Relatora da ONU mantém críticas ao governo Alckmin

Jornal GGN – A relatora da ONU que fez críticas ao governo do estado de São Paulo sobre a crise hídrica concedeu uma entrevista ao jornal O Globo. E ela não voltou atrás em sua posição. “A seca obviamente tem a ver com as alterações climáticas e, às vezes, a gravidade das secas está fora do nosso controle. Mas há uma parte que é previsível. É por isso que, numa perspectiva dos direitos humanos, aquilo que digo para todos os governos é: ‘planejem, adotem medidas, preparem-se’. E isso aplica-se tanto ao caso de São Paulo quanto a de outros países do mundo. E acho que isso é bastante razoável”.

Enviado por Henrique O.

Relatora da ONU rebate Alckmin e mantém críticas ao governo por crise hídrica em SP

Por Tiago Dantas

Do O Globo

Represa Jaguari, em Joanopolis, no interior de São Paulo, forma o sistema Cantareira e está com nível baixo – Fernando Donasci / Agência O Globo

Catarina de Albuquerque diz que, de forma geral, falta de água generalizada podem ser evitadas com planejamento

SÃO PAULO – O governo de São Paulo enviou duas cartas à ONU para reclamar de críticas feitas pela relatora especial para água e saneamento, Catarina de Albuquerque, sobre a forma como a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) está lidando com a crise hídrica. Em entrevista concedida ao GLOBO nesta quarta-feira, Catarina rebateu as cartas, negou que suas críticas teriam o “propósito de inflamar a campanha eleitoral”, como escreveu Alckmin, e disse que mantém o que havia falado em agosto, durante visita não-oficial ao Brasil. Na ocasião, ela afirmou que o governo paulista deveria ter combatido o desperdício de água.

— A seca obviamente tem a ver com as alterações climáticas e, às vezes, a gravidade das secas está fora do nosso controle — declarou Catarina ao GLOBO. — Mas há uma parte que é previsível. É por isso que, numa perspectiva dos direitos humanos, aquilo que digo para todos os governos é: “planejem, adotem medidas, preparem-se”. E isso aplica-se tanto ao caso de São Paulo quanto a de outros países do mundo. E acho que isso é bastante razoável.

Em 31 de agosto, o secretário-chefe da Casa Civil do governo paulista, Saulo de Castro Abreu Filho, enviou uma carta a Zeid Ra’ad Al Hussein, alto comissário da ONU para direitos humanos, pedindo que a organização corrigisse informações dadas por Catarina em uma entrevista publicada pelo jornal “Folha de S. Paulo” naquele mesmo dia. O secretário argumentou que a taxa de desperdício de água nos municípios atendidos pela Sabesp é de 19,8% — e que sobe a 31,2% se forem levadas em conta as ligações irregulares. Na entrevista, era citado um índice de 40% de desperdício. Segundo a relatora da ONU, esse número se refere a uma taxa nacional de desperdício de água nas tubulações.

A segunda carta, assinada por Alckmin, foi enviada para o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em 9 de setembro. Mais longa que o texto de Saulo, a mensagem dizia que Catarina “não tomou a iniciativa de se encontrar com representantes do governo estadual”, “fez as declarações apenas algumas semanas antes das eleições estaduais com o objetivo de inflamar a campanha eleitoral e, portanto, forçou a ONU a tomar uma posição política” e “incorreu em erros inaceitáveis”. Alckmin termina a carta dizendo que se uma correção não for feita, ele não terá certeza sobre a capacidade da ONU em organizar a Cúpula do Clima, que aconteceu em 23 de setembro em Nova York.

— Meu interesse é só um: promover a realização do direito humano a água e saneamento no mundo inteiro. E eu trabalho com todos os governos — disse Catarina, nesta quarta. — Uma das características que tenho é falar com toda a gente e ouvir toda a gente, indiferente de política do governo A, B ou C. Isso é indiferente para mim. Obviamente tenho zero interesse de influenciar o que for de eleições. Nunca fiz isso.

