Serial killer brasileiro: até onde a arte é responsável?

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Nilson Lattari

No Portal Luis Nassif

Na última semana uma das notícias mais terríveis foi a prisão e a confissão de um serial killer brasileiro [foto], com quarenta e três vítimas fatais, pego em flagrante tentando executar sua última vítima, ato que não consumou.

No melhor clima de Criminal Minds, um seriado americano na TV paga, onde sofisticados e autores de numerosos crimes são perseguidos, o nosso serial tupiniquim, um indivíduo que cursou até o quinto ano, negro, morador na periferia da cidade do Rio de Janeiro, em município adjacente, manifestou em seu interrogatório uma paixão pelos livros policiais e séries de TV, além da mesma “ânsia por matar, ou sair para a caçada”. Essa paixão o levou a adotar as mesmas performances que o livraria de provas, como o uso de touca, de luvas e o corte das unhas das vítimas, onde o seu DNA poderia estar armazenado.

Diante disso, estamos perante os fatos do grotesco. O primeiro que a polícia brasileira ainda não tenha este grau de sofisticação, com laboratórios cinematográficos, que nem mesmo existem na polícia americana, neste grau, e, por outro lado, o aprendizado através da literatura e da televisão.

Cabe-nos perguntar até que ponto a arte pode ser responsabilizada pelos atos de seus expectadores e leitores.

Sendo a ficção o pensamento mais avançado do homem, e, como exemplo, Júlio Verne, no seu convívio com cientistas da época, engendrou inúmeras aventuras, assim como Star Trek que antecipou ou proporcionou o avanço em inúmeros gadgets modernos (flip flaps nos celulares, os sintetizadores, quase apresentáveis nas impressoras 3 D, e por aí afora), ela deva se engajar em uma cruzada anticrime?

O exemplo do nosso infeliz serial killer e o seu aprendizado possivelmente esteja sendo seguido por outros, ainda não descobertos. As lavagens de dinheiro, cada vez mais sofisticadas têm a sua reprodução em filmes, e neles os processos criminais e a imensa criatividade dos autores levando ao mais alto nível a sofisticação, na busca dos roteiros inéditos, deveriam ser interrompidas? Ou censuradas?

Ou o excelente filme estrelado por Robert Redford “Os seis dias do condor”, onde um funcionário de uma empresa que faz resenhas de filmes e livros policiais, de repente, vê as mesmas performances serem executadas pelo mundo e descobre que ele faz parte de uma trama onde a CIA se utiliza para praticar seus crimes.

É um caso a se pensar.

Afinal, a literatura é uma das formas de aprendizado de uma cultura e a forma crítica da sua existência funciona como freio para devaneios ditatoriais e paranoicos, como os enredos utópicos (A utopia, Admirável mundo novo, A noite dos tempos) que serviam para criticar as sociedades da época.

Como conviver a ficção e a realidade, quando a ficção busca na própria realidade o trampolim para a criação, e essa mesma criação pode se voltar contra a realidade?

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

22 Comentários

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    1. É culpa do PT, Pranchetta!

      Você ainda duvida que seja culpa direta do Lula e da Dilma e desse política racista e bolivariana das cotas nas universidades?

      Ou, como diria o Rebolla-bolla, do Foro de São Paulo?

  1. Efeito Copycat

    Poderíamos estar diante daquilo que o pesquisador Loren Coleman chama de “Efeito Copycat”: o comportamento homicida ou suicida contagiado pelos ensacionalismo noticioso ou ficcional das mídias. 

    Personagens, palavras ou narrativas podem adquirir força ao transformarem-se em verdadeiros arquétipos que, quando repercutidos pelas mídias, adquirem poder de contágio rápido como memes.

    Leia: http://cinegnose.blogspot.com.br/2012/08/efeito-copycat-violencia-e.html

    1. Como no caso dos atiradores nas escolas

      Eles tem seus rostos, suas biografias e seus manifestos amplamente divulgados pela mídia. Memes alimentados por mentes doentias ganham assim novas mentes doentias para os hospedarem, à espera da oportunidade, da motivação ou do fármaco certos para nova investida.

