Parente de Serra participou de esquema de propinas

Jornal GGN – De acordo com depoimento do delator Fernando Soares no âmbito da Operação Lava Jato, o empresário Gregorio Marin Preciado faria parte de um esquema de pagamento de propinas durante a compra, pela Petrobras, da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA).

Preciado é casado com uma prima do senador José Serra (PSDB-SP) e ajudou em campanhas eleitorais do PSDB em São Paulo. Além disso, ele também foi conselheiro banco Banespa e, de acordo com o livro “A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr. (Geração Editorial, 2011), Preciado teve papel central no esquema do Banestado, com movimentações financeiras em paraísos fiscais em negócios com o ex-tesoureiro de Serra, Ricardo Sérgio de Oliveira.

Segundo Fernando Soares, o empresário ficou com US$ 500 mil ou US$ 700 mil por ter cedido uma empresa sob seu controle e registrada em nome de familiares para receber e distribuir uma propina de US$ 15 milhões relativa à venda da refinaria.

Da Folha

Companhia de empresário repassou propina de Pasadena, diz delator

RUBENS VALENTE
 
Depoimento prestado na Operação Lava Jato pelo delator Fernando Soares, o Baiano, revela o papel do empresário Gregorio Marin Preciado, descrito pelo Ministério Público Federal como “operador”, no episódio de pagamento de propina durante a compra, pela Petrobras, da refinaria de Pasadena (EUA).
 
De origem espanhola e radicado no Brasil, Preciado é casado com uma prima do senador José Serra (PSDB-SP) e ajudou em campanhas eleitorais do PSDB de São Paulo.

 
De acordo com o depoimento de Baiano, tornado público nesta segunda-feira (16) nos autos da Lava Jato, Preciado ficou com US$ 500 mil ou US$ 700 mil por ter cedido uma empresa sob seu controle e registrada em nome de familiares, a Iberbrás Integración de Negocios y Tecnologia, para recebimento e distribuição de uma propina no valor de US$ 15 milhões relativa à venda da refinaria.
 
A informação foi revelada pelo “Correio Braziliense” –a Folha teve acesso ao mesmo documento.
 
Segundo Baiano, o dinheiro entrou nas contas da Iberbrás e foi repassado, em parte, a funcionários da Petrobras, incluindo dois ex-diretores, Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa.
 
Baiano contou que o homem na Astra responsável por montar a operação de pagamento, Alberto Feilhaber, disse que precisava de uma empresa para justificar a saída do dinheiro dos cofres da Astra, por meio de um contrato fictício de prestação de serviços.
 
Baiano então recorreu a Preciado, com quem tinha trabalhado no passado. O espanhol, segundo Baiano, aceitou fechar o contrato e manteve diversas reuniões sobre o assunto com ele e o representante do grupo de funcionários da Petrobras interessados no recebimento da propina.
 
De acordo com Baiano, os US$ 15 milhões que saíram da Astra e chegaram às contas da empresa da família de Preciado foram divididos da seguinte forma: US$ 5 milhões para Alberto, US$ 6 milhões para funcionários da área internacional da Petrobras, incluindo Cerveró, e US$ 4 milhões divididos entre Paulo Roberto Costa e o próprio Baiano. Foi dessa última parcela que Baiano repassou entre US$ 500 mil e US$ 700 mil para Preciado em contrapartida pelo uso de sua empresa.
 
O relato de Baiano já foi confirmado documentalmente pela Lava Jato em pontos relevantes: registros bancários de pagamentos no exterior aos funcionários da Petrobras e diversos repasses de Baiano para a sócia-proprietária da Iberbrás, filha de Preciado. Ela recebeu do delator R$ 1,63 milhão, conforme consta em trecho da denúncia oferecida pela PGR (Procuradoria Geral da República) contra o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) em inquérito que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal).
 
Os arquivos da Petrobras obtidos pela PGR também que em diversas reuniões mantidas com Costa na sede da Petrobras, no Rio, Baiano apresentava-se como representante da Iberbrás.
 
Preciado foi procurado pela Folha na tarde desta segunda-feira (16), mas não foi localizado. Em dois telefones registrados em seu nome, em Porto Seguro (BA) e São Paulo, ele não foi encontrado.

 

Redação

18 Comentários

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    1. O máximo que a máfia

      O máximo que a máfia midiatico-penal faz contra seus aliados é isso ai: uma notícia meia-boca e, o pior, quando isso sai no jornal pode ter certeza que se trata de uma espécie de aviso que algum petista será preso nos próximos dias. Notícias mostrando os podres de tucano são sempre usadas como forma de dizer, antes de um bote contra petista, que a imprensa é imparcial. Tucanos nunca são pegos, no máximo a notícia, como disse, como forma de dizer que pau que bate em Chico bate em Francismo mas passa da página de jornal.

      Sendo tucano ou aliado da mídia não vem ao caso, estes podem roubar à vontade, na casa do bilhão de reais que gozam de inimputabilidade penal, afinal de contas a grana roubada é compartilhada com os barões da mídia e magistrados, podem vender por 3 bi uma empresa como a Vale cujo patrimônio era de 98 bi de reais, só o patrimônio(sem a previsão de lucros), veja bem que, mais à frente essa mesma empresa provoca um desastre ambiental com prejuizos aos cofres publicos e à sociedade, cujo montante estão na casa dos 14 bi de reais e tudo bem, a máfia midiático-penal silencia e MPF idem, no máximo promove um acordo merreca sem as prisões midiáticas que presenciamos na Lava Jato.  

