Senadores favoráveis e contra o impeachment: o que move seus votos

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – A Comissão Especial do Senado votará nesta sexta-feira (06) a admissibilidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e se aprovado o parecer, assinado pelo relator da oposição Antonio Anastasia (PSDB-MG), a primeira votação do Plenário do Senado ocorre na próxima quarta-feira (11). Esta primeira fase já é considerada de derrota pelo governo. Os dados levantados pelo GGN confirmam a expectativa: 50 senadores aprovarão o processo que, de imediato, afastará Dilma por até 180, ou seja, seis meses, quando a Casa julga se houve, ou não, crime de responsabilidade.
 
Para além da derrota esperada, a equipe do Jornal GGN quis saber o que motiva o posicionamento dos parlamentares sobre o impeachment contra a presidente Dilma. Ou seja, além do voto “a favor”, “contra”, “indeciso”, “abstenção”, etc, buscando as razões que movem o voto dos senadores. 
 
O infográfico com o voto a voto dos senadores pode ser visualizado aqui:
 

As respostas foram as mais diversas possíveis, envolvendo mais do que o mérito da denúncia: aqueles que votarão a favor da abertura do processo entendem que os decretos fiscais assinados por Dilma em 2015 e as chamadas pedaladas fiscais trariam justificativa legal para o seu afastamento, mas a decisão é movida pela má gestão da presidente. 
 
“Somam-se a essas razões jurídicas outras: as da política e as da economia”, afirmou Marta Suplicy (PMDB-SP) ao GGN. “Esses fatos se deram e em razão deles, ou seja, da má gestão da presidente Dilma Rousseff, temos como consequência um rombo de R$ 57 bilhões. Também, a presidente perdeu a confiança dos brasileiros e a governabilidade. O país se vê mergulhado em desemprego e descontrole inflacionário”, justificou a senadora para o seu voto favorável.
 
“A presidente cometeu crises fiscais, deixando um rombo de R$ 90 bilhões”, completou Romero Jucá (PMDB-RR) ao jornal. “[Dilma] Ganhou a eleição com um discurso fictício, quando já sabia ela que a economia do Brasil apresentava sinais bastante evidentes de uma forte crise econômica. Se o problema fosse atacado de frente, com seriedade, possivelmente, não teríamos mais de 11 milhões de trabalhadores demitidos e uma economia em frangalhos”, também disse Flexa Ribeiro (PSDB-PA).
 
Para o senador Álvaro Dias (PV-PR), a função do Senado Federal é “dar guarida à aspiração popular”, sentindo “o desejo da maioria do povo brasileiro pelo afastamento da presidente”. “[Dilma] se revelou incompetente para dirigir os destinos do país e mergulhou o Brasil na maior crise social e econômica de sua história, com inflação em alta, desemprego em massa e economia estagnada”, disse ao GGN.
 
Já entre governistas e senadores que são contrários ao impeachment, o verdadeiro objeto da denúncia foi considerado para a votação: se houve ou não crime de responsabilidade.
 
“A Constituição exige o cometimento de crime de responsabilidade, o que certamente não foi o caso da presidenta Dilma”, disse a senadora Angela Portela (PT-RR).
 
“Não há crime de responsabilidade que justifique o impedimento e ao contrário do que pensa boa parte dos brasileiros, o impeachment não é uma panaceia, isto é, por si só não resolverá os graves problemas por que passa o país”, afirmou Douglas Cintra (PTB-PE) ao jornal.
 
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) foi direto nas constatações: “O processo em curso é golpe exatamente por isto: a presidente Dilma não cometeu crime de responsabilidade. Foi um processo que se originou de uma chantagem de Eduardo Cunha, sem mérito e coordenado por um vice-presidente que conspirou para tomar o poder. É uma fraude jurídica, um atentado contra a democracia e contra a Constituição. Trata-se de uma tentativa de assalto ao poder pelos que não apresentam condições de fazer a disputa pelas urnas”.
 
Paulo Paim (PT-RS) lembrou que as pedaladas fiscais e os decretos “foram utilizados muitas vezes em outros governos, inclusive nas duas gestões do PSDB. E mais: a maioria dos governadores e prefeitos atualmente as utiliza”. E seguiu: “Juridicamente, ela cai como castelo de cartas”. 
 
Já a senadora Lídice da Mata (PSB-BA) reconhece que “o país atravessa uma grave crise política e econômica”, mas a parlamentar defende, em primeiro lugar, que “a Presidente da República só poderia sofrer tal processo após comprovação criminal – e fundamentada juridicamente – das denúncias feitas contra seu governo”.
 
