Para Frei Betto, ódio a Marisa Letícia representa perda de valores

 
Jornal GGN –  “O ódio é um veneno que você toma esperando que o outro morra, ou seja, quem odeia faz mal a si mesmo”, afirma o escritor Frei Betto, que crê que as manifestações contra a ex-primeira Marisa Letícia, falecida na semana passada, representam um momento de perda de valores, falta de horizonte e perspectivas, levando as pessoas a “reações não racionais, mas emocionais”. 
 
Secretária Nacional e coordenadora da Pastoral da Juventude, Aline Ogliari acredita que o país vive uma perda de sensibilidade e da capacidade de convivência com o diferente. “Perder a capacidade da compaixão, da sensibilidade, da convivência com o diferente, numa perspectiva política, mostra que a gente chega a um estágio de fascismo político”, afirma.

 
 
Leia mais abaixo: 
 
Da Rede Brasil Atual
 
Com 80% de cristãos, Brasil vira país da intolerância e ruma ao fascismo
 
Para coordenadora da Pastoral da Juventude, ódio a Marisa Letícia visa “figura simbólica que Lula representa na luta de classes”. Segundo Frei Betto, ataques à ex-primeira-dama mostram fenômeno mundial
 
por Eduardo Maretti
 
Os ataques e manifestações contra a ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta na sexta-feira (3), vítima de um AVC, provocam espanto não apenas devido à virulência e despropósito, ódio de classe e intolerância. Mas também ao se pensar que, no Brasil, a população é de maioria esmagadoramente cristã, religião que em sua essência prega a tolerância, a paz e a caridade. Incontáveis manifestações nas redes sociais “torcendo” contra Marisa, enquanto ela estava internada, citavam Deus ou “princípios” cristãos para justificar os ataques. O Brasil tem hoje estimados 160 milhões de cristãos, ou 80% da população, incluindo católicos, evangélicos e espíritas.
 
“Essas manifestações mostram um momento que estamos vivendo na humanidade, que é a perda de valores, o niilismo, a falta de horizonte e perspectivas, o que leva as pessoas a reações não racionais, mas emocionais”, diz o escritor Frei Betto, de quem Marisa Letícia foi aluna num curso de política quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva militava como líder sindical.
 
Para Aline Ogliari, secretária nacional e coordenadora da Pastoral da Juventude, o país assiste a uma “perda da sensibilidade, da capacidade de convivência com o diferente, o que, no caso, é um ataque a Lula, uma figura simbólica e a tudo o que representa a figura do Lula”. “Por isso a mídia hegemônica bate em cima do jeito que bate e a classe média e a falsa burguesia também batem. O ataque é à figura simbólica que o Lula representa na luta de classes.”
 
Segundo ela, o episódio de Marisa Letícia na história recente é emblemático. “Perder a capacidade da compaixão, da sensibilidade, da convivência com o diferente, numa perspectiva política, mostra que a gente chega a um estágio de fascismo político, mostra que para ‘minha ideia’ aparecer eu tenho que aniquilar o que é diferente.”
 
A militante católica destaca que as críticas que os movimentos sociais fizeram aos governos do PT são normais e são parte da convivência democrática. O que não é “natural” é o caminho que o país está seguindo. “As críticas que se fazem aos governos do PT são naturais, porque, por exemplo, numa análise mais à esquerda, a gente acreditava num certo projeto de país, com reformas mais estruturais. Mas essa já é uma outra questão. Isso (os ataques a Marisa Letícia) é uma coisa que não deveria acontecer num país que se declara majoritariamente cristão”, diz Aline.
 
Para Frei Betto, as pessoas que se manifestaram das mais variadas maneiras contra Marisa Letícia “se esquecem que o ódio é um veneno que você toma esperando que o outro morra, ou seja, quem odeia faz mal a si mesmo, jamais a quem é odiado”. “Tudo isso mostra como as pessoas são movidas por ressentimentos, por ódios. Vivemos um momento de incivilidade muito profundo”, diz Frei Betto.
 
Para ele, os fatos em torno de Marisa não são um fenômeno apenas brasileiro. “Esse tipo de agressão não acontece só aqui, acontece em todos os países, nos Estados Unidos ou na França, que são países também predominantemente cristãos. Zygmunt Bauman, que acabou de falecer, nas suas obras traduz muito bem esse estado de espírito nocivo que estamos vivendo hoje.”
 
Redação

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  1.  ““O ódio é um veneno que

     ““O ódio é um veneno que você toma esperando que o outro morra, ou seja, quem odeia faz mal a si mesmo”, afirma o escritor Frei Betto, que crê que as manifestações contra a ex-primeira Marisa Letícia, falecida na semana passada, representam um momento de perda de valores, falta de horizonte e perspectivas, levando as pessoas a “reações não racionais, mas emocionais”. “

    Nesse caso, ao menos, deu certo.

  2. para….

    Era fácil ser pedra em terra de vidraça. Quem sempre investiu no confronto, na ditatura do politicamente correto, em acusar os outros e não dar espaço democrático a outras opiniões e ao dialogo, agora experimenta do mesmo veneno. E não aprende nunca. O cachorro atrás do rabo. Imbecilidade como Politica de Estado. Mas Dona Marisa não tem nada a ver com isto. Agressão neste momento é violência gratuita. Mas está violência foi semeada por quem agora a colhe. O Brasil se explica. E se lamenta. 

  3. Acontece, em respeito aos

    Acontece, em respeito aos cristãos, em percentual tão expressivo no Brasil, é que parte siginificativa deles está sempre em guerra contra os outros, desempenhando em suas igrejas um ódio incomensurável a outras denominações religosas, também cristãs.

    Não vemos esse tipo de coisa apenas nas igrejas neo-pentecostais, que alimentam os fieis muas mentiras para mantê-los em suas igrejas. Iso também sucede numa ala da igreja católica. Refiro-me em especial à Canção Nova, que distorce tudo que aprendemos no catolicismo tradicional. 

    Ontem mesmo tive paciência de ouvir uma pregação do Padre Jonas, fundador da Canção Nova, padre vaidoso, considerado quase um Deus entre os que o apoiam e seguem as orientações de sua igreja. Carismática é nome dela. Um horror. 

    Padre Jonas passou mais de uma hora falando mal dos espíritas, e o fez impondo uma sensação muito forte aos fieis que o aplaudiam de que os espíritas são manobrados pelo satanás, e que estão sempre envolvidos uma literatura, cheio de livros, para se dizerem intelectuais, etc. 

    No fundo, até mesmo frases foram retiradas dos neo-pentecostais, como a quele: Amém?, ou Glória a Deus!, entre outras.

    Esse ódio da nossa população está encravado em vários setores, incluindo, sobretudo, no religioso-cristão. 

    Acho que o Papa pode faer muito nesse sentido, condenando padres e bispos que fomentam essas discórdias na diversas igrejas católicas. 

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