      E ainda dizem que nossas Instituições são fortes e republicanas,  sim, mas não para investigar tucanos ou aliados da mídia, e se é assim não são republicanas coisíssima nenhuma, pelo contrário, estão dominadas pelo poder da mídia, da mesma forma que, nas teocracias são submetidas ao poder religioso, depois juram que não sabem como o extremismo como o do grupo terrorista Estado islâmico ganha força, nossa  zelite zelote deveria saber que Instituições dilaceradas, partidarizadas ou inexistentes poderm ter consequências imprevisíveis, ou será que pensam que ninguém sabe que as Instituições deste pais estão submetidas ao poder da mídia e de seus aliados, ou será que pensam que isso não terá resposta um dia.

      1. Ligando as pontas

        José Carlos,

        por isso que ontem, na tentativa de derrubar o veto da Dilma para reajuste dos servidores do judiciário, um discurso muito estranho de um deputado do DEM gaúcho, bem sinistro, um tal de Onyx centrou fogo em Pasadena. Quando qualquer político do DEM ou PSDB percebe que foi “pego’ com a marca de baton na cueca o modus operandi nunca muda, tentam reverter transferindo para o outro os próprios crimes. E essa anta ainda foi aplaudido pelos serventuários da justiça.

  1. Nas histórias clássicas de

    Nas histórias clássicas de Drácula, o servo do mestre sugador de sangue – aquele que gosta de devorar vermes como Renfield no filme de Francis Ford Coppola https://www.youtube.com/watch?v=WaVZmo8CsGQ – geralmente é preso antes da estaca fatal de madeira ser enfiada no peito do verdadeiro vilão vampiresco. Ha, ha, ha…

    José Serra que se cuide. A estaca dele já está sendo manufaturada. Ha, ha, ha…

  2. Serra é Tucano

    E por isso tem presunção absoluta e inarredável de inocência, estabelecida pela Lei Fundamental decretada pela Mídia e adotada com entusiasmo pelo Judiciário e do Ministério Público brasileiros.

  3. A capivara do espanhol (1) 10.05.2002

    10/05/2002 – 06p0

    No BB, Ricardo Sérgio ajudou empresário ligado a Serra

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    FERNANDO RODRIGUES
    da Folha de S.Paulo, em Brasília

    O empresário e economista Ricardo Sérgio de Oliveira ajudou a favorecer no Banco do Brasil, em 1995, empresas de um dos doadores de campanha do pré-candidato tucano a presidente, José Serra. A pessoa favorecida também mantinha um terreno em sociedade com o tucano.

    Segundo documentos do BB, a ajuda contou com “operações heterodoxas” e “atípicas” de empréstimo e de redução de dívidas. Ricardo Sérgio foi diretor da Área Internacional do banco de 95 a 98.

    O beneficiário foi Gregorio Marin Preciado, um empresário espanhol naturalizado brasileiro que atua na região do ABC, na Grande São Paulo. À época da operação, ele tinha um terreno no Morumbi, bairro nobre da cidade de São Paulo, em sociedade com José Serra. A mulher de Marin, Vicencia, é prima em primeiro grau do tucano. A mãe de Vicencia é irmã da mãe de Serra.

    O BB concedeu a Marin uma redução de dívida de, pelo menos, R$ 73,719 milhões resultantes de juros e encargos acumulados sobre empréstimos. Esse benefício foi dado a duas firmas de Marin, a Gremafer e a Aceto, que estavam em situação de inadimplência crônica com o banco.

    Em 25 de julho de 95, quando as empresas Gremafer e Aceto continuavam inadimplentes, houve uma tentativa do Banco do Brasil de arrestar bens pessoais de Marin. Depois de fazer uma pesquisa em cartório, o Banco do Brasil elaborou lista de bens pertencentes ao empresário.

    Um desses bens foi o terreno que Marin possuía em sociedade com Serra no Morumbi. Vários documentos do banco citam o caso, alguns mencionando o nome do tucano.

    Antes que a Justiça pudesse agir, Marin foi mais rápido. Vendeu, junto com Serra, o terreno do Morumbi em 19 de setembro de 95, menos de dois meses depois de o banco ter decidido entrar na Justiça. Impediu assim que a ordem de arresto fosse cumprida, driblando a tentativa do Banco do Brasil de recuperar parte da dívida.

    O valor oficial de venda do imóvel foi de R$ 140 mil, segundo registro no 15º Cartório de Registro de Imóveis de São Paulo. O comprador, a construtora Alfons Gehling & Cia Ltda., projetou para o local um prédio de 12 andares e dois subsolos, depois de ter comprado um lote vizinho e aumentado a área para 1.620 m2.

    Primeiro empréstimo
    O negócio da Gremafer e da Aceto com o Banco do Brasil começou em 93. O primeiro empréstimo foi equivalente a US$ 2,5 milhões, em agosto daquele ano. Era denominado em dólar porque saía por meio da Resolução 63, um instrumento que os bancos têm no Brasil para captar dinheiro no exterior e repassá-lo a tomadores no país.

    O segundo empréstimo saiu no final de 95. Foi equivalente a US$ 2,8 milhões. No total, a Gremafer e a Aceto receberam em reais um valor correspondente a US$ 5,3 milhões do BB. A dívida disparou por causa dos juros altos e da falta de pagamento. Chegou a passar de R$ 61 milhões em novembro de 98, quando o Banco do Brasil finalmente desistiu de ajudar as empresas -uma data que coincide com a saída de Ricardo Sérgio da instituição.

    Apesar de lhe faltar dinheiro para pagar em dia o Banco do Brasil, Marin encontrou fundos para fazer doações de campanha a Serra em 94. Ao todo, a Gremafer e a Aceto doaram R$ 62.442,82, segundo a prestação de contas do tucano. No começo de 95, as empresas estavam com dívidas de mais R$ 20 milhões.

