Os neo-insatisfeitos de hoje, por José Roberto de Toledo

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Por José Roberto de Toledo

 
Do Estado de S. Paulo
 

Há uma pergunta que o Ibope costuma fazer antes de qualquer outra em suas pesquisas: “Como você se sente com relação à vida que vem levando?”. É para aproximar o entrevistador do entrevistado. Só depois dela, eles começam a falar sobre o que o instituto realmente quer saber. A pergunta quebra­gelo é essa porque seu resultado variava pouco ao longo dos anos. Era quase um “Como vai você?”. A resposta era protocolar. Não é mais.

Em dezembro do ano passado, mesmo após todo o acirramento provocado pela campanha presidencial, só 21% dos brasileiros se diziam insatisfeitos com a própria vida­ estavam dentro da taxa histórica. Este ano, a insatisfação teve um crescimento inusual. Foi a 35% em março e continuou no mesmo patamar em abril: 32%. Esse aumento é tão importante para explicar a perda de popularidade de Dilma Rousseff quanto o escândalo da Lava Jato.

Quem mais ficou insatisfeito de dezembro para cá foram pessoas de menor escolaridade e que ganham menos. Ou seja, os mais pobres. Mas não quaisquer pobres. Eles se concentram no coração da força de trabalho: têm de 25 a 45 anos. Também há insatisfação entre os demais brasileiros, mas ela cresceu menos.

O perfil dos neo­insatisfeitos sugere que eles estão sofrendo o efeito da desaceleração da economia. O aumento do custo de vida, puxado pelo reajuste dos preços da gasolina e da eletricidade, não é mais compensado por ganhos na renda. Para agravar o quadro, a oferta de trabalho tampouco é como era. Se ele perde o emprego, não é fácil conseguir outro, ou arrumar um bico.

Essa insatisfação tem motivos reais, objetivos, palpáveis. Não é fruto apenas de campanha da oposição ou de críticas dos meios de comunicação. Dilma fez uma correção de rota que pegou em cheio o seu eleitorado. Só ele poderia se decepcionar com quem ajudou a reeleger. É diferente de quem compôs a maioria dos que foram às ruas em 15 de março e, em menor número, no 12 de abril.

Por isso, quando inéditos 75% dizem ao Ibope que o Brasil está no rumo errado, há que se distinguir os motivos que levam uns e outros a fazer esse diagnóstico. Se indagados sobre qual o rumo certo, certamente não convergiriam todos para a mesma direção.

Novamente, quando se disseca as respostas dadas ao Ibope, percebe­se que quem mais mudou de opinião sobre os rumos do País do ano passado para cá foram os mais pobres, os menos escolarizados e os moradores do Nordeste. Ou seja, basicamente o perfil de quem votou, majoritariamente, em Dilma em 2014. Hoje, 79% de quem ganha de 1 a 2 salários mínimos acha que o rumo está errado, praticamente a mesma taxa de quem ganha mais de 5 salários.

No Sudeste, 80% acham que o Brasil está indo para o lado errado, mas já eram 58% em agosto de 2014. A principal mudança ocorreu no Nordeste (de 35% para 67%) e no Norte/Centro ­Oeste (de 40% para 76%). O impacto foi maior no interior do que nas metrópoles: 76% de quem mora longe dos grandes centros diz que o rumo do País está errado, contra 72% dos moradores das capitais.

O que garante que essa opinião é mesmo do indivíduo e não reflexo da influência de terceiros? Porque o público, para surpresa dos políticos, não é tolo. Ele sabe a diferença. Na opinião pessoal de 75%, o rumo do Brasil está errado, mas a taxa sobe a 82% quando o entrevistado diz que vê, lê ou ouve falar que o rumo do País não está certo. Ou seja, há pelo menos 7% que sabem o que a mídia e a maioria pensam, mas não concordam.

A maioria é pragmática e se move pelo bolso. Para ela, a vida piorou, mas não está insuportável. Levantamento do Ibope DTM nas redes sociais mostra que FHC tem razão: o impeachment está longe do ponto de fervura na opinião pública. Dilma precisa do ajuste fiscal no longo prazo, mas suas medidas vão produzir mais retração antes de reaquecerem a economia. Timing é tudo.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

18 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

    1. Respeito tua opinião, mas

      Respeito tua opinião, mas discordo em parte. Realmente, a mídia ao longo dos governos do PT foram, de longe, o maior vetor oposicionista em termos políticos-ideológicos. Exerceu, e continua exercendo, uma marcação insana e desonesta. Isso é inegável

      Foram exatamente as melhorias – indiscutíveis – na vida do povo que serviram de anteparo para essa perseguição. Tanto é que a façanha do PT em eleger quatro governos seguidos é inédita.  Mas um dia essa aliança amainaria porque, insisto, muito se lastreou em indicadores econômicos e sociais robustos. O que é perfeitamente normal e previsível. 

