Todos os grandes partidos foram derrotados, por Assis Ribeiro

Todos os grandes partidos foram derrotados

por Assis Ribeiro

Bauman continua acertando nos seus estudos. Mas, quem acredita em ciências sociais, né?

“De acordo com Bauman, a sociedade tardo-moderna decreta a afirmação do indivíduo, mas do indivíduo de jure, não do indivíduo de fato. Sozinho, vulnerável, sem um espaço público a que se referir, sem uma dimensão política que apenas uma ressurreição da “ágora” pode garantir, o indivíduo contemporâneo não se eleva para o papel de cidadão, mas um isolado”.

É o mundo líquido, da sociedade fragmentada, difusa, sem referenciais, com suas relações efêmeras e passageiras. Do imediatismo frígido e frágil.

É dessa forma que está sendo observado um total esfarelamento de qualquer função relacionada ao conceito de coletivo.

O resultado das eleições do último domingo foi emblemática, apontando a agonização de todos os partidos políticos.

A fragmentação dos resultados demonstra, agora de forma absolutamente clara, que o eleitor brasileiro definitivamente se afastou do conceito usual do que seja a política.

Não interessa mais a plataforma partidária, a coletividade de propostas. Candidatos eleitos, alguns que nunca participaram partidariamente da vida política, por inúmeros bandeiras não demonstra a vitória de uma agremiação. Ao contrário, o que se observou foi a absoluta derrota dos três partidos de maior dimensão; o PMDB, o PT e o PSDB.

No caso de São Paulo o resultado pode ter sido “uma vitória de Pirro”.

O PSDB apenas retomou um dos seus feudos. E o fez abrindo cicatrizes.

A vitória de Alckmin é, de certa forma, uma derrota do PSDB.

É sabido que o governador empurrou com um golpe desleal o seu Dórea. A vitória aumentará o racha interno. Serra e Aécio não vão engolir a liderança de Alckmin.

Dórea e Alckmin são incapazes de aglutinar forças no cenário nacional, são nomes restritos ao cenário provincial paulista. Tanto é assim que o seu nome, mesmo no longo seis anos de administração no maior estado brasileiro, continua desconhecido pelo Brasil afora.

Alckmin na eleição presidencial que disputou teve o feito inédito de, no segundo turno, receber uma votação menor do que no primeiro turno, o que comprova o seu caráter de desaglutinador e provinciano.

Ao contrário, a derrota de Haddad forçará a reunificação das bases da população e do meio acadêmico.

Zygmunt Bauman disse, citando Gramsci: “se o velho morre e o novo não nasce, neste interregno ocorrem os fenômenos mórbidos mais diversos”.

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Os partidos políticos têm perdido a sua representatividade. A “união voluntária de cidadãos com afinidades ideológicas e políticas, organizada e com disciplina, visando a disputa do poder político”, está sendo substituída pelos “clubes eleitorais”, sem ideologias, sem princípios e sem estrutura de tipo piramidal com a base sólida e orientadora dos planos e projetos políticos, econômicos e sociais, siglas sem identidade.

Se os principais partidos políticos serviram como instrumento para pessoas e grupos entrarem no sistema político para expor suas reivindicações, necessidades e sonhos, aglutinadores das decisões políticas, nos dias atuais é visível o esvaziamento da importância dessa base formadora de opiniões e decisões, ficando a nítida sensação de que os partidos não mais representam essa função.

É assustadora a situação da representatividade, mas a descrença da população tem mais a ver com as siglas partidárias do que com o sistema político como um todo. Na atual conjuntura, os partidos olham mais para o seu projeto de poder do que para um projeto de sociedade, o resultado foi o fiasco dos partidos políticos nessa eleição do dia de ontem.

Finalmente, pelos resultados difusos das urnas, chegou a hora da reforma política. Os três grandes perdedores – PMDB, PT e PSDB – com as maiores bancadas no Congresso, partirão para as reformas, pelo menos para que uma nova legislação faça voltar a condição se serem imbatíveis mas urnas.

Situação preocupante.

 

Redação

16 Comentários

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  1. Um caso à parte

    O Partidos dos Trabalhadores tem uma missão pela frente que não depende especificamente de sua atuação politica para reverter o quadro avassalador das eleições municipais de 2016.Será necessário primeiramente que o país continue devastado pelo desemprego, resultado da crítica situação em que o país vive. Depois , com este cenário , sem hipocrisia , o PT e aliados não deve colaborar politicamente para uma reversão de espectativas.Antes, pelo contrário, buscar massivamente o convencimento da população com previsões as mais pessimistas possíveis.  São estes os fundamentos basilares para que o eleitor, desorientado, busque mais  uma saída concreta do inferno em que vivemos , na convicção de que a esquerda(para os eleitores esclarecidos) e Lula serão  a única e a ultima esperança.

  2. Assis, se as três maiores
    Assis, se as três maiores siglas estão perdendo terreno, curioso que outra sigla venha ‘comendo pelas beiradas’. Falo do PDT. Dizem que o número de prefeitos aumentou de algo em torno de 300 para cerca de 334. Só não sei se as alianças estão computadas nessa soma. E o PDT tem potencial candidato Ciro Gomes.

  3. Causas e efeitos

    O individuo “de jure”  e a ideia de modernidade líquida de Bauman são uma boa descrição da situação das pessoas na sociedade atual. Antes dele, Christopher Lasch (a quem Bauman se refere algumas vezes) já tinha detectado, no final da década de 70, este individualismo frágil, que ele chamou corretamente de “narcisismo”, pois o indivíduo atual é consumista, tem laços sociais frágeis e é exibicionista, obsecado por aprovação pública.

    Mas este individualismo narcisista de Lasch e Bauman são sintomas da sociedade pós-moderna. Qual a sua causa?