    Ricardo Sérgio e charutos
    A Folha entrevistou sete funcionários do Banco do Brasil que participaram formalmente das decisões a respeito da Gremafer e da Aceto. Em reserva, dois confirmaram inteiramente a influência de Ricardo Sérgio na aprovação da redução de dívidas. Dois disseram que não sabiam. E três se recusaram a falar sobre o assunto, alegando sigilo bancário.

    O próprio Marin não esconde que Ricardo Sérgio teve participação na aprovação das operações de empréstimos. “Estive com ele algumas vezes nesse período”, disse o empresário ontem, usando um celular na Espanha, onde se encontra no momento.

    Marin faz a ressalva de que as operações não lhe foram favoráveis, e que Ricardo Sérgio esteve presente em reuniões sempre com outros funcionários do Banco do Brasil. A Folha apurou, porém, que as relações do empresário com o ex-arrecadador de fundos do tucano foi mais próxima do que isso.

    Em um determinado momento, durante a negociação do empréstimo e da recomposição das dívidas da Gremafer, Marin mandou de presente uma caixa de charutos para Ricardo Sérgio. Confrontado com essa informação, o empresário ficou em silêncio alguns segundos e disse: Eu fumo charutos”. E a Folha: “E daí?”. Ao que o empresário concluiu: “Daí, pronto. Já estou te respondendo. Não vamos entrar nesse nível de detalhes”.

    Em seguida ao diálogo sobre o charuto, a ligação caiu. Até o final da tarde de ontem Marin não telefonou novamente para a Folha, embora o jornal tivesse insistido com seu filho, Gregorio Marin Junior, que desejava continuar a entrevista.

    Diretores do BB
    O superintendente do BB em São Paulo à época da operação com a Gremafer e com a Aceto era Wolney Ferreira. Ele escreveu uma correspondência contundente a respeito do episódio.

    Arquivada em meio a centenas de papéis desse caso, a carta de Wolney dá a impressão de que seu autor se precavia contra futuros problemas -afinal, apesar da influência de Ricardo Sérgio, eram funcionários de escalão inferior que tinham de assinar os relatórios favoráveis.

    A preocupação de Wolney era com a operação aprovada em 8 de novembro de 95 pela diretoria do BB. Nessa data, foi aprovada uma redução de R$ 16,453 milhões na dívida das empresas de Gregorio Marin Preciado. Além disso, a Gremafer e a Aceto receberam um novo empréstimo no valor equivalente a US$ 2,8 milhões.

    Ao comentar essa operação, Wolney redigiu sua carta em 27 de novembro de 95. Endereçou-a ao então presidente do BB, Paulo César Ximenes. Wolney, hoje aposentado e vivendo em Nova York, começava dizendo que a redução de R$ 16,453 milhões e o dinheiro novo se tratavam de “operações em curso anormal”. Eis alguns trechos do documento:

    – “Essas soluções heterodoxas e atípicas e, como tais, não ajustadas às normas têm sido invariavelmente submetidas ao Conselho Diretor, com vista ao seu exame e decisão a respeito” (…);

    – “Buscou-se dar total transparência sobre a situação dos capitais mutuados, abrangendo desde a sua origem até a eventual decisão de continuidade de cobrança judicial -implementada para pressionar os devedores-, passando, obviamente, por detalhada análise da realidade patrimonial das empresas e coobrigados e, principalmente, posição mercadológica e possibilidade de recuperação econômica dos devedores” (…);

    – “No caso da Gremafer e da Aceto, foi efetuado, inclusive pela Diretoria, completo exame de todas as variáveis, tendo sido adotada opção por solução heterodoxa, compreendendo programa de desimobilização [arresto de imóveis], inclusive com concessão de crédito novo para retomada das atividades produtivas dos devedores (…)”.

    Parte do BB foi contra
    Segundo a Folha apurou, em novembro de 95 havia divergência dentro do Banco do Brasil sobre se essa era a melhor opção a ser adotada. Mas a decisão final foi a de reduzir a dívida e dar mais dinheiro a Marin.

    Quem lê as páginas do processo da Gremafer e da Aceto nota que tudo tramitou pelas instâncias normais do Banco do Brasil. Não há nos documentos nenhuma indicação clara de pressão política. Mas fica evidente que as duas empresas tinham situação muito delicada para serem agraciadas em 95, com redução de dívida e mais dinheiro novo.

    A descrição do esquema está em um documento de outubro de 95. A conclusão formal é que o BB deveria aprovar a proposta formal de redução de dívida e oferecimento de dinheiro novo. Apesar dessa decisão favorável, o corpo do texto de 14 páginas traz inúmeros argumentos contrários.

    Por exemplo, depois que Gregorio Marin Preciado recebeu seu primeiro empréstimo em 93, diz o documento, “houve considerável saldo financeiro remanescente que passou a ser renovado sem nenhuma amortização”.

    E mais: “Para fazer frente aos inúmeros investimentos idealizados pelo sócio majoritário do grupo, a administração da agência optou por continuar assistindo as duas empresas, acatando expressivos valores em cheques em conta corrente”.

    Depois de fazer uma primeira recomposição de dívida em maio de 94, “em vista das expressivas obrigações assumidas pelas empresas junto ao banco e a terceiros que oneravam toda a sua capacidade de pagamento, foi realizada uma única quitação de uma única parcela, em outubro de 94”.

    Ou seja, as empresas de Gregorio Marin Preciado estavam em situação de inadimplência crônica em 95. Há também uma acusação contra o empresário. O documento do BB de outubro de 95 dizia: “Destaca-se que os recursos captados em nome do grupo possivelmente foram utilizados em diversos negócios pessoais do sr. Gregorio. (…) Tais investimentos não obtiveram o retorno esperado (…) provocando total descasamento entre a capacidade de geração de receitas e fluxos de desembolso das obrigações assumidas”.

