Lava Jato não prova empresas de fachada em campanha de Haddad

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: ROVENA ROSA / AGÊNCIA BRASIL
 
Jornal GGN – Após o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, desmentir as acusações de que a UTC teria beneficiado a sua campanha de 2012 com o suposto envolvimento de uma gráfica de fachada, agora o político do PT não apenas prova que houve a produção de materiais, como outra empresa também na mira da Polícia Federal assume a prestação de serviços de comunicação para rádio, TV e internet.
 
O desdobramento da Operação Lava Jato que recaiu sobre Haddad foi deflagrado no dia 1º de junho, na chamada Operação Cifra Oculta. A suspeita era de crimes eleitorais e lavagem de dinheiro no pleito de 2012 à Prefeitura de São Paulo e partia das delações de Ricardo Pessoa, executivo da UTC.
 
O empresário narrou a delegados que a UTC pagou “dívidas de uma das chapas da campanha de 2012 à prefeitura municipal de São Paulo, referentes a serviços gráficos no valor de R$ 2,6 milhões”. A gráfica que teria recebido os repasses, Souza & Souza, pertencia à família do ex-deputado estadual Francisco Carlos de Souza (PT). Segundo Pessoa, o político recebeu a quantia em propina da Petrobras, resultante de contratos obtidos pela UTC na estatal.
 
Em resposta, à época, o ex-prefeito respondeu que a gráfica não era de fachada, como interpretava os investigadores, e que prestou “pequenos serviços devidamente pagos pela campanha e registrados no TRE [Tribunal Regional Eleitoral]”. 
 
Haddad mostrou que as acusações não se sustentam: ressaltou que seria contraditório a UTC ser responsável pelos pagamentos de supostas dívidas de campanha se, naquele período, a empreiteira foi até prejudicada por obras canceladas na gestão do ex-prefeito e, assim, “teve seus interesses contrariados”.
 
“A UTC teve seus interesses contrariados no início da gestão Haddad na prefeitura, com o cancelamento das obras do túnel da avenida Roberto Marinho, da qual fazia parte junto com outras empreiteiras igualmente envolvidas na Lava Jato”, explicou em nota oficial Haddad. “O executivo da UTC, Ricardo Pessoa, era dos mais inconformados com a decisão”, acrescentou.
 
“O propalado repasse de R$ 2,6 milhões, se ocorreu, não tem nada a ver com a campanha de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo em 2012. Até porque seria contraditório uma empresa que teve seus interesses prejudicados pela administração saldar uma dívida de campanha deste administrador”, concluía.
 
Como sequência das investigações contra o ex-prefeito, a PF foi atrás de outra empresa fornecedora de produtos para as campanhas do petista: a F5BI Produções Ltda. A empresa foi a maior fornecedora do pleito de 2016 e, apesar de não estar na mira direta do caso Cifra Oculta, o sócio da empresa, Giovane Favieri, é réu em um das denúncias da Lava Jato no Paraná.
 
A acusação contra ele é a que envolve o Banco Schahin e o suposto benefício ao pecuarista José Carlos Bumlai, em contrato analisado como fraudulento de empréstimo de R$ 12 milhões, em 2004. Nesta investigação, os procuradores defendem que o dinheiro se destinava ao PT e seria uma forma de lavagem de dinheiro do Grupo, por ter obtido um contrato de R$ 1,6 bilhão junto à Petrobras. Uma das empresas que teria recebido os pagamentos é a de Favieri, por serviços na eleição de 2004, em Campinas.
 
Acontece que Favieri prestou serviços à disputa eleitoral de Haddad no último ano. No intuito de desvendar se haveriam suspeitas de que a empresa F5BI é de fachada ou se, na verdade, não prestou serviços e destinou recursos à campanha do ex-prefeito, os resultados foram a comprovação das prestações. 
 
Reportagem da Folha de S. Paulo caminhou por esta linha e, sem sucesso, desviou a manchete para outra informação: “Réu da Lava Jato acusa PT e Haddad de calote de R$ 2,6 mi”. A empresa de Giovane Favieri, que por sua vez é réu da Operação Lava Jato, forneceu a estrutura de comunicação para radio, TV e internet à Haddad. A F5BI foi responsável pela entrega de equipamentos de comunicação e dois prédios, com serviços de limpeza, segurança, transporte e alimentação para 300 funcionários.
 
