Parlamentares reclamam de aumento de gastos de campanha

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Da Rede Brasil Atual

Representantes de trabalhadores e minorias sofrem com custos de campanha

Parlamentares que tentam reeleição reclamam de aumento dos gastos, redução do fundo partidário e diferença em relação a campanhas que recebem doações de empresas e igrejas

Autora: Hilda Cavalcanti, da RBA 

Disputa difícil

Erika, Manuela, Nimário e Wyllys, atuantes em direitos humanos: críticas ao sistema. Simon, aos 84 anos, não faz mais campanha; Jarbas sai do Senado e disputa Câmara; Vicentinho teme poder econômico; e Souto reclama dos custos

Brasília – Embora tenham se programado durante anos para enfrentar as eleições, deputados e senadores estão assustados com os altos custos das campanhas. E passaram as últimas semanas desfilando um rosário de queixas nas lideranças dos partidos, segundo informações de gabinetes da Câmara e do Senado.

As principais reclamações são o aumento dos valores em relação a 2010 (bem maior que o esperado), a redução de contribuições partidárias e, ao mesmo tempo, a situação desproporcional pela qual eles têm de enfrentar em relação aos candidatos que recebem doações privadas de grandes empresas e organizações religiosas.

O problema remete à velha questão da necessidade de uma reforma política e ao debate sobre o fim do financiamento privado de campanhas. Muitos dos beneficiados com maiores recursos terminam em mandatos com pouca representatividade popular e que acabam defendendo no Legislativo interesses de grandes grupos econômicos. Do outro lado dessa movimentação, encontram-se os candidatos cujos assessores têm se esmerado em realizar jantares, ações entre amigos e eventos diversos para arrecadar recursos como forma de bancar o difícil período eleitoral.

Alguns parlamentares desistiram de se recandidatar e outros apontam a situação financeira como principal dificuldade para manter a cadeira. “Doar R$ 300 é muito diferente de doar R$ 3 milhões. É claro que essa influência é maléfica e deixa o Congresso cada vez mais desproporcional. Só conseguiremos acabar com tamanha distorção, de fato, com a reforma política”, enfatizou o líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS), ao avaliar o quadro.

“Não há problema em se fazer uma campanha mais barata, até deveríamos todos tentar isso. O problema é concorrer com adversários que gastam fortunas enquanto se faz essa campanha barata. Só vamos conseguir resolver isso quando conseguirmos isolar o poder econômico do processo eleitoral”, acrescentou, na mesma linha, o senador Humberto Souto (PPS-MG).

Diferença grande

Conforme levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgado recentemente, enquanto em 2010 o gasto com a campanha de um deputado federal ficou, em média, em R$ 1,1 milhão, este ano a previsão está em R$ 3,6 milhões. Já o gasto para a campanha de um senador, subiu de R$ 4,5 milhões para R$ 5,6 milhões. A estimativa foi feita com base nas previsões orçamentárias apresentadas por todos os candidatos registrados na Justiça Eleitoral.

Além disso, gastos com comitê de campanha, tirando os profissionais especializados, ficam, por baixo, em R$ 12 mil a R$ 15 mil mensais, diz um assessor, o que ajuda a inflacionar a conta total. A previsão feita atualmente é de que, somados, os custos de todas as candidaturas formalizadas no TSE nas eleições deste ano – 25.381 disputando cargos na Presidência da República, governos estaduais, Senado, Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas e Câmara Distrital do Distrito Federal – chegarão a um montante R$ 24 bilhões a mais que o de quatro anos atrás, de acordo com dados do próprio tribunal.

A distorção fica mais gritante quando se percebe que as bancadas do empresariado, evangélica e do agronegócio estão sempre bem preparadas para apoiar em massa candidaturas que os representem. Essa concorrência diminui as chances de candidatos históricos que, há anos, têm representado os trabalhadores e se destacado em áreas como direitos humanos e direitos das minorias.

Em outubro passado, estudo elaborado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) mostrou que, em função dessas distorções, a Câmara dos Deputados, nas próximas eleições, corre o risco de passar por uma renovação só vista anteriormente em 1990, da ordem de 61% dos componentes. No caso do Senado, a renovação também ocorrerá, mas não de forma tão expressiva, uma vez que apenas um terço das cadeiras estarão em disputa.

Na avaliação do analista político Antonio Carlos Queiroz, do Diap, se não houver uma grande articulação das entidades sindicais, a bancada que defende os trabalhadores no Legislativo correrá o risco de ficar pequena diante de deputados e senadores menos comprometidos com a questões trabalhistas e causas sociais. “Essa perspectiva é preocupante”, ressalta.

Dificuldades de recondução

“Não posso falar por todos, mas estamos, de fato, enfrentando muita dificuldade na campanha deste ano”, afirmou o líder do PT na Câmara, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho. “A bancada dos trabalhadores já é pequena e, se perdermos mais parlamentares na próxima legislatura, será o caos. Os sindicatos do Brasil inteiro precisam se articular para defender candidaturas de nomes importantes dentro do Congresso. Não podemos deixar que diminua”, afirmou o deputado Paulinho (SDD-SP), da Força Sindical, ao falar sobre o tema.

Como se não bastasse esse problema de ordem econômica, parlamentares têm apresentado outras dificuldades na recondução de candidaturas. Jean Wyllys (Psol-RJ), que foi defensor da autorização para casamento entre pessoas do mesmo sexo e contribuiu para o andamento de muitas matérias na Comissão de Direitos Humanos, quase não se candidatou. Ele ameaçou, em maio passado, não disputar a reeleição, diante do apoio dado pelo Psol ao pastor Silas Malafaia, que possui posição antagônica, principalmente em relação aos direitos civis, às defendidas por Wyllys.

Malafaia é o padrinho político da candidatura do pastor evangélico Jefferson Barros, do mesmo estado, a deputado federal, o que complica a situação de Jean Wyllys.

Outro candidato que se destacou na área de Direitos Humanos, Domingos Dutra, recém-saído do PT para o Solidariedade, enfrenta problemas no Maranhão que podem levar à impugnação da sua candidatura. O motivo foi o fato de Dutra ter se deixado fotografar, antes do período eleitoral, com uma camisa portando os números da sua chapa. O assunto está sendo avaliado pelo TRE.

A deputada Erika Kokay (PT-DF), que também teve trabalho atuante na área e possui um eleitorado bem segmentado, realizou eventos para conseguir angariar recursos e as campanhas costumam ser feitas por meio de muito corpo a corpo junto ao eleitorado, nas comunidades. Erika faz parte do grupo de parlamentares do PT no Distrito Federal, que questiona o governo de Agnelo Queiroz, do mesmo partido.

Em Minas Gerais, o petista Nilmário Miranda, vive situação complicada. Ele também não recebe doações de grandes empresários e a candidatura, segundo informações de colegas da mesma legenda, enfrenta dificuldades. Ele foi o criador da Comissão de Direitos Humanos da Câmara e ministro da Secretaria de Direito Humanos no primeiro governo do ex-presidente Lula.

Mudança de cenário

Outro nome tido como emblemático nas três últimas legislaturas avisou que não volta em 2015: a deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS). Manuela afirmou que considera importante renovar a experiência e, neste ano, sai de cena em Brasília para disputar uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.

No Senado, os dois desfalques são os senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Pedro Simon (PMDB-RS). Vasconcelos disputa uma vaga como deputado federal. Poderia ter negociado a campanha para reeleição na chapa majoritária em Pernambuco, mas preferiu ser candidato à Câmara, em meio às críticas sobre o processo de doações e o troca-troca na política observado a cada quatro anos.

Simon deixa totalmente a vida parlamentar. Ele tem dito em entrevistas que não tem mais interesse em disputar eleições nem enfrentar todo o desgaste do custo alto das campanhas. “É um sistema perverso. O parlamento e a política precisam ser reformados. Desde esse modelo eleitoral que está em vigor, passando pelas distorções do financiamento de campanhas, aos trabalhos existentes hoje no Congresso”, disse.

Nos últimos anos, mostrou o Diap, a taxa de renovação de parlamentares oscilou entre 43,86% (em 2008) e 44,25% (em 2010). Em 1990, foi de 61,82% e, em 1994, de 54,28%. Em relação à bancada de representante dos trabalhadores, existem hoje, em todo o Congresso, 83 deputados e oito senadores.

Redação

8 Comentários

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  1. Custo de campanhas

    Do que reclamam? Se os cargos não fossem lucrativos eles fariam outra coisa na vida. Nem venham dizer que é para servir os” interesses do povo e da nação”. A conta disso tudo é paga com o nosso dinheiro e eles ainda têm lucro pelo salário e beneficios que recebem durante o mandato.

  2. Só prá rico

    Do jeito que está só rico se elege e reelege eternamente, esses não me representam

    Na última eleição quem mais gastou mais se elegeu. Prá piorar, Gillmar Mendes pediu vistas no processo que acabaria com o financiamento por parte de pessoas juridicas para camapnhas eleitorais

  3. Democracia vs Plutocracia

    O  financiamento público de campanhas e simultaneamente, a proibição de doaçãos de pessoas e entidades privadas, religiosas,etc…É algo fundamental para preservar o sistema democratico, que com doações privadas ilimitadas, se corrrompe tanto que deixa de ser reprentativo e portanto democrático…Se transformando em um outro sistema de poder: O PLUTOCRÁTICO…

  4. Máfia global

    A trasformação da democracia em plutocracia é: A partir de dentro e sem dar um único tiro, através do dominio do poder financeiro sobre a composição dos cargos legislativos,, executivos e judiciários, uma ameaça real a soberania de um país e seu povo, de qualquer país! Vide EUA…

    A subjugação das massas pelos transnacionais “0,1%”, através da dominação irrestrita do poder financeiro (e midiático) sobre o sistema democrático é parte fundamental de uma agenda de dominação global por meio do controle dos recursos de cada país. Você ficaria feliz de viver em um estado totalitário fascista e corrupto? Infelizmente, os planos desta mafiosa e hedionda agenda global são reais e em plena execução…

  5. E a reforma?

    Preocupante a situação dos candidatos que defendem os direitos sociais e trabalhadores, cada vez se farão menores no Congresso. Eu não sei como é possivel esses emrpesarios do agronegocio e pior ainda, os empresarios das igrejas, colocar milhões nas mãos de alguns candidatos. Ha uma so coisa a ser feita e com urgência: reformar esse sistema. E como isso não foi feito até aqui, não sera com a entrada de mais deputados e senadores atrelados a igrejeiros, mercado e agronegocios, que se fara essa reforma. 

  6. Choque de realidade faz tão

    Choque de realidade faz tão bem aos demagogos esquerdistas.

    A revolução cultural não criou uma nova conciência e sim potencializou a alienação politica.

    O que se planta se colhe cedo ou tarde.

    O aumentos dos custos se deve antes de tudo pela fim da militância voluntária.

  7. Parlamentares são advogados

    Parlamentares são advogados administrativos

    Hoje, os parlamentares são advogados administrativos eleitos para defenderem os interesses de seus financiadores.

    Como a economia real e de serviços está nas mãos alienígenas, o Brasil é dilapidado com gusto.

    A chance de um cidadão sem vínculos com doadores e comum se eleger hoje e conseguir fazer a diferença nos parlamentos, seja em que esfera for, é zero.

    Pelo que levam de riquezas e bens do Brasil, sai barato financiar campanhas.

    Até quando?

     

  8. JABÁ VASCONCELOS É A PIADA NESTA NOTÍCIA

    JABÁ VASCONCELOS É A PIADA NESTA NOTÍCIA

    A matéria diz que Jabá Vasconcelos poderia ter “negociado a campanha para a reeleição” para o senado por Pernambuco. E que preferiu ser candidato a deputado, “em meio às críticas sobre o processo de doaçoes e o troca-troca na política observado a cada quatro anos.”

    Faz-me rir!. O senhor Jabá Vasconcelos não conseguiu sequer eleger o seu próprio filho vereador em Recfe em 2012. E vem agora dizer que não quer ser mais senador por questões morais. Qua… Qua… Qua….

    Este aí é mais um (v. Roberto Freire) que vai acabar vivendo de jabás e jetons em estatais paulistanas, comendo na mão de José Serra e do PSDB paulista.

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    Comentário em https://jornalggn.com.br/noticia/parlamentares-reclamam-de-aumento-de-gastos-de-campanha

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