Pasadena: documentos contrariam versão de Cerveró

Do Estadão

Documentos contrariam versão de ex-diretor da Petrobrás sobre Pasadena
 
Avaliação completa sobre refinaria de Pasadena ficou pronta na véspera de reunião do conselho
 
Sabrina Valle e Vinicius Neder
 
RIO – Embora o advogado do ex-diretor da Área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró, Edson Ribeiro, tenha dito anteontem que o contrato da operação de compra de metade da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), foi enviado ao Conselho de Administração da estatal com 15 dias de antecedência à reunião na qual o negócio foi aprovado, documentos internos da companhia com dados fundamentais do caso ficaram prontos às vésperas da reunião.

Nove documentos estão anexados à ata dessa reunião, datados entre 27 de janeiro e 2 de fevereiro de 2006. Sua leitura mostra que uma série de alertas foi omitida do resumo executivo apresentado por Cerveró ao conselho. Todo o processo foi feito a toque de caixa.

Procurado ontem, o advogado de Cerveró informou, por nota, que não falaria. “Eventuais esclarecimentos serão prestados por Cerveró, após seu depoimento, em 16/04, na Câmara dos Deputados”, disse Ribeiro.

O advogado esclareceu, porém, que nas declarações de quarta-feira se referia de forma genérica ao prazo de entrega de documentos ao conselho, e não ao caso específico de Pasadena.

A reunião de conselho sobre Pasadena foi dia 3 de fevereiro de 2006. A reunião da diretoria executiva que encaminhou o assunto ocorreu na véspera, dia 2. Da mesma data é o Documento Interno do Sistema Petrobrás (DIP) com detalhes do negócio, apreciado na reunião de diretoria.

Recebido por Cerveró, esse documento, de nove páginas, deveria embasar o resumo executivo de duas páginas e meia que a presidente Dilma Rousseff, em nota ao Estado, chamou de “falho”.

O relatório foi elaborado pelo então gerente executivo de Desenvolvimento de Negócios Internacional, Luis Carlos Moreira. Embora Cerveró tenha carimbado o recebimento do documento em 2 de fevereiro, o resumo executivo foi “originado pelo diretor da área Internacional” em 31 de janeiro, dois dias antes.

Em anexo ao documento assinado por Moreira estão outros pareceres internos, produzidos pelas gerências tributária e jurídica da própria Área Internacional, além de consultoria externa.

Prazo curto. O parecer tributário é datado de 31 de janeiro e chama atenção para o prazo curto em que a análise financeira e contábil foi feita. Já o parecer jurídico, documento feito com maior antecedência, é datado de 27 de janeiro, uma semana antes da reunião do conselho.

A gerência jurídica da Área Internacional não viu problemas, disse que as minutas dos contratos “contemplam cláusulas usuais em transações do gênero”. Mês passado, ao ser questionada sobre cláusulas polêmicas da operação – como as que previam uma Put Pption (obrigatoriedade de a Petrobrás comprar toda a planta em caso de conflitos) e Marlim – rentabilidade mínima à sócia belga – Dilma disse que o conselho não aprovaria o negócio soubesse delas.

Análises independentes também foram feitas às vésperas da reunião do conselho. O Citigroup entregou seu laudo de avaliação em 1º de fevereiro. Teve menos de cinco dias para analisar a papelada. Já o relatório da consultoria BDO Seidman é de 30 de janeiro, quatro dias antes da reunião. Ele apresenta cerca de 40 ressalvas, comentários ou sugestões, depois de cinco dias analisando o caso. 

 

Redação

17 Comentários

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  1. É impressionante como o

    É impressionante como o governo e a Petrobras não conseguem se comunicar eficazmente.

    A mídia massacra diuturnamente e as autoridades ficam passivas à merce destes ataques midiáticos.

    O PT tem a obrigatoriedade de fazer juz às suas tradições de combate incessante em prol da sociedade .

    Esta sendo cada vez mais dificil,para nós militantes,defender essas contradições ,que podem nos custar muitoi caro.

    Parece que o PT quer jogar por terra o que custou tanto a ser conquistado.

    São tantas as mentiras que pessoas que ,embora não votassem no PT,começam a questionar e aceitar tais mentiras como verdadeiras fossem.

    Creio que este alerta ,embora partindo de um simples petista ,sirva para chamar a atenção dos que participam dos blogs ,ditos sujos.