O total das despesas da empresa teria atingido R$ 3,55 milhões, mas a campanha do ex-prefeito teria pago somente R$ 653 mil. Com o fim da campanha, o diretório municipal do PT fechou um acordo de parcelamento da dívida: 23 prestações de R$ 120 mil e uma de R$ 140 mil. Mas, até agora, apenas duas parcelas foram quitadas. Por isso, o empresário recorreu à Justiça.
 
“Em nenhum momento, a empresa deixou de oferecer o que foi estabelecido em contrato, sem qualquer tipo de interrupção ou prejuízo à campanha, apesar da mora e do conseguinte calote ao pagamento”, disse a empresa na ação, ingressada em junho deste ano. Em resposta, o ex-prefeito confirmou a existência da dívida, que agora é de responsabilidade do diretório municipal do partido. 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

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  1. Lembrando de uma narrativa de

    Lembrando de uma narrativa de Nassif sobre os meganhas de Curitiba, os meganhas coxinhas da PF paulista devem se vestir de policial, chegar na repartição, ligar o computador e dizer: hoje eu pego esse Haddad. E ganham 30 mil, fora penduricos. pra fazer isso.

     

  2. Enquanto isso, o Mineirinho

    Enquanto isso, o Mineirinho livre leve solto, com seus processos aguardando a prescrição.

    E Nosferatu da Mooca que nem sendo processado está.

  3. A Lava Jato e o método

    Decorridos mais de três anos, parece que ainda não está claro que a Lava Jato possui um método, qual seja perseguir, inviabilizar e destruir o PT e todos que dele se cercaram. Isso inclui financiadores, ou qualquer pessoa/empresa que tenha participado/colaborado com campanhas eleitorais do partido.

    Quem vai querer doar R$ 1,00 ao PT ou prestar serviços, quaisquer serviços, desde palanque, som, material de campanha, se o resultado é o camburão da PF? Os sinais emitidos pelo MPF/PF são claros, claríssimos, não dar trégua, não deixar respirar. 

    Sobre o método da Lava Jato, vide a entrevista que o Breno Altman concedeu ao Nassif (https://www.youtube.com/watch?v=Rk9FijenA7I), a perseguição a todos e a tudo que tenham ae aproximado do partido, a execração pública, etc. O método é infundir medo, terror, para que ninguém se aproxime do PT. Asfixia total. 

    O resultado disso será claramente verificado em 2018, se houver eleição, todos mantendo distância segura do PT. E no entanto, com todos esses sinais, o PT recusou-se a discutir financiamento de campanha no último congresso, mencionou en passant, falando vagamente em financiamento público, na esperança de que passe no Congresso Nacional (é mais fácil o Edir Macedo fazer voto de pobreza). 

    Esperava que houvesse juízo no PT, e tratassem do financiamento de campanha de forma séria e realista. A única forma é a doação de PESSOAS FÍSICAS, a exemplo de Bernie Sanders, nos EUA. Para isso, teria que ter iniciado uma intensa e maciça campanha há alguns meses, de modo que mensalmente aportasse no partido algo entre 30 a 50 milhões. Não se faz eleição presidencial sem dinheiro, muito dinheiro num país com a dimensão do Brasil, a menos que seja apenas pelo esporte de concorrer. 

    No entando, o PT perdeu a chance de tratar o assunto de forma institucional na instância adequada, o congresso do partido. É preciso encarar a realidade, a regra do jogo não vai mudar, a doação empresarial vai permanecer, com a diferença que nenhuma empresa vai doar para o PT. Restam as pessoas físicas, até 10% da renda anual.

    Vão matar o PT de um jeito ou de outro, uma das vias é a asfixia financeira, daí o método da Lava Jato. 

  4. PT

    Os contras não brincam em serviço, de forma nenhuma. E o pior é que isto vai cansando a todos os que torcem ou são filiados ao Partido.

    Não acredito mais em uma boa solução para o partido, pois eles (os contras) possuem as armas mais poderosas que podem existir, principalmente no Judiciário e na mídia.

    E o Brasil não vai prá frente de modo algum. Sua sina já foi decretada muito tempo atrás, talvez desde o descobrimento ! O país é grande demais, rico demais, para ficar em mãos de brasileiros, pensam os demais.

  5. Essa chamada não liga pé com

    Essa chamada não liga pé com lé. Impossível adivinhar do que é a chamada na primeira leitura, nem o texto ajuda a entendê-la.

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