Se o “vazamento” é algo tão grave, a quem interessa?, por Janio de Freitas

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Alan Marques – 6.out.2015/Folhapress

Jornal GGN – O articulista da Folha, Janio de Freitas, sobre aquela que seria a mais promissora das delações até agora conseguidas pela Lava Jato, aponta a ação de Gilmar Mendes, ministro, que se repete em falas do passado. E a ação dos procuradores, em sua obsessiva busca de culpa para Lula, após definirem quais seriam os crimes que ele teria cometido, perdendo o que poderia ser um marco que levaria o país ao rumo do esclarecimento. Mas a obsessão não deixa, decepcionando.

Para Janio, a tentativa de implicar um ministro do STF é uma maneira fácil de invalidar a delação de Léo Pinheiro, já que não traria o que eles mais queriam desde o início do samba da Lava Jato. E a hipótese levantada por Gilmar não seria um ponto fora da curva, mas parte de um todo a ser perseguido. Aqui entrariam os tantos vazamentos ocorridos até agora e que não tiveram o mesmo apelo nas falas do ministro.

Além do mais, por tudo que se falou, é claro que a defesa de Léo Pinheiro não é a responsável por este vazamento. E os excessos acontecem há muito tempo, sem controle e sem resmungos. Leia o artigo.

Da Folha

Excessos de autoritarismo da Lava Jato são problema institucional

por Janio de Freitas

Uma hipótese, um tanto óbvia, veio já no ataque inicial do ministro Gilmar Mendes ao “vazamento”, maldoso e injusto, de referência na Lava Jato ao ministro Dias Toffoli, do Supremo. “É necessário investigar os investigadores” da Lava Jato –repetiu Mendes essa frase sua do ano passado, agora completando a observação de que procuradores da Lava Jato estão em choque com Toffoli, por eles atacado até em artigo. Entre hipóteses possíveis, porém, viceja em círculo judicial aparentemente estreito uma menos fácil e mais excitante que a de Mendes.

A delação afinal aceita por Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, poderia ser a mais promissora, mas já as discussões iniciais mostraram-se tão problemáticas quanto as de Marcelo Odebrecht. Muito afável, prestativo e de acesso simples, Pinheiro teria com que inundar a Lava Jato de informações e esclarecimentos. E, esperavam os procuradores, obsessão acima de todas, o que buscam em vão sobre a propriedade do sítio e do apartamento atribuída a Lula. Léo Pinheiro foi decepcionante para a Lava Jato nas preliminares sobre a futura delação: não admitiu que o sítio e o apartamento sejam de Lula.

Era muito fácil a previsão de que implicar um ministro do Supremo, em mais um “vazamento”, daria oportunidade a sustar o acordo de delação premiada com Léo Pinheiro. Além de não dizer o que desejavam, o possível delator e seu manancial de informações por certo desvendariam pessoas e grupos não incluíveis na mira acusatória da Lava Jato. Criar o caso e, suspenso o acordo de delação, deixar Léo Pinheiro calado: está feito.

A hipótese de Gilmar e a outra não se excluem, talvez se completem. Em ambas, aliás, confirma-se que Léo Pinheiro paga pelo que não disse e não fez. Com toda a certeza, não é o autor do “vazamento”, inexistindo qualquer motivo para a punição que o procurador-geral Rodrigo Janot lhe aplicou, e só a ele, cassando-lhe o direito de buscar o mesmo benefício dado a tantos delatores.

Se o “vazamento” é algo tão grave, definido como crime por Gilmar Mendes e motivador do ato extremado de Janot, à pergunta “a quem interessa?” emenda-se outra: por que tanto consentimento, por tanto tempo, para atos agora qualificados de “excessivos”, “inaceitáveis” e “abusos de autoridade”?

O Conselho Nacional do Ministério Público manteve-se impassível diante da torrente de “vazamentos” que os tornou costume característico da Lava Jato. O Conselho Nacional de Justiça teve a mesma indiferença, em relação ao chefe da Lava Jato, juiz Sérgio Moro. O procurador-geral chegou a emitir uma nota com advertências sobre os excessos, mas recuou na aplicação dos seus conceitos à prática. Esses comportamentos constituíram uma carta branca para a Lava Jato e sua prepotência.