  2. Pronto…rs
    Já começou a

    Pronto…rs

    Já começou a viagem!

    A culpa agora é da arte.

    Pode ser tambem televisao, cinema, teatro, circo, peça de rua,  midia convencional ou ate mesmo pode sobrar para os blogs rs

    Não podemos esquecer tambem das influencias musicais, dos  gibis,  da internet de modo geral ou de mensagem de texto com conteudo subliminar rs

    Que sono….

     

  3. Consciência do erro

    O carioca que matou 43 pessoas tinha plena consciência de que o que fazia era errado. Isso está claro nas entrevistas que ele deu. Fala em prazer de matar, em cuidados tomados para não ser identificado, em investigar as vítimas, a rotina delas etc. Ele tinha plena consciência do que fazia e do quão errado era. A responsabilidade é exclusiva dele.

    A eventual influência da arte não muda isso (aliás, estudos dizem que a influência da arte pode acontecer de muitas outras formas: Bundy e outros psicopatas tinham especial apreço por filmes pornográficos e pornografia de uma maneira geral, por exemplo).

    1. Ele tinha plena consciência

      Ele tinha plena consciência de que poderia ser apanhado pela polícia por fazer o que fazia. O que não é a mesma coisa que ter consciência de que o que fazia era “errado”.

      1. No caso, não existe diferença entre uma coisa e outra

        A preocupação, a atitude de espreitar as vítimas, de agir escondendo as ações, tudo isso torna bastante plausível que ele tinha plena consciência de que o que fazia era errado. A propósito, não entendi as aspas usadas na hora de grafar a palavra errado. O que ele fez é errado, sob qualquer ponto de vista. As aspas são incabíveis. Erro que ele tinha plena consciência, vide o modus operandi. Ninguém que não achasse o que ele fazia errado se preocuparia em esconder as evidências e provas contra si mesmo. Isso me parece logicamente claro. Portanto, no caso, evitar ser apanhado pela polícia é sim uma evidência de que ele tinha plena consciência do quão errados eram os homicídios. A não ser que ele achasse que a polícia iria prendê-lo por algo que não era errado, proibido pela lei. Ele tinha essa consciência e por isso deve ser responsabilizado pelos crimes.

        Não sei se ele é psicopata, exatamente. Parece outro tipo de distúrbio. Parece só um homicida que tem prazer em matar, mas sem um modus operandi classicamente psicopata. Os serial killers acometidos por psicopatia geralmente agem ganhando a confiança das vítimas. Ele está mais para perfis como o de Richard Ramirez, o serial killer americano de origem mexicana cognominado The Night Stalker, que aterrorizou Los Angeles nos anos 80 e tinha predileção por matar casais e idosos, geralmente obrigando as mulheres a fazerem sexo oral nele na presença do homem, antes de matar o casal. Ramirez invadia também residências no período noturno, na surdina, e tocava o terror. Foi detido por uma ação heróica de populares em Los Angeles durante uma fuga. Houve combate corporal e os populares, depois de minutos de uma brutal luta, conseguiram deter Ramirez, que era alto, forte e sabia brigar como poucos, já que foi criado na cultura das ruas. Assassino altamente periculoso era Ramirez.

  4. O livro “Os Seis Dias do

    O livro “Os Seis Dias do Condor”, de James Grady, publicado em 1974, obra que foi levada aos cinemas com o filme “Os Três Dias do Condor”, de Sydney Pollack, com Robert Redford, lançado em 1975.

     

  5. É claro que a mídia tem culpa

    Se não tivesse as próprias redes americanas não combinariam, como fazem eventualmente, diminuir a divulgação de certos crimes. Mas não tem solução, o importante na nossa sociedade é o que vende. Enquanto tiver gente que gosta de assistir vai continuar sendo exibido.

  6. Seguir o que aparece nos

    Seguir o que aparece nos livros e filmes não leva ao crime perfeito porque senão ele não estaria preso.

    A tv  e livros influenciam? Decerto que sim, caso contrário não haveria esse volume enorme de dinheiro gasto em propagandas para veicular em programação de TV. 

