Robert Shiller e o risco de uma bolha no mercado de ações

 
Jornal GGN – O economista Robert Shiller, autor do “Exuberância Irracional”, alerta para a possibilidade de uma bolha no mercado de ações. “O mercado acionário triplicou desde 2009. É algo dramático. Parece uma bolha, no mínimo.”, afirma. Vencedor do prêmio Nobel, Shiller chama de  boom do “novo normal” a forte valorização das bolsas ocorrida a partir de 2009. Para ele, a preocupação com a estabilidade do mercado de trabalho explica a forte alta do mercado de ações e também a relativa fraqueza da economia, já que a tendência é cortar gastos e poupar mais.
 
Apesar de não acompanhar a economia brasileira de perto, o professor de Yale demonstra preocupação com de aumento dos juros em um ambiente de recessão. 
 
Do Valor
 
Um boom sem otimismo
 
Por Sergio Lamucci
 
O economista Robert Shiller gosta de batizar os ciclos de alta expressiva do mercado acionário, chamando de boom do “novo normal” a forte valorização das bolsas ocorrida a partir de 2009. Além dos juros próximos de zero, fatores como a crescente desigualdade e os temores quanto ao futuro do emprego num mundo cada vez mais automatizado ajudam a explicar a busca de rendimento por muitos investidores, elevando os preços das ações e outros ativos, segundo o vencedor do Nobel em 2013. Desde março de 2009, o índice Standard & Poor’s (S&P) 500 subiu mais de 200%.

 
O boom do “novo normal” é uma referência ao termo cunhado em 2009 por Bill Gross, fundador e ex­s-ócio da gestora Pimco, hoje no Janus Capital Group, para descrever a expectativa de um longo período de baixo crescimento depois da grave crise financeira global, que se intensificou em 2008. Na terceira edição de seu livro “Exuberância Irracional”, lançada nos EUA neste ano, Shiller diz que Gross resumiu na expressão o “otimismo fraco” do pós-­crise.
 
E há uma bolha atualmente nos mercados de ações ou de bônus nos EUA? “É uma questão de como chamar”, afirmou Shiller ao Valor, lembrando que, na primeira edição de seu livro, publicada em 2000, descreveu bolha como um período marcado por imenso otimismo. “Não acho que estejamos num período de imenso otimismo”, resume, observando a preocupação com a desigualdade e com mudanças tecnológicas que possam minar o emprego. “Não é exatamente uma bolha clássica. Mas o mercado acionário triplicou desde 2009. É algo dramático. Parece uma bolha, no mínimo.” Em algumas cidades dos EUA, o economista vê sinais de que os imóveis estão em território de bolha, como San Francisco, onde os preços subiram de 80% a 90% desde 2009.
 
Nesse cenário, uma alta dos juros americanos ainda neste ano seria bem­-vinda, avalia Shiller. “Talvez nossos mercados financeiros estejam se tornando um pouco exuberantes demais. Quando o Fed [Federal Reserve, o banco central americano] fizer isso, não acho que vá criar grandes estragos, como algumas pessoas temem.” Ele observa que os integrantes do banco central americano têm deixado claro que, se e quando as taxas subirem, o aumento será modesto. “Não é necessário ficar alarmado.” A presidente do Fed, Janet Yellen, tem se mostrado favorável a um aumento dos juros ainda neste ano, destacando que a elevação será bastante gradual.
Segundo o vencedor do Nobel, a valorização dos preços de ativos não tem sido guiada pela exuberância, mas pela ansiedade. Desde que o boom do “novo normal” começou, em 2009, a maior parte das pessoas tem redobradas preocupações em relação a seus empregos, escreve Shiller na nova edição de seu livro. Para ele, esse é um dos fatores que precipitam a alta forte do mercado acionário, ao mesmo tempo que ajudam a explicar a relativa fraqueza da economia, já que muita gente passa a poupar mais, contendo gastos.
 
“Muitas pessoas estão acostumadas a pensar que más notícias sobre a renda futura do emprego (…) tendem a puxar os preços das ações para baixo e não para cima, mas a teoria econômica sugere o contrário”, diz Shiller. Segundo ele, num momento em que há temores em relação às perspectivas para os rendimentos do trabalho -­ devido ao impacto de mudanças tecnológicas, por exemplo -­ muitas pessoas fazem um esforço maior de poupança, aumentando os preços de ativos de longo prazo. Em seus livros, artigos e entrevistas, Shiller destaca a todo momento fatores que influenciam os mercados por meio de seus efeitos sobre a psicologia do investidor.
 
