Paulo Rabello de Castro e o jornalismo do senso comum

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Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Uma das grandes pragas dessa era das redes sociais é o opinionismo desenfreado. Todos têm opiniões taxativas sobre tudo, pouco importa o grau de complexidade do tema e de desinformação do autor.

Desde os anos 90, teve início essa praga do populismo do colunismo. Em vez de explicar, interpretar, atender às dúvidas dos leitores, o colunista se colocava no mesmo nível do leitor, com as mesmas indignações e o mesmo nível de ignorância. É o chamado colunismo do senso comum.

A maneira como uma colunista da Folha ataca Paulo Rabello de Castro, no artigo abaixo, é significativa da ditadura do pensamento leigo, justamente onde deveria estar o escrito especializado. Em negrito é sublinhado, meus comentários  

Sem respostas

Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES há pouco mais de um mês, fala muito mas diz pouco. O economista é loquaz na defesa política do governo Temer e evasivo nas explicações substantivas sobre as operações do banco. A verborragia de Rabello já levou dois diretores a pedir demissão.

Os dois diretores pediram demissão quando Paulo Rabello se manifestou em defesa da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) do banco. Trata-se de uma disputa central entre duas formas de encarar o banco, aqueles que o veem como banco de desenvolvimento e os que defendem que pratique taxas de mercado – o que, dado o nível das taxas de mercado inviabilizaria completamente o financiamento de longo prazo. Reduziu tudo a uma disputa verborrágica.

Com o barulho que lhe é habitual, Rabello lançou, na sexta (14), um documento chamado “Livro Verde – Nossa História Como Ela É”. Em suas palavras, uma “contabilidade escancarada” do banco estatal.

Os que vencerem as mais de 200 páginas, contudo, sairão sem respostas para temas momentosos, como os motivos que levaram o banco público a despejar R$ 8,1 bilhões na JBS.

Não se extrai do relatório por que o banco concentrou tanto dinheiro na JBS, financiando compra atrás de compra. Tampouco por que ainda tem um quinto das ações da empresa e se poderia ter lucrado com a venda de sua participação em tempos mais gordos.

  1. Os mesmos motivos que levaram o banco a financiar a Gerdau, a Vale, a Petrobras, e outras multinacionais brasileiras: empresas brasileiras se valendo da crise de 2008 para avançar no mercado mundial.

  2. Os tempos ficaram mais magros devido às delações da JBS e à operação Carne Fraca. O banco não vendeu antes, porque não tem bola de cristal. E não vendeu depois porque não se vende na baixa. Simples assim.

A ausência de explicações torna-se ainda mais conspícua diante das seguidas declarações de Rabello à frente do BNDES. Quando Temer declarou guerra a Joesley Batista, ele alistou-se à causa, carregando o banco na baioneta. Falou em capitanear um movimento para sacar a família Batista da gestão da JBS. Mas recusa-se desde então a esclarecer se a ideia tem respaldo da área técnica, quais acionistas o apoiam e se tem uma proposta para resgatar a companhia.

Que ausência de explicações?

Em qualquer crise de governança, o papel do acionista é exigir uma nova gestão profissional. Ao manifestar publicamente sua opinião, a troco de quê Rabello deveria esclarecer todos os aspectos da operação? Esse detalhamento só ocorre quando a opinião é formalizada.

A JBS é mencionada em apenas dois trechos do documento. Num deles, Rabello faz as contas para mostrar que o investimento no frigorífico deu lucro. Chega à soma de R$ 3,560 bilhões, usando dados até 31 de dezembro de 2016.

Por limitar-se ao ano passado, a contabilidade é conveniente ao banco. Desde então, veio a Carne Fraca, a Bullish e a delação dos irmãos. As ações da JBS caíram quase 40%. O lucro já minguou para perto de R$ 1 bilhão.

Fantástico! No plano de negócios analisado pelos técnicos do banco havia menção explícita de que, mais à frente, explodiria um escândalo, a JBS entraria com um acordo de delação, haveria a operação carne fraca. No mínimo registrado até agora, as ações da JBS estão no mesmo patamar nominal da época da integralização pelo BNDESPar. O que demonstra a vitalidade do negócio.

Rabello, reconheça-se, dá curso à tradição petista de não prestar contas sobre o que BNDES faz ou deixa de fazer. Durante anos, o banco se recusou a dar detalhes das operações com os chamados “campeões nacionais” –entre eles, os irmãos Batista.