E “caso o impedimento se confirme, não há condições políticas no País para que o vice-presidente Michel Temer assuma, uma vez que, pertencendo à chapa eleita pelas urnas em 2014, sobre ele também recaem as mesmas acusações feitas contra a Executivo nacional”, completou a parlamentar ao GGN.
 
Há outros parlamentares que analisam a função do Senado como a de julgador da denúncia e, portanto, a decisão será tomara após toda a tramitação do processo. “Entendo que o papel dos senadores é o de juiz do processo, ao contrário dos deputados. A estes cabe o equivalente à função de promotores. Já aos senadores, cabe-lhes agir como juízes. Nesse sentido acho impróprio antecipar qualquer juízo quanto ao mérito, antes de ouvir as razões da defesa”, afirmou Roberto Rocha (PSB-MA).
 
***
Acompanhe no infográfico do GGN o voto a voto dos senadores, nessa primeira etapa, quando o plenário decide se aprova a proposta.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

16 Comentários

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  1. A maioria dos senadores

    A maioria dos senadores apenas confirmou o que eu já dizia lá atrás: Que a democracia brasileira é uma farsa. Vocês ainda são um país de cultura monárquica (aonde se entende que alguns mandam e os outros devem obedecer sem questionar) e escravocrata (aonde um pequeno grupo se julga “superior” aos demais e que os demais são menos que humanos), que dizem ser uma democracia apenas para manter a população sob controle através de fazê-la pensar que ela têm poder de decisão sobre os rumos do país.

    E eu devo avisar sobre o perigo que o Brasil corre quando a sua população perceber por si mesma que o voto deles é uma farsa e que quem manda mesmo no país é a exata mesma oligarquia que vêm desde o Império.

    1. Vc tem razão. A democracia

      Vc tem razão. A democracia brasileira é uma farsa. Mas, nesse particular, nos igualamos às demais naçoes do planeta. onde os eleitos não governam para quem os elegeu, mas para o poder que patrocina as suas campanhas. Em paises considerados de democracia sólida  tem até fraude eleitoral ratificada pela suprema corte. A nossa peculiaridade e a dos demais paises da região está na enorme vulnerabilidade aos humores e interesses dos donos do mundo que, quando lhes convém, disparam o “regime change”, com auxílio, claro, da enorme legião de colaboradores nativos.

    2. correto, é isso mesmo, eu por

      correto, é isso mesmo, eu por exemplo, não saio mais da minha casa para votar em presidente, se na prática como vimos no caso da presidente, acho que na altura do campeonato posso dizer, afastada por interesse dessa oligarquia, como disse brilhantemente, o amigo acima.  vale lembrar que no estados unidos o voto não é obrigatorio,

  2. Defesa feita por Eduardo

    Defesa feita por Eduardo Cardoso não tem grandes significados pelo que ele tem represetnado no Governo. Acho que chegou a ser ridículo o papel dele como ministro de justiça. Se Dilma queria acertar ao menos uma vez poderia ter contado rpa sua defesa com um grande jurista, e não com um borra-bosta como Cardoso. Por mais conteúdo que tenha o seu discurso, a poucos convence.

    O que fica de mais nojento nesse quadro é a razão do voto contra Dilma de todos que estiveram com ela até outro dia. Jucá, por exemplo, vir a dizer que todos já sabiam que a economa ía mal, etc., deixa no ar a pergunta: por que ele permaneceu ao lado de quem considerava desonesta e mentirosa? 

    1. Neste simulacro de processo,

      Neste simulacro de processo, a defesa da Dilma se feita pelo melhor jurista da Via Láctea, o resultado seria o mesmo. Não esquecer: TRATA-SE DE UM GOLPE DE ESTADO.

  3. Os senadores favoráveis ao

    Os senadores favoráveis ao impeachment têm as mesmas motivações dos deputados. São golpistas ou foram “convencidos” a aderir ao golpe. Câmara e Senado diferem apenas na quantidade. A qualidade, salvo exceções,  é a mesma. E nessa legislatura atingiram o máximo de “esplendor”.

  4. Mais um filtro.

    O infográfico ficou excelente!

    Funcionalidade, estética, informações fundamentadas em entrevistas oficiais anexadas.

    Excelente.

    Eu só peço a inclusão de um filtro adicional: Região.

    É muito interessante ver a situação no Norte-Nordeste.

    Dá pra ver claramente o cálculo eleitoral em ação.

  5. PERSEVERAANÇA E RESISTÊNCIA

    Não é hora de abandonar a ampla defesa da democracia. A disposição da resistência democrática não deve esmorecer, pois ainda existe a possibilidade concreta de serem revertidos ao menos oito ou nove dos votos já declarados a favor do impixe.