    A causa só os marxistas podem nos explicar e, mesmo assim, alguns deles, heterodoxos dentro do próprio marxismo, que são os teóricos da crítica do valor. Desenvolvida a partir dos anos 80 a crítica do valor tem Robert Kurz (falecido) e Moiche Postone como proncipais teóricos.

    Esta teoria afirma, entre outras coisas, que o capitalismo é, antes de mais nada, um sistema social total (e não apenas um sistema econômico ou um modo de produção) e que o valor é uma forma social que subjuga a todos, sem excessão, a seu único objetivo: gerar mais valor (mais valia). Se a economia é central nas análises marxistas, isto se dá porque o capitalismo tornou a economia central na sociedade moderna e obrigou as pessoas a se converterem em “homo economicus”.

    A crítica do valor retoma a ideia de Marx de que o capital é o verdadeiro sujeito automático e que a subjetividade no capitailismo é uma ilusão, pois todos, em última análise, são guiados (inconscientemente) pelo sujeito automático do capital.

    O sujeito automático (o capital) é a causa dos sintomas descritos por Bauman e Lasch. O narcisismo, o individualismo “de jure”, o consumismo, a aceitação de si mesmo como peça substitiúvel no mercado, a educação para a profissão e a obsessão pela formação contínua, a autoculpabilização de si mesmo pela perda do emprego, a transformação do eu em empreendendor, caracterísicas “normais” e até valorizadas da personalidade contemporânea, são consequências da sujeição dos indivíduos aos “valores” do sujeito automático do capital: competição desenfreada (agora também entre indivíduos) e transformação de valor em mais valor.

    Segundo a crítica do valor, com a submissão das pessoas ao sujeito automático (capital) o capitalismo promove uma inversão que nenhum outro regime anteiror promoveu: a vida integral das pessoas é submetida às leis impessoais e inflexíveis do capital, ao invés da crença liberal (e até das esquerdas) de que o dinheiro/valor é que serve à vida humana.

    Parece radical demais? Olhemos à nossa volta, no mundo insteiro. O capital e suas leis prevalecem em cada palmo de terra…

    P.S. Discordo do autor quando ele diz que todos os partidos perderam. As agremiações que assumiram o individualismo narcisista como programa, como PSDB e os partidos fortemente evangélicos, ganharam e tem boa chance de se firmarem. Não como partidos tradicionais, mas como agrupamentos de ideias neoliberais, O parece que o Brasil deu uma guinada para a direita e o narcisismo. O problema é o mal estar que o projeto neoliberal/narcisista provoca.

    1. Belíssima complementação,
      Belíssima complementação, Wilton Cardoso Moreira.

      Peço permissão para publicar seu comentário em meu blog.

      Não discordamos nas análises do resultado das eleições. Penso como você quando ao esfarelamento da ideia de partido político:

      “Não como partidos tradicionais, mas como agrupamentos de ideias neoliberais”

        1. O marxismo merece ser ouvido

          Grato pela publicação Assis. Mesmo estando fora de moda, acho importante que as ideias marxistas sejam disseminadas nestes tempos de crise. E os teóricos da crítica do valor são dos poucos que procuram ir até as causas primeiras da crise que estamos vivendo. Mas poucos querem ouvir suas ideias

          .

  4. “É dessa forma que está sendo

    “É dessa forma que está sendo observado um total esfarelamento de qualquer função relacionada ao conceito de coletivo.”

    Num mundo onde um jornalista manda o Sérgio Saraiva vender a propriedade individual dele, a título de contribuir para com “a economia”, o que ocorre não é de forma alguma o esfarelamento do coletivo, mas a entronização de um outro tipo de “coletivo”: o capital. Até por que o indivíduo “líquido” não tem como se sobrepor a qualquer tipo de “coletivo”: ele só pode existir em posição subordinada, e essa subordinação tem de se dar em relação a algum tipo de Moloch/Leviatã, o qual sós pode ser uma entidade “coletiva”.

    E é por isso, também, que erram os que qualificam o governo Temer de “fascista”. Não é; se aproxima mais de uma outra coisa igualmente autoritária e perigosa: um estalinismo de direita.

  5. Os grande derrotados foram os

    Os grande derrotados foram os pobres das periferias…

    Depois destes, a classe média foi derrotada, pois vai conviver com maiores impostos indiretos, custos adicionais em segurança, saúde e educação!

    Quem se deu bem?

    São os que vivem de juros, de enganar e explorar o povo – são os politicos da estirpe dos cunhas!

    Serão milhares de cunhas nas repartições públicas!

    Os empresários médios se ferraram…

     

  6. Essa matéria é mentirosa!

    Antes de mais nada, ela não expressa muito mais que “wishful thinking”. A começar pela mais elementar aritmética:

    O PSDB creceu 13%.

    O PCdoB cresceu 48% (acreditem 48%!) (mas, claro, o PCdoB não chega a ser um partido grande, mas, com suas 82 prefeituras conquistadas, em termos de número de governos locais, ele passaria a ter agora um terço do tamanho do PT!).

    É analiticamente muito mais consistente falar de uma grande derrota do PT, sem supor, por artes subjetivas no mínimo duvidosas (afinal, governos locais medem o nível de capilarização política), que todos os partidos (grandes ou não) estão no mesmo saco.

    1. Sua metodologia, caro
      Sua metodologia, caro Ricardo, se demonstra, neste exato momento, completamente equivocada.

      Toda arrogância prejudica qualquer metodologia

  7. Sugestão de postagem

    Prezada equipe do GGN,

    Segue abaixo uma carta aberta escrita pelos dirigentes da REDE criticando o vazio político do partido. Sugiro à equipe do GGN que republique com destaque essa carta.

