São Paulo mantém segregação espacial elevada, aponta estudo

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Julio Bernardes

Da Agência USP

A segregação espacial na cidade de São Paulo se manteve em patamar muito elevado entre 2000 e 2010, constata pesquisa do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), núcleo de pesquisa ligado a USP. Embora o perfil dos moradores da periferia tenha se tornado mais heterogêneo, as classes mais altas tendem a se isolar em áreas de elite, num processo denominado evitação social. O estudo se baseia em dados sobre escolaridade, emprego e renda na cidade e revela que a segregação é hierárquica em termos sociais. As conclusões do trabalho farão parte do do livro “A metrópole de São Paulo no século XXI: espaços, desigualdades, heterogeneidades”, a ser lançado em maio.

“A pesquisa confirmou resultados já amplamente estabelecidos que sustentam que São Paulo é intensamente segregada na escala da metrópole”, afirma o professor Eduardo Marques, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e pesquisador do CEM, que coordenou o trabalho. O estudo construiu uma divisão da metrópole em espaços considerando os perfis de presença das várias classes sociais em cada uma das áreas de ponderação nas quais a cidade é dividida para a realização do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísica (IBGE).

“Isso foi feito considerando ás áreas dos Censos de 2000 e de 2010, de forma a ser possível compará-los. Assim, por exemplo, os habitantes dos espaços de elite apresentavam em 2010 renda 3,5 vezes superior à da média da metrópole, enquanto os de espaços de trabalhadores manuais tinham renda igual à metade da média metropolitana”, observa Marques. “Entre esses habitantes, 47% deles era empregador ou profissional de nível alto, enquanto essas categorias alcançavam apenas 3,5% no espaço dos trabalhadores manuais”.

Sob o ponto de vista da estrutura ocupacional, ocorreu aumento da presença relativa de profissionais e de camadas médias, assim como queda das classes de trabalhadores manuais, embora essas ainda sejam amplamente predominantes. “Não foram verificados sinais de polarização espacial. Entretanto, os espaços das elites tenderam a se tornar ainda mais seletivos, enquanto as periferias se tornaram mais heterogêneas socialmente”, ressalta o professor. “As mudanças na estrutura social não são compatíveis nem com hipóteses de terceirização nem de desindustrialização da metrópole, embora para se falar especificamente sobre isso seria necessário realizar outros estudos analisando a dinâmica da atividade econômica”.

Heterogeneidade das periferias

Em São Paulo, a presença relativa de classes altas nos espaços de elite aumentou na década, por exemplo, ao mesmo tempo em que a participação das classes de trabalhadores manuais se reduziu nos espaços periféricos. “A distribuição clássica dos grupos sociais na cidade, assim como nas demais metrópoles latino-americanas, indica os grupos mais ricos e escolarizados nas áreas centrais, dotadas de infra-estrutura, e grupos de baixa renda nas áreas periféricas marcadas por precariedade”, afirma Marques. “Esse padrão não se inverteu, e nem isso seria possível, considerando a inércia dos espaços construídos, mas vem sendo transformado paulatinamente com a crescente heterogeneidade das periferias”.

De acordo com o professor, processos localizados de construção dos espaços se tornam cada vez mais relevantes para compreender as transformações em curso. “Isso se deve à crescente presença do Estado nessas periferias, embora ainda com grandes diferenciais de qualidade, e à construção de condomínios fechados, dois processos já bastante presentes nos anos 1990”, relata, “mas também a processos de mobilidade ascendente e de produção do mercado imobiliário formal em áreas periféricas, algo relativamente novo nos anos 2000”.

Segundo Marques, nenhum dos dois processos é irreversível, porém a metrópole está com certeza mais diversificada. “Os grandes desafios para o Estado na produção de uma cidade menos desigual parecem ser manter o padrão de expansão dos serviços públicos para áreas periféricas, melhorar a sua qualidade e desenvolver políticas de combate à segregação”, conclui.

O artigo “Estrutura Social e Segregação em São Paulo” fará parte do livro “A metrópole de São Paulo no século XXI: espaços, desigualdades, heterogeneidades”, organizado pelo professor da FFLCH, que será lançado em maio pelo CEM, em parceria com a Editora Unesp, da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O trabalho faz parte de uma pesquisa sobre pardrões de governança em grandes metrópoles, realizada com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e descrita no site Http:// politicadourbanocem.wordpress.com. O CEM, sedidado na USP e no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão da Fapesp.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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