Palocci ainda precisa provar as acusações contra Lula, diz Kennedy Alencar

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – O jornalista Kennedy Alencar avaliou que o depoimento de Antonio Palocci a Lula é importante e tem impacto negativo sobre o ex-presidente. Mas repete a fórmula de Leo Pinheiro no caso triplex: numa tentativa desesperada de fechar um acordo de delação e deixar a cadeia, resolveu dizer exatamente o que agradaria o juiz Sergio Moro. Mas pecou na apresentação de provas e colocou a sentença do caso envolvendo a OAS em xeque.

Outro delator que resolveu entregar Lula para se livrar da cadeia foi Delcídio do Amaral. Mas hoje o próprio Ministério Público Federal em Brasília admite que a delação do ex-senador foi uma furada por carência de provas.

Por isso, aponta Kennedy, Palocci precisa apresentar provas do que diz contra Lula. Caso contrário, é palavra de acusador contra Lula.

Por Kennedy Alencar

Palocci não é Delcídio, mas precisa apresentar provas

O depoimento do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho causa dano político imediato ao ex-presidente Lula. Perante o juiz Sérgio Moro, Palocci disse ontem que Lula avalizou um pacto com Emílio Odebrecht que envolveria R$ 300 milhões em propina.

O testemunho do ex-ministro amplia o desgaste de Lula justamente no momento em que ele encerrava uma caravana pelo Nordeste que foi um sucesso político, algo que vitaminava sua tentativa de viabilizar a candidatura presidencial.

As acusações de Palocci devem fortalecer uma discussão discreta que já existe no PT a respeito de um plano B para 2018, caso Lula não consiga ser candidato. Hoje, os petistas cogitam como alternativas o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o ex-governador da Bahia Jaques Wagner. Fala-se mais em Haddad.

Do ponto de vista jurídico, houve um prejuízo, mas ele ainda será administrado e enfrentado pela defesa de Lula. Ontem, Palocci disse que o tal “pacto de sangue” entre Lula e Emílio Odebrecht teria sido relatado a ele pelo ex-presidente numa conversa no dia seguinte. Em outros momentos, indagado como soube dos fatos que tornou públicos, ele repetiu que os ouviu diretamente de Lula.

Portanto, mais uma vez é a palavra de um acusador contra a de Lula. O caso JBS está mostrando como é arriscado confiar na palavra de quem deseja se livrar da cadeia. Palocci deu um depoimento ontem que contraria falas anteriores dele. O testemunho também tem contradições com depoimentos de Marcelo Odebrecht e do próprio Emílio Odebrecht.

Palocci mudou a sua versão após quase um ano na cadeia e depois de ter sido condenado por Moro a 12 anos de prisão, situação semelhante à que aconteceu com Leo Pinheiro. É necessário que ele vá além das palavras e apresente provas, sob pena de Moro condenar Lula mais uma vez, como fez no caso do apartamento no Guarujá, fundamentalmente ancorado na palavra de um acusador. Naquele caso, que guarda semelhança com o tema debatido ontem, a compra de um imóvel para nova sede do Instituto Lula que acabou não se concretizando, Moro se baseou na versão de Leo Pinheiro.

Palocci é muito mais próximo de Lula do que Pinheiro, mas precisará ir além de expressões como “pacto de sangue” ou de dizer que palestras contratadas pela Odebrecht eram propinas, porque diversas outras empresas pagaram o mesmo valor para ouvir Lula. Essas empresas pagaram propinas também?

Mais uma vez, um acusador usa a palavra propina para definir toda a relação entre uma empresa e um político. Havia concordância ideológica entre a Odebrecht e Lula. A empresa achava importante disputar projetos na América do Sul e na África. Lula tinha interesse na integração latino-americana e via na África um mercado promissor para empresas brasileiras. A projeção geopolítica do Brasil nessas regiões incomodava interesses americanos, chineses e franceses.

Logo, colocar tudo num balaio de propina é dizer exatamente o que acusadores e Moro querem ouvir. O depoimento de Palocci tem gravidade, mas não pode ser comprado 100% pelo valor de face.

No áudio de Joesley Batista que veio a público, ele conta a Ricardo Saud que a saída é chamar todo mundo de bandido para dizer o que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, gostaria de ouvir. É óbvio que Palocci busca um acordo de delação premiada com o que falou ontem a respeito de Lula, Dilma e o PT.