    Observem que em menos de dois anos a REDE não apenas não conseguiu se estabelecer como já dá sinais de declínio e morte irreversíveis. Notem que a falta de comando, organização, hierarquia, assim como a tomada de decisões de forma democrática  e colegiada levaram à falta de rumo admitida e tornada pública pelos dirigentes do partido por meio da carta aberta. Imaginem se o PT – formado por diversas correntes internas – tivesse um comando e gestão frouxos? Teria o partido sobrevivido esses 36 anos e vencido quatro eleições presidenciais? É claro que com isso não estou concordando com decisões autoritárias da direção do partido, como aquela tomada por José Dirceu, impedindo a candidatura de Vladimir Palmeira, no Rio. Mas sem comando e organização nenhum partido sobrevive em condições de disputar o poder majoritário nacional. O PSTU, dissidência da ala mais radical do PT, nunca conseguiu se estabelecer e deverá ser extinto, com as mudanças propostas na legislação eleitoral e se for implementada alguma reforma política, impondo cláusula de barreira, por exemplo. A duras penas o PSOL, fundado pela brava Heloísa Helena e mais alguns dissidentes do PT, está conseguindo sobreviver e nesta eleição municipal pode melhorar o desempenho; mas o teste de fogo será daqui a dois anos, quando o partido será desafiado a eleger bancadas expressivas nas assembléias legislativas estaduais, na Câmara Federal e no Senado. O PCB, após a proscrição na época da ditadura, jamais consegiu ressuscitar como um partido expressivo, capaz de eleger deputados federais e senadores e formar uma bancada parlamentar digna de respeito. O PC do B (imaginem, só mesmo no Brasil foi/é possível admitir a existência de dois partidos que se dizem “comunistas”, um designado pelo determinante “brasileiro”, o PCB, e outro cuja identidade se dá pela locução adjetiva “do Brasil”, o PC do B), desde a redemocratização do País tenta se estabelecer, mas nunca conseguiu eleger bancadas federais significativas, estando sempre entre os considerados nanicos ou pequenos.

    As observações que fiz acima estão em sintonia com as críticas que tenho feito àqueles que mostram deslumbramento ou ilusão com relação ao surgimento de um partido expressivo na Esquerda ou numa composição de partidos de Esquerda para formar uma espécie de ‘frente ampla de esquerdas’. O caráter fragmentado e fragmentáro da Esquerda trabalha sempre contra esse objetivo de frente partidária. 

    Com vocês a carta aberta dos dirigentes da REDE.

     

    Dirigentes da REDE saem e publicam carta aberta criticando “vazio político” do partido

    Postado em 3 de outubro de 2016 às 12:49 pm 

    Dirigentes da REDE saem do partido e publicam carta aberta com críticas ao partido:

     

    Passadas as eleições municipais, seria importante que a REDE realizasse um balanço político. Mais do que o exame dos resultados alcançados em sua primeira participação eleitoral, trata-se de avaliar o percurso político até aqui tendo em conta os propósitos que estiveram presentes na fundação do partido.

    As pessoas que se comprometeram com a construção da REDE, desde quando a contestação às formas tradicionais de fazer política nos aproximou, tiveram em mente a necessidade de um instrumento que fosse capaz de ajudar a mudar o Brasil, reduzindo as desigualdades abissais, enfrentando o racismo estrutural, lutando pelos direitos das sociedades originárias e das minorias, aprofundando a democracia, por meio de ampla reforma política, lançando as bases para o desenvolvimento sustentável e para o protagonismo da sociedade civil e dos indivíduos.  Junto aos princípios que afirmávamos, havia o claro repúdio às condutas que evocam fins grandiosos apenas para justificar vilanias cotidianas, invariavelmente definidas como os “meios” ou “males necessários”. Era evidente, para todos nós, que um pragmatismo desta natureza – descolado de qualquer princípio – havia já conduzido à degradação da política e a seu distanciamento dos valores republicanos.

    Desde então, a REDE tem se estruturado sobre um vazio de posicionamentos políticos. Inicialmente, imaginávamos que esta lacuna poderia ser explicada pela fragilidade do próprio partido, pela inexperiência de grande parte de seus dirigentes e militantes e pela enorme diversidade interna que demandaria um processo cuidadoso de construção de “consensos progressivos”. A experiência que tivemos nos foi demonstrando, entretanto, que o deserto de definições a respeito de temas centrais nas disputas políticas contemporâneas não era um subproduto de nossas limitações, mas o produto de uma postura determinada que evita as definições, porque percebe que cada uma delas pressupõe um custo político-eleitoral.

    O fato de a REDE ser politicamente dependente de Marina Silva, sua maior figura pública, se constituiu em um fenômeno que, ao invés de ter se tornado menor ao longo do processo de construção partidária, se acentuou ao longo do tempo. Na verdade, as decisões estratégicas que foram conformando o perfil da REDE partiram todas de Marina e apenas dela, desde a decisão de entrar no PSB até a decisão favorável ao impeachment da presidente Dilma.  Em cada um desses momentos cruciais, a maioria da direção nacional simplesmente se inclinou em apoio às posições sustentadas por Marina.

    É preciso sublinhar que Marina é uma liderança política com virtudes excepcionais. Entre elas, a honestidade e a integridade de propósitos; a capacidade de se conduzir em meio às disputas políticas sem realimentar a lógica do ódio e da destruição do outro, ainda quando injustamente atacada; a inquietude que a faz refletir sempre com independência e em sintonia com alguns dos desafios de nossa época etc. Ao mesmo tempo, Marina possui, como todos nós, limites relevantes e não lidera a REDE para que o partido assuma definições políticas consistentes, parecendo preferir navegar em meio a uma sucessão de ambiguidades. A maioria da direção nacional a acompanha nesta preferência, como em todas as demais.