A relatora da ONU afirmou que viajou ao Brasil no fim de agosto para participar de palestras na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a convite de amigos professores. Ainda segundo Catarina, ela pagou as passagens de avião e participou de um terceiro evento: uma conferência sobre a crise em Campinas, no interior de São Paulo. O governo paulista disse que este último evento, realizado em 25 de agosto, foi organizado por um militante do PT. Catarina afirmou, porém, que desconhece o fato e que respondeu a convite feito pela companhia de saneamento do município, a Sanasa.

— Estive nos últimos três dias em Detroit, nos Estados Unidos (onde 50 mil famílias tiveram o abastecimento de água cortado porque não têm dinheiro para pagar as contas). O governo de Detroit é de esquerda, e estive criticando o governo. Critiquei também o governo da presidente Dilma (Rousseff, do PT) quando fiz meu relatório (sobre água e saneamento no Brasil, apresentado em junho). Você acha que me preocupo se critico A, B ou C? Não me interessa. Olho para situações. Se acho que podem melhorar, eu digo. Ponto final.

GOVERNO DIZ QUE NÃO ATACOU ONU

Em nota, o governo do estado afirmou que Alckmin “nunca ‘atacou’ a ONU”. Diz o texto: “o governador apenas aproveitou a oportunidade para indagar se a funcionária da organização, ao comentar a crise hídrica, falava em nome próprio ou em nome das Nações Unidas. O questionamento, ainda não foi respondido, decorre do fato de que vários veículos de comunicação descreveram as declarações da funcionária como sendo posição da ONU.” Ban Ki-moon deve responder a carta de Alckmin. Segundo a ONU, a posição da relatora especial não representa necessariamente a das Nações Unidas.

— Posso emitir meus juízos, minhas opiniões autonomamente, de forma independente. São essas as regras do jogo — disse Catarina, que continuou: — Agora não vou falar mais (sobre a situação de São Paulo). Tudo o que disse em agosto, mantenho: tem que se planejar, tem que se dar prioridade aos usos pessoais e domésticos da água, e não a indústrias e agricultura. Não quero colocar mais lenha na fogueira. O que disse, está dito. Não retiro nada.

Portuguesa, Catarina cumpre o mandato de relatora especial da ONU há seis anos. Nesse meio tempo, participou de 15 missões oficiais, uma delas ao Brasil, em dezembro do ano passado.

FALTA D’ÁGUA APÓS ELEIÇÃO

Moradores da capital paulista reclamam que começaram a notar falta d’água em suas casas após o primeiro turno das eleições. A porcentagem de pessoas que admitem ter ficado sem água pelo menos um dia subiu de 46%, em 13 de agosto, para 60%, em 17 de outubro, segundo pesquisa Datafolha divulgada segunda-feira. Os casos de desabastecimento que duram mais de cinco dias subiram de 28% para 38%.

No Parque dos Príncipes, na Zona Oeste de São Paulo, moradores dizem que ficaram sem água por nove dias, entre 7 e 15 de outubro. Depois disso, o abastecimento ficou irregular, segundo a empresária Cristina Correia, de 31 anos. No bairro, algumas pessoas compraram caminhão-pipa, enquanto outras usaram a água da piscina para atividades de limpeza:

— Semana passada estava vendo com um vizinho a possibilidade de comprar um caminhão-pipa para encher a caixa d’água. Tenho duas crianças em casa. Tivemos que economizar muito para passar esses dias todos sem água. Antes da eleição, isso ainda não tinha acontecido.Não tínhamos ficado nem um dia sem água.

A partir de setembro, a Sabesp, companhia de abastecimento de água, tem intensificado manobras para reduzir a pressão da água, segundo o diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Sabesp, Antônio da Silva. De acordo com ele, ao reduzir a pressão da água, a companhia reduz os vazamento, mas também dificulta a chegada da água em pontos mais altos. Quando a pressão volta ao normal, ainda leva um tempo para o sistema se regularizar.