    Desconto de R$ 57,3 mi
    Ainda assim, com toda a depauperação da situação financeira da Gremafer e da Aceto, o Banco do Brasil optou em 95 por dar mais um empréstimo e conceder uma redução de dívida. O argumento básico era que o caminho por via judicial resultaria na obtenção de “créditos em valores inferiores aos apurados” na proposta de recomposição.

    A maior redução de dívida ainda estava para acontecer. Em 1998, o Banco do Brasil resolveu liquidar as operações e fazer uma nova recomposição.
    Infladas pelos encargos e juros altos, a dívida da Gremafer e da Aceto estava em R$ 61,380 milhões. Conseguiram um abatimento de R$ 57,266 milhões e passaram a dever apenas R$ 4,114 milhões e novas condições de pagamento.

    Não adiantou. A Gremafer e Aceto nunca saldaram suas dívidas. Hoje, a Gremafer deve R$ 3.142.937,30, valor que consta na contabilidade do BB no último dia 25 de abril. A Folha não obteve o valor atualizado do débito da Aceto. As duas empresas lutam na Justiça para não pagar. Querem receber de volta algum dinheiro, pois acham que os imóveis que cederam como penhora foram subavaliados.

  4. A capivara do espanhol (2) – 10.05.2002

    José Serra, seu contraparente e Ricardo
    Sérgio: uma boa história de coincidências 
     

    Tucano e um contraparente possuíam um terreno em sociedadeEx-arrecadador de Serra ajudou contraparente do tucano no BBClique aqui para ter acesso aos fac-símiles dos documentos da negociação 

    Fernando Rodrigues 

    BRASÍLIA – 10.mai.2002 – A seguir, uma história de família e amizade. Só fatos, coincidências acidentais e documentos. O nexo entre o que se passou fica por conta do internauta. 

    Um namoro do BB com duas empresas – 1992/1993
    O empresário Gregorio Marin Preciado, espanhol naturalizado brasileiro, atua na região do ABC, na Grande São Paulo. Suas empresas, a Gremafer e a Aceto, são procuradas pela agência do Banco do Brasil local nessa época, 1992 e 1993. O BB estava em campanha para aumentar seus negócios em São Paulo. 

    A Gremafer e a Aceto faturavam, juntas, o equivalente a US$ 30 milhões a US$ 35 milhões por ano, pelas contas de Gregorio. A Gremafer importava peças e ferramentas tratadas com titânio. Uma inovação maravilhosa para a indústria brasileira. O titânio passou a ser farto e barato no mundo depois da implosão da antiga URSS (de onde vinha esse material). Alemães aperfeiçoaram o uso do titânio. As ferramentas usadas para fazer rolamentos, por exemplo, passaram a durar muito mais. A qualidade do produto fabricado era melhor. A Gremafer estava bem situada. Atuava num mercado importante. Vendia para VW, Fiat, GM, entre outras. 

    A Aceto fabricava e importava vidros especiais. Era também uma empresa vital no ABC. Tradicional também, atuando havia 40 anos na região. 

    Tudo normal. O Banco do Brasil queria mais clientes. Duas empresas locais engrossaram então a movimentação da agência do BB de Rudge Ramos, um bairro de São Bernardo do Campo. 

    Ao transferirem todas as suas atividades para a agência do Banco do Brasil, a Gremafer e a Aceto tiveram a proposta de receber um empréstimo de US$ 2,5 milhões para capital de giro. O dinheiro era denominado em dólares porque saía com base na Resolução 63. Trata-se de um instrumento usado pelos bancos (qualquer banco) para captar dinheiro mais barato no exterior. Os recursos são usados para empréstimos a empresas no Brasil. Supostamente, é um recurso menos caro, pois os juros do exterior são menores do que os do Brasil. 

    O parentesco
    Gregorio Marin Preciado é contraparente de José Serra. São primos por afinidade. A mulher de Gregório, Vicencia, é prima em primeiro grau do pré-candidato tucano a presidente da República. A mãe de Serra é irmã da mãe de Vicencia. 

    O terreno em sociedade
    Outro fato unia Gregorio a Serra. Em 13.fev.1981, eles compraram em sociedade um terreno de 828 metros quadros no Morumbi, bairro nobre de São Paulo. 

    O terreno ficou lá, parado, durante muitos anos. Até que em 1995, numa dessas outras coincidências da vida, o bem foi vendido. Em 19.set.1995, Gregorio e Serra repassaram o terreno por R$ 140 mil. Mas isso não é o principal. Outra coincidência estará descrita mais abaixo. 

    O descontrole – 1993
    O empréstimo do BB prometido para a Gremafer e para a Aceto em 1993 demorou um pouco para sair. Mas as empresas pareciam sólidas e, por extensão, pareciam merecer crédito. Por conta disso, passaram a ter o privilégio de sacar a descoberto na agência do Banco do Brasil, em Rudge Ramos. 

    É importantíssimo dizer que não era incomum o Banco do Brasil dar esse tipo de privilégio a dezenas, centenas de empresas no início dos anos 90. Fazia parte da estratégia do então presidente do banco estatal, Alcir Calliari, nomeado por Itamar Franco. Calliari dizia aos gerentes das agências que eles deveriam ser menos burocratas e mais focados nos negócios. O BB tinha de fomentar os negócios. Nessa estratégia, era vital aumentar as operações no Estado de São Paulo. 

    Essa política de Alcir Calliari não foi a única, mas está entre uma das razões que levaram o Banco do Brasil a bater alguns recordes negativos nos anos 90. 