    Ainda há muito caminho a percorrer, com disposição que não se deve abalar diante da concreta probabilidade de efetivação do golpe de estado em marcha no Brasil. Mesmo que o jogo tenha cartas já marcadas no senado, ainda não é irreversível, de modo que o debate político deve continuar a ser conduzido com método, a fim de resultar na ampla divulgação das evidências da farsa, materializada no golpe do impixe sem crime.

    Ademais, urge definir e encaminhar uma medida judicial adequada a cobrar do STF a emergencial apreciação do mérito da questão relativa à inexistência de fundamento apto a embasar o processo de impeachment nas condições exigidas pela constituição federal, antes do prosseguimento do feito no parlamento.

    Difundir a luz da verdade, e clamar pelo cogente respeito às normas constitucionais e aos princípios jurídicos do devido processo legal e da efetiva prevalência do Estado Democrático de Direito, este é o caminho para obstar a marcha do fascismo.

    E toda essa discussão deve ser amplamente divulgada em todos espaços políticos, bem como toda a discussão acerca das razões de classe e dos interesses geopolíticos que explicam os verdadeiros motivos do golpe em marcha e os riscos reais para o futuro.

    É preciso divulgar em todos os espaços políticos, e para todos os públicos, de todas as classes, a minuciosa demonstração dos fatos que comprovam não serem as pedaladas fiscais, nem a liberação de verba suplementar, práticas que configurem crime.

    Quanto maior for o número de pessoas para as quais sejam apresentadas as evidências da absoluta inexistência de crime de responsabilidade da Presidente Dilma, maior será o número de pessoas cientes da gravíssima ameaça de golpe contra a democracia.

    Ademais, é indispensável destacar que, apesar de criticáveis, as pedaladas fiscais não envolvem nenhuma forma de apropriação indébita nem de desvio de finalidade.

    É preciso também frisar, com máxima ênfase, que os decretos de créditos suplementares foram embasados em solicitações formais formuladas por instituições públicas, algumas inclusive do próprio poder judiciário, que apontavam a necessidade de evitar assim a inviabilização de programas sociais e a interrupção de atividades essenciais do Estado.

    E a prova de que tais decretos de créditos suplementares foram firmados de maneira correta é o fato de que o congresso nacional veio depois a referendar tais decretos.

    O debate político precisa tratar também das funestas intenções daqueles que objetivam assumir o poder de forma ilegítima. É preciso demonstrar com clareza que o motivo do golpe é exatamente abrir espaço para um governo ilegítimo, para permitir a adoção de políticas que jamais seriam viabilizadas nas urnas, por serem rejeitadas pelo povo.

    Além disso, a militância progressista deve prosseguir seu trabalho de conscientização da coletividade acerca do fato de que os golpistas, e até mesmo seus asseclas fascistóides, não são nosso inimigos, mas sim adversários em um luta que é política, e que será vencida pela cidadania organizada exatamente por lutarmos de forma democrática.

    As discussões no parlamento devem lembrar aos senadores que, em tempos de internet e mobilidade de dados, seria impossível evitar que a grande maioria das pessoas, no país e no exterior, tivessem plena ciência do que na verdade significa o golpe do impixe. Bem como que o conhecimento da realidade acerca do golpe de estado em marcha fará com que todo e qualquer parlamentar flagrado a apoiar a farsa do impixe fique caracterizado como um cúmplice do verdadeiro crime, praticado contra a democracia brasileira.

    Isto significa que todos os golpistas atuantes no impixe irão com isso determinar sua própria extinção política, pois serão sempre responsabilizados pelas cruéis agressões à democracia e aos direitos sociais, e pela flagrante violação do Estado Democrático de Direito, bem como por todos os resultantes retrocessos subseqüentes.

    Quando forem defrontados com a evidência de que o voto a favor da farsa do impixe trará consequências altamente negativas para suas biografias e para as perspectivas futuras de suas respectivas trajetórias políticas, a maioria do senado perceberá que barrar o prosseguimento do golpe de estado em marcha é um dever de consciência.

  6. muita água ainda vai rolar

    muita água ainda vai rolar por debaixo dessa ponte golpista….

    pelo ,menos laguns parlamentares perceberão no governo golpista

    do temerário a falácia e a infamia desse golpe..

    as forças da resistencia, espero, comprovarão a eles quem está do lado certo

    – os verdadeiros democratas….

  7. Dizer que quando Dilma se

    Dizer que quando Dilma se candidatou, já sabia ela que a economia do Brasil apresentava sinais bastante evidentes de uma forte crise econômica e usar esse argumento para votar a favor do impeachment é de uma sordidez absoluta, Esquecem esses can…, digo senadores, que FHC manteve uma cotação do real x dólar artificial para se eleger e que, no dia seguinte, a verdade veio à tona, com a queda abrupta do real.

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