Para Mendonça de Barros, apesar do mau momento, economia brasileira é sólida

 
Jornal GGN – O momento de “terapia recessiva” poderá ser bem aproveitado para que o país lide melhor com os desequilíbrios da conta corrente e da inflação, avalia o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, atualmente diretor-estrategista da Quest Investimento. Para ele, o país não corre risco de sofrer recessões econômicas tão profundas quanto as enfrentadas em 1990. O governo só precisa corrigir sua política econômica e a confiança do empresariado. 
 
Mendonça de Barros baseia sua percepção no fortalecimento da Petrobras, que volta a elevar sua produção de petróleo e nos ativos valiosos que o país possui. Ele chamou de “fantástico” o processo de formalização do trabalho, que chegou a 70%, abrindo mais acesso ao crédito. Mas o efeito desse processo já bateu no teto. Agora o governo necessita jogar com outras peças para voltar a fomentar a economia. 
 
Do Estado de S. Paulo
 
‘Já começou a terapia recessiva nos desequilíbrios’
 
Por FERNANDO DANTAS / RIO
 
Para o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, diretor-estrategista da Quest Investimentos, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações, o resultado do PIB do segundo trimestre mostra que já teve início a “terapia recessiva” para corrigir os desequilíbrios da inflação e do déficit das contas externas.
 
Ele acha que a economia brasileira só volta a crescer a um ritmo satisfatório em 2016, mas, a partir daí é otimista, desde que a política econômica seja corrigida e a confiança dos empresários restabelecida. Para Mendonça de Barros, apesar do mau momento, a economia brasileira é sólida e tem ativos valiosos, como o grande crescimento dos trabalhadores na formalidade.
 
O que o sr. achou do PIB do segundo trimestre? 
 
Veio um pouco mais fraco do que pensava, mas na direção prevista. A queda do investimento foi forte, o quarto recuo trimestral. Como os índices de confiança dos empresários estão no chão, era simplesmente uma questão de esperar a queda. O recuo do investimento em relação ao mesmo período do ano passado foi de mais de 11%. O consumo ainda está no positivo, mas já não é tão brilhante quanto em anos anteriores.
 
O sr. viu algum sinal positivo? 
 
Sim, temos que fazer um ajuste de demanda, e há sinais de que isto começou a ocorrer. As exportações cresceram e as importações caíram, um sinal correto. O deflator do PIB veio em 5,4%, bem abaixo da inflação corrente, outro ponto positivo. E há finalmente sinais de que a Petrobrás começou finalmente a elevar a produção de petróleo, nos números da indústria extrativa. Na verdade, é ótimo, por um lado, que os dados do PIB do segundo trimestre tenham sancionado que entramos numa terapia recessiva necessária para lidar com os desequilíbrios da conta corrente (contas externas) e da inflação.
 
O governo deve ficar satisfeito, então? 
 
Não, porque na verdade foi uma grande barbeiragem que tenhamos chegado ao trimestre que antecede as eleições com a economia no chão. A presidente Dilma Rousseff vai para a tentativa de reeleição com a economia de joelhos, imagina o escândalo que a imprensa não vai fazer com esse resultado do PIB. Nós íamos caminhar para a terapia recessiva, o governo tentou adiar. Aí, como acontece nas doenças, a recidiva é pior que o primeiro ataque. Para quem gosta de tecnicidades, tivemos dois trimestres negativos, é recessão no conceito mais elementar.
 
Por que a economia parou de crescer?
 
Batemos no teto em vários sentidos. Houve esse fantástico processo de formalização do trabalho, que chegou a 70%. A formalização do trabalho abria o acesso ao crédito, mas agora esse motor de crescimento se esgotou. Daqui para a frente, depende do salário real e do aumento do crédito para quem já está incluído.
 
Então não vai mais ocorrer um fenômeno como a multiplicação por três das vendas de automóveis em quatro ou cinco anos. O desemprego bateu no mínimo, começou a pressionar os salários. Já o empresário se vê numa situação clássica em que a oferta passou na frente da demanda. Ele pensa “se não for nesse ano, no próximo entra em recessão”. Tem que lidar com estoques e excesso de capacidade e não pensa em investir.
 
É só por isso que o empresário não investe?
 
