Querido amigo Nassif, por J. Carlos de Assis

Querido amigo Nassif,

Não fosse pela coragem profissional que sempre demonstrou, não fosse por sua ética inatacável na prática do jornalismo, não fosse pela generosidade em assumir a defesa dos perseguidos injustamente, não fosse por tudo isso e tudo mais que ilustra sua honra, eu teria me surpreendido pelo processo que acaba de mover contra o ministro Gilmar Mendes, que se apresenta como uma nódoa deprimente no Supremo Tribunal Federal.

Já era tempo. Esse magistrado levou ao extremo a capacidade de indignar a Nação. Ofereço-me à lide. Quero estar a seu lado nesse processo. Acredito que ainda não houve tempo para contaminação de todos os juízes de primeira instância e de todos os ministros do Supremo pelos desvios de alguns deles, desvios que estão sendo praticados no que deveria ser a Corte Suprema, mas que, em alguns casos, como no chamado “domínio do fato”, se tornou a suprema aberração do Direito pela ação e às vezes pela omissão.

Não me cabe julgar coisa julgada pela maioria do Supremo, embora as sentenças do mensalão ainda estejam escandalizando meu senso de justiça, como foi no caso do “J´accuse” de Émile Zola, dez aos após o julgamento na França, a terrível injustiça praticada contra o capitão Dreyfus. Mas pego carona em sua ação para me insurgir contra a aberração corrente segundo a qual um ministro do Supremo, justamente Gilmar Mendes, seu caluniador e difamador, senta-se no processo que, já definido pela maioria, visa a eliminar a maior fonte de corrupção do sistema eleitoral brasileiro, o financiamento empresarial de campanhas eleitorais. A decisão já foi dada, como disse, pela maioria. Mas Gilmar, para escândalo da Nação, usando de um artifício regimental esdrúxulo para o qual já apelou em outras oportunidades favorecendo apaniguados políticos, retarda seus efeitos solitariamente, de forma absolutamente suspeita, talvez em cumplicidade com o presidente da Câmara que maneja por passar lei a fim de manter esse esbulho eleitoral da cidadania.

Fomos nós dois, você tendo entrado na “Folha” um pouco depois de mim, em São Paulo, e eu no Rio, que praticamente inventamos no Brasil o jornalismo investigativo em matéria econômica. Jamais poderia ter um continuador, parceiro e aperfeiçoador tão competente e tão consciencioso. Creio que nenhum de nós foi processado por reportagens caluniosas. No meu caso, fui processado pela Lei de Segurança Nacional, no fim da ditadura, a qual não cuidava de criminalizar fatos, mas supostas intenções do autor. Você merece a glória de ter sido injuriado por Gilmar Mendes. Que sorte. No meu caso, apenas ameacei fazer a prova da verdade e me safei da condenação da ditadura. Seu caluniador também está tentando dar marcha a ré. Você, creio eu, vai aproveitar a oportunidade para ir mais longe. Tem a oportunidade de desmoralizar alguém que, por voluntárias declarações no plenário do Supremo, e não pelo exercício limpo da magistratura, terá que prestar contas de sua honra a um juiz de primeira instância e a seus próprios colegas no STF.

 

Cordialmente,

J. Carlos de Assis*

 

*Jornalista, economista e professor, autor do recém-lançado “Os Sete Mandamentos do Jornalismo Investigativo”, ed. Textonovo, SP.

Redação

7 Comentários

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  1. Querido amigo Nassif, por J. Carlos de Assis

    Que sejas abençoado pelas forças mística.

    Você é um dos jornalistas sérios e que nos estimula . Esse gimar dantas há muito precisava levar uns trancos.

    Não confio na Justiça Brasileira, com raras excessões.

    Vencerás com toda a certeza.

    Dilma Coelho

  2. Caro Nassif,
    só posso

    Caro Nassif,

    só posso contribuir com minha solidariedade! Temo, entretanto, como tantas outras vezes, que o poder judiciário brasileiro agirá em “espírito de corpo”! Então, de logo, também me ofereço para ajudá-lo a “multa exemplar” a que te submeterão! Não me admirarei se “cassarem” teu blogo! Talvez, ainda que “sem provas, mas com permissão da literatura” (qual? Veja? O Globo? Alguma revista em quadrinhos escatológica? Cats, talvez?)!

    De qualquer modo, você tem minha solidariedade!

  3. Esperança

    Nessa caminhada inexoravel pela profecia de uma America latina, berço de uma nova civilização – tão explicitada pela vinda de Pepe Mujica ao Brasil – esse passo dado pelo Nassif, significa mais uma poderosa gota que vai aumentando o oceano favoravel àquela profecia. simbolo de uma nova era da humanidade.

    Mujica disse não se tratar de pessimismo-otimismo mas de ter a ESPERANÇA como guia de mossas vidas.

  4. Felicidade maior

    Seria devido ao processo, conseguirmos  o impitim dessa criatura que macula, juntamente com outros, a esperança de “uma justiça justa” no país.

    Que Deus te ilumine e ao seu advogado, Nassif.

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