Temer tenta driblar envolvimento em ilícitos que miram Cunha

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Agência Câmara
 
Jornal GGN – Em mais uma tentativa de encurralar Michel Temer, o ex-deputado Eduardo Cunha conseguiu enviar 22 questões que levantam indicativos de que o mandatário peemedebista teria responsabilidade ou, pelo menos, conhecimento dos ilícitos que recaem hoje apenas contra Cunha. Por sua vez, nas respostas à Justiça Federal, Temer contorna qualquer relação com os ilícitos no Fundo de Investimentos do FGTS.
 
O presidente da República disse “não” à pergunta se ele tinha conhecimento dos pagamentos de vantagens indevidas para a liberação do financiamento do Fundo e outros sete pontos. Também negou conhecer o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, que comandava o setor conhecido como “departamento de propina”.
 
O ex-presidente da Câmara dos Deputados também havia arrolado Moreira Franco, o atual ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência de Temer, que chegou a ocupar a vice-presidência da Caixa de fundos e loterias, à época dos ilícitos investigados.
 
“Vossa Excelência teve conhecimento de alguma vantagem indevida, seja à época de Moreira Franco, seja posteriormente, para liberação de financiamento do FI-FGTS?”, remeteu Eduardo Cunha. Michel Temer apenas respondeu “não”.
 
Em outro questionamento, o ex-parlamentar disse que o mandatário foi “apontado como o responsável pela nomeação do senhor Moreira Franco” para o posto na Caixa. “O senhor era o presidente do PMDB à época? Quando foi isso?”, perguntou Cunha, indicando já saber as respostas.
 
Mas o mandatário tentou driblar e passar a responsabilização, ainda, a outro nome visado das investigações: “A indicação do Sr. Moreira Franco foi feita pelo PMDB, no período da minha presidência, durante o Governo do Presidente Lula”.
 
Depois, Eduardo Cunha seguiu uma linha lógica de responsabilização: perguntou se Temer conhecia o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura e o dono da OAS, Léo Pinheiro; se participou de alguma reunião com eles e o agora ministro e ex-vice-presidente da Caixa, Moreira Franco, e, por fim, se a doação de campanha daqueles anos estava “vinculada a alguma liberação do FI-FGTS”.
 
Claramente, o ex-presidente da Câmara dos Deputados tentou indicar que foi Temer e não ele o nome do PMDB envolvido nas irregularidades da Caixa e do Fundo de Investimentos. Mas a resposta do presidente foi generalizada, disse conhecer Léo Pinheiro, que “colaborou com a campanha de vários candidatos do PMDB em todo o Brasil”, e “não” para a relação dessas doações com a liberação de fundos.
 
Cunha indicava no questionário que o mandatário teria sido o responsável por diversas nomeações ou, pelo menos, conhecia quem teria indicado, além de Moreira, o sucessor no posto da Caixa a partir de 2011, Joaquim Lima, Fábio Cleto. Detalhes de doações, como a para campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo, em 2012, e reuniões com empresários também foram mencionados por Cunha, todos com respostas de que “não conheço”, “não acompanhei” de Temer.
 
Todas as respostas do presidente Michel Temer à Eduardo Cunha foram remetidas nesta segunda (17) ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal, onde tramita a investigação da Caixa e do FI-FGTS contra o ex-deputado. Acompanhe a íntegra do questionário abaixo: 
 
 

1- Vossa Excelência foi presidente do PMDB em que período?
De 2001 a 2015, com vários períodos de licenciamento.

2- Vossa Excelência foi apontado como o responsável pela nomeação do senhor Moreira Franco para a vice-presidência da Caixa de fundos e loterias. O senhor era o presidente do PMDB à época? Quando foi isso?
A indicação do senhor Moreira Franco foi feita pelo PMDB, no período da minha presidência, durante o governo do presidente Lula.

3- Em 2010, Moreira Franco teve de deixar a Caixa para ocupar a representação do PMDB na coordenação da campanha presidencial. Vossa Excelência indicou o então gerente de Moreira, Joaquim Lima, como seu substituto?
Não.

4- Vossa Excelência conheceu o senhor André da Souza, representante até 2012 no Conselho FI/FGTS, dos trabalhadores ou do PT?
Recebi muitos empresários, acompanhados de diversos agentes políticos, não me recordando o nome de todos.

5- Vossa Excelência fez alguma reunião para tratar de pedidos para financiamento com FI-FGTS, com Moreira Franco e André de Souza? Se sim, quando? Com quem?
Reporto-me à resposta anterior.

6- Vossa Excelência conhece Benedicto Junior e Léo Pinheiro?
Conheço Léo Pinheiro. Quanto à Benedicto Juniot, não é improvável que ele tenha estado com pessoas que me visitaram.