    Mas as pessoas são e devem ser responsáveis por seus atos. Se o filme lhe deu o modos operandi, a motivação de faze-lo foi dele. 

  7. Quando vi esse caso pela

    Quando vi esse caso pela primeira vez na semana passada, achei fantasioso o que disse esse rapaz.

    Acho que ele é um assassino comum, não um serial killer.

    Não minha opinião serial killer tem alguns atributos, para convencer as suas vítimas, que não vejo nesse jovem.

    Boa aparência, poder de persuassão, elegante, com boa oratória, traços refinados… 

    Com esses atributos fica mais fácil convencer as suas vítimas.

    Para mim ele é um assassino comum que está querendo aparecer.

     

    1. Ontem no Fantatiscos, os

      Ontem no Fantatiscos, os especialista forense ligado à área da mente humana, disse que esse cara não passa de um vagabundo mequetrefe.

      Não tem nenhum  traço de serial killer.

      Caraca ! foi mais ou menos o que eu comentei.

       

      Estou ficando bom nesse negócio de matador em série

  8. Mortes e tiros demais

    Nllson,

    Um fato é inegável, existem tiros, existem mortes demais em seriados de televisão.

    Tais filmes são acessíveis a crianças, pois começam por volta da 6 da tarde, e os adolescentes podem passar a note assistindo a mortes e tiros.

    Prá mim, tanto faz, pois não suporto programas como aqueles ridículos CSI e seus laboratórios que só devem existir em Marte, haja a vista a baixa % de crimes solucionados nos USA, mas já vi a rapaziada comentando, por mais de uma vez, sobre esta ou aquela técnica que viram num filmeco daqueles.

    Se basta um alucinado em Tio Sam prá fazer um estrago, haja vista a extraordinária quantidade de jovens a fuzilar colegas em sala de aula por lá, noves fora o desde sempre popular estupro, por aqui pode ocorrer o mesmo, e foi o justamente o que aconteceu em Realengo, bairro do RJ, há uns tres anos.

    Tenho a convicção de que muitos dos crimes cometidos, o são sob a inspiração deste lixo que as televisões arremessam diariamente na cabeça do telespectador, e deveria ser do conhecimento geral que parte da assistência é composta por autênticos boçais. 

     

  9. Antigamente os programas de

    Antigamente os programas de televisão eram infinitamente melhores que os de hoje. A gente tinha ótimos debates sobre política, sobre religião, sobre tudo. Estava a lembra de um deles, quando foram entrevistados um neurologista carioca, famoso, e um juiz de Direito. O tema eram os crimes bárbaros, e o criminoso (lombrosiano). Fui até ao dicionário pra saber que tipo de crime era esse. O Bandido da Luz Vermelha foi um dos citados como irrecuperável – estava longe de cumprir os 30 anos da pena. O médico garantia a inexistência de solução para esses criminosos, mas apresentou uma receita: por uma cirurgia craniana, se extraria a parte responsável pelo comportamento do criminoso; e que ele permaneceria vivo, porém sem nenhum sinal de agressividade. Ou seja, já que não existe pena de morte no Brasil, nem mesmo prisão perpétua, que se apresentasse alguma solução era o propósito do programa.

    O Bandido da Luz Vermelha saiu da cadeia sem ter pra onde ir; ninguém o queria. Surgiu, então, um sobrinho do Sul que foi o único a acolhê-lo, e matá-lo tempo depois, ao ver o bandido tentando estuprar sua mulher.

    Esse aí declarou enfaticamente: “Posso passar 10 anos preso, mas se sair vou começar tudo de novo”. 

     

  10. Estimulo nocivo

    O texto de Nilson Lattari é pertinente, tem um enfoque que raramente se vê na nossa mídia, entre articulistas especializados ou não. Mas vai ser chamado de moralista. O glamour da violência em certos filmes (especialmente os de Tarantino), se encantam críticos, imagine em cabeças doentias. Claro, não se defende a censura, mas importamos muita violência do exterior em embalagens artísticas. ALgumas, sérias, consistentes, embasadas em fatos e condutas críveis. Caso de O abutre, que estréia nessa semana. Mostra o outro lado da mídia que explora a violência para obter audiência. Outras, deslumbradas com a brutalidade. Mas, no Brasil, o mais grave é a sensação de impunidade que predomina. Essa sensação apoiada na lentidão e casuismo que existem em nosso Judiciário,  serve de estimulo para sentimentos e comportamentos crueis , crimninosos. Isso sem falar na corrupção, tão entrojada. 