Para rebater o ex-ministro da Fazenda, a defesa de Lula deverá manter a linha estratégica de que a obtenção de depoimentos contra Lula contraditórios com falas anteriores acontece após longo períodos de prisão, ferindo o devido processo legal. Portanto, é preciso cautela e ouvir Lula, que vai depor na semana que vem novamente perante Moro em Curitiba.

O testemunho tem peso porque Palocci possui proximidade política e pessoal com o ex-presidente. Foi o principal ministro do governo dele, teve papel de destaque na coordenação da campanha de Dilma em 2010 e atuou como chefe da Casa Civil no começo da gestão da petista. Palocci não é Delcídio do Amaral nem Leo Pinheiro.

Se não tivesse deixado a Fazenda em março de 2006, provavelmente teria sido ele e não Dilma quem Lula escolheria para disputar a Presidência em 2010. A defesa de Lula e o PT rebateram as acusações de Palocci, mas elas causaram e causarão ainda muito dano ao ex-presidente, à ex-presidente Dilma e ao partido. Palocci foi um importante arrecadador de recursos para o PT.

*

Um grande erro

A fala de Palocci também provoca prejuízo político e jurídico a Dilma. Palocci deu declarações que contestam a versão de uma Dilma que nunca soube de nada irregular. Segundo ele, ela tinha ciência da relação de promiscuidade com a Odebrecht.

Faz sentido a tese de que empresários que não tinham acesso a Dilma ou que temiam as políticas públicas dela fossem a Lula tentar estabelecer uma interlocução para os seus interesses no governo. A escolha de Dilma para sucedê-lo causou problemas a Lula, que era procurado por empresários que se queixavam de uma presidente inacessível e pouco disposta a ouvir.

Ironicamente, vai ficando cada vez mais claro que um dos maiores erros políticos da carreira Lula foi ter apontado Dilma para a sua sucessão em 2010. Além de ter realizado uma gestão desastrosa na economia, a personalidade forte e a inabilidade política da então presidente levavam corruptores como Emílio Odebrecht a buscar atalhos por meio do Instituto Lula.

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

19 Comentários

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  1. Kennedy Alencar é, pra mim,

    Kennedy Alencar é, pra mim, um dos maiores jornalista da televisão brasileira, senão o maior. Tem personalidade, é respeitado, e não abre a boca pra dizer asneiras. É, sobretudo, iparcial, quando nunca deixa ninguém ver nele um traço qualquer de partidarista. Quem dera outros jornalistas pensassem assim.

    Há pouco vi um vídeo de Boechart na rádio, muito extenso, referindo-se a Geddel e sua malas e caixotes cheios de dinheiro, mostrando-se indignado, como não poderia deixar de sê-lo. Todavia, vai ao passado, cita Geddel nos governos petistas, e para por aí, como se desconhecesse a passagem do baiano no governo de FHC. Refere-se a todos os escândalos produzidos pelas investigações da PF, e não dita uma linha sobre a meia-tonelada de cocaína. Na verdade, de todos os tucanos, embora não cite nome, aparece durante a reportagem, uma foto de Aécio. Outra coisa que distingue esse jornalista de um Kennedy é que ele tem duas caras: uma na rádio e outra na tv. 

    Certamente Palocci ganha credibilidade nas suas delações pelo envolvimento de amizade com Lula, mas daí a se achar que tudo que diz é verdade ganha distância, se para a justiça o que vale são provas, ainda não apresentadas, pelo menos por enquanto.

     

  2. O Erro Dilma

    E mais um avez, alguém acusa que o grande erro de Lula nesta história toda foi ter escolhido Dilma como sucessora.

    Uma pessoas arrogante, honesta demais e inidsposta e negociar regalias corruptas ao circulo de Poder do país, alguém que escolheu muito mal seu staff e teria dado preferência a pessoas que não a cobrassem e apontassem seus erros, José Eduardo cardoso sendo o exmplo máximo disso.

    Provavelmente tudo verdade. e é trsite ver que ser extremamente honesta e não aceitar negociar como corruptos ego´sitas seja algo negativa pra ser presidente, mas é o fato.

    Então Lula deveria ter escolhido outra pessoa. Quem?

    Marina Silva. Mil vezes pior que Dilma, ele fez bem em descartá-la. Mantega? Mantega não ganharia pra porteiro de prédio? Quem mais? Jaques vagner ainda era um desconhecido nacionalmente.

    Convenhameos, o sucessor natural de Lula sempre foi Zé Dirceu, mas este foi dinamitado no começo do Governo. E, pra ser bem sincero, nunca apareceu mais ninguém à altura. Outros possíveis sucessores, como Gushiken, Palocci e Genoíno foram igualmente destruidos e caçados pela imprensa e pelo Judiciário. ok, agora sabemos, graças a Deus não foi Palocci, o Silvério dos Reis do Século XXI.

    concluo que Lula escolher Dilma por ser a opção menos ruim que sobrou. Como dito, era alguém extremamente honesto, patriota e nem intencionado, e ótima gestora estatal. Bons sinais. Pena que em uma porcaria de país corrupto e coronelista como o Brasil, ser escelente gestora passe léguas de distância de ser excelente política.

    O drama da escolha de lula continua e, na verdade, é um drama d Brasil: Qual o grande estadista além de Lula? Não temos. nem no PT, nem no PSDB, nem na Esquerda, nem na Direita. Nunca fomos tão mediocres.

  3. O Erro Dilma

    E mais um avez, alguém acusa que o grande erro de Lula nesta história toda foi ter escolhido Dilma como sucessora.

    Uma pessoas arrogante, honesta demais e inidsposta e negociar regalias corruptas ao circulo de Poder do país, alguém que escolheu muito mal seu staff e teria dado preferência a pessoas que não a cobrassem e apontassem seus erros, José Eduardo cardoso sendo o exmplo máximo disso.

    Provavelmente tudo verdade. e é trsite ver que ser extremamente honesta e não aceitar negociar como corruptos ego´sitas seja algo negativa pra ser presidente, mas é o fato.

    Então Lula deveria ter escolhido outra pessoa. Quem?

    Marina Silva. Mil vezes pior que Dilma, ele fez bem em descartá-la. Mantega? Mantega não ganharia pra porteiro de prédio? Quem mais? Jaques vagner ainda era um desconhecido nacionalmente.

    Convenhameos, o sucessor natural de Lula sempre foi Zé Dirceu, mas este foi dinamitado no começo do Governo. E, pra ser bem sincero, nunca apareceu mais ninguém à altura. Outros possíveis sucessores, como Gushiken, Palocci e Genoíno foram igualmente destruidos e caçados pela imprensa e pelo Judiciário. ok, agora sabemos, graças a Deus não foi Palocci, o Silvério dos Reis do Século XXI.

    concluo que Lula escolher Dilma por ser a opção menos ruim que sobrou. Como dito, era alguém extremamente honesto, patriota e nem intencionado, e ótima gestora estatal. Bons sinais. Pena que em uma porcaria de país corrupto e coronelista como o Brasil, ser escelente gestora passe léguas de distância de ser excelente política.

    O drama da escolha de lula continua e, na verdade, é um drama d Brasil: Qual o grande estadista além de Lula? Não temos. nem no PT, nem no PSDB, nem na Esquerda, nem na Direita. Nunca fomos tão mediocres.

    1. qual é o país hoje no mundo

      qual é o país hoje no mundo que tem um Estadista como o Lula???  Não vejo nenhum.

      Acho engraçado esse lamento em relação a presença do Lula como candidato.

    2. qual é o país hoje no mundo

      qual é o país hoje no mundo que tem um Estadista como o Lula???  Não vejo nenhum.

      Acho engraçado esse lamento em relação a presença do Lula como candidato.

  4. “Além de ter realizado uma

    “Além de ter realizado uma gestão desastrosa na economia, a personalidade forte e a inabilidade política da então presidente levavam corruptores como Emílio Odebrecht a buscar atalhos por meio do Instituto Lula.”

     

    O kennedy até tenta parecer imparcial, mas é um jornalista canalha como os demais.

  5. Como é um jogo de cartas

    Como é um jogo de cartas marcadas, a questão da mentira é secundária na Lava a Jato. Opera, nesse sentido, por verossimilhança. Provas materiais são apenas detalhes.

    Palocci falou, entre compungido e submisso, que Lula e Emilio Odebrect fizeram um Pacto de Sangue. Juiz Moro pergunta, então, se ele presenciara tal “contrato” e recebe a seguinte resposta: “Não. Quem me contou foi o Lula”. Isso se chama mentir em circulo.”Ah, bom se a testemunha foi o próprio protagonista, como não ser verdade?” Eis um típico elemento de convicção da Lava a Jato.

    Evidente que a proximidade do delator com o delatado, ou delatados(caso de Lula e Dilma), EM TESE dá mais credibilidade ao primeiro. Mas só em tese. Isso porque o delator pode se valer desse diferencial exatamente para mentir. Pois é esse exatamente o jogo do Palocci. 

    É possível que ele tenha guardado algum trunfo(prova material) para barganhar na ultimação do acordo oficial de delação. Se for o contrário, ou seja, insistir apenas no testemunho pessoal, aí será apenas mais um capítulo dessa novela tragicômica chamada Lasca um país a Jato.

     

     

     

     

  6. O mais interessante no artigo

    O mais interessante no artigo do Kennedy é : Por que Palocci diz o que Moro quer ouvir ? Ora, nesse ponto, Kennedy admite que Moro é um juiz totalmente PARCIAL.

    Por que um juiz quereria ouvir uma versão e não outra ?

    Juiz não deveria ser imparcial ?

    Dito isso, o artigo de Kennedy ficou raso. Se ele admite que Moro é totalmente parcial, o artigo deveria ser sobre essa parcialidade e necessaria suspeição de Moro para o caso.

     

  7. Marcelo Odebrech e a

    Marcelo Odebrech e a diretoria toda da Odebrech fizeram acordos de delação e nenhum deles falou em “pacto de sangue” ou 300 milhões para o PT ou confirmou a história do sítio e do instituto Lula.

    Palocci, depois de meses preso, depois de condenado a mais de 12 anos, depois de ter 3 tentativas de delação recusadas, resolveu confirmar todas as teorias de Moro e do MP de Curitiba, sem apresentar nenhuma prova.

    Essa é a tal “bala de prata”?

  8. “Pacto de  Sangue”,

    “Pacto de  Sangue”, legítimo,incontestével,comprovado,é o que foi celebrado entre Sergio Moro e as Organizações Globo,tendo como testemunha milhões de espectadores. O Troféu recebido foi a paga antecipada  dos compromissos  que adviriam desse gesto.Exclusividade,prioridade ,primazia, nas informações, nas gravações e nos  “vazamentos”.

  9. O correto jornalista Kennedy

    O correto jornalista Kennedy Alencar joga luzes sobre as sombras,e acolhe integralmente a afirmação dos meus comentarios,quando assevero peremptoriamente,apesar das explicitas discordancias dos cadastrados estrelados,que aqui fizeram sua moradia sem se importarem que já era demais meu penar,nem teem ideia quando vai voltar a minha vida de alegria,quanto mais cantar,qual seja:”Ironicamente,vai ficando cada vez mais claro que um dos maiores erros politicos da carreira de Lula foi ter apontado Dilma para a sua sucessão em 2010″.Discordo de Kennedy.Foi o maior deles.Bem diferente do Bispo Macedo que não tinha nada a perder,Dilma Roussef jogou tudo no abismo.O resto é silêncio.

  10. Não é difícil provar que

    Não é difícil provar que Kenedy Alencar é uma ”jornalista” pago pelo PT.

    Difícil é provar que o ”jornalismo” abriga comedores de mortadelas .***ou seja:escreve de um lado só.

           Isso é jornalismo ou cooptação de pessoas que se dizem jornalistas.

        Jornalistas não deveriam ter lado.

         Esse é menos famoso que Janio de Freitas,mas é mais escancarado ainda.

            Jornalismo é defender suas bandeiras ou publicar os fatos ?

               

    1. “Jornalistas não deveriam ter

      “Jornalistas não deveriam ter lado.”

      Então pode fechar toda a imprensa nacional, porque o que mais se vê é jornlista com lado (ou quando é do “seu” lado, pode?).

  11. Paradoxal este país, ao mesmo

    Paradoxal este país, ao mesmo tempo em que diz querer combater a corrupção, vocifera contra a presidente que não se corrompeu. Lula e Dilma são dois nacionalistas com formação diferentes. Lula vem do sindicalismo, acostumado a negociar para fazer o bem que é possível. Dilma vem da resistência, acostumada a lutar pelo melhor do mundo para todos. Duas figuras que se completam e são indispensáveis ao país.

    1. Lucienne, desculpe minha

      Lucienne, desculpe minha sinceridade, mas rachei de rir… Pode até ser que Lula e Dilma se completem, mas… indispensáveis ao país??? São dois criminosos, como se vê…

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