Polícia Federal grampeou conversas de advogados da UTC

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal – A fase da Operação Lava Jato deflagrada hoje (03) traz como ponto de partida as tratativas do presidente da UTC, Ricardo Pessoa, nos contratos da Petrobras. Antes de os 200 policiais federais cumprirem os mandados, a Folha já tinha publicado informações vazadas da PF de conversas de Pessoa com outras empreiteiras, para definirem um consenso sobre as possibilidades de acordos de delação com a Justiça Federal do Paraná. 
 
Da Folha de S. Paulo
 
Dono da UTC cogitou acordo antes de ser preso, mas não queria acusar
 
Por Andréia Sadi e Aguirre Talento
 

Dias antes de ser preso pela Operação Lava Jato, em novembro do ano passado, o dono da UTC, Ricardo Pessoa, discutiu com interlocutores a possibilidade de um acordo entre as empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras, mas afirmou que só toparia se não tivesse que acusar ninguém.

Folha teve acesso a diálogos interceptados pela Polícia Federal que mostram que advogados da UTC discutiram com outras empresas a viabilidade de um acordo com as autoridades, em que todas as empresas pagariam multas, mas ninguém seria responsabilizado individualmente.

A ideia não foi levada adiante, entre outras razões, porque dias depois executivos de oito empreiteiras foram presos pela PF, entre eles Ricardo Pessoa, apontado como um dos líderes do grupo.

O ex-ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos, que morreu no final do ano passado, era o principal patrocinador da tentativa de acordo. Consultor da Odebrecht e da Camargo Corrêa, Thomaz Bastos atuava como interlocutor das outras empresas.

O advogado Alberto Toron, que representava a UTC na época, confirmou que foi a Curitiba para discutir com o Ministério Público Federal a possibilidade de um acordo, mas que não obteve êxito.

Pessoa saiu da cadeia em abril deste ano, libertado por ordem do STF (Supremo Tribunal Federal). Em junho, ele fechou acordo de delação premiada e passou a colaborar com as investigações, implicando ministros e políticos.

‘BABOSEIRA’

O empreiteiro nunca acreditou em saída indolor para o caso, mas nunca impediu as tratativas dos advogados. No momento, a UTC negocia um acordo administrativo com o governo federal para não ser declarada inidônea e poder continuar fazendo negócios com o setor público.

Em conversa com Renato Tai, funcionário do setor jurídico da UTC, em 12 de novembro de 2014 –dois dias antes de ser preso–, Pessoa disse que tinha “restrições” a um acordo entre as empreiteiras e chegou a chamá-lo de “baboseira”. “Esse acordo aí não resolve porra nenhuma, viu? Não é assim não. Não acorde nada”, recomendou.

“Só consigo fazer alguma coisa nesse sentido se eu não tiver que acusar nada”, ressaltou. Renato respondeu que as outras empresas concordavam com ele: “Nesse ponto não tem ninguém pensando de forma diferente, não”.

Depois de uma reunião dos advogados das empresas, Pessoa e Renato voltaram a se falar. “E Toron vai pra onde, Curitiba? Fazer [o quê], meu Deus?”, questionou Pessoa. Renato disse que a intenção era ir “mais para ouvir do que falar” e “saber se os caras têm interesse em conversar”.

Meses depois desses diálogos, o empreiteiro abandonou sua disposição inicial de “não acusar nada” ao fazer o acordo de delação premiada e citar entre os supostos beneficiários do esquema dois ministros da presidente Dilma Rousseff, o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

10 Comentários

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  1. Como age o Juiz Sergio Moro

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=DJg2OGIP9Ag&feature=youtube_gdata align:center]

    Nassif, assisti a todo o vídeo do Professor Alexandre Morais da Rosa.

    Ele foi postado em alguns dos blogs “sujos”.

    Mas com 2 horas e 36 minutos de duração, poucos irão querer ver e é quase impossível divulgar de fato isso em determinados ambientes, como por exemplo nas redes sociais.

    Por isso editei para 14 minutos, pegando só a parte que interessa mais, a que ele fala especificamente da Lava Jato.

    Por acreditar que isso é importante, peço aos demais comentaristas que divulguem isso da melhor forma possível.

    1. Como eu sou o cara que

      Como eu sou o cara que corrigiu Cantor, nao eh trabalho nenhum corrigir esse “dilema do prisioneiro”.

      O dilema do prisioneiro NAO se aplica aa LavaBunda, PONTO FINAL.  Os termos teoricos e talvez ate matematicos do dilema incluem SOMENTE a intencionalidade de dois prisioneiros e assumem que o proprio sistema nao tem intencionalidade exceto a que se refere a dois prisioneiros.  Isso eh dizer que uma vez que a situacao esteja razoavelmente orquestrada, nao haveria interferencia sistemica exceto a cobranca de um crime.

      NAO EH ESSA A SITUACAO que estamos vendo.  A LavaBunda EH corrupta.  A Teoria da Gigolagem se encaixa muitissimo mais nela do que o dilema do prisioneiro.  So que eu nao a escrevi ainda, ja mencionei varios pontos estritamente teoricos dela enquanto “as pessoas” estao se dando ao luxo de pensar que eu so estou querendo insultar(!).

      Ou a teoria esta errada (no estritissimo sentido de nao contar a influencia sistemica (intencionalidade alem do proposto no problema) ou eu estou certo.  Ou um ou outro, os dois nao!

      Uh…

  2. Ataque ao direito de defesa 431733.

    O STF, a Dilma, o seu “ministro” da Justiça e a cúpula do PT têm medo da Globo, da Veja e do coveiro do Caso Banestado.

    Acontece que a Globo sairia do ar, apavorada, apenas com o anúncio de uma CPI da Fundação Roberto Marinho. A VEJA foi esmagada por Romário com apenas 3 tuítes. E o coveiro do Caso Banestado esta na mesma categoria do Waaaaaaaaaaaaack: “uma fonte (dos EUA) que deve ser preservada”.

    Enquanto isso, o direito de defesa é pisoteado, de novo, pela tríade dos “tigres de papel”.

    Governo de pusilânimes!

  3. É a prova de que essa Lava

    É a prova de que essa Lava Jato é realizada apenas para chantagem. Está cada vez mais evidente que o numero de ilegalidades passou dos limites intencionalmente. Espera-se seu desmantelamento para breve. Não há obviamente interesse em punição e moralização. 

    E podem contar que o fim da Lava Jato é almejado para aumentar ainda mais o sentimento de impunidade e a revolta. 

    A ideia é constranger empresários a direcionar dinheiro apenas para a oposição protegida pela mídia, destruir a imagem do PT, Dilma, Lula, realinhar com EUA e destruir projetos internos para ampliar o mercado de negociação tanto da mídia quanto de grandes grupos financeiros e interesses geopoliticos.

    Perillo ficar tão a favor de Dilma faz cair a ficha. A Republica do grampo está mais viva que nunca e vem das mesmas fontes de sempre. 

     

     

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