As informações sobre os financiamentos sempre estiveram disponíveis no site do BNDES. Qualquer analista de mercado saberia dizer. O fato da colunista não saber não depõe contra a transparência do banco, mas contra seu próprio conhecimento. Não se consegue conhecimento ficando sentada e não indo atrás das explicações.

Recentemente, a gestão de Maria Silvia Marques evitou explicar por que vetou a mudança da sede da JBS para a Irlanda. O BNDES disse que não queria “desnacionalizar” a empresa. Mas achou que não era o caso de dizer por que a transação seria ruim para o banco.

E precisa explicar? Um banco de desenvolvimento  de um país que não aceita que a empresa apoiada mude para outro país! Deveria explicações se apoiasse a mudança.

O BNDES, aliás, não está sozinho nessa. A Caixa, outro banco estatal, nega-se a informar quanto a JBS deve a ela –sabe-se que é um dos maiores credores– e quanto já levantou com a venda de ações da empresa. Em 2013, o governo Dilma transferiu à Caixa ações correspondentes a 10% da JBS. Desde então, metade dos papéis foi vendida. Por quanto? Também quero saber. 

Sabe como um repórter fica sabendo? Perguntando. Não adianta ficar sentada esperando respostas a perguntas que não foram feitas.

 

 
Luis Nassif

8 Comentários

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    1. Parabéns pela postagem

      Parabéns pela postagem, assisti e ouvi toda a entrevista e o que percebi foi a exposição de toda a cretinice dessa gente opinóloga de buteco que fala mal por ranço ideológico, por ouvir dizer e sem realizar o mínimo do dever de casa como jornalistas.

    2. Muito bom

      Mas é impossível ver e ouvir esse cachorro louco raivoso de nome Villa.

      O lugar dele é acorrentado dentro de uma jaula e bem longe dos outros animais, é contagioso.

  1. Trata-se da velha imprensa

    Trata-se da velha imprensa brasileira, criada não para informar, mas para fazer exatamente o oposto. Desinformação é o negócio da imprensa nacional, pois com tal estratégia consegue-se a manutenção do status quo e, melhor, entregar o país aos abutres locais e, principalmente, gringos. Criminosa foi a atuação do BNDES nas privatizações, ou seja, dinheiro do estado (que advém de tributos que todos pagamos) para financiar empresa multinacional (de países desenvolvidos) para adquirer empresas nacionais, claro que ainda com um desconto. Para tal prática, a impresna nacional, cadela dos endinheirados, serviçal de gringos (que fale inglês, claro), rapariga da ingnorância, para tal prática ela não teve e não tem nada a dizer.

  2. Assisti a entrevista dele a

    Assisti a entrevista dele a jovem pan, Meus Deus!! quanta indigência dos jornalistas,

     

    de dar dó, ou é analfabestismo ou má fé……ou a combinação explosiva dos dois.

  3. Nos paises centrais quem

    Nos paises centrais quem governa e monta a estrategia de uma grande instituição publica ou privada é o CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO, o Board. É assim no FMI, no Banco Mundial, no BID, nos grandes bacos privados internacionais.

    Aqui o BNDES tem um Conselho mas dele pouco se ouve falar, não tem importancia alguma, a midia não fala nada sobre o Conselho e pouquissimos sabem o nome de seu Presidente, que no poder legal está acima do presidente do banco.

    È curioso nosso modelo de governança. o BNDES está subordinado no papel ao Ministro do Desenvolvimento Economico, Industria e Comercio, mas é só no papel, assim como a PETROBRAS é dependente no papel do Ministro de Minas e Emergia.

    São os MInistros quem deveria dar a estrategia geral para o Conselho e este montar a estrategia final para o presidente, o CEO do banco, executar. No Brasil não é nada assim. O presidente do Banco é autonomo e só se reporta ao Presidente da Republica, o Ministro da pasta nem cheira, quando é ele quem deveria ser responsavel pela estrategia.

    É um modelo de governança que não tem como dar certo.

  4. Paulo Rabello e o BNDES
    Foi bem interessante ver o histérico Villa, o Homero da estupidez analítica, ao gosto do tucanato. Outrossim, o comentário desconcertante do jornalista da Jovem Pan, ao final, que conformado com as explicações de Rabello, admitia que o BNDES sempre foi probo, jamais uma agência de interesse do PT. Melhor, ainda, foi ouvir o Rabello dar uma espetada nos moralustas jovens do tipo Moro e principalmente Dallagnol. Eu sugeriria ao tucano Moro e ao messiânico Dallagnoll que assistissem no netflix ao documentário “Prohibition”. Perceberiam o que a falsa moral pode fazer com uma nação.

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