Por que Temer age como se não estivesse passando nada? Por Pablo Ortellado

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: José Cruz/Agência Brasil
 
Jornal GGN – “Por que o presidente segue governando, como se não estivesse passando nada?”, questionou o cientista político e professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP, Pablo Ortellado.
 
A pergunta foi feita diante do claro contexto de impopularidade do mandatário peemedebista Michel Temer junto a população. A resposta vem em seguida: enquanto apenas 7% dos brasileiros aprovam a sua permanência na Presidência da República, a sua grande base aliada o sustenta no poder, seguindo a lógica “de uma infame aliança entre o empresariado e a classe política”.
 
E o fator adicional, das não mais seguradas sequências de denúncias e acusações que recaem, dia a dia, contra diversos políticos, sobretudo os mesmos da cúpula e da base aliada do governo, fazem com que os parlamentares hoje tenham “mais medo de ir para a cadeia do que de não serem reeleitos”, completou Ortellado.
 
Leia o artigo completo, publicado na Folha de S. Paulo:
 
Por que Temer não cai?
 
Por Pablo Ortellado
 
Michel Temer é formalmente acusado de corrupção pela Procuradoria-Geral da República: por tentar obstruir a Justiça e tentar vender uma decisão do CADE para a JBS, paga com uma mala de dinheiro. Ele tem apenas 7% de aprovação. 76% dos brasileiros acham que o presidente deveria renunciar, 81% acreditam que deveria sofrer um processo de impeachment e 83% defendem eleições diretas já. O apoio popular a sua agenda legislativa não é melhor: 71% são contrários à reforma da Previdência, 61% são contra a reforma trabalhista, assim como, antes, 60% foram contra o teto dos gastos. Por que então o presidente segue governando, como se não estivesse passando nada?
 
Temer se sustenta no poder por meio de uma infame aliança entre o empresariado e a classe política: os legisladores aprovam as impopulares reformas em troca de um salvo-conduto oferecido pelo mercado para os políticos enterrarem a Lava Jato.
 
O plano inicial do governo Temer, desde o começo, era aprovar todas as reformas muito rapidamente, sem debate, deixando a cidadania mais aturdida e desorientada do que contrariada. Foi assim com a PEC do teto dos gastos, aprovada com velocidade supersônica no final do ano passado. Seguindo o mesmo ritmo, até o meio deste ano, todas as reformas teriam sido aprovadas e o mercado estaria “em dívida” com o Congresso, segurando a barra quando medidas altamente impopulares “delimitassem” ou enterrassem a Lava Jato.
 
Tudo parecia correr muito bem até que a ação concertada das centrais sindicais forçou o debate público da reforma da previdência e o plano foi obstruído, já que uma vez publicizada, a reforma se mostrou intragável. Para azar de Temer, isso coincidiu com uma nova leva de denúncias de corrupção que afetaram o coração do governo, inclusive o próprio presidente.
 
Em circunstâncias normais, a proximidade das eleições de 2018 pressionaria os parlamentares para uma solução mais virtuosa com a rejeição das reformas e a saída de Temer. Mas nada disso vale nos dias que correm. Os políticos hoje têm mais medo de ir para a cadeia do que de não serem reeleitos, e o medo tem reforçado essa saída única na forma da espúria aliança na qual o fim da Lava Jato é pago com reformas liberais.
 
Para frustrar o plano das elites e levar a cabo uma saída democrática, seria preciso uma ação vigorosa e coordenada da sociedade civil, que hoje está fraturada, enfraquecida e com suas lideranças comprometidas.
 
Mesmo tendo construído sua legitimidade inteiramente sobre o tema, as lideranças do movimento anticorrupção suspenderam as mobilizações no governo Temer a despeito da avalanche de denúncias. Ainda que tenham mantido críticas retóricas seguidas, elas não promoveram qualquer ação efetiva, aparentemente porque não queriam comprometer a agenda de reformas que apoiam. A tendência só foi revertida recentemente com a convocação de um ato pelo Vem Pra Rua para o longínquo 27 de agosto —e sem a adesão de outros grupos como o MBL ou o Nas Ruas.
 