Até um leigo, como sou, anteviu que os excessos de autoritarismo da Lava Jato, uma vez consentidos, cresceriam em número e em grau de gravidade. E viriam a ser um problema institucional. São.

Léo Pinheiro de nada acusou Dias Toffoli, nem insinuou. Mas, se a substância não fere o Supremo, o “vazamento” o atinge pela intenção inequívoca de sua forma maldosa, desonesta mesmo. Dizem que vão investigar a procedência do “vazamento” ou “vazamentos”. Quem a conhece são jornalistas. A Polícia Federal já pretendeu exigir de jornalistas a indicação de suas fontes. À Lava Jato só falta algo nessa linha, para um aparente atestado de bom comportamento contra a acusação de “abuso de autoridade”. Iniciada por indignado Gilmar Mendes, aquele que reteve por ano e meio uma decisão importante do Supremo, enquanto expunha em público o teor do voto engavetado. Um abuso de autoridade escancarado

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

7 Comentários

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  1. delação oas

    além de todas as hipóteses que foram, estão sendo e ainda serão formuldas sobre o vazamento da delação do sr, “Leo” Pinheiro da OAS envolvendo o ministro Dias Tóffoli, um aspecto me parece não ter sido abordado. Qual o grau de intimidade os persoagens mantêm. Em que ambientes descontraídos encontram-se para que durante a descontraída conversação o ministro solicite ao empresário uma orientação sobre uma obra e receber em troca a indicação de profissionais qualificados?

  2. Jânio de Freitas dispensa comentários

    Prezados,

    Sintéticas, limpas, precisas, contundentes na certa medida e elegantes, as análises de Jânio de Freitas dispensam comentários.

    Notem os leitores que as análises de Jânio de Freitas indicam exatamente aquilo que eu e muitos leitores já expusemos em comentários: o jogo combinado entre os integrantes da Farsa a Jato, sobretudo entre o PGR, Rodrigo Janot, e o ministro(sic) Gilmar Mendes, do STF.

    A cada dia que passa fica mais clara e límpida e percepção de que a Farsa a Jato é uma ORCRIM institucional, composta por policiais federais, procuradores do MP e juízes. Dúvida de que o STF é ator do golpe de Estado não há mais nenhuma. Inequívoca, também, é a atuação da Farsa a Jato e do STF (com absoluto destaque para Gilmar Mendes), para proteger e blindar os tucanos de alta plumagem, inclusos aí Aécio Cunha, José Serra e Geraldo Alckmin. 

    Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro foram e são usados, numa tentativa de criminalizar o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma. A Farsa a Jato, essa organização criminosa institucional, conseguiu desmantelar toda a indústria da construção, as grandes empresas brasileiras de engenharia, muitas delas com operação em vários outros países, como é o caso da Odebrecht, desmantelar a Petrobrás e todo o setor energético e estratégico que alavancava o desenvolvimento soberano do Brasil. Mais de 2/3 da recessão que assola o País desde o ano passado se deve a essa operação criminosa. É nítido que a Farsa a Jato foi cuidadosamente planejada pelo alto comando internacional do golpe, como tenho afirmado desde o início dela, há mais de dois anos.

  3. É o assunto do momento.

    Uma linha de investigação é aquela conhecida: quem se aproveita do crime?

    Eu penso que talvez o sr. Janot tenha dado uma ordem geral: não quero mais saber de vazamentos no meu quintal. Afastem a Polícia Federal das negociações e restrinjam ao máximo as pessoas envolvidas.

    Mesmo assim a negociação é vazada…

    Bom, aí so resta ao PGR acabar com o jogo. Como o dono da bola ele diz: não brinco mais.

    Qualquer que seja a origem dos vazamentos, como eles mesmo diziam quando atingiam o governo deposto, é muito difícil contê-los e também investigá-los e se até hoje não nenhuma colaboração foi cancelada por causa de vazamento não nenhum motivo para cancelar esta.

