Prefeitura de BH assume que também é responsável por queda do viaduto

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Do Estado de S.Paulo

Prefeitura de BH reconhece descaso em fiscalização de obra

Por Alex Capella

Causas do desabamento do viaduto só serão conhecidas após 30 dias, com resultado das perícias

BELO HORIZONTE – O secretário de Obras da Prefeitura de Belo Horizonte (PMBH) e presidente da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), Lauro Nogueira, reconheceu que houve descaso na fiscalização da obra do viaduto que desabou nesta quintafeira, 3, em Belo Horizonte, e disse que a prefeitura é corresponsável pela queda de uma das alças do elevado. “A prefeitura tem responsabilidade, assim como a construtora e os técnicos contratos para a fiscalização”, afirmou.

Enquanto funcionários que trabalhavam no local garantem que a obra seguia a toque de caixa, o secretário afirma que o viaduto não era uma obra da Copa do Mundo e, por isso mesmo, não havia pressa na sua entrega. As causas do desabamento do viaduto Batalha dos Guararapes, na Avenida Pedro I, que matou duas pessoas e deixou outras 22 feridas na capital mineira, só serão conhecidas em 30 dias, após um verdadeiro “conclave” de perícias.

Além dos especialistas do Instituto Brasileiro de Avaliação e Perícias de Engenharia (Ibape) de Minas Gerais e do grupo técnico indicado pelo Conselho Regional de Engenharia (CREA), um terceiro laudo será produzido por peritos contratados pela Cowan, empresa que realizava a obra. As primeiras análises sinalizam que um afundamento de seis metros do pilar principal, após a retirada das escoras, pode ter causado o desabamento.

A Polícia Civil do Estado de Minas Gerais informou que o inquérito policial destinado a apurar as circunstâncias que envolveram a queda do viaduto já está em andamento na 3ª Delegacia Regional de Venda Nova. Segundo a polícia, a primeira providência adotada foi acionar a perícia técnica e colher informações de pessoas que estavam no local. Foram realizados os trabalhos periciais, sem os quais os corpos não poderiam ser liberados para as providências de sepultamento.

A perícia de engenharia legal do Instituto de Criminalística prosseguiu com os procedimentos, visando a elaboração do laudo pericial, que deve ser concluído no prazo de 30 dias. Segundo o delegado que preside os autos, a coleta de provas técnicas é importante nesta fase inicial da investigação, assim como a formalização das declarações de envolvidos e depoimentos das testemunhas.

O Ministério Público mineiro também investiga, há dois anos, indícios de superfaturamento no projeto, orçado em R$ 154 milhões, detectados pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Risco. O temor, agora, se direciona para outras obras em andamento. A demolição da alça do viaduto que permanece de pé, por exemplo, não está descartada e a Câmara Municipal de Belo Horizonte cancelou seu recesso, para “dar um retorno à sociedade mineira”, como disse em nota oficial.

Agora há expectativa sobre a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI). O pedido deverá ser feito pelo vereador Iran Barbosa (PMDB).

Barbosa tem nas mãos um laudo que aponta falhas na construção da Estação São Gabriel do Move (O BRT da capital mineira), já em uso pelo público. A obra integra o mesmo complexo de construções do qual faz parte o viaduto que desabou.

O documento de quase 60 páginas aponta irregularidades graves na execução da estação, como colunas de sustentação curtas amparadas por menos parafusos do que o indicado, parafusos e porcas frouxos e folgas expressivas nas flanges, que são peças que vedam a conexão das estruturas. A prefeitura nega falhas.

Até agora, a construtora Cowan, responsável pela obra do viaduto que desabou, limitou-se à divulgação de uma nota em que lamenta o acidente. “Neste momento, a prioridade é o apoio às vitimas e aos familiares. A empresa informa que já enviou ao local a equipe técnica para iniciar as investigações.”

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

16 Comentários

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  1. E o CREA?

    Não é responsável pela fiscalização.

    Os Engenheiros e os fiscais são responsáveis, nem precisa fazer investigação alguma.