— Para o sindicato, isso é um rodízio disfarçado. Não teria problema se avisassem a população sobre o que está acontecendo. Se as pessoas soubesse que no bairro delas a pressão da água vai cair, iriam se programar, economizar — diz Antônio. — Estou preocupado com esse verão: como vai ser o abastecimento das cidades que dependem do turismo, das empresas?

Nesta quarta-feira, o sistema Cantareira, responsável por abastecer a maior parte da Grande São Paulo, atingiu 3,2%.
 

Redação

11 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Os Fatores Climáticos que governam SP.

    Essa senhora, Relatora da ONU, está obviamente mal informada. Se ela lesse a Folha de São Paulo e assistisse o Globo SP, saberia que o Picolé de…  digo, o governador Alckmin, não tem responsabilidade nenhuma pela falta de água. Nem um desses dois prestigiosos informativos jamais mencionou o nome do Picol…, digo, do governador ao fenômeno da falta de água. “Fatores climáticos” são os verdadeiros responsáveis pela seca que assola o sertão paulista, segundo os dois vibrantes e latejantes órgão informativos

  2. E daí!
    E daí que a tal

    E daí!

    E daí que a tal relatora da ONU “mantém críticas”… É óbvio que a ONU é “ligada” ao pt, pt, pt, rsrs.

    Basta ele dar uma “entrevista” pra miriam laitão de novo, chamar a dilma de “presidenta” pra a propaganda á  favor e a bilndagem permecerem intactas.

    Não entendem: a oposição e seu séquito já passaram do ponto de retorno há muito. Nao há mais qualquer possibilidade de “persuasão racional” com essa turma. “A fuga é pra frente”; isso é são paulo.

    Não é mais o caso de falta de informação, isso está mais que claro. Pelo contrário: é a certeza da mentira!

    … E de mentira em mentira; de chacriha em chacrinha eles vão em frente.

    … Chique; muito chique…

  3. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Relato

    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Relatora da Onu não aprova.

     Logo mais virá o relator da Nasa.

            Geraldo é um cara acima de relatórios.Todo mundo sabia da falta de água, e mesmo assim ele ganhou massacradamente.

             E outra: O  picolé de xuxu tem carisma zero.Como bem apontou o candidato da Fiesp , ”falta tesão” no governador.

                     O por que ele ganhou facilmente? Minha tese é a seguinte:

                  Porque os rivais eram muito pior do que ele.

                Não sou eu,que nem votei, foi o povio que decidiu assim.

                ps: E se a MARTA insistir em ser candidata,será o panfleto necessário pra qualquer opositor vence-la;.

                     SÓ ELA NÃO SABE DISSO.

  4. O que se fez com a agua?

    Empreendimento torna situação hídrica de São Paulo ainda mais lamentável

    Em fase de conclusão, a obra de interligação da represa Billings, através de um de seus braços, o Taquacetuba, com a do Guarapiranga, irá comprometer mais ainda a qualidade da água deste manancial e, consequentemente, a saúde das mais de 3 milhões de pessoas que bebem de suas águas. A represa do Guarapiranga, que já apresenta sérios problemas de contaminação, resultantes de grandes quantidades de esgoto e lixo que são despejados diariamente na represa, sofrerá mais uma ameaça: a contaminação por algas e metais pesados.

    Desde o início, esse projeto – cujo responsável é a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) – recebeu várias críticas de técnicos ligados à área de abastecimento e saúde pública. Marussia Whately, integrante do Projeto Mananciais do Instituto Socioambiental (ISA), acredita que o empreendimento apresenta sérios riscos à saúde pública, pela constatação de que a Billings recebeu durante 60 anos as águas do rio Tietê através do canal Pinheiros, conhecido por sua alta taxa de poluição. “Segundo a Sabesp, a qualidade da água do Taquacetuba (Billings) é semelhante à do Guarapiranga. Porém, essa classificação é resultado de uma análise parcial da qualidade dessas águas. E mesmo que a qualidade delas seja considerada a mesma, persiste a dúvida: jogar água de uma represa, que tem um histórico de contaminação, no segundo manancial mais importante para abastecimento da região metropolitana, não seria privilegiar o critério da quantidade de água em detrimento da preservação da sua qualidade?”, indaga Whately.