Professor da Universidade de Yale, Shiller diz que o boom “do novo normal” é induzido pelo medo do público da estagnação secular, a expressão do fim dos anos 1930 que voltou a ganhar força a partir do fim de 2013, ao ser relançada pelo ex­-secretário do Tesouro Lawrence Summers para caracterizar os problemas das economias desenvolvidas. “Essa é uma preocupação da nossa época. Você não consegue não perceber esses juros próximos de zero”, afirma Shiller, ressaltando que quem se aposenta com poupança em renda fixa muitas vezes fica sem rendimentos.
 
“É necessário começar a sacar o principal das suas aplicações. E isso tem um grande impacto psicológico.” Summers caracteriza a estagnação secular como excesso crônico de poupança não canalizada suficientemente para o investimento, contribuindo para cenário de crescimento fraco, pressões deflacionárias e juros reais muito baixos no mundo desenvolvido.
 
Na primeira edição de “Exuberância Irracional”, lançada em 2000, Shiller escreveu que o mercado acionário exibia “características clássicas de uma bolha especulativa”, no ano do estouro da bolha pontocom. Na edição atualizada em 2005, o economista apontava para o “enorme boom de preços de imóveis que muitos países experimentaram desde o fim dos anos 1990”, antecipando alguns dos riscos que levaram aos problemas com as hipotecas de alto risco e culminaram na crise global de 2007 a 2009.
 
Ao falar do Brasil, Shiller mostra reservas em relação à política de austeridade fiscal e de aumento dos juros num cenário de recessão. “Eu me preocuparia com um regime de austeridade neste momento”, diz o economista, que também estranha o aperto monetário promovido pelo BC, destacando, porém, que não tem acompanhado a economia brasileira de perto. “Não quero julgá­-los. Não estou lá. [Mas] fico preocupado com aumentos de juros nesse ambiente”, afirmou. “Posso ver que os brasileiros se preocupam com inflação, porque foi um problema no passado e provavelmente as expectativas de inflação podem subir rapidamente se você não fizer nada. Como alguém de fora, não posso dizer com confiança o que deve ser feito.”
 
No próximo mês, Shiller lança com George Akerlof, Nobel de Economia em 2001 ­ e marido de Yellen ­, o livro “Phishing for Phools ­- The Economics for Manipulation and Deception” (A economia da manipulação e do engano), que sairá no Brasil pela Alta Books. Shiller e Akerlof já escreveram juntos “Espírito Animal ­- Como a Psicologia Humana Move a Economia e Por Que Isso Importa Para o Capitalismo Global”, publicado em 2009.
 
A seguir, os principais trechos da entrevista de Shiller, que dividiu o Nobel de 2013 com Eugene Fama e Lars Hansen, os dois da universidade de Chicago, pela análise empírica dos preços de ativos.
 
Valor: Muitos analistas acreditam que a recuperação dos EUA é mais sólida agora,  e que o país é capaz de crescer a uma taxa anualizada  de 3% ou mais por alguns trimestres. Quão sustentável é a retomada dos EUA?
 
Robert Shiller: Para nós, é fácil extrapolar. A economia americana está relativamente forte na comparação com outros países avançados. Mas há alguns sinais de alerta. O mercado de ações parece caro, e o mercado imobiliário está numa situação de boom em algumas cidades. Essas são algumas preocupações, mas essas coisas podem continuar por anos. Não vejo nenhum sinal imediato de virada. O que há são alguns sinais de problemas. Tenho um índice de confiança no mercado de ações, e ele tem mostrado recentemente uma queda na confiança do público na avaliação do mercado acionário. Há uma percepção disseminada de que o mercado acionário americano está caro, existindo provavelmente alguma preocupação com uma correção. No entanto, tenho outro índice que tenta avaliar quanto as pessoas estão preocupadas em relação a um crash na bolsa, e elas não estão muito preocupadas. Não se pode ter certeza, mas parece que teremos mais um ano ou mais de bom crescimento.
 