    O BB teve o maior prejuízo anual da história bancária do planeta Terra em 1995. O prejuízo do banco foi R$ 4,2 bilhões em 95. Em 96, outro recorde planetário: um prejuízo de R$ 7,5 bilhões. Depois disso, bancos de outros países tiveram prejuízos maiores. Mas o BB deu a largada na temporada de grandes rombos. E, nunca é demais lembrar, em 96 e 97, 1 real valia cerca de 1 dólar. 

    Nessa época, foi tomada uma decisão corajosa pelo governo federal, já comandado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. O Banco do Brasil recebeu um aporte de capital de R$ 8 bilhões do Tesouro Nacional. A partir daí, o BB passou a dar lucro já em 97 (R$ 573,8 milhões). Os créditos ruins foram todos escoimados. Aí incluíram-se os empréstimos concedidos à Gremafer e à Aceto. 

    O empréstimo de US$ 2,5 milhões para o contraparente de Serra saiu apenas em 06.ago.93. Com a anuência do BB, Gregorio Marin Preciado, como já se disse, sacou dinheiro por conta antes dessa data. A agência do BB efetuou “empréstimos ponte” na forma de “aberturas de crédito em conta corrente”. 

    Quando os US$ 2,5 milhões entraram nas contas da Gremafer e da Aceto, a coisa já não andava bem. O dinheiro foi imediatamente usado para saldar os saques que já haviam sido realizados. Mas “houve considerável saldo remanescente, que passou a ser renovado sem nenhuma amortização”, conforme atesta um documento oficial e reservado do Banco do Brasil. 

    Um documento importante
    Para quem tiver paciência por históricas complicadas, esta página coloca à disposição do internauta um documento relevante. Trata-se de uma “Súmula de Recuperação de Créditos” do Banco do Brasil. O documento tem 16 páginas. Contém várias datas, de novembro e de dezembro de 1998. Essa profusão de datas ocorre porque cada um dos 16 funcionários do BB o recebeu em momento diferente. Estavam todos aprovando algo relevante: o encerramento dos negócios do BB com a Gremafer e com a Aceto. 

    O documento será descrito em detalhes abaixo. Se você quiser um fac-símile em formato “jpg”, clique aqui

    A primeira renegociação – 1994
    A Gremafer e a Aceto não conseguiam pagar as dívidas já no ano de 1994, menos de um ano depois de terem tomado os primeiros US$ 2,5 milhões do BB. Foi necessária uma composição das dívidas. Isso ocorreu em maio de 94. As empresas deram imóveis como garantia. 

    É importante dizer que a situação não era inteiramente favorável para a Gremafer nem para a Aceto. Os juros estavam nas alturas. A dívida não-paga disparava. Ainda assim, havia boa vontade do Banco do Brasil. 

    Alguns dos imóveis que eram dados como garantia foram tomados pelo BB mais adiante. Mas o banco estatal conseguiu limitados pagamentos em dinheiro por parte das empresas do contraparente de Serra. 

    Mesmo com a recomposição da dívida em 94, a única parcela paga do acordo nesse ano ocorreu no mês de outubro de 94. Referia-se à dívida da Aceto. A Gremafer não fez desembolsos em dinheiro. 

    No final de 94, as empresas pedem um prazo de uns dois meses para acertar tudo em 95. Coincidentemente, e esta é uma história de coincidências acidentais, em 95 tomaria posse o presidente Fernando Henrique Cardoso. José Serra estava eleito senador e iria para o Ministério do Planejamento. E Ricardo Sérgio de Oliveira -que um ano antes arrecadara dinheiro para a campanha de Serra e de FHC- seria nomeado para a Diretoria Internacional do Banco do Brasil. Coincidências. 

    Um detalhe – a doação a Serra – 1994
    Neste oceano de coincidências, uma delas chama a atenção. Mesmo endividadas na praça e inadimplentes com o Banco do Brasil, a Gremafer e a Aceto encontram fôlego para um gasto extra: juntas, fazem uma doação de R$ 87.442,82 à campanha de José Serra ao Senado, em 1994. 

    Se o internauta desejar, basta clicar aqui para visualizar o fac-símile em “jpg” das páginas da prestação de contas do tucano em 1994. 

    A venda do terreno em 1995
    A coisa não ia bem para as empresas de Gregorio Marin Preciado. O contraparente e doador de campanha de Serra estava em negociações com o BB, mas a instituição resolveu fazer uma pesquisa em cartórios para saber os bens disponíveis de Gregorio. 

    Com a lista de bens preparada, o BB protocolou em 25 de julho de 95 um pedido de arresto dessas propriedades na Justiça em São Bernardo do Campo. Tudo normal. 

    Aqui, outra coincidência nesse firmamento de fatos acidentais. Um dos bens de Gregorio era o terreno de 828 metros quadrados que ele possuía com o contraparente José Serra desde 13.fev.81. Era um imóvel no Morumbi, bairro nobre de São Paulo. 

    Pois em 25 de julho de 1995 o Banco do Brasil solicitou o arresto de 50% do terreno (a parte pertencente a Gregorio). 

    Como se sabe, quando acontece o arresto de 50% de um imóvel, a situação do sócio que está em dia com suas contas também se complica. Se o mundo fosse ideal, mesmo com 50% do terreno arrestado, Serra poderia simplesmente ficar com sua parte livre para fazer o negócio que desejasse. No vida real, entretanto, as coisas não são assim. 

    Se o terreno tivesse sido mesmo arrestado, o senador do PSDB e ministro do Planejamento ficaria com um imóvel micado na mão. Mais do que isso, seria relativamente fácil qualquer jornalista descobrir que o tucano possuía um terreno em sociedade com um empresário devedor do Banco do Brasil. 