    1. Os culpados

      drigoeira,

      Uma hipótese – um equívoco no cálculo estrutural, conforme o ocorrido no desabamento do prédio Palace II, a culpa permanece sendo dos engenheiros e fiscais da obra ?

      É mais prudente aguardar o resultado das investigações.

  2. Prefeitura do PSB assume corresponsabilidade

    Sudecap assume que PBH é corresponsável por desabamento de viaduto 
    Danilo Emerich – Hoje em DiaWesley Rodrigues/Hoje em Dia    

    Vítimas de queda de viaduto em BH terão apoio psicológico da prefeitura    

    Anúncio de apoio psicológico aos atingidos pela queda de viaduto foi feito na coletiva da Sudecap  O presidente da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), José Lauro Nogueira Terror, admitiu no fim da manhã desta sexta-feira (4), em coletiva à imprensa, falha de fiscalização da secretaria nas obras dos viadutos do corredor Pedro I. Conforme ele, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) é corresponsável pela queda de uma das alças do elevado Batalha dos Guararapes, na tarde desta quinta-feira (3). O secretário não quis detalhar quais foram os erros nas vistorias e disse que todo o processo é observado no diário da obra. “Entendemos que sim, houve um erro. Independente da presença das empresas contratadas para o auxílio à fiscalização. A PBH sempre manteve pessoal próprio para a atividade”, disse. O superintendente ainda negou que exista falta de pessoal para a atividade e que as equipes estavam diariamente no canteiro de obras, coletando materiais de ensaio do local, que são enviados para análise em laboratório. Sobre a responsabilidade da obra e o que ocorreu, José Lauro não quis apontar uma possível causa para o desabamento de uma das alças do viaduto. “Expressamos nossos sentimentos a todos aqueles que tiveram consequências em função do evento. Agora estamos em uma etapa de apuração das causas do acidente. Somente após essa identificação, feita por especialistas e peritos contratados pela prefeitura, é que vamos apontar os responsaveis. A responsabilidade é solidária das várias entidades e empresas que participaram do processo, inclusive da Sudecap”, afirmou. O presidente da Sudecap disse que todos os documentos da obra, como projetos e cronogramas, serão entregues à Polícia Civil e Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG) nesta sexta-feira. Retirada prévia O secretário negou que houve aceleramento da obra ou retirada prévia das escoras. “O (viaduto) Guararapes não tinha meta para ser entregue antes da Copa. Prevíamos liberar para o tráfego no início de agosto”, afirmou. Além disso, sobre as acusações de especialistas que apontaram a retirada antecipada das escoras da estrutura e que o processo teria sido realizado de forma e em horário inadequados, quando devia ser feita de forma isolada e horário noturno, José Lauro informou que o processo foi feito de acordo com padrões de engenharia.  “Em nenhum momento essas escoras foram retiradas contrariado os padrões de engenharia. Não é um processo automático. É uma tarefa que exige vários exames e testes. Tudo foi feito com muita consequência por parte da empresa e prefeitura. Tomamos os cuidados de manter os escoramentos no tempo necessário. Também não é importante o momento do dia que é retirada”, afirmou. O presidente da Sudecap também enfatizou que a retirada das escoras levou semanas. “É um processo progressivo e planejado. O material é tão volumoso que se fosse possível retirá-lo de uma só vez, não teríamos condições de transportá-lo. Esse tipo de estrutura elevada, em função do peso e design recebe continuamente ensaios, em todas as fases”, informou o superintendente. Vistorias Assim como sugeriu especialistas em engenharia ouvidos pelo Hoje em Dia, todos os outros três viadutos entregues e em construção sobre a avenida Pedro I – Montese, Monte Castelo e Oscar Niemeyer – serão periciados nos próximos dias pela Sudecap. “A prefeitura conduzirá exames adicionais, com base nos testes já executados, procurando garantir a segurança da população”, adiantou. Além disso, informou que assim que os trabalhos de perícias e investigações fossem concluídos, ainda sem previsão de data, será iniciado a remoção dos escombros. A previsão do superintendente é que, após a liberação do local, os escombro sejam retirados em um prazo de 24 horas. “Não será usada implosão, mas demolição mecânica, ou seja, com máquinas, que já estão no local”, disse José Lauro.

