Parada do Orgulho LGBT neste domingo alerta retrocessos à diversidade

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Paulo Pinto/ Fotos Públicas

Da  RBA

Parada do Orgulho LGBT chama sociedade para se opor ao fundamentalismo
 
A maior parada LGBT do mundo, em sua 21ª edição, traz como tema a importância do Estado laico e alerta para retrocessos no respeito à diversidade

Retrocessos em relação ao respeito à diversidade e o avanço do conservadorismo pautam a 21ª edição da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. O tradicional evento ocupa a avenida Paulista no domingo (18), a partir das 10h. Após concentração no vão livre do Masp, o público segue em caminhada até o Anhangabaú, pela rua da Consolação, embalados por artistas como Daniela Mercury e Anitta. O evento será apresentado pela drag queen Tchaka.

Com o tema  “Independente de nossas crenças, nenhuma religião é Lei! Todas e todos por um Estado Laico”, a Parada convida a todos para pensar, entre outras questões, na ascensão do fundamentalismo religioso no Brasil.

“Grupos de pessoas dentro de algumas religiões insistem em nos condenar e retirar direitos já adquiridos. No Congresso Nacional, por exemplo, o debate sobre a criminalização da LGBTFobia é repleto de ataques de parlamentares da bancada religiosa e conservadora, muito dos quais utilizando-se de suas imunidades parlamentares para disseminar o ódio a uma parcela da população”, afirma a presidenta da Associação da Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros de São Paulo (APOGLBT), Claudia Regina.

A natureza laica do Estado, prevista na Constituição Federal, deveria impedir que, sob pretextos religiosos, parlamentares promovessem ataques a segmentos sociais distintos dos deles. “A laicidade do Estado democrático garante respeito à diversidade religiosa, humana e cultural. O Estado deve assegurar todos os direitos humanos, tais como a liberdade religiosa, o direito de cada cidadão exercer ou não a religiosidade que quiser, mas deve ser garantida a não discriminação. Além disso, é necessária a autonomia do Estado frente às igrejas, garantindo sua imparcialidade”, continua Claudia.

A secretária de políticas sociais da CUT São Paulo, Kelly Domingos, concorda com os perigos do avanço conservador e fundamentalista no país, em especial na política. “Vivemos num clima de instabilidade política, de golpe, onde o fascismo também mostra sua cara. Um cenário em que a bancada fundamentalista coloca as garras de fora. E é aí que a discriminação e o preconceito ficam em evidência, assim como a violência, principalmente contra populações como a LGBT”, afirma. A Parada deste ano será embalada por 19 trios elétricos. A CUT participa do evento no 11º trio

Como exemplo da interferência do fundamentalismo religioso na política, Claudia lembra de projetos que tramitaram recentemente no Legislativo. “Os exemplos são inúmeros – e desumanos. É proposta legislativa federal o Estatuto da Família, que, com base unicamente em argumentos religiosos, não reconhece como legítimos e legais diversos arranjos familiares, inclusive com responsáveis legais LGBT”, afirma.

“Vimos nos anos de 2015 e 2016 retrocessos na promoção da igualdade de gênero nos planos de educação articulados por bancadas legislativas católicas e evangélicas, e referendadas por chefes do Poder Executivo. E ainda há trabalho para que o ensino religioso no sistema público de educação seja confessional, ao invés de propor visão secular da história das religiões. Seria o Estado a serviço do fundamentalismo religioso”, completa a ativista.

Por fim, Claudia reafirma a importância do evento, que é a maior Parada do Orgulho LGBT do mundo. “Convocamos nesse momento e para fortalecer nosso movimento e luta, as mulheres, as pessoas negras, as minorias religiosas, minorias étnicas, ateus e agnósticos, para estar na Parada LGBT, trazendo seu protesto, sua manifestação em favor do Estado laico e em defesa da igualdade.”

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. Direitos LGBT e Política

    É necessário que existam coletivos com objetivos específicos: o respeito aos direitos dos LGBTs, por exemplo.

    Porém, se esses coletivos não vincularem suas lutas específicas com a Política mais geral, serão derrotados. Os diversos coletivos precisam estar unidos, da mesma forma que um conjunto de células constitui um órgão.

    Não é por mero acaso que a maioria dos que perseguem LGBTs são os mesmo que dão suporte político à quadrilha que está destruindo o Brasil. Observem a posição política de Bolsonaro, do pastor Marco Feliciano etc…

    Portanto, penso que a Parada precisa gritar “Fora Temer” e defender a construção de uma República Democrática. Só assim os LGBTs podem ser respeitados. 

  2. Parada Gay? Vamos filosofar?

    É uma data comercial como o Dia das Mães, dos Pais, dos Namorados,  das Crianças, do Natal e da Sexta Feira Santa pra vender peixe e bacalhau. Agora há até hoteis, pousadas e moteis para acolher casais que têm dim-dim. Ninguem está preocupado com os gays humildes e pobres. Esses são apenas bichas ou viados. A hipocrisia manda sorrir para as pessoas economicamente privilegiadas (os gays e não as simples bichas ou viados).  Não há classe mais desunida e avessa à solidariedade que essa turminha. As vítimas da homofobia são, na maioria, bichas pobres. E se orgulhar do que? De ser diferente?  Não é motivo. Uns nascem com dois braços, duas pernas. Outros com um braço, meio braço, são canhotos ou destros, com uma perna ou sem nenhuma.  Ser gay é apenas um tropeço biológico, uma pegadinha infame que provoca sofrimento a muita gente. Um estigma da miséria humana. Sei lá se a data merece esse oba-oba pois não aplaudo conveniências e hipocrisias organizadas por políticos. Bem, sem ser radical, se quiser, comemore e solte a franga. 

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