    Por conta da reduzida definição política, a REDE tem se construído como uma legião de pessoas de boa vontade e nenhum rumo. Alcançada a legalização do partido, foi precisamente essa característica que permitiu que muitos oportunistas e políticos de direita identificassem na REDE um espaço fértil para seus projetos particulares. O que ocorreu em todo o País, então, foi um mergulho da REDE em direção ao passado e às tradições políticas que pretendíamos superar.

    As poucas decisões políticas tomadas nacionalmente pela REDE aprofundaram este caminho. Nesse particular, cabe destacar a decisão favorável ao impeachment, em que o partido aliou-se ao movimento que entregou o poder ao PMDB e a um grupo político envolvido nas investigações da Lava Jato e comprometido em aplicar políticas radicalmente contrárias ao que sempre supomos fossem os valores e os objetivos da Rede.

    Temer chegou à presidência para impor ao País uma agenda regressiva e reverter as poucas conquistas sociais do último período. Por mais desastroso que fosse o governo Dilma (e o era) e por piores que fossem os crimes perpetrados por políticos do PT (e muitos deles o foram concretamente), o fato é que não foram esses os motivos que pautaram o processo de impedimento. Assim, por intenções nunca explicitadas e sob a liderança de mafiosos, aprovou-se o impeachment, condenando práticas até então comuns aos Executivos, na União e nos Estados, e nunca antes destacadas pelos Tribunais de Contas como razão para a rejeição das contas. De fato, os beneficiários do impeachment são mestres nos desmandos dos quais setores do PT são aprendizes. O grupo hoje no poder, aliás, é muito mais histórica e organicamente vinculado às práticas de corrupção e de apropriação privada do espaço público, o que não isenta o PT de responsabilidade, mas desmascara a hipocrisia que generaliza acusações e gera a ilusão perversa de que, livre do PT, o Brasil estaria a salvo da corrupção.

    Nós resistimos o quanto pudemos e nos orgulhamos dos parlamentares que, mesmo sofrendo ataques na REDE, mantiveram, com firmeza, sua posição contrária ao impeachment.  A direção nacional da REDE pretendeu se somar ao  impeachment em nome da bandeira, “Nem Dilma, nem Temer”, indicando que o próximo passo haveria de ser dado pelo TSE, com a cassação da chapa Dilma- Temer. Uma estratégia tão inverossímil quanto ingênua e equivocada. A hipótese TSE só haveria se o impeachment não passasse; só não via essa realidade quem não quisesse – e não faltaram os alertas. Subsidiariamente, ao se posicionar em favor do impeachment, a REDE minou sua interlocução com o campo no qual nasceram seus ideais, ao menos aqueles expressos em sua carta de fundação.

    O que estava em curso, verdadeiramente, era um deslocamento político da REDE em direção ao bloco hegemônico. Um exemplo desse fenômeno foi o lamentável processo de aliança com o PMDB em larga composição conservadora em Porto Alegre, onde poderíamos ter composto com Luciana Genro, do PSOL, que nos ofereceu espaço na chapa majoritária e protagonismo na definição programática e na composição de um eventual governo de corte reformador e republicano.

    Depois de um ano de existência legal e três anos de construção partidária, a REDE não se posicionou sobre qualquer das grandes questões nacionais – sequer foi capaz de formular uma crítica fundamentada ao governo Temer. Quando esboçou alguma posição, ou proclamou platitudes, ou decepcionou, afastando-se dos compromissos assumidos em sua fundação. O que disse a REDE sobre a economia brasileira e as reformas propostas pelo PMDB e seus aliados: a previdenciária, a trabalhista e a fiscal? E sobre o teto para gastos governamentais? Que reforma política o partido propõe? Que políticas a REDE defende para a educação e a saúde? Qual modelo de desenvolvimento sustentável propõe para o país, objetivamente? Qual sua posição sobre política de drogas, aborto, reforma da segurança, desmilitarização e o casamento homoafetivo? A sociedade brasileira não sabe o que pensa a REDE, nem consegue situá-la no espectro político-ideológico. A auto-indulgente declaração de respeito às diferenças internas não basta para dar identidade a um partido e justificar sua existência. Pluralista, internamente, o PMDB também é, o que, aliás, lhe tem sido muito conveniente.

    O mais grave é que há sentido no cultivo de generalidades e na indefinição adotada como estilo e método. Lamentavelmente, a REDE está informando ao distinto público de que lado está, na política brasileira. Paulatinamente, vai se distanciando do campo progressista – sequer reconhece sua existência, o que é outra forma de afastar-se dele. Custa-nos, depois de tantos anos dedicados a esse sonho, mas é nosso dever admitir que antevemos, para 2018, uma inflexão da REDE para o centro político, o qual, no Brasil de hoje, corresponde a alinhamento ideológico indiscutivelmente conservador.

    Um partido cuja coesão depende exclusivamente de uma liderança, mesmo que ela tenha a admirável e extraordinária dimensão humana de Marina, não é sustentável. Sem um mínimo de consistência ideológica, sem posicionamentos claros, não há como construir unidade que não seja pelo cálculo de oportunidade ou por circunstâncias eleitorais, tão mais atraentes quão mais nos aproximemos de 2018. Não é sustentável um partido cuja direção vota um tema chave para a história do Brasil, o impeachment, sob o argumento explícito de que “não podemos deixar Marina sozinha”, tendo ela anunciado, na véspera, sozinha e sem consultas, sua surpreendente posição favorável, depois de declarar-se contrária ao longo de meses. Um partido que não faça sentido sem uma liderança individual, torna-se refém de sua vontade e acaba sendo regido por lógica pouco democrática, independentemente das intenções de todas e todos, por mais sinceras que sejam as disposições democráticas, inclusive dessa liderança.

    Acreditamos que a tarefa, hoje, dos que percebem a necessidade de resistir à tsunami ultra-conservadora e à temporada caça-direitos é contribuir para a articulação, na sociedade, de uma ampla frente democrática e progressista, da qual, tragicamente, a REDE está se auto excluindo.