    1. Qual é a alternativa?

      Longe de mim querer defender o Alckmin, mas com a falta total de medidas tomadas ao longo deste ano, quando todos alertavam sobre os riscos de uma crise hídrica de proporções gigantescas, hoje só resta ao governo tomar essas medidas emergenciais para garantir o abastecimento da RMSP.

      O nível do Guarapiranga caiu de 71% para 33% comparado com um ano atrás (http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,guarapiranga-perde-13-da-agua-em-12-meses,1596303). Os moradores da região dizem que a queda se acentuou nos últimos dois meses, claramente para compensar a redução do volume vindo dos outros sistemas, Cantareira e Alto Tietê.

      Como as reservas da represa Guarapiranga representam muito pouco face à necessidade da RMSP e o nível está caindo com uma velocidade enorme, não resta outra solução a não ser buscar água onde tem, no caso na Billings. Se não interligar os reservatórios morre-se de sede, se interligar corre-se o risco à saúde.

      Nunca deveria ter chegado a esse ponto, mas agora que aqui estamos, não vejo alternativa de curto prazo que seja viável. Com os níveis existentes em TODOS os sistemas que abastecem a RMSP, nem um racionamento drástico, que afetará as famílias mais pobres que não têm caixa d’água, será suficiente para rsolver a situação.

      Agora continuar sem tomar nenhuma medida de redução compulsória do consumo é de uma irresponsabilidade criminosa.

      1. Ainda resta uma alternativa…

        Reaproveitar-se o efluente líquido que é cobrado mezzo-amezzo na conta de água: o esgoto, na forma de injeção de  água de reuso.

        É lamentável, mas  prá quem demonstrou estar feliz  por se encontrar na merda…(sic)…..tudo isto é, refresco !!!

        1. Demora

          Mesmo a água de reuso exige construção de estações de tratamento de efluentes, que hoje não existem. 

          Por isso a stuaçao desesperadora em que nos encontramos e soluções desesperadas sendo pensadas.

  5. Comentário.

    Há vinte anos, em São Paulo, implementa-se o Estado Mínimo. Só que para implementar, tem que esgarçar o Estado antes. E jogar a crítica para outro lugar.

    Simplesmente entre a Prefeitura que tem que tratar da varrição da rua e o aumento da gasolina em nível federal, o restante é uma terra de Marlboro.

    A questão nem é eleitoral ou partidária. Trata-se de olhar para aquilo que deve ser visto; não é o óbvio e muito menos se trata de uma tautologia.

    Esse é o paradoxo do nazifascismo que não serviu de aprendizado na nossa imperfeita democracia: que o comportamento de massa reitere e realimente sua própria manipulação; que até os mais liberais receiem o homem-massa a tal ponto que podem chegar a se distanciar dele na tentativa de autopreservação; que, em vez de ser engolido pela multidão, melhor é saber quais os mecanismos que permitam controlá-la sem que ela perceba isso.

    Em São Paulo, essas coisas se praticam com gratificante estupidez.

  6. Pena que a ONU não possa dar

    Pena que a ONU não possa dar uma mãozinha ao governador. Bem que ele está precisando, ou melhor, o povo de São Paulo está precisando, porque do governo não se pode esperar nada.

  7. TERRA ROXA ESTA NO SEMI-ARDO?

    NÃO, nem se fala em falta d’água nos sertoões nordestinos, carros pipas é objeto de uso dos paulistas. Tamara que reboquem a industria das secas. Paradoxal, mas os “picinões” do Maluf fazem sentidos abastecer o mar com água das chuvas é que não faz. Repetiram a politica do Cafe com Leite (1889-1930) para o Nordeste. Neste longo periodo, nenhuma reserva hidrica no Ceará. Mas tem jeito, basta interligar com um cano, projeto do Serra para o Nordeste, a agua do Rio-Amazonas para São Paulo, quiçá da hidroeletrica de Itaipu, ou drenar o pantanal. facin, facin.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador