Páris e Helena

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Por JNS

Páris e Helena

                    Brando se escusa Páris: “Doce Helena,
                    Com essas lancetadas não me punjas:
                    Venceu-me o Atrida por favor de Palas;
                    Deuses mais faustos me farão vencê-lo.
                    Vamos em nossa cama congraçar-nos:
                    Tal ardor nunca tive e tais desejos;
                    Nem quando, arrebatada à meiga Esparta,
                    Velejava contigo, e a vez primeira
                    Na ilha Cranaé do amor gozamos;
                    Hoje mais te apeteço e mais te anelo.”
                    Então sobe adiante, e o segue a esposa;
                    No entalhado seu leito adormeceram.

                    Ilíada , Homero , poeta grego do século VIII a.C.

                    Vertida pelo poeta brasileiro Manoel Odorico Mendes

                    Páris e Helena | Jacques-Louis David (França, 1748 – 1825)

Capturando a visão da lenda grega de Páris, filho do rei de Tróia, como a perfeição da masculinidade, e Helena, filha do rei de Esparta, que possuía a reputação de mulher mais bela do mundo,  como o símbolo de beleza feminina e a atração sexual, Jacques-Louis David pintou os lendários amantes em seu ninho de amor. O assunto é amor, expressa pela presença de Cupido e a sensualidade do desenho, ao invés do rapto de Helena por Páris ou a Guerra de Tróia que se seguiu como resultado.

Já em 1786, o conde d’Artois, irmão dos reis Luís XVI e Luís XVIII, encomendou uma pintura sobre este tema e David trabalhou nela durante pelo menos dois anos, concluindo a sua obra em 1788. Neste desenho e outros, ele desenvolveu uma composição serena, com gestos afetuosos e um ambiente antigo luxuosamente decorado, mantendo a composição e o tom emocional na pintura final.

http://www.getty.edu/art/collection/objects/17/jacques-louis-david-paris…

Enredo da Ilíada

O rapto de Helena, mulher de Menelau, feito por Páris, um dos filhos de Príamo, rei de Tróia, fez com que os Gregos confederados declarassem guerra e sitiassem esta cidade, que foi por eles tomada e destruída depois de um cerco de dez anos (1720 A.C.)

O objeto da Ilíada é um episódio do nono ano deste cerco, quando Agamemnon, chefe do exército, ultrajou a Aquiles, o mais valente dos Gregos.

Irritado, o herói retirou-se à sua tenda sem pretender mais combater. Os Troianos, notando a sua ausência, tomaram coragem, atacaram o campo dos Gregos ficando os navios destes em risco de serem queimados. Aquiles, apesar da inação a que votou-se, consentiu que Pátroclo, seu amigo, se revestisse de suas armas e guiasse suas tropas contra os Troianos.

Pátroclo tendo sido morto por Heitor, o implacável filho de Peleu jurou vingar a morte de seu amigo, e combatendo de novo ornado de novas armas, que a pedido de sua mãe Vulcano havia preparado, investiu contra Heitor, e imolou-o, aos manes de Pátroclo. E depois de haver insultado os restos mortais de seu inimigo, entregou-os a Príamo, pai de Heitor que os pedira ao herói.

http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/iliadap.html

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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  1. Musas

    ” Canta, ó deusa,

    A cólera de Aquiles”

     

    Com esses versos, Homero inicia a Ilíada.

    Na antiguidade todo artista invocava sua musa, no início da obra para pedir inspiração.

    No Renascimento . que teve como base a Antiguidade greco-romana, o escultor e pintor italiano Michelangelo, um dos artistas mais importantes de todos os tempos, representou as musas que fez no teto da Capela Sistina, no Vaticano.

    As nove musas da mitologia grega, filhas de Zeus e Mnemósine (a Memória)- são protetoras das ciências e das artes: Calíope da poesia épica;Érato da poesia de amor; Clio, da história; Euterpe, da música; Meupômene, da tragédia; Tália, da comédia; Polímnia, da filosofia; Terpsícore, da dança; e Urânia ,da astronomia.

    Até hoje, músicos e poetas cantam suas musas , como Manuel Bandeira que invocou a musa do verso livre.

     

  2. Nas rezas católicas o grego comparecia, não é?

    Olá, Odonir Oliveira, me lembro que em certas missas havia o Kyrie, eleison – e Senhor tem piedade de nós era  a tradução que nos ensinaram naqueles tempos.