Não, existe também a falta de confiança na política econômica. Há a postura ideológica da presidenta que coloca o Estado como sendo o agente mais importante da economia, o que faz com que interfira demais, prejudicando o setor privado. De qualquer forma, quem acompanhou minimamente a economia nos últimos dois ou três anos sabia que ela tinha que ir para a terapia recessiva. O crédito bateu no teto, o déficit em conta corrente subiu até um nível perigoso.
 
Como o sr. vê a situação especificamente da indústria?
 
Aí tem os dois componentes. Em termos conjunturais, como eu disse, a oferta ultrapassou a demanda. E tem o problema da falta de competitividade: durante os anos de boom, a importação abasteceu o crescimento do consumo de bens industriais. Os setores que tem proteção, como o automobilístico, se deram bem e cresceram. Os que não tinham proteção minguaram.
 
E a economia daqui para a frente?
 
Só Deus sabe, ou melhor, depende de quem vai ganhar a eleição. Na oferta eleitoral, tem dois candidatos, Aécio e Marina, que mostraram que optariam pela abordagem clássica. Tratariam da conjuntura mantendo por mais algum tempo o ajuste que já começou, e tentariam reverter o pessimismo do empresário via retomada da confiança. Já a Dilma exercitou nos seus quatro anos o software ideológico do PT e deu no que deu. Vai ter que encontrar outro software fora do arco ideológico do partido. A tendência é recessiva também para o ano que vem, e o jogo do crescimento vai ser jogado de 2016 em diante. 
 
E como ganhá-lo?
 
Com uma política econômica que traga de volta a confiança dos agentes econômicos. Fazendo uma série de ajustes, o crescimento volta naturalmente. O Brasil não está vivendo nenhum desastre. Temos que comemorar essa situação extraordinária para uma economia emergente de ter 70% (dos trabalhadores) na formalidade, é algo que precisamos explorar, coisa que a presidente não conseguiu em quatro anos. Vivemos um fim de ciclo, mas não é algo negativo. Temos uma economia sólida e preparada para receber os estímulos de uma política econômica correta.
 
O PIB afeta o cenário eleitoral?
 
Esses números não chegam à maioria da população, mas a ameaça de desemprego e o lay-off (suspensão temporária dos contratos de trabalho) na indústria automobilística, isso chega. O Lula é visto como responsável pela mudança que incluiu essas pessoas, e a Dilma é vista como alguém que ameaça a continuidade desse processo. Eu concordo. Tem que reconhecer o que o Lula fez e que essa política atual está colocando isso em risco.
 
Redação

7 Comentários

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  1. Economia sólida

    Nassif,

    O resultado do trimestre anterior, que era de 0,2%, foi corrigido neste mes para – 0,2%, algo que já ocorreu diversas vezes, tanto para cima como para baixo.

    No segundo trimestre teve o efeito Copa 2014, quando ocorreram diversos dias de produção mais baixa por conta dos jogos. Neste momento, não existem cinco países neste planeta em que o PIB não esteja no vermelho. 

    LCMBarros ressalta que o governo não sabe explorar a economia sólida e preparada que o governo conseguiu cultivar. A comunicação do governo, como se vê, consegue ser mais desastrosa do que aquilo que se pode imaginar, falta por lá um discípulo do eterno Chacrinha,”Quem não se comunica, se trumbica”.

    Para LCMBarros, também deve ter pesado o fator “acreana insegura”, e ele não está sozinho, pois outros economistas do mercado financeiro( todos logicamente anti-Dilma), depois da escalada da doidinha durante a semana, já começaram a dizer que tá ruim, mas também não é assim, etc… e tal.

    Qualquer pedra sabe que banqueiro pode cuidar da banca, do mercado financeiro, mas prá cuidar do país é preciso um pouco mais, caso contrário todos se arrebentam.  

     

  2. De todos os economistas

    De todos os economistas tucanos é o menos confiavel porque surfa nas conveniencias politicas do momento. Está a frente de um empreendimento para fabricar no Brasil caminhões chineses (quer dizer importar e montar) e portanto quer estar bem com o governo de hoje. Amanhã poderá mudar. O irmão, o outro Mendonça de Barros é mais neutro e mais

    culto, suas analises são geralmente de alta qualidade, mesmo porque é um consultor economico e não está envolvido em  negocios, vive de seu conhecimento de economia.

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