  11. Devagar com o andor

    Estou acompanhando essa história. Há muito que se investigar antes de ter certeza que o cara é, realmente, um serial killer. Até agora só foram comprovados os homicídios que ele praticou a mando do casal com quem morava.

    E, ao contrário do que supõem o autor da postagem, temos sim meios para coletar e analisar todo e qualquer vestígio encontrado em locais de crimes. O que nos falta é um banco de dados para fazer a comparação.

  12. Ha tempos atrás adorava

    Ha tempos atrás adorava cinema. As vezes assistia 2 filmes no cinema em 1 único dia. E seguia pelo menos 1 novela. Aí começaram a aparecer somente filmes s/ violência, até brasileiros e fui diminuindo minhas idas e parei totalmente com novelas. Prefiro um bom livro. E acredito que os filmes e séries tem grande parte de culpa no aparecimento de casos como esse, martelados em todos os jornais da TV diariamente. Assim como as novelas mudaram o comportamento das mocinhas. e rapazes. Sem falar nas propagandas e programas s/ carrões, mansões, bebidas, etc. E todos só pensam em ficarem ricos p/ ter tudo oque as propagandas alardeiam como sendo isto a felicidade. E o modo de ficarem ricos depressa, tb é ensinado diariamente.

  13. Talvez um dos grandes motivos

    Talvez um dos grandes motivos da ineficiência da polícia civil brasileira seja a existência dos Delegados de Polícia, pois foi criado o Ministério Público e se esqueceu de acabar com os Delegados de Polícia!

    Pode causar surpresa, mas temos dois cargos muito bem remunerados fazendo praticamente a mesma função e completamente despreparados.

    Para que alguém preste um concurso público para Delegado de Polícia ou para o MP o único pré-requisito é que os mesmos sejam Bacharéis em Direito. Pelo que sei nas faculdades de direito não se ensina nada sobre métodos de investigação, perícia técnica, métodos científicos de interrogatório e qualquer coisa que leve o aluno a proceder a uma investigação, muito menos saber quando está na presença de um serial killer ou de um psicopata.

    A polícia brasileira não é conhecida por se servir de processos de inteligência na investigação de crimes, simplesmente porque quem coordena todo o processo de investigação pode ser alguém que não conheça nem o que se chama inteligência (sobre o ponto de vista de uma investigação). Ele pode até saber os códigos civil e penal de trás para frente, ou seja, se chegar a sua mesa um criminoso (definido por outros como um criminoso) ele pode até saber qual é a tipificação do seu crime, mas para isto deverá chegar até a sua mesa o meliante.

    Há diversas teorias para o combate ao crime, mas para que alguém atinja o cargo de delegado de polícia ele não precisa saber nada disto, ou melhor, deve saber português, disciplinas jurídicas e ser um bom atleta para passar no teste físico.

    No momento em que se criou o ministério público e este tem o direito de chefiar investigações à necessidade do delegado poderia ser feita por um policial treinado sob a chefia do Ministério Público, teríamos uma polícia muito melhor preparada.

    Os delegados de Polícia depois do surgimento do Ministério Público se tornaram verdadeiras Rainhas da Inglaterra, pois eles não investigam nada (coisa que é feita geralmente por outros membros da polícia, investigadores e escrivães) e depois de elaborado a investigação o processo antes de ser enviado ao judiciário passa pelo Ministério Público para que realmente este determinar que seja aberto um processo ou não. Logo toda a ação do delegado, inclusive a necessidade de mais investigações, pode ser feita por um procurador.

    Voltando ao início do texto, pelo que eu saiba um Bacharel em Direito não apreende em nenhum momento de seus estudos como evitar ou como elucidar um crime, ele simplesmente aprende como enquadrá-lo, logo os delegados se tornaram mais um estorvo para a segurança pública do que uma solução.

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