  1. É a versao que convém propagar…

    Para tentar fazer colar coisas como a pesquisa DataFolha, e dizer que até os eleitores de Dilma estao insatisfeitos, entao é a maioria. Acredita quem quiser e for muito tolo. 

  2. Parece mas não é

    Se a maioria dos “neoinsatisfeitos” está entre os de “menor escolaridade”, supõe-se que lhes falte instrumento para enxergar a economia brasileira em relação à mundial, é isso? Ou seja, quanto será que os efeitos de uma recessão mundial (que realmente está ocorrendo, como em muitas fontes mas também no artigo de próprio OESP/The Economist http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,muito-cuidado-nessa-hora,1672359) são compreendidos pelo “menos escolarizados”? E se depender do OESP para explicar que se trata de conjuntura internacional…

    Mas a ver as respostas às pesquisa realizadas durante os passeios dominicais de “Fora Dilma”, mesmo entre os mais privilegiados as noções de política e cidadania são, na verdade, desinformações. E se uma boa parte dos mais privilegiados clama por um “Fora Dilma” inconsequentemente, sem querer que Temer assuma, de onde será que vem essa desinformação geral a respeito do que é Democracia? Há que se dar um desconto, também, para os “de menor escolaridade” mas que, por ambição, fazem questão de serem vistos no passeio pelos de mais privilegiados. Casos particulares não costumam ser bons exemplos, mas no sábado anterior ao último passeio eu presenciei um balconista responder ao dono da loja: “Ok, chefe, nos vemos lá, então…” para em seguida se explicar a mim: “Chefe é bom a gente sempre agradar, né?”

    Ok, podemos supor que os de “menor escolaridade” não lêm jornais e nem acessam portais da mídia articulada com o poder econômico; mas seria absurdo afirmar que essa população não assiste ao Jornal Nacional. E ainda há uma parcela importante que apesar de estar frequentando curso superior através de algum programa de governo – FIES, PROUNI etc. -, ou seja, de não tão menor escolaridade, ainda assim expressa rejeição ao governo que inaugurou a atual escala dos programas de educação pública.

    Por tudo isso, por essas e por muitas outras, é que acho desfaçatez dos “donos da mídia” virem agora com essa história de “mas nós não falamos nada” ou “acredita na gente quem quer, ué”, ela me lembra de uma outra história: simplesmente tirar o Implicante do ar quando flagrado recebendo mensalão dos setores conservadores, simplesmente fazer cara de paisagem e interromper as obras do Metrô e do monotrilho, flagradas as denúncias de corrupção… lamento mas a alcunha de “picolé de chuchu” é inadequada para Geraldo Alckmin: o picolé apenas parece ser de chuchu, na verdade tem um sabor muio pronuncido e ruim… Mas voltando ao assunto e só para concluir, diria que não há pior do que a “cara de paisagem”, que a desfaçatez e a fuga da responsabiliade da imprensa tradicional por ter criado clima francamente antipetista na nossa sociedade, seja entre quem lê o OESP ou entre quem apenas assiste ao Jornal Nacional.

  3. Efetivamente, há insatisfação

    Efetivamente, há insatisfação no eleitorado com perfil de eleitor e eleitora de Dilma. Qual a novidade nisso? Os cidadãos e cidadãs não são masoquistas. Os aumentos principalmente na energia, na conta d’Água e nos combustíveis  foram de lascar. Essa questão do FIES para o segmento jovem também pegou mal, muito mal. 

    Ora, se há razões concretas para as insatisfações e ainda por cima tem um mídia a martelar diariamente e nas 24 horas que o Brasil está na beira do precipício, queriam o quê? 

    DIlma, infelizmente, fez um dos inícios de governo mais desastrosos e patéticos  da nossa história. Foi de uma arrogância ímpar, de uma ignorância supimba em termos de leitura de cenários(político, econômico e social) e de uma lerdeza paquidérmica na tomada de decisões. 

    Ainda continuo dando crédito a ela e acho possível que consiga, se não reverter de todo a confiança da população, mas pelo menos em  parte.

     

  4. A insatisfação com o governo encontra ninho até “dentro” do PT

    Siga o link: “Um Partido para os Tempos de Guerra

    “O Partido dos Trabalhadores está diante da maior crise de sua história. Ou mudamos a política do Partido e a política do governo Dilma; ou corremos o risco de sofrer uma derrota profunda, que afetará não apenas o PT, mas o conjunto da esquerda política e social, brasileira e latinoamericana.”