  2. TORCIDA

    Se com essa história da refinaria de PASSADENA o congresso avançar nas investigações do metro de SÃO PAULO, será uma vitória contra as impunidades tucanicas que se espalham pelo BRASIL e que é protegida pela mídia/judiciário/mp.

  3. A nossa imprensa é de irresponsabilidade enorme.

    Comete crimes contra a honra e ainda é blindada pelos que terrorizam ao afirmarem que a regulação da mídia é a mesma coisa que subtrair a liberdade de expressão.

    No caso do Estadão, em editorial  de ontem,”A presidente desmentida”, endossa a palavra de Nestor Cerveró e desqualifica a da presidente Dilma Rousseff: http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,a-presidente-desmentida,1148639,0.htm

    Dia seguinte, hoje, o Estadão se desmente com a matéria acima.

    Reputação que se lixe, verdade que vá para o esgoto, o importante é atacar sem a cautela de apurar o esperneio de quem já está envolvido em outras denúncias correlatas (Cerveró).

    1. “Estadão, em editorial  de

      “Estadão, em editorial  de ontem,”A presidente desmentida”, endossa a palavra de Nestor Cerveró e desqualifica a da presidente Dilma Rousseff”:

      O governo falou a verdade desde o comeco, e quem le o blog tambem ja sabia que o governo tinha documentacao sobre tudo.  O estadao foi irresponsavel, mentiroso, ou ambos.

      1. Estadão e a presidente Dilma

        Ivan, ambos, Ivan. E se aprofundarmos, vamos encontrar interesses inconfessáveis. Cecilia Binder

    1. Confere. Truque manjado.

      30 de janeiro = sexta feira.

      O velho truque de entregar material as 1 minuti antes do final de expediente de uma sexta para dizer que entregou “3 dias antes” (ou “4”)…

  4. Vamos ao cinema?

    Uma boa dica é o filme “A caça”. Um professor é acusado – falsamente – de pedofilia. E – talqualmente a área de comunicação do governo federal – acha que a acusação não é tudo isso…

  5. Cavando estágio no PIG?

    “Advogado de Cerveró diz não ter provas de que contrato de Pasadena foi entregue 15 dias antes a conselheiros”.

    Não tinha provas mas soltou o factóide assim mesmo? Então tá, já matei a charada: o dotô Edson tá cavando uma vaguinha em alguma redação do PIG. Jeito pra coisa ele já mostrou que tem…

  6. enfim… tudo normal. 
    a

    enfim… tudo normal. 

    a única cagada que continuo vendo nessa história toda é a reação da Dilma (tirando o dela da reta e condenando o que não tem pq ser condenado) e a não reação da Petrobras, que parece mulher de malandro.

  7. Conheça José Monforte, economista que desbancou Gerdau no consel
    do infomoney.com.br Economista de 66 anos é conhecido pela atuação no conselho de diversas empresas e reuniu sucessos comoNatura, mas também casos como o da AgrencoPor Lara Rizério |8p4 | 04-04-2014SÃO PAULO – Na assembleia da última quarta-feira (2), um fato histórico marcou a assembleia daPetrobras (PETR3;PETR4). Os acionistas detentores das ações preferenciais da companhia elegeram JoséGuimarães Monforte para uma das dez vagas do Conselho de Administração, substituindo Jorge GerdauJohannpeter, presidente do conselho da Gerdau (GGBR4) que estava há 13 anos como parte do conselhoda petroleira brasileira. Em março, a gestora britânica Aberdeen e outros acionistas minoritários da Petrobras haviam lançadocampanha para a eleição de Monforte como novo membro independente do Conselho. Além da Aberdeen,a campanha foi apoiada pelos fundos de pensão The California State Teachers’ Retirement System eUniversities Superannuation Scheme, pela gestora F&C Management e pela consultoria Hermes EquityOwnership Services. Monforte foi membro de conselhos de grandes empresas brasileiras, sem vínculos com controladores, comodisseram seus apoiadores. O objetivo dos estrangeiros em indicar Monforte é de ampliar a participação nasdecisões de um conselho por meio de um integrante que teria maior independência em relação aocontrolador, enquanto Gerdau é tido como mais alinhado pelo governo.De acordo com a Aberdeen, o conselheiro “poderá colaborar para a adoção de modelos de gestão quevisem ao interesse de todos os acionistas, em particular para a definição de uma política de preços decombustíveis. Tal definição ampliaria a capacidade de investimentos e de expansão da Petrobras no longoprazo”, informou o fundo. E Monforte tem um histórico bastante grande de atuação em grandes empresas, sendo um dos maisrespeitados consultores financeiros do mercado e já tendo participado do conselho de grandes corporações.Economista nascido em 6 de julho de 1947, ele é graduado pela Universidade Católica de Santos e iniciou asua carreira em 1973. Atuou em diversos bancos e empresas como BANESPA, Banco Merrill Lynch, BancoCitibank N.A. Em 1979, assumiu a diretoria executiva da Merrill Lynch e, em 1988, ingressou no Citi comodiretor de private bank na filial brasileira. Posteriormente, em 1991, foi para a filial de Nova York, sendoresponsável pela área de desenvolvimento de produtos. Em 1994, Monforte retornou ao Brasil e assumiu adiretoria de mercado de capitais. Monforte ocupou a presidência da VBC Energia S.A entre 1996 e 1997, tendo sido responsável por estruturar ecoordenar trabalhos de aquisição dos principais ativos oferecidos na privatização de empresas de distribuição deenergia no Brasil, conforme destaca o seu currículo. A aquisição da CPFL (CPFE3) foi o destaque. De 1998 a 2007, foi presidente e organizador da Janos Participações, que foi formada para gerir o patrimôniodos sócios controladores da Natura (NATU3), onde foi membro independente do conselho de administração,atuando na área de gestão de investimentos financeiros, de serviços ao patrimônio de uso, de compra departicipações de empresas. A Janos é uma tradicional family office, que foi uma das responsáveis pela viradana governança corporativa da Natura, culminando com a oferta de ações da companhia de cosméticos em4/4/2014 InfoMoney :: Conheça JoséMonforte, economista quedesbancou Gerdau noconselho da Petrobrashttp://www.infomoney.com.br/Pages/News/NewsViewPrint.aspx?NewsId=3271696 2/22004. A partir da Janos, Monforte foi um dos fundadores e principal executivo da Pragma Patrimônio, afastando-seda gestora em 2012 em meio à reestruturação. A Pragma presta serviços de aconselhamento para empresase pessoas nas áreas de gestão de recursos, fusões e aquisições e private equity.Além da Natura, Monforte ajudou a organizar a governança da Vivo (VIVT4), Sabesp (SBSP3), Nossa Caixa,Caramuru, Grupo Martins, JHSF (JHSF3), Rossi Residencial (RSID3), Arezzo (ARZZ3) e Claro, entre outros. Monforte também foi vice-presidente da ANBID (Associação Nacional dos Bancos de Investimentos), entidaderepresentante das instituições financeiras que operam no mercado de capitais brasileiro do Conselho da Caixade Liquidação da Bolsa de Mercadorias. Também esteve envolvido no desenvolvimento do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa),sendo conselheiro em 2002, vice-presidente do Conselho em 2003 e presidente de 2004 a 2008, alémde coordenador do Comitê de Abertura de Capital da Bovespa. Caso AgrencoSe Monforte teve atuações bem sucedidas, outras não foram tanto assim. Monforte era um dos trêsconselheiros independentes da Agrenco, companhia que decretou em agosto de 2013. A PragmaPatrimônio, atuou como “assessor contratado” da distribuição pública dos BDR (Brazilian DepositaryReceipts)s, recibos de ações utilizados para a entrada na Bovespa,e não conseguiu detectar os problemas daempresa

  8. Devassa indevida e a surpreendente (e estulta) papagaice

    É impressionante a irresponsabilidade e o descaso da oposição, sua míRdia e seus papagaios sobre a divulgação de dados e fatos de uma empresa de capital aberto, principalmente com o objetivo de denegrí-la.

    As concorrentes (internacionais), que nem de longe sofrem com esta sanha futriqueira (ainda que não fosse) devem adorar os efeitos negativos, a exposição e os detalhes de eventos em nível de diretoria e conselho, de desisões estratégicas.

    Os papagaios, coxinhas, neoliberettes e torcedores da venda da empresa se apressarão em dizer: “mas é pública! é dinheiro “nosso!”. Temos que “saber”!.

    Sim, mas através dos canais competentes, (MP, PF, CVM, TCU, auditorias intenas e externas independentes, etc.), que:

    1) Não ficarão dando publicidade a futricos, farsas e inverdades que desgastam a imagem da empresa e afetam a opinião pública.

    2) Terão muito mais competência e responsabilidade intrínseca do que repórQueres e (m)e(r)ditores que não conhecem os assuntos e soltam qualquer vazamento como se verdade fosse. E são remunerados, direta ou indiretamente por lados interessados.

    Além do mais, estes papagaios (os que não recebem benefícios pelo evidente e intenso lobby para que bolsos privados comprem a empresa a preço vil e se beneficiem de seus altos lucros) não entendem que estão contribuindo para a seguinte situação (para eles):

    1) O “dinheiro” não será mais “público” (ah bom!, “agora sim”!)

    2) Não percebem que o “dinheiro público” não vem do bolso deles, mas do (valor do) petróleo que hoje é e depois não será mais deles.

    3) Perderáo não só este patrimônio mas também suas receitas bilionárias.

    4) Repito: por ser historicamente lucrativo, este negócio não é movido com o “dinheiro do povo” (apenas o investimento inicial, que já produziu há muito seu retorno e é lucrativo).

    5) Nunca mais ficarão “sabendo” relevantemente o que se passa nos meandros da empresa privatizada, já que isto será “um problema de seus donos privados”, guardados critriosa e cuidadosamente.

    Será que há inteligência no que falam estes papagaios?

    Evidentemente que não! Sua habilidade é reproduzir sons.

    Sabemos que papagaios “falam”.

    Mas não sabem o que falam.

     

  9. Confidencialidade e Quarentena.

    Cerveró (e outros eventuais envolvidos, como o sr. Luis Moreira) em QULAQUER situação deveria ficar calado e só se manifestar em foros apropriados. Jamais publicamente.

    Primeiro porque, pelas informações publicadas, por incompetência ou ma fé (ainda por esclarecer) é inequivocamente o responsável por trazer ao conselho material (relevantemente) incompleto para tomada de decisão.

    Esta reponsabilidade (de assessorar de suficientemente a excelentemente) já está clara. Agora é esclarecer porque isto aconteceu. É fato que as cláusulas omitidas permitiram que a sócia impusesse seus desejos e causasse além do preço final pago de 296 (que não é necessariamente absurdo), um grande e indesejado custo juridico.

    Segundo porque há países onde diretores de instituições de capital aberto se obrigam a uma quarentena de alguns anos sobre vazar informações relevantes. Em alguns destes países, até a própria imprensa é coibida de soltar informações sem citar fontes ou provas. O sigilo da fonte versus a divulgação de informações privilegiadas.

    Simplesmente porque afetam ou podem afetar o (“santo”) mercado. 

    Quanto mais numa empresa com valor na casa de centenas de bilhões.

    Já aqui no Brasil, vale tudo o tempo todo.

    E pior, é só futrico!

  10. Um pouco de informação sobre o tema:

    Miguel do Rosário vem dando de goleada nos blogueiros progressistas há tempos.

    São dele vários rebates que desmascararam várias farsas do PIG. Sem luvas de pelica, com muito trabalho.

    Agora sobre o negócio de Pasadena:

    Exclusivo! Astra pagou US$ 55 mi por estoques de Pasadena

    Enviado por  on 04/04/2014 – 12:47 pm18 comentários

    Minhas pesquisas sobre Pasadena prosseguem e tenho novidades. Interessante notar que estou na contramão da grande mídia. Ela só está interessada em escândalo e sensacionalismo. Não há esforço para esclarecer o leitor, e sim deixá-lo atordoado, com suspeitas de tudo e todos. 

    Já o Cafezinho busca informações que nos permitam entender melhor os processos comerciais que deram origem aos valores pagos pela Petrobrás para adquirir a refinaria.

    Nesta sexta-feira, o Globo volta a atacar, com a sua tática goebbeliana de reiterar mentiras ad infinitum até elas se consolidarem como verdade. O editorial de hoje repete a desinformação de que Pasadena foi comprada por US$ 42,5 milhões pela Astra, e que depois vendeu 50% da refinaria à Petrobrás por US$ 360 milhões. Omite-se o “detalhe” de que metade do valor pago pela Petrobrás referia-se a estoques, que foram vendidos e deram lucro. O Globo também omite uma informação já confirmada no Valor de que a Astra investiu US$ 300 milhões na formação de uma trading para operar com a refinaria.

    Até então não se sabia o valor pago pela Astra pelos estoques da refinaria de Pasadena, quando assumiu o controle dela em janeiro de 2005.

    Agora eu já tenho uma ideia, com base em fontes seguras. Segundo a Jefferies, consultora financeira que vinha fazendo, ao fim de 2004, um extenso estudo sobre as condições financeiras da Crown Central Petroleum, a refinaria de Pasadena iniciou, em junho de 2004, um “processing agreement” (um acordo comercial) com um cliente, cujo nome não é informado, que resultou na venda do estoque inteiro da refinaria. A Jefferies estima – com base em números oficiais da própria refinaria – que esse estoque estava em torno de 1,3 milhões de barris e custou US$ 55 milhões. Para isso, ela usou a cotação de US$ 42,33 o barril de óleo cru, na bolsa de Nova York, em 6 de janeiro de 2004.

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    No relatório da Astra Transcor de 2005, empresa que adquiriu Pasadena, há referência a este “processing agreement” com a refinaria, que se deu no segundo semestre de 2004.

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    Observe que a Astra está nitidamente empolgada com os lucros operacionais que a refinaria já estava lhe proporcionando. O “acordo” com Pasadena em 2004 , diz o relatório, foi responsável por 40% do faturamento da companhia belga naquele ano.

    Mais uma prova de que Pasadena não era e jamais foi uma “sucata”, conforme a imprensa e seu exército de coxinhas passaram a lhe chamar.

    Tem mais. Eu descobri uma reportagem de março de 2001, assinada por Kristine Henry, do The Baltimore Sun, que traz informações essenciais sobre a refinaria de Pasadena.

    Em 2001, Henry Rosenberg, que até então possuía 49% das ações da Crown, consegue finalmente comprar as ações que ainda não tinha, pagando US$ 82 milhões. Neste caso, a empresa incluía as refinarias de Pasadena e Tyler e centenas de postos de gasolina. Pasadena, porém, era o ativo, de longe, mais valioso. O valor não inclui os estoques das refinarias, que costumam ficar entre US$ 50 e US$ 100 milhões.

    Trecho da matéria, traduzido por mim:

    “O acionista Francis Hogle, que também é consultor de investimento, disse que se os Rosenbergs querem pagar US$ 82 milhões para adquirir todas as ações que eles ainda não possuem, então eles devem achar que isso é um investimento que vale a pena.

    ‘Eu acho que o negócio com refinarias se tornará um bom negócio’, diz o sr.Hogle. ‘Eu não estou contra o senhor Rosenberg; eu gostaria de sentar no mesmo lado da mesa que ele’ “

    O problema com Pasadena, que reduzia seu valor em 2004, era o seguinte: havia uma nova legislação ambiental que exigiria investimentos pesados para reduzir o índice de sulfúrio na emissão da refinaria.

    A Jefferies tinha interesse em mostrar Pasadena como um ativo que merecia ser comprado, pois estava com bom preço e as perspectivas de valorização do negócio das refinarias eram boas (projeção que se mostrou acertada).

    O bom preço (para compradores) da refinaria de Pasadena em 2004 tinha três motivos:

    1) O primeiro era a nova legislação ambiental, que exigiria um investimento de US$ 35 milhões, segundo a Jefferies. A data limite para instalar equipamentos menos poluentes era até dezembro de 2007. A Astra, mais tarde, informaria que realizou investimentos de US$ 84 milhões na refinaria.

    2) O segundo era que a Rosemore, a dona da Crown, estava afundada em dívidas. A esta altura, 2004, ela já tinha vendido seus postos de gasolina, e só lhe restavam mesmo as duas refinarias, Pasadena e Tyler. A dificuldade financeira da Rosemore vinha afetando a operação com as refinarias, que precisa de um bom capital de giro para adquirir petróleo, uma matéria-prima cara e de preço volátil.

    3) A terceira dor de cabeça da Crown, que desvalorizava seus ativos, era a existência de um plano previdenciário para seus funcionários com um déficit de quase US$ 66 milhões.