    Por conta dessa avaliação, consideramos que nossa presença na REDE não faz mais sentido. Permanecer, especialmente em um quadro onde o debate interno substantivo é uma ficção, seria apenas legitimar um processo que, rapidamente, repete a doença senil dos partidos.

    Assim, desejando que esta carta contribua para a reflexão interna da REDE e anime sua militância em direção a um caminho diverso desse que nos parece frustrante e melancólico, seguimos em frente, sem partido, mas com a mesma disposição de lutar por nossos sonhos.

    Rio de Janeiro e Porto Alegre, 3 de outubro de 2016,

    Luiz Eduardo Soares

    Miriam Krenzinger

    Marcos Rolim

    Liszt Vieira

    Tite Borges

    Carla Rodrigues Duarte

    Sonia Bernardes

     

  8. Dória nada! Sr. Indiferença e lobbies vencem eleições de2016

    >> Que Dória que nada! Sr. Indiferença e lobbies vencem eleições de 2016, por Romulus

     

     ROMULUS

     SEG, 03/10/2016 – 13:02

    Que Dória que nada! Sr. Indiferença e lobbies vencem eleições de 2016

    Por Romulus

    (I). Centros e grotões

    No Facebook o amigo Ciro d’Araújo constata:

    “Eleição do Rio ganhou o não votar. Abstenção foi maior do que a votação do Crivella. Depois disso veio brancos e nulos, que somaram mais votos que o Freixo”.

    Sim, no Rio… uma das cidades mais politizadas do Brasil, que tantas vitorias deu a Brizola e a Lula (inclusive em 89). Dois líderes do campo popular que ousaram ciscar ali… no terreiro da Globo.

    Em São Paulo não foi diferente: o candidato “Sr. Indiferença” – a soma de abstenção + votos brancos + votos nulos – ganhou a eleição para prefeitura. Ou melhor, “no tapetão” da lei eleitoral, acabou perdendo para o segundo colocado: João Dória. O tucano teve mais de 10 mil votos a menos que o “Sr. Indiferença”.

    Se em São Paulo e no Rio foi assim, imaginem-se os números nos “grotões” – expressão pejorativa infeliz, aliás… celebrizada por colunistas políticos da grande mídia do eixo…

    – … Rio-São Paulo!

    Mais humildade, colunistas das metrópoles…

    Aliás, diante de tal grau de alienação, será ainda adequada essa dicotomização geográfica do voto? Pode-se ainda falar em “grandes centros” e “metrópoles” vs. “grotões”?

    Bem, se os colunistas tiverem apego e quiserem continuar usando a expressão preconceituosa para com os interiores, melhor seria generalizar então a sua abrangência: falemos agora de “grandes grotões” vs. “pequenos grotões”… ou “grotões centrais” vs. “grotões periféricos”…

    Que tal?

    O que preferirem, Srs. colunistas. Sintam-se à vontade: não cobro royalties.

    *

    (II). Critério democrático

    Creio ser mais democrático esse uso generalizado da expressão, não?

    Se bem que… “mais democrático”? Critério um tanto démodé no Brasil de 2016, não? Há até quem o considere subversivo, ora vejam! Bem, melhor deixar a discussão terminológica de lado e seguir adiante na análise, antes que me acusem de saudosista. Ou pior: de “viúva da Constituição”… ou de “viúva da democracia”!

    Tempos brabos! Vai que um japonês “da Federal” – usando tornoseleira eletrônica (!) – bate na minha porta às 6 da manhã e me conduz coercitivamente. Para ser então perguntado, inquisitorialmente:

    – Que tal “democracia” é essa, elemento?
    – Caaaalma, Sr. Juiz! Não precisa de prisão preventiva para arrancar minha delação. Eu falo da democracia livremente: cresci nos anos 80, ouvindo falar muito dessa tal. Costumavam dizer que era “incipiente”… “imatura”… e que precisava ser “aprofundada”. Falavam isso certamente baseados na crença (excessiva?) no processo civilizatório. Na certeza de que esse não anda para trás… acreditavam no tal do “progresso” da bandeira, sabe? Ora, que nada! A tal da “incipiente”, “imatura” e “superficial” morreu ainda menina… assim, virou anjinho! Uma hora bateu suas asinhas e foi-se embora destas paragens…
    – Ah, foi-se embora, elemento? Para onde?
    – Difícil precisar, Sr. Juíz… anda muito discreta hoje em dia: Trump nos EUA, Le Pen na França, Brexit xenófobo no Reino Unido, “não” à paz na Colômbia…
    – E quando é que ela volta para o Brasil, elemento?
    – …

    *

    (III). Como chegamos aqui (1)

    A demonização da política logra pouco a pouco o seu intento: um grau ainda maior da já alarmante alienação da população brasileira, alheia a tudo e a todos nas instâncias do poder.

    A população está:

    (i) Saturada da política e dos políticos, todos “farinha do mesmo saco”; e portanto…
    (ii) dessensibilizada/anestesiada diante dos sucessivos fatos políticos; e portanto…
    (iii) indiferente, cínica.

    – Tanto faz como tanto fez…

    *

    (IV). Patrimonialismo versão millennial

    E assim, sem o contrapeso mínimo das urnas – magrinhas, magrinhas, coitadas… – e de bases eleitorais atentas, ativas e mobilizadas, fica mais fácil ainda impor a agenda dos lobbies dos diversos setores da economia em prejuízo do todo da sociedade. Trata-se da versão millennial do velhíssimo patrimonialismo… lá do Weber e do Raimundo Faoro, lembram?

    Se o Estado mínimo e a “privataria” não passam no teste das urnas, dá-se golpe, todos (já) sabemos.

    Mas isso não significa que antes, durante e depois do golpe não se possa aproveitar a estrutura existente do Estado em favor de certos interesses particulares, não é mesmo?