    Enfim, esse tipo de circunstância seria desagradável para qualquer político. Ainda mais para Serra e para o PSDB, que, como é sabido, se arvoram de ser o partido mais limpo do Ocidente. 

    Ocorre então nova coincidência acidental. No dia 25 de julho o BB pediu o arresto de 50% do terreno de Serra e de seu contraparente, Gregorio. Menos de dois meses depois, em 19 de setembro, e antes que a Justiça tivesse decidido sobre o arresto, Serra e Gregorio registram a venda do imóvel do Morumbi. Livram-se assim de um problema razoável. 

    Clique aqui para visualizar a escritura do terreno com o relato de todas as negociações a seu respeito. 

    clique aqui para ter acesso a um documento do Banco do Brasil, de 17.maio.96, dizendo que o juiz da 8a Vara Cível de São Bernardo do Campo havia julgado procedente o pedido de arresto. Numa atitude quase autista, o BB solicita que “se aguarde o cumprimento do acordo [de refinanciamento de dívida], e caso não seja cumprido, seja o arresto convertido em penhora”. 

    É uma quase demência esse documento do Banco do Brasil. O terreno de que trata no despacho de maio de 96, para possível penhora, já havia sido vendido há muito tempo pelos seus proprietários com registro oficial datado de setembro de 95. 

    Mas o registro da venda do terreno em 19 de setembro de 1995 não passou de uma coincidência acidental histórica. Pelo menos, segundo os protagonistas da história. Eis o que diz Gregorio Marin Preciado a respeito, em declaração para a “Folha de S.Paulo” de 10.mai.2002: 

    “Não me recordo. Não sei te dizer. Realmente, não me lembro”. 

    Dizer não se lembrar de um fato é um clássico. Ronald Reagan ficou famoso pelo seu “I can’t recall” sobre o caso Iran-Contras no início da década de 80. Como diria o grande filósofo brasileiro da atualidade, Kleber Bambam: “Faz parte”. 

    José Serra foi menos lacônico do que seu contraparente, mas não diz a razão específica da venda. Eis o que o senador afirmou na edição de 10.mai.2002 da “Folha de S.Paulo”:

    “O Gregorio Marin é meu contraparente, pois é marido de uma prima minha. Essa é a razão de ter virado, agora, foco de atenção. O terreno em questão foi comprado em 1980, quando eu era professor universitário, pesquisador do Cebrap e editorialista da Folha de S. Paulo. Minha parte era de 50% do terreno e Gregório Marin dos outros 50%. O terreno foi vendido em 1995. Por que vendi? Porque como proprietário do terreno achei que era melhor vender. E o proprietário dos outros 50% concordou. Minha parte correspondeu a uns R$ 70 mil. A diferença estimada entre o que eu paguei e o que eu recebi pela venda, depois de 15 anos, foi de uns R$ 20 mil. Tudo declarado no Imposto de Renda e devidamente tributado”. 

    É notável que no dia 10.mai.2002 José Serra tenha se recordado de outro trecho da história. Pessoa de poucas posses, sua declaração de bens é quase espartana. Mas Serra não se lembrava exatamente de como havia vendido seu terreno no Morumbi, ao ser indagado sobre o assunto no dia 09.mai.2002. 

    Pois no dia 10.mai.2002, lembrou-se. Segundo uma nova versão do senador, a venda teria se dado em 25.abr.95, com um pagamento de entrada de R$ 28 mil e mais 4 parcelas do mesmo valor (total: R$ 140 mil). Por que essa operação não consta do registro do imóvel no Cartório de Registro de Imóveis? Porque Serra diz ter registrado a operação de compra e venda apenas em um cartório de São Bernardo do Campo. 

    Essa nova versão do senador, na sua opinião, derruba a hipótese de que ele e Gregorio teriam tentado evitar o arresto do imóvel. É verdade, pois trata-se de uma explicação formal. 

    No campo das coincidências e das ilações, entretanto, é lícito supor que o Banco do Brasil preparou-se algum tempo para entrar na Justiça no dia 25.jul.95 solicitando o arresto de bens de Gregorio Marin Preciado. Para fazer uma pesquisa de bens imóveis qualquer pessoa demora algum tempo. Uma instituição estatal, talvez um pouco mais. Seria prudente as investigações em curso no Banco do Brasil esclarecerem quando foi tomada a decisão de pesquisar os bens de Gregorio. Se a data for anterior a 25.abr.95, e se havia meios de o empresário tomar ciência do assunto, essa história do terreno no Morumbi poderá continuar a dar dor de cabeça ao tucano. Mas, sejamos sinceros: tende a zero a chance de o Banco do Brasil divulgar informações minimamente constrangedoras para o candidato oficial à Presidência da República. 

    Ricardo Sérgio, Gregorio e charutos – 1995
    Nesse ano de 1995 desenvolveu-se uma nova relação na vida de Gregorio Marin Preciado. Não porque ele tivesse doado dinheiro para a campanha de José Serra em 1994, ano em que estava em dificuldades financeiras. 

    Segundo consta oficialmente pelo relato de ambos, Gregorio e o economista e empresário Ricardo Sérgio de Oliveira conheceram-se em 1995. Em 1994, quando Gregorio fez a doação de campanha para Serra, teria sido por meio de outras pessoas. Esse é o relato oficial. 

    E como era a relação entre Gregorio e Ricardo Sérgio? “Somos conhecidos. Ele já me deu uma ou duas caixas de charutos”, disse o economista e ex-diretor do BB à “Folha de S.Paulo”. 