Valor: Os economistas esperavam  que o consumidor americano gastasse mais, por causa do petróleo mais barato e da recuperação do mercado de trabalho e também devido ao comportamento da bolsa e do mercado imobiliário. Por que o consumidor está mais cauteloso do que alguns analistas previam?
 
Shiller: No meu livro “Exuberância Irracional”, que está na terceira edição, falo sobre o boom atual nos mercados, citando Bill Gross. Digo que é um boom do “novo normal”. É um boom do mercado acionário tingido pelos temores de que, mesmo com a economia crescendo, de algum modo as coisas não estão corretas. A ideia de que os juros estão próximos de zero é como um sinal, como se fosse uma febre. Você se sente bem, mas, quando mede a temperatura, há uma febre. Você pensa que alguma coisa deve estar errada.
 
Valor: O Fed está prestes a começar a elevar os juros. Janet Yellen indicou que o Fed preferiria  subir os juros neste ano. O FMI sugere que o Fed pode esperar até 2016, para não colocar a recuperação em risco. O Fed deve aumentar os juros neste ano?
 
Shiller: Quando eles [os integrantes do Fed] falam em aumentar os juros neste ano, referem­se apenas a um aumento pequeno. Não é necessário ficar alarmado. Não deverá ser algo superior a 0,5 ponto percentual neste ano. Para meu gosto, seria positivo se fizessem isso neste ano. Seria um sinal. Talvez nossos mercados financeiros estejam se tornando um pouco exuberantes demais. Quando o Fed fizer isso, não acho que vá criar grandes estragos, como algumas pessoas temem. Começar a elevação dos juros vai mostrar que eles estão olhando a direção da economia, e isso pode encorajar as pessoas a serem um pouco mais circunspectas.
 
Valor: Os juros estão próximos de zero desde dezembro de 2008 e o Fed promoveu três rodadas de afrouxamento quantitativo. Como o sr. analisa essa política monetária expansionista por um período tão longo?
 
Shiller: Tivemos um grande risco que levou a esse quadro. Estávamos nos aproximando de uma depressão, se você lembrar o que ocorria em 2009. Mencionei meu índice que tenta avaliar a confiança em relação a um crash no mercado acionário. Naquele momento, ele estava no ponto mais baixo. As pessoas estavam com medo de uma depressão. O governo tomou essas medidas extraordinárias, que eu considero apropriadas. Não sei quão eficazes elas foram, mas parecem ter sido de algum modo efetivas. Em 2012, quando a terceira rodada do afrouxamento quantitativo estava começando, os juros de longo prazo nos EUA atingiram o nível recorde de baixa, as taxas de hipotecas. Acho que esse foi o ponto de virada para o mercado imobiliário. Ele [o QE] tem um efeito direto por meio dos juros e também um impacto psicológico. Foi provavelmente uma boa coisa, dadas as circunstâncias.
 
Valor: O senhor vê bolhas nos mercados de ações e de bônus nos EUA, alimentados pelo ambiente de juros extremamente baixos, ou ainda não há bolhas?
 
Shiller: É uma questão de como chamar. Na primeira edição do meu livro, em 2000, descrevi uma bolha como um período de imenso otimismo. Não acho que estejamos num período de imenso otimismo. As pessoas estão preocupadas com a desigualdade, que está aumentando, e como isso pode afetá­las. Estão preocupadas com a tecnologia da informação, que as coloca num período de incerteza quanto ao seu papel econômico no longo prazo, num mundo que é crescentemente automatizado. Não é exatamente uma bolha clássica. Mas o mercado acionário triplicou desde 2009. É algo bastante dramático. Parece uma bolha, no mínimo. Eu de fato me preocupo com essa situação. É por causa disso que algum aumento de juros seria positivo, especialmente se eles mencionarem no comunicado que há preocupação com mercados especulativos.
 
Valor: Uma legislação como a Dodd­Frank [legislação que aumenta o rigor de normas do sistema financeiro] vai ajudar a evitar novas bolhas ou elas são inevitáveis?
 
Shiller: Acho que algumas bolhas são inevitáveis. Os preços de imóveis, em algumas cidades nos EUA, têm subido muito. Em San Francisco, as cotações subiram entre 80% e 90% desde 2009. É impressionante.
 
Valor: Quase sete anos após o colapso do Lehman Brothers, a economia global ainda luta para crescer a taxas mais elevadas. Os EUA estão se recuperando, mas a zona do euro e o Japão não estão em grande forma e os emergentes estão em desaceleração.  O sr. acredita que passamos por um período de estagnação  secular, como diz Lawrence Summers?
 
Shiller: O boom “do novo normal” é induzido pelo medo do público da estagnação secular. Essa é uma preocupação da nossa época. Você não consegue não notar esses juros próximos de zero. Quem se aposenta com poupança em renda fixa não tem rendimentos. É necessário começar a sacar o principal de suas aplicações. E isso tem um grande impacto psicológico. Estamos vivendo num mundo que não está muito certo. Isso encoraja as pessoas a segurar os gastos, em alguma medida. Você pode perguntar como o mundo inteiro pode ser afetado por determinadas forças psicológicas. Mas todos estão preocupados, todos leem sobre a crise, todos ouvem sobre a desigualdade, todos ouvem sobre robótica. Agora estão desenvolvendo carros autônomos. Como isso afetará a carreira das pessoas?
 
Valor: Havia um grande otimismo em relação aos emergentes há alguns anos, mas agora  a maior parte desses países passa por uma forte desaceleração,  da China à Rússia, passando pelo Brasil. A Índia é possivelmente a grande exceção. O que ocorreu com os mercados emergentes nos últimos anos e com todo aquele crescimento exuberante?
 
Shiller: Muitas dessas mudanças não são facilmente explicáveis. Quando Deng Xiaoping anunciou a nova ordem econômica na China, isso levou a muita excitação. Era fácil crescer. De modo semelhante, foi assim no Brasil, quando Lula se tornou presidente e não agiu como um socialista, agindo como alguém que queria que a economia prosperasse. Todas essas coisas levaram a otimismo. E o otimismo inicial obviamente impulsiona a economia. As pessoas gastam mais livremente, têm mais disposição para começar empreendimentos. Mas a taxa de crescimento inevitavelmente iria desacelerar. As primeiras colheitas são as melhores e depois se torna mais difícil, à medida que você prossegue no caminho. Isso pode ter levado a alguma perda de confiança. Talvez fosse previsível. A projeção para o Brasil é de crescimento negativo, certo?
 
Valor: Sim, o país deverá ter neste ano a maior queda do PIB desde o começo dos anos 1990.
 
Shiller: É interessante. Quando fui ao Brasil, há cerca de cinco anos, comecei a falar de preços de imóveis, porque é um de meus interesses, e me disseram que o Brasil nem tinha um índice de preços do setor. Depois, voltei, há um ou dois anos, e havia surgido um indicador, o Fipe Zap. Todo mundo estava falando sobre preços de imóveis e como estavam subindo rapidamente. Eu estava numa conferência e disse que parecia uma bolha para mim, e algumas pessoas me olharam feio [ri].
 
Valor: O sr. disse que havia sinais de uma bolha imobiliária no Brasil em setembro de 2013. No primeiro semestre, os preços de imóveis subiram em relação ao mesmo período do ano passado, mas a um ritmo bem inferior à inflação ao consumidor, segundo o índice Fipe Zap. O sr. ainda vê sinais de bolha no Brasil?
 
Shiller: Não estou lá, então não tenho a mesma percepção que teria se estivesse envolvido. Tive a impressão, quando visitei o Brasil. Não é algo científico, mas posso perceber falando com as pessoas e sentindo seu entusiasmo. Mas não tenho segurança em relação a isso. Acreditei que tinha algo a ver com Lula e Dilma, um otimismo inicial.
 
Valor: A economia brasileira  ficou estagnada  no ano passado. Para este ano, os analistas projetam uma recessão severa e, para o ano que vem, apenas uma recuperação modesta. Ao mesmo tempo, a inflação está acima de 9% em 12 meses e o déficit em conta corrente é superior a 4% do PIB. Como o sr. vê a economia brasileira?
 
Shiller: Entendo que o governo tem uma regime de austeridade. Estão cortando despesas, não? Fico preocupado com a possibilidade de isso piorar as coisas. Não estou seguindo de perto a economia brasileira, mas me preocuparia com um regime de austeridade neste momento.
 