    (a) Como?
    – Com a autoridade devidamente “capturada” pelos lobbies (regulatory capture).

    (b) O entrave:
    – O poder político… “essa gente” eleita que “não entende nada da parte técnica”, escolhida de 4 em 4 anos por “gente que entende menos ainda!”. Imaginem: a maioria deles não tem nível superior, não passou por disputados concursos, não tem pós-graduação no exterior… sequer frequenta colóquios bacanas dos stakeholdes todo mês, ora!

    (c) A solução:
    – A busca cada vez maior de independência – em face desse tal “poder político” – dos órgãos do Estado judicantes, com poder de polícia e reguladores.

    Notem que “coincidência”:
    – Não parece muito mais fácil implementar essa agenda independentista num contexto de (i) desgaste da classe política, (ii) vácuo de poder, (iii) déficit de representação e (iv) cinismo da população, culminando numa democracia sem vigor, abatida pela indiferença e caracterizada por baixas taxas de votação?

    Evidente que sim!

    Resistir à sanha independentista quem haverá de?

    (d) Exemplo de captura?
    – A famosa porta-giratória (revolving door), que faz o diretor do Banco Itaú (e antes desse o do Bank Boston e antes desse o do George Soros e antes desse…) virar Presidente do Banco Central do Brasil. Apenas para amanhã voltar ao Itaú (e congêneres…) com o passe ainda mais valorizado.

    (e) Sonho de consumo dos independentistas?
    Escrever “em pedra” a pretendida independência diante da sociedade e de seus representantes eleitos.

    Como?
    Com leis de boa governança que consagrem essa “independência” – aliás, “boa governança” segundo quem mesmo, hein?

    Mandatos fixos de diretores e presidentes… indemissíveis pelo poder político…

    – Oh, glória!

    Sim, “independência”…

    Mas, impertinente que sou, ouso perguntar:

    – “Independência” de quem, cara-pálida? Do Itaú – da ida e da volta da porta-giratória – é que não haverá de ser, não é mesmo?

    O Banco Central é apenas o exemplo mais evidente, em um Estado cuja metade do orçamento foi capturada por rentistas. Mas isso se repete em todos os segmentos econômicos regulados pelo Estado: CVM, CADE, SUSEP, ANVISA, ANP, ANA, ANAC, ANTAQ, ANATEL, ANEEL, ANS, ANTT… ou nos segmentos em que o Estado atua através de estatais (Petrobras, BB, CEF, Eletrobrás…).

    E não apenas…

    O Supremo não autorizou juízes (!) a embolsar cachês pagos por palestras sem que o seu valor tenha de ser tornado público? Aliás, bota – caché – nisso… nunca uma denominação foi tão adequada!

    Para além de “cachês” – escondidos – por “palestras”, que dizer de cursos no exterior pagos por “terceiros generosos” (quem?)? Dentre os quais até mesmo interesses estrangeiros, incluindo governos que não o nosso?

    Algo a ver com essas observações aterradoras do Miguel do Rosário, no Blog do Cafezinho?

    – Captura do regulador?
    – Conflito de interesse?
    – Risco moral do regulado (moral hazard)?
    – Abuso de poder de mercado dos regulados?
    – Ineficiência do mercado viciado?
    – Busca de renda por quem é “amigo do rei” (rent seeking)?

    Será tudo isso preocupação de marxista radical?

    Ou até de quem leu os manuais de Economia (bastante) ortodoxos e que crê – de coração – no capitalismo?

    Digo, o capitalismo verdadeiro: com seus “mercados competitivos”, livre entrada de novos competidores e livre saída de empresas ineficientes.

    Está aí a telefônica “Oi” para não nos deixar esquecer de como o “capitalismo” (entre aspas mesmo) e seus “riscos” (novas aspas…) “funcionam” (mais ainda…) no Brasil.

    E isso não é tudo:

    Trata-se apenas de uma das modalidades de captura das autoridades, na classificação proposta por Engstrom. No caso, a captura material. Além (a) da porta giratória e (b) da propina, essa modalidade engloba também (c) os “célebres” financiamentos de campanha e (d) a ameaça de boicote econômico-financeiro ao Estado em caso de “desacordo” com o lobby.

    Soa familiar?

    Pois é…

    Segundo o autor, todas essas sub-modalidades equivalem em alguma medida a corrupção política. Ou melhor: corrupção da política.

    Já a captura não material é mais sofisticada: pode ser também denominada “captura cognitiva” ou “cultural”, na qual o regulador – e/ou o juiz e/ou o procurador! – começam a pensar da mesma maneira que o lobby!

    – “Lobby”?
    – Seria esse apenas o privado?
    – Por que não se incluiriam aí também governos estrangeiros?
    – Ou terceiros “generosos” querendo iluminar o pobre Brasil de sabedoria?

    A assimilação da catequese advém (i) da proximidade (indevida?) entre lobby e autoridades; bem como (ii) da embalagem bonita do “presente” que “generosamente” é dado.

    – Aliás, “presente”… será presente de grego a troianos ávidos e ambiciosos?
    – Troianos antes circunscritos por uma fronteira, digo, muralha, que impedia o ato de generosidade de se realizar?
    – Hmmm…

    Saga homérica ou não, chega-se finalmente ao ponto em que as autoridades são pautadas – agora já involuntariamente, na fronteira entre o seu consciente e inconsciente – pelo lobby catequizador.

    Exemplo 1:
    O lobby já entrega o trabalho pronto – bonitinho e até com grife de banca chique! Assim, como não haverá de prevalecer a lei do menor esforço, tão bem resumida por dois comandos: “Ctrl + C” / “Ctrl + V”?

    Algo a ver?

    E aqui?