    A não ser que esteja querendo beneficiar as pessoas delatadas por Leo Pinheiro e Janot já tem uma lista relativamente longa de proteção à Aécio Neves, por exemplo.

    Pega muito mal ao PGR esta atitude.

  4. O SUPREMO FEITICEIRO E SEU APRENDIZ

    Tempos de nevoeiros, que se adensam, tempos de desesperanças. Depois de muitas lutas a que chegamos. De nada adianta as lições da história, já que a maioria não tem acesso ou interesse ou condições de análise.

    O suicídio de Vargas, as tentativas de golpes e contemporizações de J.K, a deposição de Jango, as contemporizações de Lula, a iminente deposição da Dilma.

    A nova política econômica, social e diplomática! Que lástima. Aonde poderíamos chegar e aonde tememos mergulhar. Um país autoconfiante que pleiteava um assento no conselho permanente da ONU, agente ativo e altivo de uma nova ordem econômica e social no mundo, para este exemplo exposto de fracasso econômico, político e moral.

    Congelamento real dos gastos com saúde e educação! Estaríamos na Suécia, teríamos atingido neste setores altos níveis de eficácia?  Estamos nos conformando com a calamidade atual?

    Toda uma geração, que nasceu cresceu nas trevas da ditadura, encara no outono de suas vidas o retrocesso. Olhamos para o futuro receosos sobre o que acontecerá com nossos filhos e netos.

  5. Um relógio parado pode dar as

    Um relógio parado pode dar as horas certas duas vezes ao dia. Da mesma maneira, Gilmar Mendes, que também vive “parado” em relação a tudo que não lhe seja de conveniência política, pelo menos dessa vez estar certíssimo em TODAS as críticas que faz a essa Operação Arrebenta a Lei a Jato. 

    Tal constatação não exclui, é claro, dado exatamente o “currículo” do mesmo, que por trás desses desabafos se escondam também outros interesses se não os da Justiça. Essa dúvida ancora-se no histórico piedoso de silêncio acerca das estripulias do “deus” Moro e dos “querubins” do Ministério Público. A última, a escabrosa detenção de Lula e a asquerosa perseguição promovida pelo esquema repressivo da Lava a Jato que fere de forma aviltante o tão alardeado “Garantismo”. Onde estava o espadachim verbal de Gilmar nesses e noutros episódios? 

    Aí surgem as inevitáveis indagações: as desabridas, mas pertinentes, “gilmarinárias”(*) contra esse esquema repressivo, incluindo acusações para lá de virulentas, foram, e estão sendo animadas, apenas por arrastar um de seus colegas e amigos – ministro Toffoli – para o olho do furacão, no que parece ser uma tentativa de intimar o STF? Ou será mesmo uma contra-ofensiva prévia agora impulsionada pelos boatos de que outros ministros, poderão aparecer em delações futuras? 

    Ora, até aquela estátua na frente do Supremo antes de ser vendada deve ter assistido muitos episódios no mínimo nebulosos envolvendo esse ministro. Muitas das suas ações e deliberações como membro do STF ainda hoje são motivo de especulações. Suas afinidades com o tucanato são mais conhecidas e reconhecidas que o arrastado daquele objeto que se usava antigamente para satisfazer as necessidades fisiológicas: o popular e de saudosa memória, penico. 

    Tais desconfianças, entretanto, não tiram a justeza das suas perorações contra os abusos inaceitáveis e vergonhosos dessa malsinada Operação Lava a Jato. 

    (*) Referência às “Catilinárias” de Cícero. 

     

  6. Começa o conflito final… antes da nova era de decisivas lutas

    Começa o conflito final… antes da nova era de decisivas lutas políticas

    O que começou a acontecer hoje no Senado é o embate final do primeiro grande conflito contra o mal absoluto na política: um projeto totalitário e sádico de poder, cuja intenção principal é nos levar à um processo de escravidão, tão bem (e cruelmente) estabelecido por Nicolas Maduro na Venezuela.

    Se ao final do processo de impeachment, Dilma for definitivamente afastada (como se prevê), não falaremos do encerramento apenas de um mandato presidencial, mas do término de um ciclo de horror que estava planejado para ser lançado contra nós.