    Aghios o Theos iniciava outro conjunto de cantos (ou de rezas) Oh Deus Santo, oh Deus Justo, tende piedade de nós (eleison imas).

    Para mim era bem difícil rezar em grego.

    Grande abraço,

    antonio francisco

    1. Grego é difícil mesmo, hoje no grego moderno, como em todas as

      línguas, houve um movimento para a simplificação.

      As crianças, por exemplo, adoram que lhes fale dos gregos, lhes mostre palavras e seus significados em português etc. além do desenho das letras do alfabeto, principalmente as minúsculas.

      Saberem que  hipopótamo, literalmente seria o “cavalo do rio”, causa-lhes curiosidade e querem saber mais e mais.

       

      Gosto muito das fábulas de Esopo, as quais traduzi no curso e a moçadinha adora vê-las escritas em grego.

      1. Medeia, de Eurípedes (primeira personagem feminina com

        características femininas)

         

        Prólogo

        (A Ama só, em frente à casa de Medeia)

        Ama:

        Quem dera que a nau de Argos , quando seguia para a terra da Cólquida, nunca tivesse batido as asas através das negras Simplégades , e que nas florestas do Pélion não houvesse tombado o pinheiro abatido, nem ele tivesse dado os remos aos braços dos homens valentes, que buscaram o velo de ouro para Pélias. Assim não teria Medeia, a minha senhora, navegado para as fortalezas da terra de Iolcos, ferida no seu peito pelo amor de Jasão. Nem depois de convencer as filhas de Pélias a matar o pai , habitaria esta terra de Corinto com o marido e os filhos, alegrando com a sua fuga os cidadãos a cujo país chegara , em tudo concorde com Jasão. Porque é essa certamente a maior segurança, que a mulher não discorde do marido. Agora tudo lhe é odioso, e aborrece-a o que mais ama. Traindo a minha senhora e os seus próprios filhos, Jasão repousa no tálamo régio, tendo desposado a filha de Creonte , que manda nestas terras; e Medeia, desgraçada e desprezada, clama pelos juramentos, invoca as mãos que se apertaram, esse penhor máximo, e toma os deuses por testemunhas da recompensa que recebe de Jasão. Jaz sem comer, o corpo abandonado à dor, consumindo nas lágrimas todo o tempo, desde que se sentiu injuriada pelo marido, sem erguer os olhos, sem desviar o rosto do chão. Como uma rocha ou uma onda do mar, assim escutas os amigos, quando a aconselham. A não ser quando alguma vez, volvendo o colo alvinitente, de si para si lamenta o pai querido, a terra e a casa que traiu para vir com o homem que agora a desprezou. Sabe a infeliz,, oprimida pela desgraça,, o que é não abandonar a casa paterna. Abomina os filhos e nem se alegra com vê-los. Temo que ela medite nalguma nova resolução. É que ela é terrível, e que a desafiar como inimiga não alcançará facilmente vitória.

        …………………………………………………………………………………………………………………………………

        Jasão

        Ó abominada, ó mais que todas odiosa mulher, para os deuses e para mim e para toda a raça humana, tu que quiseste enterrar a espada nos filhos que geraras, e me deitaste a perder, deixando-me sem descendência! E depois de fazer isto, ainda contemplas a luz do sol e a terra, tendo executado a mais ímpia das ações? Pudesses tu perecer! Vejo agora o que estão não via, quando de uma casa e de um país bárbaro te trouxe para um lar helênico a ti, grande flagelo, que atraiçoaste o pai e a terra, que te criara. O teu gênio da vingança, os deuses o assestaram contra mim. Depois de teres matado o teu irmão junto do próprio lar, embarcaste na nau de Argos, de bela proa. Tais foram os teus princípios. Casando com este homem, e gerando-me filhos, às núpcias, ao leito os imolaste. não há mulher alguma na Grécia que queira jamais fazer tal, essas às quais eu te dei preferência como esposa, contraindo uma aliança odiosa e funesta, para mim, tu, que és leoa, não mulher, dotada duma natureza mais selvagem do que a Cila Tirrênica. Mas a ti nem mil impropérios seria capazes de morder. Tal é o impudor inato que possuis. Desaparece, desavergonhada assassina de teus filhos. A mim cabe-me em sorte lamentar-me, a mim, que nem gozarei de novo leito nupcial, nem me é dado dizer adeus ainda em vida aos filhos que gerei e criei, pois que os perdi.

        Medeia

         Podia alongar-me muito a refutar os teus argumentos, se o pai Zeus não soubesse o que de mim sofreste, o que de mim ganhaste. Tu não havias de gozar uma doce vida, depois de teres desprezado o meu tálamo, escarnecendo de mim. Nem a soberana, nem o que te propôs o casamento, Creonte, de expulsar-me incólume desta terra. Depois disto, chama-se leoa, se quiseres, chama-me Cila, a que habita o rochedo tirrênico, que o teu coração, eu atingi como cumpria.

         Jasão

         Mas também sofres esta tortura e participas da desgraça.

         Medeia

        Sabe-o bem. A dor se esvai, desde que não podes rir-te de mim.

        Jasão

         Ó filhos, que mãe perversa vos coube em sorte!

        Medeia

         Ó filhos, como a loucura paterna vos perdeu!

         Jasão

         Não foi contudo a minha destra que os imolou.

         Medeia

        Mas a tua insolência e as tuas novas núpcias.

         Jasão

         E por causa do tálamo entendeste dar-lhes a morte?

        Medeia

         Crês que isso é pequena calamidade para uma mulher?

         Jasão

        Se for sensata; mas para ti é tudo perverso.

         Medeia

        Eles já não existem. É o que há de te pungir.

         Jasão

        Eles existem, ai de mim, como gênios da vingança sobre a tua cabeça.

         Medeia

         Sabem os deuses quem deu início às calamidades.

        Jasão

         Sabem sem dúvida como a tua mente é execranda.

         Medeia

         Odeia-me. Também eu detesto o azedume da tua voz.

        Jasão

         E eu o da tua. Mas é fácil a separação.

        Medeia

        Como assim? Que tenho a fazer? Também eu a desejo ardentemente.

        Jasão

         Que me concedas dar sepultura a estes cadáveres e chorá-los.

        Medeia

         Isso não, que eu mesma com minhas mãos lhes darei sepultura, levando-os para o templo da deusa Hera Acraia, para que nenhum inimigo os profane, revolvendo os túmulos. E nesta terra de Sísifo instituiremos uma festa e ritos sagrados para sempre, em compensação deste crime ímpio. Quanto a mim, vou para a terra de Erecteu, habitar com Egeu, filho de Pandíon. E tu, como é natural, mau, de má sorte acabarás, ferido na cabeça por um fragmento da nau de Argos, depois de ter visto das minhas núpcias o amargo fim.

        Jasão

        Dos filhos a Erínia e a Justiça, que vinga os crimes, te façam perecer.

         Medeia

        Quem te ouvirá, dos deuses ou demônios, a ti que és perjuro e falso aos hóspedes ?

        Jasão

         Ai, execranda assassina dos filhos!

         Medeia

         Vai para casa enterrar a tua esposa.

         Jasão

        Vou, mas privado de ambos os meus filhos.

        Medeia

         Não chores ainda; aguardes a velhice…

        Jasão

        Ó filhos tão queridos!

        Medeia

         À mãe, não a ti.

        Jasão

         Que depois mataste?

        Medeia

         Para te castigar.

        Jasão

        Ai de mim, que a boca querida dos filhos eu queria, desgraçado, agora beijar.

        Medeia

        Agora lhes falavas, e os beijavas, então expulsaste-os.

         Jasão

        Dá-me pelos deuses, que eu toque dos filhos no tenro corpo.

        Medeia

        Não pode ser; em vão gastas palavras.

        Jasão

        Ouvis isto, ó Zeus, como nos afastam, o que nós sofremos desta execranda infanticida, não mulher, mas leoa? Ah! Mas até onde é dado e eu posso, hei de lamentar-me, invocando os deuses. Os numes tomarei por testemunhas de como tu me impedes de tocar, de sepultar os filhos de mataste, os filhos que quem dera eu não gerasse e nunca os mortos por ti visse.

        Coro

         De muita coisa é Zeus no Olimpo o Senhor, e muita coisa os deuses fazem sem contar. Vimos o que se esperava não realizar, para o que não se sabia o deus achar caminho. Assim vistes o drama terminar.

