atualmente, o aborto legalizado só é autorizado em casos de estupro, quando o feto é anencéfalo e quando o bebê impõe risco à vida da mãe. Exigir um boletim de ocorrência da vítima aumenta o nível de constrangimento da vítima, o que pode fazer com que ela apele a abortos clandestinos. Sem contar que muitos casos de aborto não são registrados pelo fato de policiais não acreditarem na palavra da vítima.

Em seu twitter, o presidente interino Michel Temer disse repudiar “com a mais absoluta veemência o estupro da adolescente no Rio de Janeiro”, e que serão tomadas medidas efetivas para o combate à violência contra a mulher. Ao mesmo tempo, anunciou a criação de um departamento na Polícia Federal para a coordenação de informações estaduais e de ações no país sobre o tema.

E Temer – que, sob a justificativa de redução de custos extinguiu o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e da Ação Social – também divulgou essa semana que haverá a Secretaria das Mulheres. Novamente segundo o HuffPost Brasil, o nome indicado para assumi-lo é o da ex-deputada e atual presidente do PMDB Mulher, Fátima Pelaes (AP), evangélica e considerada “defensora da família e da vida desde a concepção”, e que protagonizou algumas reportagens sobre desvio de verba do Ministério do Turismo em 2011.

Em mais um sinal de contradição, na quarta-feira, o ator Alexandre Frota – que já protagonizou filmes pornôs, além de ter assumido um caso de estupro de uma mãe de santo em rede nacional, conforme apontado por Mario Magalhães em seu blog no UOL – foi recebido pelo ministro interino da Educação, Mendonça Filho, junto com representantes do movimento Revoltados Online, para apresentar “propostas”. 

Enquanto vemos o Brasil dar uma guinada expressiva em direção ao conservadorismo, à falta de espaço para debate nas escolas e à falta de autonomia das mulheres sobre seus corpos, é preciso lembrar sempre que uma mulher é estuprada a cada 11 minutos no Brasil. E que 86% das mulheres brasileiras já sofreram algum tipo de assédio em público, conforme pesquisa da organização internacional ActionAid, e publicada na Agência Brasil.

E em 27 de maio, como lembra Cláudia Collucci em sua coluna na Folha de São Paulo, se completa 1 ano do estupro coletivo de quatro meninas em Castelo, no Piauí.

 

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

9 Comentários

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  1. O Universo com a ajuda de

    O Universo com a ajuda de alguém de uma hora para outra debruçou sobre a imprensa golpista um monte de informações que deixa claríssimo como este governo usurpador é retrógrado, indecente e imoral. Jamais preocupado com mulheres pobres e vulneráveis da periferia, temer demorou-se em perceber que este assunto do estupro lhe dizia respeito, ele que trata só com mulheres belas, recatadas e do lar. Não sei o que está acontecendo com o PIG mas creio que estão prestes a se ferrar de alguma forma e estão tomando auto vacina. FORA TEMER!FORA PIG!

  2. A CCJ alterou o projeto. Esta notícia está desatualizada

    A oposição (esquerda) propõs alterações ao projeto na CCJ, que foram incorporadas ao projeto original.

    O profissional de saúde não será penalizado por conscientizar ou prescrever medicação abortiva, diferente do que poderia ser interpretado no projeto original.

    E o exame de corpo de delito fica obrigatório não para antes, mas depois do atendimento médico.

    Acredito que a matéria desconsiderou a tramitação e divulgou os aspectos do texto original. Não passaram!

    Segue texto detalhado e notícia do portal da Câmara, onde inclusive a Dep. Maria do Rosário recebeu com alívio as alterações do texto:

    PL: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1399278&filename=Tramitacao-PL+5069/2013

    Notícia: http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/DIREITO-E-JUSTICA/498538-CCJ-APROVA-MUDANCA-NO-ATENDIMENTO-A-VITIMAS-DE-VIOLENCIA-SEXUAL.html

  3. Este é mais um caso para

    Este é mais um caso para enojar a sociedade brasileira. Este estupro deve provocar asco em cada cidadão.

    Agora,este caso não pode,como está sendo,ser usado para abafar o maior estupro do mundo que foi cometido contra mais de 54 milhões de brasileiros,curiosamente,sacando do cargo justamente uma mulher.

    Estes,que,agora mostram-se falsamente indignados,deveriam corar de vergonha ao utilizar este caso repugnante para abafar as gravações comprobatórias do estupro contra a democracia e contra a sociedade brasileira.

    Que se condenem todos os estupradores e,para alguns,ainda acrescente-se o crime de traição e lesa pátria.

    1. Metáfora por metáfora…

      Primeiro, o impedimento de Dilma virou golpe. Agora é estupro.

      Metáfora por metáfora, vai-se afundando cada vez mais no mundo da fantasia, onde tudo é permitido.

  4. TEMER QUER NOME

    TEMER QUER NOME, AINDA NO ENCONTROU O CARTÓRIO…. VAI SER HIPÓCRITA ASSIM NO INFERNO. UM CARA QUE ACABA COM O MINISTÉRIO DA MULHER , QUE PERMITE UM ALEXANDRE FROTA NA EDUCAÇÃO QUE DIZ PEGOU NÃO SEI QUEM NA FORÇADA, AGORA QUER  SE MOSTRAR PREOCUPADO? PRESIDENTE INTERINO IMBECÍL, ANTES QUE ME ESQUEÇA…  VAI PLANTAR BATATA NO CIMENTO PARA EU NÃO TE MANDAR PARA OUTRO LUGAR.

  5. Ontem estive no ato contra a

    Ontem estive no ato contra a cultura do estupro Alerj. Depois marchamos em direção ao ocupa MinC. É impressionante como as coisas estão se ligando no Brasil. A luta contra o estupro de mulheres se confunde com a luta contra o estupro da democracia
    PS: fiquei fascinado com a disposição de luta da mulherada aqui do Rio. São elas que estão no comando da resistência. Nós estamos a reboque. Essa que é a verdade

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