Na esquerda, vemos o mesmo descompasso: uma hipertrofia retórica anti-Temer e uma grande timidez para convocar mobilizações exigindo sua saída. Aqui, a suspeita é que as lideranças de esquerda da sociedade civil avaliam que o melhor para o sucesso eleitoral do PT é deixar Temer fazer o trabalho sujo de enterrar a Lava Jato, enquanto se desgasta cada vez mais até 2018, abrindo caminho para um retorno redentor e triunfante do ex-presidente Lula.
 
Enquanto estivermos divididos e amarrados a essas lideranças nosso futuro próximo não é nada promissor: impunidade, reformas e mais um ano de governo Temer.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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  1. Michel Temer um caso de estudo

    Não cai porque o Congresso, empresarios e STF não querem que caia agora. Se não houver mobilização forte nas ruas, não vai cair. E ainda é capaz de “o cara de paisagem” se candidatar em 2018, depois que enterrar a Lava Jato com bela guirlanda de flores e velas.

    1. À LA RICHTOFEN

      A “comoção” e a “surpresa” com o falecimento do nobre ministro, foi de fazer inveja à Suzane.

      Temer, meneando suas mãozinhas secas à la Carmen Miranda, ainda fez discurso.

      Lamentou (hi!hi!) o doloroso(hi!hi!) acontecimento(hi!hi!)

      Pô, a Suzane ao menos chorou crocodilamente.

      [video:https://youtu.be/zAkMXSAF_Ik%5D

       

  2. O que mantêm o conspirador no

    O que mantêm o conspirador no poder é uma combinação de quatro coisas:

    – Congressistas fáceis de serem comprados (isso deveria ser óbvio, ou ninguém notou ainda como os congressistas brasileiros mudam totalmente de idéia de um dia para o outro?);

    – Uma constituição patética que têm regras ridículas e esburacadas o bastante para colocar mais poder em um congressista insignificante (como o chefe do congresso Brasileiro) do que no próprio presidente do país, aonde um “juíz” como o Moro pode inventar leis sem ser punido por isso;

    – Muito dinheiro para comprar congressistas, vindo em parte do tesouro brasileiro, de empresários brasileiros interessados em comprar facilidades e vantagens e em parte de grupos estrangeiros como as petroleiras que estão ganhando o pré-sal quase de graça, sem contar o interesse dos cabeças-branças em liquidar economicamente o Brasil e fazê-lo virar simples exportador de matéria-prima bruta;

    – Uma oposição completamente incompetente que ainda acredita em “jogar dentro das regras” quando até uma pedra já sabe que estas regras são decididas pelos conspiradores. Qualquer ditador patético consegue dominar um país quando a oposição à ele ao invés de pegar em armas fica incentivando “protestos pacíficos”  ou fica esperando que a justiça do país (absolutamente corrupta e totalmente controlada pelo ditador) faça alguma coisa.

  3. Porque ele tem certeza que os Coxinhas são imbecis

    Porque ele sabe que os Coxinhas são imbecis e o judiciário é uma mãe para os poderosos.

  4. Nem medo de cadeia nem de não serem reeleitos, é grana no bolso

    Nem medo de cadeia nem de não serem reeleitos, é grana no bolso

    São 594 membros da “Assembléia Geral de Bandidos” no Congresso, diz a imprensa internacional. Para exemplificar, um notório (há quase 30 anos) e manjado acusado, o Senador Fernando Collor de Mello, foi denunciado ao STF há dois anos, no segundo semestre de 2015. Pois é, alguns dias atrás, DOIS ANOS DEPOIS, o senhor Facin, ops Fachin, liberou o caso para o plenário, não para julgar e resolver, mas para ver se o supremim o torna réu, é mole? Vai dizer que Collor tá com medo de cadeia? Da primeira lista de janota, em março de 2015, tem uns 4 ou 5 com denúncia aceita (a maioria do PT), o resto, DOIS ANOS E MEIO DEPOIS, continua sendo investigado e tome prorrogação de inquérito, enquanto tem bambu se estica inquérito.

    A questão é grana no bolso dos bandidos, muita grana. O momento dessa porcalhada de corruptos enriquecer por 3 gerações com dinheiro público é agora. A Terra é fértil e Temer e a plutocracia garantem. É disso que se trata.

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