         

      2. Enriquecedor

        Desde a juventude sou fascinado pelas fábulas de Esopo e de Jean de La Fontaine (ilustração).

        Sou um sincero admirador das culturas dos povos do mundo, desde a mais simples manifestações de adaptação ao meio ambiente, como a dos pigmeus do Burundi, ao refinado pensamento dos filósofos, matemáticos, poetas e historiadores da Grécia.

        A sua contribuição é rara e pode se tornar preciosa no sentido de abrir o leque para temas que você gosta e que possam ser compartilhados livremente.

        Para quem gosta de ler, você é uma biblioteca ambulante.

        Fala sério!

        Ops!

        Fale grego, uai!

        1. Há, há, há, seu amigo antonio francisco e todos os outros que

          não falam nem grego nem latim podem dificultar a brincadeira de telefone sem fio, uai.

          As minhas crianças aqui do Clubinho adoram que lhes leia fábulas; as gregas, originais, são curtas. Esse negócio de moral da história … é criação mais recente, digamos assim.

           

          Há um tempo, havia elaborado um post sobre tragédias gregas, começando por Medeia, o material já estava editadinho, tadinho, mas desisti. Luciano lançou o da Bibi Ferreira, e eu usei um pouco do que havia preparado para o meu.

          Mas você é muito versado e versátil… é “conversa pra mais de metro” ou quem sabe de quilômetros, andarilho e turista acidental que é. 

          Grego, escrito.

          Língua morta quase. Pelo menos a dos clássicos que estudei.

          E hoje quase matam e tiram do mapa a Grécia também.

          Haja literatura e filosofia pra suportar esses novos helênicos, uai.

           

    2. Senador Francius

                           Eu orava contrito em Latim

                           Por isso

                           Deus tem piedade de Mim

                          

      Prezado Senador da Acrópole Ateniense.

      As preces da Vossa Senatoria foram atendidas?

      A Vossa Senatoria orou em grego só para pedir perdão pelas presepadas armadas em Itambacuri?

      Caso a Vossa Senatoria não tenha sido perdoada, não adianta orar nem em Minerês que não vai dar…

      Reconheça que a Vossa Senatoria é um caso perdido para o divino Zeus.

      Ο Δίας σας απελευθερώσει και να κρατήσει το κακό.

      (Zeus te livre e guarde de todo mal).

      1. Por Baco!!

        Então, JNS, nunca viste Baco naquele trecho do FANTASIA de Walt Disney?

        https://www.youtube.com/watch?v=dfr_lW71KRE

        Em Itambacuri era daquele jeito, tal e qual:

        Se era prá espremer uva, a gente espremia; se era para moer a cana, a gente moía; se era prá rezar, a gente rezava em português, em latim, em italiano, em grego, em francês, ou você nunca recitou a Sainte Marie, mère de Dieu segurando a face para não cair na risada (mèrde diê), hem?

        E o alfabeto grego que tinha (tem?) as letras zêta, êta, têta?? E depois, ióta, cápa? Quem é que não ria?

        E o hino nacional brasileiro  que a gente decorou em latim, hãm? 

        https://www.youtube.com/watch?v=RS6b_SFJjpU

        Ora, ora, pois, pois. 

        Grande abraço!

        antonio francisco

         

  3. Os gregos

    jns, nesses mais de 10 anos de blog, nunca mencionei minha formação em letras clássicas.

    Isso quer dizer que estudei 4 anos de língua e literatura gregas clássicas.

    Sinto falta de poder “falar’ mais sobre o tema.

    Meus amigos sempre mencionavam, ela está falando grego pra mim.

    A dificuldade com a língua, o alfabeto, compreendo até.

    Mas todos os ensinamentos que tive na USP: a épica de Homero, a oratória de Demóstenes, a mitologia, a tragédia e a comédia gregas, a poesia , Hesíodo e,principalmente, o ideário dos filósofos têm ainda muito que ser lido, usufruido e questionado em relação aos nossos tempos e valores.

    SERIAM OS DEUSES ASTRONAUTAS ?! (sic)

     

  4. Olá, estou fazendo um trabalho de aula sobre esta obra, O Amor de Páris e Helena de Jacques – Loius David e gostaria de saber se alguém pode me ajudar…
    Preciso identificar e explicar de forma específica os elementos presentes na obra, não acho essas informações em lugar nenhum.

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