  3. Uma sugestão barata para resolver

    a questão deste desabamento:

     

    que tal escavar por debaixo deste viaduto caído, por onde passam as pistas da Avenida Pedro I, criando uma espécie de “mergulãho” nas pistas e assim aproveitar este viaduto caído, que, pela lei da gravidade acabou se “reassentando” em um nível uns 6 a 7 metros abaixo do nível projetado?

    Com isso se evita a demolição e a posterior reconstrução do mesmo, bastando inserir uma pilastra melhor do que aquela que cedeu. 

    Uma das imagens divulgadas mostra claramente uma espécie de “muro de arrimo” ao longo da pista mais afastada da Lagoa do Nado, o que prova que toda ou parte da pista foi aterrada. Ou seja, há espaço para criar este mergulhão. 

    E o carro que foi esmagado pelo viaduto foi removido, escavando-se a pista. 

  4. Desabamento em MG

    Nassif,

    A posição do Secretário de Obras municipal é perfeita, atribuindo as responsabilidades do desabamento a quem as tem.

    Só acho pouco provável, ou mesmo impossível,  a ocorrência de um afundamento de seis metros do pilar principal, pois ocorrência nesta dimensão, além de caracterizar erro grosseiro de cálculo estrutural ou de fundação, certamente teria provocado um desabamento durante o descimbramento daquele trecho de estrutura de concreto. Deve ter ocorrido um equívoco no momento de informar. 

  5. Manchete da Folha:

    Manchete da Folha: “Prefeitura assume culpa pelo viaduto que desabou. Haddad ainda não se pronunciou”.

    (baseada num “pitaco” do blog do PHA)

  6. Mecânica dos Solos

     

    Lamento pela perda de vidas nesta tragédia em BH.

    A distância, parece uma questão de cálculo do pilar central em seus aspectos de resistência do solo abaixo dele.

    Deslocamentos muito discretos  e de acomodação natural do solo abaixo face a nova carga ali colocada representada pelo pilar me parecem natural acontecer, contudo um afundamento de 6 metros, a menos que tenha aparecido do nada um rio de lama num destamponamento qualquer ou um escorregamento catastrófico de solo abaixo, nos leva a crer num êrro de cálculo.

     

  7. “Suspeita”

    “A volta por cima da Copa, com o clima de festa nas ruas e tudo o mais, não passa a borracha em fatos concretos: atrasos, estádios inacabados e certamente pressa na execução de obras. É preciso, portanto, saber com certeza se a tragédia ocorrida em Belo Horizonte está de alguma forma relacionada ou não à comprovada incompetência do poder público brasileiro, em todos os níveis, por não ter conseguido entregar a tempo boa parte daquilo que promteu para a Copa”.

    Está no jornal O Globo de hoje em um box “Opinião”.

  8. Não adianta a grande mídia e

    Não adianta a grande mídia e os trolls das redes sociais tentarem responsabilizar o governo federal por esse desastre. Com o viaduto de BH, despencou também um dos principais palanques de Aécio Neves com o prefeito tucano do PSB, na avenida que leva ao Centro Administrativo Tancredo Neves, Hospital Risoleta Neves e Aeroporto Internacional Tancredo Neves.

  9. Ruptura do solo leva a erro

    Ruptura do solo leva a erro no cálculo das fundações, com tensões admissíveis do solo inferiores às que seriam produzidas pelas cargas que iriam suportar. Daí ter que se investigar se a sondagem do solo, geralmente feita por empresas especializadas, está correta ou não, para que se verifique o cálculo das fundações. Tudo isso, supondo-se que a informação citada na matéria acima seja correta: “As primeiras análises sinalizam que um afundamento de seis metros do pilar principal, após a retirada das escoras, pode ter causado o desabamento.”       

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