    Exemplo 2:
    Em tática mais sofisticada ainda, e de longo prazo, o lobby, através do financiamento de pesquisas, colóquios entre pares e lisonjas – tais como premiações – consegue estabelecer – não a sofridas marretadas mas a deleitáveis queijos, vinhos e “verdinhas” – o “consenso científico” em determinado domínio técnico.

    Mas notem bem: não qualquer consenso científico, aleatório… trata-se de um consenso científico específico: aquele que o lobby tem por “certo”… aquele para chamar de seu.

    Aliás, como acadêmico não posso deixar de me perguntar:
    – Se o ponto de chegada já é pré-estabelecido na saída, há que se falar ainda em “cientificidade” para esse “consenso” (olha as aspas aí de novo…).

    Pois é… também digo que não.

    A maneira como o credo neoliberal impregnou – mediante generosos financiamentos – os maiores centros do conhecimento econômico, do final dos anos 70 até a primeira década do século XXI, é o exemplo de manual (textbook case) dessa tese.

    Para quem comungava do credo: dinheiro, fama e glória.
    Para quem o criticava: penúria, opróbio e ridicularização.

    Fácil chegar a um “consenso” (aspas) “científico” (de novo…) assim, não é mesmo?

    Foi preciso a maior crise econômica e a maior recessão desde os anos 30 para que esse “santo graal” caísse no chão e se estilhaçasse. Mas não sem deixar profetas atrasados na Periferia do mundo, ignorantes da (nova) “Boa Nova” do Centro.
    [Ver “Trem-bala para o abismo – a política econômica da recessão, de André Araújo, aqui no GGN]

    Lisonjas… lobby… captura não material… corrupção da política…

    Algo a ver?

    (exemplos – infelizmente – não exaustivos)

    *

    (V). Como chegamos aqui (2): correias de transmissão

    Voltando ao início do artigo, falávamos de:

    (i) Saturação com a política e com os políticos; e portanto…
    (ii) dessensibilização/anestesia; e portanto…
    (iii) indiferença, cinismo, que levou a…
    – Número recorde de abstenções, votos brancos e nulos. O tal “tanto faz como tanto fez”…

    Mas atenção para as correias de transmissão que nos trouxeram até aqui:

    (a) Noticiário mundo-cão na (e da) política na grande mídia; e portanto…
    (b) Demonização da política em geral e de certas forças políticas e certas correntes de pensamento em particular; e portanto…
    (c) Dessensibilização / indiferença, desprezo e cinismo; e portanto…
    (c) Alta taxa de abstenção e de votos brancos e nulos; o que reflete…
    (d) “Bases” (com aspas…) eleitorais alienadas, indiferentes, e políticos eleitos fracos, sem o respaldo de urnas “gordas”; o que cria um vácuo de poder suscetível à…
    (e) Busca de independência das autoridades não eleitas.

    I.e., “independência” do poder político, bem entendido! Não do segmento econômico regulado e de “terceiros generosos”, no Brasil ou fora dele.

    – E quem é que fornece a graxa que faz as polias da grande mídia girarem, girarem e girarem…? Mídia que: (1) produz o noticiário mundo-cão da política; e (2) vende aqueles tais “consensos” (aspas) “científicos” (de novo…) como “a verdade revelada”?

    Ora, quem fornece a graxa à mídia são eles mesmos: os lobbies!

    Atenção para o “plim-plim”! Num oferecimento de Itaú, Bradesco, Vale, Ambev, seguradoras, indústria farmacêutica, Shell, Gol/Tam, Vivo/Claro…

    E assim se fecha o círculo de captura das autoridades não-eleitas pelos lobbies, que passam a buscar independência do poder político para melhor corresponder às expectativas dos patrocinadores. E por que não dizer captura também do eleitorado, nesse caso por omissão (induzida)?

    O resultado – de hoje – está aí embaixo, descrito pelo amigo Ciro.

    Urnas vazias… cinismo e indiferença… demonização da política… lobbies… captura das autoridades e dos eleitores… tudo isso num círculo infernal.

    Nada é “coincidência”.

    E as correias de transmissão de que falamos seguiram rodando enquanto você lia este texto.

    Como perguntei acima: resistir quem haverá de?

    *   *   *

    Da série “quer que eu desenhe?”

    *   *   *

    Rapidinha: o temor que a direita tem de Dilma enquanto mito político em construção

    Presidenta Dilma vota em Porto Alegre. Apoiadores e imprensa são impedidos pela Justiça e pela truculência da Brigada Militar de registrar o momento do seu voto.

    O que temem tanto?

    [video:https://youtu.be/8hRnuB5I1uY%5D

    Entenda:

    “Temer, o PSDB, aliados – e Marina! – terão de aceitar: Dilma continuará sua trajetória rumo a construção de um mito político.
    Que ironia!
    Mas nada original:
    Não foi o julgamento injusto e a pena de morte que tornaram Sócrates maior como figura?
    Sem entrar em debate teológico / histórico: não foi o julgamento injusto e o sacrifício de Jesus de Nazaré (Deus e/ou homem) que fundou uma fé?
    Pois é…
    O mito do homem (e da mulher!) justo, injustiçado por poderes corrompidos ou por uma democracia já degenerada pela demagogia, cala fundo na psique humana. Existe desde que o mundo é mundo.
    No golpe contra Dilma Rousseff de 2016 temos os dois: poderes corrompidos aliando-se a demagogos (i) nas corporações do Estado – STF/Justiça, PGR/Janot, PF; (ii) nos grandes grupos de imprensa familiar; e (iii) nas instituições da sociedade civil organizada – OAB, FIESP, CNA, FEBRABAN, igrejas, etc., para julgar – e condenar! – alguém unanimemente reconhecida como justa.
    Dessa perspectiva, os algozes de Dilma “fizeram a sua fama”. Da mesma forma que, a seu tempo, o Sinédrio e os Romanos – secundados também por populares em frenesi, não é mesmo? – aumentaram a de Jesus de Nazaré, homem e/ou Deus. E ainda, o tribunal popular ateniense aumentou a dimensão da figura do filósofo Sócrates, ao condená-lo de forma iníqua à morte por envenenamento com cicuta.
    Quantos outros exemplos não haverá desse mito?
    Joana D’Arc queimada na fogueira da inquisição, Tiradentes enforcado e esquartejado como bode expiatório, Dreyfus, vítima do antissemitismo e de uma armação, o suicídio de Vargas, instado pelas mesmas forças que agora golpearam, novamente, a democracia no Brasil…
    Deve-se ter cuidado ao brincar de feiticeiro. O caldeirão pode transbordar e queimar quem se supunha mais esperto do que de fato era.
    Como disse uma certa justa tratada com iniquidade atroz:
    – A vida é dura, Senador!”