    A psicologia dos psicopatas mostra que o momento no qual eles mais se enfurecem é quando suas vítimas ficam livre do sofrimento que são impostos a elas. A impossibilidade de Dilma nos levar ao mesmo racionamento de alimentos e aprisionamento de políticos na Venezuela será um momento que irá descer rasgando para ela. Ouviremos o som de ranger de dentes quando isto acontecer.

    Sabemos também que Dilma e seus asseclas possuem um diferencial que nenhum outro partido possui na mesma escala: uma elite de psicopatas, capazes de transformar todos seus discursos políticos em encenações teatrais. Nota-se que muitos senadores que se opõem ao totalitarismo petista muitas vezes quedam diante de níveis épicos de violência psicológica e de tal volume de ardis que estes chegam a estacionar na classificação demoníaca. E isso independe de você acreditar ou não em demônios (eu não creio, pois sou um incréu).

    O ser humano possui capacidade de dissimular feito os demônios de filmes como “O Exorcista” e “A Profecia”. Não há nada de sobrenatural nisso. Acredito que devemos, pela ótica da guerra política, criar cada vez mais pessoas com estrutura intelectual para duelar contra psicopatas na política. Não devemos mais ficarmos surpresos com a dissimulação, mas preparados para combatê-la. Entretanto, temos que olhar para o que temos: quase ninguém hoje em dia tem estrutura psicológica para sair ileso das dissimulações de monstros morais como os políticos petistas e seus demais aliados da extrema-esquerda.

    Dilma vai apelar às táticas de trucagem psicológica no mesmo nível que personagens como Regan (do filme “O Exorcista”) e Damien (da série “A Profecia”, que se conclui com o episódio “O Conflito Final”, de 1981). Desta feita, não haverá espaço para qualquer relaxamento mental em toda a interação com um monstro moral da perversidade política. Qualquer pessoa que não estiver ciente de que Dilma se valerá de artimanhas diversas e ardis psicológicos dos mais variados tipos está mentindo para si própria a respeito dos riscos.

    Na atual batalha final do impeachment, o jogo psicológico não será fácil para muitos senadores republicanos. Alguns podem até fraquejar. Por isso, uma pressãozinha no Facebook sempre faz bem. Surpreendeu positivamente a força moral de Janaína Paschoal, que claramente não estava preparada para tamanha violência psicológica e, após o processo do impeachment, terá se tornado uma pessoa mais amadurecida, com uma nova estrutura mental pronta para os combates contra os piores abismos da depravação humana. Ao final do conflito, ela precisará relaxar por uma ou duas semanas, mas em seguida deverá voltar com uma “nova mente”, pronta para a nova era na qual imperam as guerras de narrativas.

    Hoje em dia ainda não estamos prontos. Muitos de nós “travam” diante de tantos jogos de gente como Dilma e seus asseclas. Mas estamos quase lá. É preciso exigir força e honra dos senadores, que serão vítimas dos mais diversos embustes nos próximos dias. Mas é vital saber que não passam de embustes vindos do que há de mais podre na alma humana. São embustes daquela que adoraria nos ver vivendo como venezuelanos. Mentes com ideais tão imundos e crueis só podem adquirir resultado a partir da mentira mais sórdida.

    Precisamos passar por essa fase. Em seguida, teremos que refletir um pouco para que no futuro estejamos mais preparados para lutar contra os psicopatas na política. O PT hoje se tornou uma elite destes psicopatas. Muitos se deram mal nessa luta, enquanto outros tantos restam de pé. Mas não é preciso que o trajeto seja tão doloroso nos próximos conflitos. Precisamos, ao término do processo de impeachment (e caso Dilma seja definitivamente afastada), treinar mentes prontas para a guerra política contra psicopatas. Somente assim não passaremos por tal risco de novo.

    Que este seja apenas o conflito final antes de uma nova era de lutas pela liberdade.

    http://www.ceticismopolitico.com/comeca-o-conflito-final-antes-da-nova-era-de-decisivas-lutas-politicas/

      

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