    (Contribuição da tendência Articulação de Esquerda ao 5º Congresso Nacional do PT)

    Abs

    1. pois é…

      de minha parte, acretido, porque visão da política atual sugere, cada vez mais convencido de que em 2018 estaremos no marco zero de uma nova política ( PT e PSDB chutados para fora do campo definitivamente )

      1. Não ficaria espantado com isso…

        Mas sinceramente preferiria que de alguma forma ambos se entendessem, e um governasse enquanto o outro faz oposição, à conformidade do encargo que receberam do povo.

        No outro dia percebi um certo interesse da tua parte na cultura da Galícia; meus pais são galegos e conheço bem aquela cultura. Um dos provérbios de lá diz assim: “Nin tanto arre! que fuxa nin tanto xo! que se pare.”

        Ou seja, em tudo, mas principalmente na política, as posições extremas não são produtivas.

        Abs

  5. O entrevistado respondeu;

    O entrevistado respondeu; “banana” e o comentarista, em sua leitura da resposta entendeu; “laranja”.  Está me parecendo mais, que o objeto da pesquisa foi estabelecer o alcance e eficacia  do esforço  midiático de desconstrução do governo Dilma, junto à nova classe média. 

  6. por mais que tentem, jamais conseguirão…

    desista PIG; se já não há mais nada para adicionar contra o governo, não invente

    só mesmo um grande idiota acredita que é possível encontrar uma grande exatidão com pesquisas

    pelo que me lembro, este tipo de pesquisa durante governos tucanos era coisa rara

    cagavam solenemente; praticamente nunca se interessaram em saber se o povo estava satisfeito ou não

    deve ser por isso que não sabem que a insatisfação também contribui para um bom governo

    1. tipo de exatidão…

      que todo perdedor quer como escudo

      misturam a porra toda, até insatisfação em relacionamentos políticos e entre poderes

      enfim, reclamam pela falta de uma exatidão que nunca existiu em nenhum governo

      1. mas, há seus motivos, dos que já de agora se protegem para 2018

        e repetindo as manobras de sempre, de circo, mágica, ilusão, e pesquisas e análises combinadas

        oposição que não evolui, nunca deixará de ser oposição ou mídia

        1. imaginem esses caras se relacionando numa boa com o governo…

          as chances para 2018 não seriam bem maiores?

          primitivismo do caralho; nunva vi acontecer na política de qualquer outro país “avançado”

          1. e digo primitivismo…

            porque o maior defeito, o mais antigo, de toda oposição, sempre foi o de entrar numa de tirar votos,

            e não de conquistá-los……………………………é por aí que a mídia está destruindo a oposição política

  7. e digo mais…………….como sempre diz o anarquista sério

    digo mais o seguinte: uma mídia como a nossa, em total liberdade, sempre atuou por e para ter um governo melhor

    nem diferente, com estes merdas que temos aí, nem igual

    2018 a todos surpreenderá ( podem escrever aí  e guardar )

  8. tá bom………………….mas se o banheiro está todo quebrado

    uma banheira daquele tamanho!? onde já se viu!? só você me faz sonhar cada mais pro fundo

    como é que vou tomar banho? de cuia?

    calada! não confunda! não diga nem queira que seja indo para a cucuia

  9. Há duas coisas, estar insatisfeito com a sua situação e ….

    A leitura da insatisfação da população brasileira está totalmente correta, primeiro porque há alguma quebra na economia e segundo devido a grande quantidade de propaganda contra o governo, porém há duas leituras que se pode fazer disto, a população está insatisfeita, porém não identificam na oposição uma saída para a sua insatisfação.

    Há pouco tempo o Facebook em conluio com uma universidade norte-americana fizeram uma pesquisa que foi pouco divulgada na Internet que dá o mapa da mina. Dividiram dois grandes grupos que liam notícias propostas pela Internet, e um grupo recebia mais notícias negativas do que o outro, após algum tempo verificou-se que o grupo que recebia notícias piores apresentavam sintomas de insatisfação.

    O grande mecanismo de criar insatisfação não é o Facebook nem o Google mas sim o YOUTUBE. Se entras com um só vídeo direitoso, e cinquenta que não o são, as sugestões que aparecem são totalmente induzidas e conduzidas para mais e mais vídeos de direita. Atualmente aliviaram um pouco, mas há duas ou três semanas estava incrível. Talvez a conversa da Dilma com o capo do Facebook tenha aliviado um pouco o esquema!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador