São outros os problemas do futebol brasileiro

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Por mclane

Ref. ao post: A Globo e as raízes do subdesenvolvimento do futebol brasileiro

Tanto você quanto o Nassif excluem o jogo político entre os clubes, especialmente a rivalidade entre Corinthians e SPFC, que praticamente determinou o fim do C13. Lembrem-se do contexto naquele momento: Andrés Sanchez prometeu nunca mais mandar jogos no Morumbi, pois o intransigente Juvenal Juvêncio não cogitou dividir as cotas de camarote quando o Corinthians lá mandava jogos, com grande aumento da renda são paulina. Ainda, o SPFC colocou o limite máximo de 10% de ingressos para o Corinthians nos clássicos entre os clubes. Isso simplesmente rachou o futebol paulista, a partir de 2009, foi Andrés convenceu Santos e Palmeiras a seguirem o Corinthians nesse motim anti-Morumbi.

Pois bem, na licitação original realizada pelo C13, dominada por dirigentes do SPFC, os mesmos tentaram igualar este clube com Corinthians e Flamengo no valor das cotas. Sob quais parâmetros? O tricolor paulista, à época, passava longe dos dois maiores do país em termos de audiência em tv aberta e fechada. Bastou a união de Andrés Sanchez com Patrícia Amorim, com o suporte da Globo, para os clubes se negarem a participar do leilão, romper com o C13 e aceitar os valores propostos pela rede dominante. 

Aí aparece a Record. Mas há conselheiros são-paulinos na rede. Adivinhem? O mesmo valor de Cor/Fla seria pago ao clube. Sem chance. 

E discordo quando diz que todos perderam. A evolução das cotas de tv e demais só aumenta anualmente para todos os clubes, assim como o abismo de diferença entre Cor/Fla e os demais. Quem perdeu foi, ironia do destino, a Globo, que amarga a cada ano queda de audiência nas transmissões de tv. É impossível retirar a Globo desse processo, concordo, mas a política entre os clubes é um fator muito mais determinante que simplesmente as cotas.

Sobre a seleção, tudo está errado. As críticas a CBF sobram na falta de planejamento e organização. Com a queda de Teixeira, José Maria Marin interrompeu o trabalho de base e integração com o time principal que vinha sendo desenvolvido por Mano Menezes e Ney Franco. O primeiro foi demitido, justamente, por transformar a seleção em um balcão de negócios para seu empresário, Carlos Leite. O segundo, com o fim do processo, foi indicado a ser treinador do SPFC, clube do qual Marin é conselheiro. Nisso a seleção brasileira jogou quase 2,5 anos de preparação no lixo. Sobre organização, o fato de sermos a sede da Copa poderia permitir concentrações em cada sede, com a devida adaptação e descanso. O espaço da Granja Comary é ridículo. Pessoas chegam a todo momento, visto ser um condomínio e não uma propriedade fechada. Para piorar, os privilégios da Rede Globo, que interrompia treinos para seus programas diários, entrevistas em separado, tudo sob a chancela da comissão técnica. Todas as demais seleções se isolaram. A brasileira, no entanto, foi a público. Havia jogadores gravando comerciais em pleno centro de treinamento! Organização zero.

Independente desses fatores, para mim o problema foi puramente técnico. A seleção não jogou bem em nenhuma partida, apenas teve lampejos de bom futebol, rodeados por momentos de sensibilidade. Taticamente, Felipão é ultrapassado. É um motivador nato, porém, detesta treinos táticos. Os da seleção atual não passavam de 45min ao todo, testando até 5 escalações diferentes, em intervalos de 5-10min. Os dias de folga e descanso superaram os de trabalho. 

Não vejo como responsabilizar os jogadores, individualmente. Fred foi ‘homenageado’, mas o fato é que a bola não chegava a ele. Oras, todos conhecemos o Fred como um jogador exímio em definir o lance dentro da área, não fora dela. Se o técnico opta por escalá-lo, deve treinar o time para que leve a bola até ele. Não foi o que ocorreu. Ele é só um exemplo, mas serve aos demais. Dos 23 convocados, poucos jogadores não são destaques em seus clubes, sendo que a maioria é titular em clubes de ponta no continente europeu. 

Há quem fale sobre o êxodo de jogadores. Os jogadores de Itália e Inglaterra, em sua quase totalidade, atuam em seus próprios países, normalmente nos mesmos clubes, nem por isso obtiveram sucesso. Das quatro finalistas, somente a Alemanha possui a base formada no mesmo time, o FC Bayern, a exemplo da Espanha de 2010, baseada na geração de ouro do Barcelona. 

Muito maior que a revitalização do futebol alemão, é o planejamento dessa seleção. Joachim Low está na seleção desde 2004, como técnico, desde 2006. Conhece há anos seus jogadores e conseguiu incutir neles a necessidade de vitórias. É um bom técnico, criticado em seu país natal por algumas opções táticas, mas que até ontem vinha sofrendo na Copa contra seleções ‘poderosas’ como EUA, Gana e Argélia. Parabéns a Alemanha! Mas a responsabilidade é do nosso técnico, que subestimou o poderio alemão (ao contrário das seleções citadas) e tentou enfrentar de igual para igual, numa formação ofensiva, alheia ao seu estilo histórico, treinada por somente 10min uma seleção muito bem organizada taticamente. Assistiu passivamente cada gol alemão sem conceber seu próprio erro (e sem se arrepender também, conforme disse na coletiva), sem alterar a disposição do time ou mesmo trocar jogadores. O fracasso é todo dele. A Globo fomenta a decadência do futebol brasileiro, com certeza. Mas, no fim, a escalação errada, as substituições tardias, o uso da ‘família’ para proteger jogadores cativos de sua confiança, ainda que em má fase, enfim, todo o ônus pertence ao péssimo técnico.

Hoje falam de substituição. Cogitaram Luxemburgo, que não compete em alto nível há anos; Muricy Ramalho, que, demitido do Santos, foi pescar no interior paulista; e Tite, quando demitido do Corinthians, foi estagiar no Barcelona e no FC Bayern, referência do futebol moderno dos últimos anos. Não preciso dizer qual brasileiro é meu favorito. Mas, sinceramente, prefiro Jorge Sampaoli, o argentino que fez maravilhas na LaU e na seleção chilena (onde, para mim, o Brasil mereceu perder). 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

13 Comentários

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  1. Meu deus… Dê-me

    Meu deus… Dê-me paciência. 

    Na Europa os campeonatos adotam o que se chama de fair play orçamentário, há limites de gastos para os clubes, é uma tendência forte. 

    Procuram tanto a saúde financeira das instituições quanto reduzir o desnivelamento das finanças que pode matar a qualidade dos campeonatos.

    Então essa tal rivalidade entre os clubes e bosta é a mesma coisa se acima de tudo deveria estar a finalidade de ter ótimos campeonatos.

    Sou torcedor do Galo, o Clube recebe MUITO MAIS da Globo pelo campeonato mineiro. NÃO DEVERIA SE ASSIM, não pode ser assim.

    Um ótimo jogador vem das favelas, das cidades, dos condomínios fechados, de qualquer lugar desde que se tanha um campo de jogo e uma estrutura mínima para treinos.

    Vem do Galo, Flamengo, Palmeiras ou o quer que seja e também dos chamados equivocadamente de “clubes pequenos” do interior – pobres e em situação falimentar o tempo todo.

    Quando se fala em política esportiva é um pouco disso que se espera, um conjunto bem estruturado e dinâmico de clubes, associações, escolas, faculdades…

    1. Ao invés de ‘paciência’, peça

      Ao invés de ‘paciência’, peça a Deus títulos para o seu time, que não ganha um campeonato nacional há 43 anos…

  2. Imaginem o que sofre os times

    Imaginem o que sofrem os times do resto do Brasil

    Cotas milionárias para os grandes do Rio e SP e raspa e para apenas três ou quatro do nordeste

    Nordeste grande celeiro de futebol que só nessa seleção, e apenas na Bahia e nas divisões de base de Bahia e Vitória passaram Hulk, David Luís, Daniel Alves e Dante que por aqui jogou na  Catuense e no Galícia.

    A reforma do futebol é a mesma reforma federativa é a mesma reforma econômica, chama -se desconcentração de riqueza e poder

    Se grandes empresas engolem as pequenas, se a economia concentrada em São paulo fez inchar as cidades e manter a pobreza em outras regiões, também os grandes times engolem os pequenos, que ficam sem condições de revelar talentos

  3. Só posso supor que o comentarista professa a fé corinthiana..

    A “espanholização” do Brasil é um suicídio. Pelo menos o Real ou Barcelona disputam a Champion’s, um Flamengo vai fazer o que com seu elengo galático? Bater na LDU? Ainda mais agora, quando discutimos o que fazer com estádios em Manaus e Cuiabá.

    O que você defende é pré-capitalista. A NFL, a NBA e a MLB nos EEUU são rentabilíssimas porque pratica-se o equilíbrio entre times, com distribuição equitativa de recursos e contratação das revelações pelos que vão pior em uma temporada.

    Um torneio com times fortíssimos em todas as regiões é muito mais rentável que concentrar em dois clubes. Este privilégio a Flamengo e Corinthians não tem justificativa nem moral nem financeira.

     

     

  4. O Blog nnão aborda o (enorme) autoritarismo no futebol

    E nem aborda o que postei sobre o autoritarismo não só no futebol, não só no técnico, não só na disciplina militaresca dos campos de… concentração (precisei usar esta força de expressão em pstagem mais de uma vez). Não falo do autoritarismo a que estamos acostumados no cotidiano frequentemente, mas de um autoritarismo nazistóide. Porque não se abordou isto? Por que não, ao menos, adaptou o comentário deste que ainda vos fala (poderia adaptar, mudar palavras só pra que ricardo_almeida não aparecesse, fosse cada vez mais escorraçado. Não é uma questão de vaidade humana, e que assim julgar que se f… Somos inocentes úteis a este método já abandonado pelos times centro-europeus. O Blog, o Dono do Blog e sua Equipe querem mesmo que o Post diário Multimídia não seja conhecida ou não cresça. Lá está lucianohortencio e, coincidência, lá está ricardo_almeida que tantas críticas frontais já fez ao blogueiro e à sua Irmandade (sim, agora fica mais claro: se transforma num blog menos sério, menos responsável,perdeu as rédeas ou deixou o barco à deriva incoerentemente sem uma regulamentação deste meio (media, do latim, mídia nome em português). Empurra mais gente pra fora, empurra. Unicidade ou tendendo à visão única (exceções confirma a regra nos últimos tempos) me lembra partido único, falsos debates, só faltam fuzilar os “dissidentes”. Ficaram zangadinhos, o blogueiro e sua equipe? Da Irmandade previsível nem tem mais graça falar sobre ela.

  5. (Novamente solicito meu descadastramento o mais rápido)

    Olá, solicito novamente meu descadastramento o mais rápido que lhes forem possível.
    antecipadamente grato,

    (Enviado, internamente, ao Blog pelo Contato )

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