    E Gregorio, o que diz? “Estive com ele [Ricardo Sérgio] algumas vezes nesse período [da negociação da dívida]. Era toda uma escadinha para chegar no Ricardo. A negociação foi feita em São Paulo, com o superintendente estadual. Nas reuniões que eu tive com o Ricardo, eles [outros funcionários do BB] sempre estiveram presentes”. 

    Em resumo, Gregorio está dizendo que o diretor do Banco do Brasil, a quem ele presenteava com caixas de charutos, nunca o havia recebido em privado. Eis aí algo para reflexão e para resgatar a confiança nos seres humanos. 

    Os empréstimos
    Afinal, quanto as empresas de Gregorio Marin Preciado tomaram emprestado do Banco do Brasil? É difícil responder. 

    Com base na Resolução 63, a Gremafer e a Aceto receberam o equivalente a US$ 5,3 milhões. 

    O primeiro empréstimo saiu em 06.ago.93, no valor equivalente a US$ 2,5 milhões. O segundo foi aprovado pela Diretoria do BB em 08.nov.95, no valor equivalente a US$ 2,8 milhões. 

    É possível, mas não é certo, que as empresas do contraparente de Serra tenham também tomado emprestado dinheiro do BB apenas na base de saques a descoberto. Os documentos disponíveis até o momento não são claros a respeito. 

    Os pagamentos
    Não fica claro também nos documentos do Banco do Brasil o quanto essas duas empresas, a Gremafer e a Aceto, de fato pagaram em dinheiro para saldar os seus empréstimos. 

    Fica evidente, entretanto, que eram empresas em situação de inadimplência crônica. 

    As operações “heterodoxas” e “atípicas”- 1995
    Foram realizadas, pelo menos, quatro operações de recomposição das dívidas da Gremafer e da Aceto: em 1994, 1995, 1998 e 1999. Em 1995, primeiro ano do governo FHC, houve redução da dívida e dinheiro novo. 

    Eram operações estranhas e de difícil compreensão. O caráter inusitado das operações, mas que tinham sempre a anuência da diretoria do BB em Brasília, fica relatado pelo então superintendente estadual do banco em São Paulo, Wolney B. Ferreira. Ele assina em 27.nov.95 uma carta para a presidência do banco, em Brasília. 

    Clique aqui se quiser ler o fac-símile em “jpg” da carta de Wolney. 

    O conteúdo é explosivo. Começa com o seguinte título: “OPERAÇÕES EM CURSO ANORMAL Gremafer Com. Imp. Ltda. E Aceto Vidros e Cristais Ltda.”. Wolney deixa explícito que a Diretoria tinha analisado tudo e estava ciente das “soluções heterodoxas e atípicas e, como tais, não ajustadas às normas” que estavam sendo “invariavelmente submetidas ao Conselho Diretor, com vista ao seu exame e decisão a respeito”. 

    A recomposição e o dinheiro novo em 1995
    A carta de Wolney se referia à aprovação de uma primeira grande operação de recomposição das dívidas das empresas do contraparente de Serra. 

    A Diretoria do Banco do Brasil, em Brasília, se reuniu em 8.nov.95 para aprovar a operação. A Diretoria era composta por seis diretores, mais o então presidente da instituição, Paulo César Ximenes. Ricardo Sérgio era um dos diretores. Embora da área internacional, era o único dos seis integrantes da Diretoria do BB, pelo que se sabe, que tinha se encontrado pessoalmente algumas vezes com Gregorio Marin Preciado -ainda que o caso de Gregorio se referisse à área de crédito. 

    Em novembro de 1995, a Gremafer devia R$ 28.248.911,78. A Aceto, R$ 8.823.780,53. Pelo acordo firmado, a dívida de ambas caiu para R$ 15.917.233,24 e R$ 4.702.052,65. Redução total de R$ 16.453.406,01. 

    Além do abatimento, as duas empresas receberam dinheiro novo. A Gremafer recebeu em reais o equivalente a US$ 2 milhões. A Aceto, o equivalente a US$ 800 mil. Tudo pela Resolução 63. O dinheiro foi desembolsado pelo BB em dezembro de 95. 

    A grande e maior recomposição, de 1998
    O ano de 1998 foi importante para Gregorio Marin Preciado e para Ricardo Sérgio de Oliveira. 

    Em novembro de 1998, o então diretor da área internacional do Banco do Brasil foi demitido por ter se envolvido no escândalo da privatização da Telebrás, grampo do BNDES etc. Ricardo falava nas fitas do grampo que esteve no “limite da irresponsabilidade”. Até hoje ninguém sabe exatamente a que (ou a quem) ele se referia. 

    Também em novembro de 1998 aconteceu algo importante para Gregorio Marin Preciado. Foi quando o Banco do Brasil desistiu de fazer negócios com ele. Resolveu liquidar as operações, não dar mais dinheiro novo e apenas fazer as cobranças judiciais. 

    É outra grande coincidência acidental de datas nesta história de amizade e parentesco. No mesmo mês que Ricardo Sérgio saiu do BB, novembro de 1995, a instituição também resolveu desistir finalmente de ajudar Gregorio Marin Preciado com dinheiro novo. 

    Mas a decisão do Banco do Brasil foi tomada em grande estilo. A dívida da Gremafer e da Aceto valia R$ 61,380 milhões. As duas empresas ganharam um desconto espetacular de R$ 57,266 milhões. A dívida caiu então para R$ 4,114 milhões. 

    Tudo isso está na “Súmula de Operações Anormais Unidade de Recuperação de Crédito (URC) de SBC SP 98/013”, de 28.out.98 e o “Recup PT 98/908”, de 06.nov.98. Trata-se do documento já citado acima e que está disponível para download. 

    Na ocasião, novembro de 1998, as empresas se comprometeram a pagar R$ 2,306 milhões com a entrega de imóveis. O restante, R$ 1,808 milhão, deveria ser pago em 3 anos, prorrogável por dois períodos de 6 meses cada, mediante pagamento à vista de 5% do saldo devedor a cada vencimento. 

    Desnecessário dizer, quase nada foi cumprido. 

    Atrasos e atrasos – 1999
    Como era comum nesse caso, não foi diferente em 1998 e 1999. Apesar da grande redução de dívida de 1998, as empresas Gremafer e Aceto voltaram a ficar inadimplentes. 

    Não estão disponíveis os valores do atraso de pagamento, mas o Banco do Brasil voltou a reajustar as dívidas em 19.mar.99. Está tudo registrado em cartórios de São Bernardo do Campo. 

    A partir de 19.mar.94, a Gremafer ficou devendo R$ 2,994 milhões. A Aceto, R$ 1,120 milhão. Os contratos estão registrados na 6a Vara Cível de SBC (Aceto) e na 8a Vara Cível de SBC (Gremafer). 

    Há uma curiosidade nesses contratos. A diferença da dívida real com o valor acertado foi dado pelo BB às empresas a título de “prêmio de adimplemento”. 

    Segundo o “Houaiss”, adimplemento é “ato, processo ou efeito de adimplir; cumprimento de uma obrigação; adimplência”. Como a Gremafer e a Aceto sempre foram más pagadoras, que adimplemento terá sido esse? O Banco do Brasil foi procurado pela “Folha de S.Paulo” para comentar o caso, mas a assessoria de imprensa da instituição alegou que o sigilo bancário impede qualquer declaração. 

    Desconto total – R$ 73,719 milhões
    Se o leitor tiver paciência de somar alguns valores que aparecem neste texto, notará que a Gremafer e a Aceto tiveram, pelo menos, R$ 73,719 milhões de abatimento na dívida com o Banco do Brasil. 

    Esse valor é resultado do desconto de 1995 (R$ R$ 16,453 milhões) e do de 1998 (R$ 57,266 milhões). 

    É necessário dizer que esse valor estupendo de R$ 73,719 milhões pode não ser exato. Por quê? Porque é possível que o desconto tenha sido maior. Não estão disponíveis os valores de outras eventuais reduções concedidas nas outras renegociações (de 1994 e de 1999, por exemplo). 

    Valor atual da dívida em 2002
    Depois de tantas idas e vindas, o último valor disponível para a dívida da Gremafer é de 25.abr.2002: R$ 3.142.937,30. Clique aqui para ver documento do BB. A empresa está contestando o valor na Justiça e não paga. 

    Não há valor disponível para a dívida atualizada da Aceto. 

    Gremafer e Aceto se sentem prejudicadas pelo Banco do Brasil. Alegam ter dado muitos imóveis como garantia. Os imóveis teriam entrado no negócio com valores depreciados. O BB os teria vendido por preço muito maior. Por isso, as empresas do contraparente de Serra esperam recuperar ainda algum dinheiro pela via judicial. 

    Conclusão
    Coincidências, coincidências. Como elas acontecem em profusão nesta história. Podem ser, caro internauta, não mais do que isso. Coincidências acidentais. Faz parte, faz parte. 

    Afinal, nenhum de nós escolhe os parentes que temos. Nós também muitas vezes presenteamos charutos às pessoas apenas porque as achamos simpáticas. É comum nestes tempos de globalização termos amizades descompromissadas. Presenteia-se pelo prazer de presentear. 

    Também é um fato que podemos ter um terreno em sociedade com alguém por quase 15 anos e, de uma hora para outra, decidirmos vender esse imóvel. 

    Um banco estatal também pode perfeitamente dar descontos em dívidas. O objetivo maior é sempre recuperar parte do crédito concedido. E é evidente, todos sabemos, que o Banco do Brasil só teve essa preocupação no caso da Gremafer e da Aceto. 

    Tudo isso é possível. 

    Até um candidato a presidente da República dizer que vendeu seu terreno no Morumbi porque achou melhor assim. Realmente, foi melhor. Muito melhor.

  5. Para inglês ver

    Bom, mas se esta tudo bem documentado na Privataria Tucana desde 2011, para quê serve essas informações de Fernando Baiano agora? Se desde a saida do livro bomba de Amaury até aqui, o MPF não mostrou-se interessado em investigar nada do que apurou Amaury Junior, sem falar dos tentaculos demonstrados no livro do proprio Rubens Valente. Agora vão fazer o quê com Preciado e todo o tralala que vem atras dele? Estão abusando de nossa paciência!

  6. “o empresário Gregorio Marin

    “o empresário Gregorio Marin Preciado faria parte de um esquema de pagamento de propinas durante a compra, pela Petrobras, da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA).”

    Ué, mas o negócio de pasadena não foi ilibado e benéfico para o pais?

  7. “Parente de Serra participou

    Parente de Serra participou de esquema de propinas

    Manchete em revista escandalosamente atrasada, que só tem serventia nos consultórios médicos…

    Serra já registrou em cartório que o parente serpente arrolado na Lava Jato não é mais seu parente:

    Serra aboliu e destituiu, oficialmente carimbado rubricado, seus laços familiares afetivos com este parentesco muy rico muy apreciado que, no entanto, se revelou, graças à Lava Jato, um parentesco oriundi ignóbil e ultrajante que queima o filme da honrada família dos Serra, na vizinhança aprazível e honesta da italiana tradicional Mooca…

    enquanto seu Nassif, desafeto figadal de Serra, vai carregando o saco de milho, Serra já vem vindo com o fubá.

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