Os Filhos de Cornélia ou a História como Tragédia, por Pedro Augusto Pinho

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Os Filhos de Cornélia ou a História como Tragédia

por Pedro Augusto Pinho

Os irmãos Graco são parte da História da Roma antiga e mais conhecidos, talvez, pelo exemplo de sua mãe. Conta a lenda que recebendo em sua casa uma socialite, vaidosa e oca, como vocês conhecem várias bate panelas, coberta de joias, pergunta à Cornélia: onde estão suas joias? E a mãe de Tibério e Caio chama seus filhos e responde: estas são minhas joias.

E ambos mostraram a assertiva de sua mãe no futuro comportamento político.

“Os novos problemas sociais não podiam ser equacionados dentro das estruturas, que não abriam espaço para outros interesses senão os da oligarquia”, estarei comentando o Brasil do século XXI? Não, transcrevo da historiadora Maria Luiza Corassin, doutora pela Universidade de São Paulo, o início do capítulo “As Reformas de Tibério e Caio Graco”, de “Sociedade e Política na Roma Antiga” (Atual Editora, São Paulo, 2ª tiragem, 2011). São tantas as semelhanças das ações dos Graco, com as que ocorrem no Brasil atual, que meu caro leitor irá, com certeza, ter dúvida se reproduzo a obra citada ou descrevo nossa desdita.

Em 133 a.C., Tibério Graco era tribuno da plebe na República Romana.. A questão das terras públicas (ager publicus) estava na ordem do dia. Sua proposta reafirmava lei anterior fixando o limite máximo de ocupação destas terras por  família. Os senadores avançavam em muito mais do que permitia a lei e, com isto, criavam dificuldade para fixar novos proprietários que abasteceriam Roma e seriam eventuais guerreiros da república. Tibério foi considerado subversivo, os “ricos por toda parte se reuniam” temendo terem suas propriedades contidas nos limites legais. Armaram um “tumulto no dia da assembleia eleitoral”, Tibério foi assassinado e seus partidários perseguidos.

Mas não parou aí. Em 123 a.C. Caio assume o cargo de tribuno da plebe. As questões sociais se avolumavam. Existia um tribunal de júri, “composto de senadores, sempre parciais ou venais no julgamento de membros de sua própria ordem” Caio transferiu o júri para os “cavaleiros”, propôs cidadania romana para os latinos, incumbiu o Estado de fornecer os equipamentos dos recrutas e, com algumas medidas de alcance social, beneficiou os cidadãos e os comerciantes.

Mas a oligarquia senatorial, com manobras demagógicas, divulgando falsamente que Caio iria dividir privilégios dos romanos com outras etnias, assustou a plebe e incentivou cavaleiros e homens de negócio a abandonarem Caio. Estes, “que já haviam obtido o que desejavam, retornavam à aliança com os senadores, com os quais tinham afinidade social”. Não conseguindo se reeleger, considerado inimigo público Caio se fez matar. “O cônsul desencadeou uma violenta repressão contra os defensores dos Gracos. A oligarquia conseguiu naquele momento sufocar o movimento reformista, fortalecendo seu poder”.

A violência passou a ser o instrumento dos conservadores do Senado. Avolumavam-se os problemas sociais e políticos sem solução. “O Estado romano, nas mãos de uma oligarquia fechada e conservadora, não encontrava os instrumentos necessários para administrar um império cada vez mais complexo”. Começam a explodir movimentos reivindicatórios. “A vida política em Roma, na fase final da República, foi caracterizada por um clima de insegurança, sendo constantes perturbações por conjurações, assassinatos e tumultos nas ruas”. Campeiam as traições.

Os generais, vitoriosos em combates contra piratas e escravos e em guerras no Oriente, formam um triunvirato e termina a República.

É assim que caminha nossa república? Mas não serão os generais, os substitutos da oligarquia conservadora e corrupta.. Os representantes do poder financeiro já são estes magistrados. Para eles a insegurança jurídica foi fácil. Quem arriscará hoje investir em algum empreendimento produtivo? Quem fará algo diferente do que especular, sendo a nação a perdedora habitual?

Assim não veremos apenas o fim da república, mas do Estado Brasileiro.

Às panelas, às farsas, aos julgamentos sem prova, às ofensas e vão destruindo o Brasil. Os vencedores nem são brasileiros. Moram em locais que poucos conhecem e detêm mais riquezas do que 90% da população da Terra.

Os coxinhas, seus capitães do mato, seus agentes no judiciário não os conhecerão jamais. Mas continuarão cumprindo suas ordens para destruir um país, como os senadores destruíram a República.

É a nossa tragédia. Mais de 2000 anos após Roma republicana. 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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