    A Jefferies admite que, se usasse o método tradicional, que calcula o valor de uma refinaria em função de quantos barris pode processar por dia, Pasadena deveria valer US$ 327 milhões, sem os estoques. Isso em 2004!

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    A Astra acabou fazendo um ótimo negócio. É bom lembrar, contudo, que ao comprar todas as ações da empresa em 2001, Henry Rosenberg passou a ter uma empresa absolutamente familiar e fechada. Seus dados pararam imediatamente de ser disponibilizados. Por isso, as últimas informações abertas de que dispomos da refinaria de Pasadena vão até 2000 ou 2001. Sendo um negócio privado, há dificuldades para se obter detalhes sobre o “acordo comercial” que Pasadena articula com  Astra.

    Entretanto, pelos dados que temos até agora, sabemos que a Astra gastou o seguinte em Pasadena, antes de vender 50% à Petrobrás.

    – US$ 42,5 milhões pelas ações da companhia.
    – US$ 55 milhões pelos estoques.
    – US$ 300 milhões na Astra trading.
    – Não sabemos os termos do “processing agreement” que Astra e Pasadena iniciaram em 2004.  Mas é certo que os investimentos da Astra começaram a partir desta data.

    Total: US$ 397,5 milhões.

    É um preço mais compatível com a magnitude de Pasadena. E não estou contabilizando a incorporação das dívidas da empresa, porque precisamos de mais detalhes. Essa questão das dívidas é importante, porque tenho quase certeza que foi isso que encareceu o preço final de Pasadena, com a Petrobrás obrigada a pagar “garantias bancárias” no valor de centenas de milhões de dólares.

    Repito aqui a informação, também da Jefferies, já dada em outro post, de que uma empresa americana do setor, a Lyondell, estava tentando captar até US$ 300 milhões no mercado financeiro para adquirir as refinarias de Pasadena e Tyler, aí incluindo os estoques.

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    Desses US$ 300 milhões, dois terços, ou US$ 200 milhões, seriam para a aquisição de Pasadena (incluindo estoques).

    Reproduzo outro trecho da análise da Jefferies, só para reforçar a informação de que Pasadena já era, em 2004 e 2005, uma refinaria lucrativa, em função das margens crescentes. O “crack spread”, ou seja, a diferença entre o preço do petróleo cru e o produto já refinado estava num patamar muito positivo para todas as refinarias.

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    O texto acima informa que o lucro líquido da companhia (EBITDA) havia saltado para US$ 21,2 milhões no segundo trimestre de 2004, contra US$ 9,8 milhões no trimestre anterior.  Para 2005, a Jefferies estima um lucro líquido (EBITDA) de US$ 61 milhões, com aumento de 7% sobre 2004. A maior parte desse valor vem da refinaria de Pasadena.

    Apenas com o lucro de 2005 seria possível quitar, com sobras, o valor pago pela Astra pela refinaria em janeiro daquele mesmo ano.

     

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    Finalizando o post, gostaríamos de saber, por parte da Petrobrás, qual foi exatamente o faturamento e o lucro da refinaria desde que ela comprou os primeiros 50%, e qual a estimativa para este ano. O blog da companhia continua dando bobeira. Hoje publicaram um post meio autista (com todo o respeito aos autistas), falando que Petrobrás ganhou um prêmio da Revista Época Negócios.

    Ora, em primeiro lugar ninguém lê Época Negócios, que pertence as Organizações Globo. Em segundo, esses prêmios apenas servem para alavancar as próprias revistas e convencer as empresas a investirem em anúncios nessas publicações fantasmas, que ninguém lê. A Petrobrás precisa usar o seu blog para passar informações atualizadas e se defender de ataques midiáticos. Como qualquer empresa, a Petrobrás tem de se esforçar para conquistar mentes e corações dos brasileiros, que são, em última instância, os seus principais donos.

    Houston_Ship_Channel_Galena

    Houston Ship Channel – Canal de Houston

    – See more at: http://www.ocafezinho.com/2014/04/04/exclusivo-astra-pagou-us-55-mi-por-estoques-de-pasadena/#sthash.tVWBWRlu.dpuf

     

    1. O Especialista (de verdade)

      Verdade, Zeus. Ele tem uma capacidade investigativa e de analisar dados, documentos e gráficos excelente. Digna de um Burburinho.

       

      Nossa, que honra falar com Zeus!

       

      Desculpe a piada sem graça. Não resisti.

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