Valor: Sim, há corte de despesas, mas o governo anunciou [há duas semanas] a redução das metas fiscais, porque as receitas estão em queda. O sr. acha que foi uma boa decisão?
 
Shiller: Sim. Talvez eles precisem do afrouxamento quantitativo [ri].
 
Valor: O Banco Central brasileiro tem aumentado os juros.
 
Shiller: Tenho uma percepção de que é melhor lidar com recessões imediatamente, porque há uma resposta à verdadeira recessão, que pode ser duradoura. Estão aumentando os juros por causa da inflação? Não quero julgá­ los. Não estou lá. [Mas] fico preocupado com aumentos de juros nesse ambiente. Isso me preocupa. Posso ver que os brasileiros se preocupam com inflação, porque foi um problema no passado e provavelmente as expectativas de inflação podem subir rapidamente se você não fizer nada. Como alguém de fora, não posso dizer com confiança o que deve ser feito.
 
Valor: O que o sr. acha que explica a queda do crescimento brasileiro nos últimos anos?
 
Shiller: É como toda desaceleração. Sempre ocorre como uma surpresa. Ninguém previu a Grande Depressão. Ninguém previu a Grande Recessão pela qual acabamos de passar. Bem, eu não deveria dizer ninguém. De algum modo a previ [ri]. Mas não tinha confiança. Ninguém sabe o futuro. E recessões são alimentadas como tumultos ou guerras. São fenômenos sociais. Quando pessoas se tornam temerosas, param de gastar. É muito difícil controlar isso. É a natureza humana. Somos uma espécie social e, quando vemos outras pessoas parecendo preocupadas, nos preocupamos também. Infelizmente, com a economia, é uma profecia autorrealizável. Esse é um problema que desafia a análise científica. Tem algo a ver com a história mundial. No Brasil… Houve protestos nas ruas recentemente e inquietação social, não?
 
Valor: Sim, houve grandes manifestações em meados de 2013 e também neste ano.
 
Shiller: Essas coisas influenciam a atmosfera. Como estão os índices de confiança no Brasil?
 
Valor: Estão muito ruins, tanto os de confiança empresarial  quanto de confiança do consumidor. Como o sr. avalia  a queda do mercado acionário na China, ocorrida há algumas semanas? A bolha estourou? O governo será capaz de evitar novos recuos adicionais dos preços?
 
Shiller: Na China, realmente parece uma bolha. Eu estava na China há pouco mais de um ano e comentei então: “A China está barata. O que está ocorrendo?” A relação entre preços e lucros estava baixa para padrões mundiais.
 
Valor: Talvez seus comentários tenham ajudado a formar a bolha…
 
Shiller: Talvez, não sei [ri]. E há um grande componente de varejo entre os investidores chineses. Quando estive na China, me deram um tour de uma corretora. Vi multidões em frente de telas mostrando os preços de ações. Eles estão mais excitados com ações na China do que nos EUA. As pessoas dizem que é algo da cultura chinesa. Eles adoram apostar. Dizem que os chineses acreditam na sorte mais do que qualquer outro país. Não sei se é verdade, mas os chineses me dizem isso. Há um grande interesse popular em investir no mercado acionário. A China é um país volátil. Mencionei San Francisco como uma cidade americana para preços de imóveis porque lá as pessoas entram nessas coisas. A China é muito volátil para preços de imóveis e preços de ações. É algo que talvez tenha a ver com a cultura. Isso ocorreu quando o mercado acionário chinês teve um grande boom, muito maior do que nos EUA, atingiu o pico em 2007 e depois teve um crash. Ocorreu de novo. Suspeito que a economia vai aguentar, porque já passou por essa situação antes.
 
Valor: O FMI, por exemplo, diz que a capitalização de mercado na China é bem menos importante do que nos EUA, a propriedade de ações não é tão grande. O sr. acha que o impacto sobre a economia chinesa não vai ser modesto?
 
Shiller: Foi o que ocorreu depois de 2007. Essa avaliação pode estar correta. [Mas] agora talvez esteja maior, porque o interesse do público cresceu desde então. É muito difícil saber qual será o impacto sobre a economia. Não é apenas a questão do impacto direto do efeito riqueza. São as percepções da população sobre a política econômica. Pode haver algum efeito sobre o gasto na China.
Redação

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