Panzers e Panteras, por Walnice Nogueira Galvão

Panzers e Panteras

por Walnice Nogueira Galvão

A alcunha de Black Panthers coube em sua origem ao 761º. batalhão de tanques do exército americano na segunda guerra mundial, integrado por cerca de oitocentos soldados negros. Desembarcaram na invasão da Europa e foram em frente, atravessando vários países. Comandados pelo general Patton, a certa altura eram o corpo do exército aliado mais avançado a Leste, com exceção dos russos. Trinta anos depois o presidente Jimmy Carter conferiu uma condecoração coletiva à unidade, que se distinguiu pelos atos heroicos.

Como o modelo do tanque alemão se chamava “Panther” (das Panzerdivisionen), quase homófono de Panzer, eles adotaram esse nome. O logo pintado nos tanques era a cabeça da fera, altamente estilizada, de perfil, estática. Anos depois, bem diferente era a pantera do partido negro dos anos 60: de frente, agachada e preparando o salto, ameaçando o observador.

Há um filme americano de 1998 frequentemente exibido,  Tempo de glória (Glory),  com Denzel Washington, Matthew Broderick e Morgan Freeman, que trata da primeira vez que houve uma unidade do exército americano constituída só por negros, o 54º. regimento de infantaria de voluntários de Massachusetts. Foi na Guerra da Secessão (1861-1865), em que Norte (União) e Sul (Confederados) se digladiaram, este lutando por separatismo. Naturalmente, o 54º. ficava do lado do Norte abolicionista contra o Sul escravista. Hoje há um monumento em sua honra num jardim de Boston.

Depois disso, outros filmes surgiram mostrando o papel dos negros nas guerras americanas.  Como se sabe, havia uma quantidade desproporcional de negros na Guerra do Vietnã. Como eram pobres, não dispunham dos meios de que os brancos dispunham para escapar do recrutamento. Estudantes universitários eram isentos – mas quantos negros conseguiam chegar ao ensino superior?

É aí que entra o filme dirigido por Robert Redford, cidadão consciente que já tomou iniciativas progressistas em várias frentes. Foi nesse intuito que realizou Leões e cordeiros (Lions for lambs, 2007), para desvendar os mecanismos que fazem com que a minoria negra da população seja a maioria das baixas nas guerras americanas. Afora ele próprio, também Meryl Streep e Tom Cruise trabalham no filme, donde se percebe a ambição de seu alcance.

Robert Redford é o protagonista, um professor humanitário e inteligente que dá aula para privilegiados, brancos e ricos. Seu antagonista é um desses alunos, cínico e desabusado, mas no fundo boa pessoa.

Dois outros alunos, um negro e um latino, alistaram-se no exército porque estudaram com bolsas esportivas. Alistaram-se para ganhar a aposentadoria que garante aos veteranos alguns anos de curso superior. Por que, indaga o aluno, não se valeram do financiamento com dívida? Porque, responde o professor, deveriam 200 mil dólares ao se formarem.

Surge em cena o senador republicano que inventa uma nova teoria para resolver o impasse no Iraque, com base em mentiras como as “armas de destruição em massa” que justificaram a invasão do país. Agora resolveu que é preciso abrir “pontos de conflito”, pequenos grupos que serão jogados de paraquedas sobre o Afeganistão e dali atacarão a Al Qaeda etc. Fala com convicção, mas se trata de uma jogada eleitoral para pô-lo em evidência como candidato à presidência.

Surge também a jornalista que o confronta, inteligente e preparada, mas que embarcou na balela das “armas de destruição em massa” e deu todo o apoio à invasão do Iraque, como aliás toda a imprensa americana.

Enquanto isso, os dois rapazes foram lançados nas montanhas nevadas do Afeganistão e foram apanhados numa emboscada. O filme alterna a história nos Estados Unidos com as angustiantes cenas dos dois nesse transe. Serão capturados e mortos, embora o inimigo preferisse apanhá-los vivos para extrair informaçoes sob tortura. Gastam suas últimas balas para garantir a morte.

 O filme é muito bom e impressiona ver como Robert Redford está a par de tudo, inclusive do desprezo dos jovens de elite pelo voto, o que só acentua a péssima situação política interna: vide eleição de Donald Trump, em que os jovens pouco foram às urnas. O filme é uma aula.

 

Walnice Nogueira Galvão

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