7- Vossa Excelência participou de alguma reunião com eles e Moreira Franco para doação de campanha para os pleitos eleitorais de 2010, 2012 ou 2014?
Com Léo Pinheiro, que colaborou com a campanha de vários candidatos do PMDB em todo o Brasil, sim.

8- Se a resposta for positiva, estava vinculada a alguma liberação do FI-FGTS?
Não.

9- André de Souza participou de alguma dessas reuniões?
Reporto-me às respostas anteriores.

10- Onde se deram essas reuniões?
Com relação ao tema “doação de campanha”, as reuniões geralmente ocorriam nos meus locais de trabalho.

11- Joaquim Lima continuou como vice-presidente da Caixa, em outra área, a partir de 2011. Quem foi o responsável pela sua manutenção?
Não sei, pois não o conhecia à época.

12- Vossa Excelência conheceu Fábio Cleto?
Não.

13- Teve alguma participação na sua nomeação?
Não.

14- Houve interferência do então prefeito Eduardo Paes visando à aceleração do projeto Porto Maravilha para as Olimpíadas?
Não tenho conhecimento.

15- Vossa Excelência teve conhecimento de alguma vantagem indevida, seja à época de Moreira Franco, seja posteriormente, para liberação de financiamento do FI-FGTS?
Não.

16- Vossa Excelência conhece Henrique Constantino? Esteve alguma vez com ele? Qual foi o tema? Tinha a ver com algum assunto ligado ao financiamento do FI-FGTS?
Conheço, mas este tema nunca foi tratado.

17- A denúncia trata da suspeita do recebimento de vantagens indevidas do consórcio Porto Maravilha (OAS, Carioca e Odebrecht), da Haztec, da Aquapolo e Odebrecht Ambiental, Saneatins, Eldorado Participações (Grupo JBS), Lamsa (Linha Amarela S.A.), Brado, Moura Debeux, BR Vias. Vossa Excelência tem conhecimento, como presidente do PMDB até 2016, se essas empresas fizeram doações a campanhas do PMDB? Se sim, de que forma?
Não tenho conhecimento de recebimento de qualquer vantagem indevida. As empresas que doaram, fizeram-no oficialmente.

18- Alguma delas fez doação para a campanha de Gabriel Chalita em 2012?
Não acompanhei a arrecadação da campanha de Gabriel Chalita.

19-Se positiva a resposta, houve a sua participação? Estava vinculada à liberação desses recursos da Caixa no FI-FGTS?
Prejudicada em razão da resposta anterior.

20- Como vice-presidente da República desde 2011, Vossa Excelência tem conhecimento da participação de Eduardo Cunha em algum fato vinculado a essa denúncia de cobrança de vantagens indevidas para liberação de financiamentos do FI-FGTS?
Não.

21- Vossa Excelência tem conhecimento de algum pagamento de vantagem indevida pelo senhor Benedicto Junior a Moreira Franco para liberação de financiamento do FI-FGTS à Odebrecht Transportes para associação no Porto de Santos?
Não.

22- Vossa Excelência tem conhecimento de qualquer vantagem indevida solicitada ou recebida pelo senhor Moreira Franco para liberação, no âmbito do FI-FGTS, em qualquer projeto, incluindo o Porto Maravilha?
Não.

 

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

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  1. política

    esse pmdb e psdb do qual é filho; são faculdades de facatruas; más, o psdb pecebeu as corrupções e descolou fundando se como partido com um grupo de pessoas “requintadas de moralidade”; sociais democratas, não passando de puro empirismo, eles se merecem…

  2. VOSSA EXCELÊNCIA

    É piada.

    Assim são chamados os grandes criminosos nesse miserável país.

    Todos têm de ser tratados como ratos, é o que esses bandidos são.

    Uma Organização Criminosa a nos assaltar e aviltar.

    Não é uma questão política, é criminal, é uma guerra.

  3. NÃO ACREDITO NESSA GUERRA

    NÃO ACREDITO NESSA GUERRA GLOBO X TEMER..

    Serve apenas como pano de fundo para criar um clima falso.

    Os golpistas nada temem. Janot, Gilmar, Globo, Temer, Maia, STF, PF, STE, TCU, PGR, Moro.. todos fazem parte do mesmo SISTEMA..

     
    Quem poderia .. digo poderia atuar de maneira lega atendendo a costituição seria a nova Produradora do PGR…

    Mas..isso é altamente improvável…

    Teria ela de ter a fibra de um Dilma para poder encarar o SISTEMA.. mas…

    NADA VAI ACONTECER ..infelzmente para a classe pobre do país

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