Por quem as panelas batem, por Antonio Prata

Enviado por Gilberto Cruvinel

Da Folha

Por quem as panelas batem

Antonio Prata

Temos toda a razão de bater panelas quando a presidente aparece na TV dizendo que a culpa por nossa pindaíba é da crise internacional. Mas por que não batemos panelas quando Eduardo Cunha, o líder dos “black blocs” brasileiros, vândalo que faz política com pedras, bombas e coquetéis molotov, vai em rede nacional dizer que trabalha “para o povo”, “sempre atento à governabilidade do país”?

Temos toda a razão de bater panelas contra a corrupção da Petrobras. Mas por que não batemos panelas contra o mensalão mineiro ou o cartel do metrô paulistano? Por que não batemos panelas contra a compra de votos para a reeleição do FHC? Por acaso pagar apoio na Câmara é mais grave do que pagar emenda na Constituição?

Temos toda a razão de bater panelas contra o retrocesso econômico de 2015. Mas como podemos não bater panelas contra o anel de pobreza que desde sempre engloba as metrópoles brasileiras, essa Faixa de Gaza de tijolo aparente, essa Cabul de laje batida onde se amontoa boa parte da população?

Temos toda a razão de bater panelas quando o governo se cala diante dos descalabros venezuelanos e da ditadura cubana. Mas por que não batemos panelas diante do fato de nosso principal parceiro comercial ser a China, maior ditadura do planeta? O tofu que alimenta aquela tirania é feito com a nossa soja e os fazendeiros, ruralistas e empresários que acusam a “venezualização” do Brasil são os mesmos que lucram com o dinheiro comunista. Ninguém bate woks por causa disso?

Temos toda a razão de bater panelas contra o estelionato eleitoral do PT. Mas por que não batemos panelas contra o estelionato eleitoral do PSDB, que elege repetidamente um governador tipo “gerente”, prometendo “e-fi-ci-ên-ci-a” em cada sílaba, mas coloca São Paulo à beira do co-lap-so-hí-dri-co”? Um cristão cuja polícia, não raro, participa de grupos de extermínio, na periferia. Esta semana, foram 18 chacinados em Osasco e Barueri. Imagina se fosse no Iguatemi? E o estelionato das UPPs, no Rio, que prometem paz, mas torturam um cidadão até a morte e somem com o corpo?

“Não, não, isso não! Me mata, mas não faz isso comigo!”, gritava o Amarildo, segundo um policial que testemunhou a barbárie, dentro de um contêiner. Como pode a nossa maior preocupação em relação ao Rio, hoje, ser com a qualidade das águas para as Olimpíadas de 2016? Cadê o Amarildo? Cadê as panelas?

Temos toda a razão de sair pra rua, neste domingo, para protestar contra a incompetência, a corrupção e a burrice do governo. Mas por que não sair pra rua para protestar contra a incompetência, a corrupção e a burrice do país como um todo? Um país que mata seus jovens, sonega impostos, polui, compra carteira de motorista, licença ambiental, alvará, dirige pelo acostamento, estupra, espanca e esfaqueia mulher (mas retira a discussão de gênero do currículo escolar), um país onde os negros correspondem a 15% dos alunos universitários e a 67% da população carcerária.

Este ódio cego, esta parcialidade hipócrita, este bombardeio cirúrgico que pretende eliminar o PT –e só o PT– para “libertar o Brasil”, empoderando Renan Calheiros e Eduardo Cunha, não é o desabrochar da consciência cívica, é mais um fruto da nossa incompetência, mais uma vitória da corrupção; palmas para a nossa burrice.

Redação

8 Comentários

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  1. Os coxinhas não batem panelas

    Os coxinhas não batem panelas por um motivo bem simples: a mídia golpista não mandou. Os coxinhas são seres que passaram por um demorado processo de lavagem cerebral e condicionamento, tal qual os habitantes da Oceania, do “1984”, que entravam em estado de histéria quando viam a imagem de Emanuel Goldstein nas teletelas. Simples assim, condicionamento similar ao que bichos sofrem a adotar determinado comportamento diante de dceterminada situação.

    1. CB

      concordo plenamente!

      Quando eu dizia e digo que merdas como “Malhação” e “Pátria Amada” servem para formar (desde criancinhas, quando começam a ver TV) esse exército de zumbis tendo entre eles alguns entusiastas do nazi-fascismo, amigos meus vem com o papo de “paranoia petista” e “teoria da conspiração”; a cada manifestação dessa gente, desde a tal “Primavera de Junho de 2013” eu só reforço essa minha ideia: a lobotomia que a mídia fez (notadamente Globo e Veja) deu resultados sim, essa última micareta coxinha não me deixa dúvida alguma.

  2. Mário Prata, também conhecido como Pratinha, reconheço … agora

    sim, “quem sai aos seus, não degenera” – dizia minha mãe, oráculo dos ditados populares.

  3. A importância da China

    Mas por que não batemos panelas diante do fato de nosso principal parceiro comercial ser a China, maior ditadura do planeta?

    O articulista ignora que a China é o maior parceiro comercial da grande maioria dos países. Desde o início dos anos 70, Kissinger anteviu o ascenção da China e convenceu Nixon a se aproximar do gigantesto país, que de 220 a.C. até 1980 foi a maior economia do mundo. A ação de Kissinger pode ter sido o maior feito diplomático do século 20. Com as cautelas de sempre, relações comerciais e de cooperação com a China pode nos trazer grandes dividendos.

  4. Observem que vários dos

    Observem que vários dos manifestantes ao serem questinados do porquê de estarem ali respondem que querem o seu Brasil de volta.

    Os manifestantes em esmagadora maioria são de classe média e classe média alta e para eles o Brasil os pertence, naturalmente odeiam um governo e um partido que tentou timidamente colocar em prática o slogan “Brasil um Páis de todos”.

    Eles não aceitam cotas nas universidades, não aceitam o programa mais médicos, não aceitam o Bolsa Família e não aceitam pobres em seu convívio social, a questão da corrupção é só um biombo atrás do qual escondem seu autoritarismo, egoísmo e mentalidade fascista.

    É muito revelador um dos cartazes exibido por um manifestante que diz que País sem corupção é governado pelos ricos, pois eles não precisam roubar, eles querem o País deles de volta, mas cabe a nós exigirmos que o Brasil seja um País de todos.

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