    *   *   *

    (i) Acompanhe-me no Facebook:

    Romulus e Maya Vermelha, a Chihuahua socialista

    (perfil que divido com a minha brava e fiel escudeirinha)

    *

    (ii) No Twitter:

    @rommulus_

    *

    (iii) E, claro, aqui no GGN: Blog de Romulus

    *

    Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como “uma esquerdista que sabe fazer conta”. Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.

    1. Perfeito Romulus! O voto no

      Perfeito Romulus! O voto no Sr. ‘Indiferença, não tô nem aí’ se estendeu aos grotões sim. Consultei o resultado de duas cidades do interior de MG para onde regularmente viajo (resido em São Paulo) e bingo! Abstenções, brancos e nulos em taxa próximas à dos candidatos eleitos. Não é um fenômeno restrito à grandes centros. E é temeroso isso.

  9. pleno de informações úteis à compreensão da política

     

    Assis Ribeiro,

    Belo texto seu e como você disse “Belíssima complementação” deu Wilton Cardoso Moreira ao seu texto.

    Como ele, discordo do título do seu post “Todos os grandes partidos foram derrotados, por Assis Ribeiro”, de segunda-feira, 03/09/2016 às 09:33, aqui no blog de Luis Nassif.

    E que se reconheça de antemão que o título não foi inventado pelo Jornal GGN como foi o caso do post “Queda de Temer pode levar a um aprofundamento da crise política” de segunda-feira, 03/10/2016 às 10:37. No caso do post “Queda de Temer pode levar a um aprofundamento da crise política”, eu realmente recriminei o Jornal GGN por ter inventado um título que não corresponde ao teor da entrevista dada por Luiz Felipe de Alencastro.

    Só rememorando no post “Queda de Temer pode levar a um aprofundamento da crise política”, o Jornal GGN faz a transcrição não sei se do que fora parte da entrevista ou dela toda que Luiz Felipe de Alencastro dera a Luis Nassif e que fora apresentada anteriormente como um dos conteúdos do post “Sala de visitas recebe Felipe de Alencastro, Negão Almeida e Antonio Nóbrega” de quarta-feira, 28/09/2016 às 17:53. E para complementar esse desvio de assunto, eu deixo o link para o post “Queda de Temer pode levar a um aprofundamento da crise política” que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/queda-de-temer-pode-levar-a-um-aprofundamento-da-crise-politica

    O título do seu post “Todos os grandes partidos foram derrotados, por Assis Ribeiro”, entretanto, é de sua lavra e você o expressa de modo bem claro no próprio título que você dera originariamente ao seu post bem como você o expressa na seguinte passagem:

    “. . . Ao contrário, o que se observou foi a absoluta derrota dos três partidos de maior dimensão; o PMDB, o PT e o PSDB.

    No caso de São Paulo o resultado pode ter sido “uma vitória de Pirro”.

    O PSDB apenas retomou um dos seus feudos. E o fez abrindo cicatrizes.

    A vitória de Alckmin é, de certa forma, uma derrota do PSDB.

    É sabido que o governador empurrou com um golpe desleal o seu Dórea. A vitória aumentará o racha interno. Serra e Aécio não vão engolir a liderança de Alckmin.”

    Nessa passagem eu vejo mais um desiderato seu do que o que a realidade mostra. Se José Serra e Aécio Neves tiverem um mínimo de inteligência, eles não se constituirão em um entrave ao crescimento de Geraldo Alckmin.

    O Wilton Cardoso Moreira foi preciso, exato e certeiro ao apresentar em P.S. uma discordância dele quanto ao título por considerar que “[a]s agremiações que assumiram o individualismo narcisista como programa, como PSDB e os partidos fortemente evangélicos, ganharam e tem boa chance de se firmarem”.

    E você não quis dar o braço a torcer ao dizer que permanece válido o seu argumento do esfarelamento da ideia de partido político. E utiliza em favor do seu argumento a frase de Wilton Cardoso Moreira que complementa a frase dele que eu transcrevi acima em que ele fala do crescimento do PSDB e dos partidos evangélicos. Na complementação Wilton Cardoso Moreira diz que PSDB e partidos evangélicos têm boa chance de se firmarem “[n]ão como partidos tradicionais, mas como agrupamentos de ideias neoliberais”.

    Os evangélicos porque estão disseminados em vários partidos, então eles não serão um partido único. Assim dizer que os evangélicos cresceram como partido político deve ser entendido como crescimento dos candidatos evangélicos. Já o crescimento do PSDB é um crescimento de um partido.

    Em relação ao fato de o PSDB crescer como agrupamento de idéias neoliberais, a restrição não é relevante hoje. Seria quando o PSDB fora fundado, pois ali na formação do partido havia pessoas de esquerda, mas há muito tempo que nos embates políticos, o partido foi jogado à direita. Um José Arthur Giannotti é um prócer entre os intelectuais do PSDB e é um marxista. Hoje, é claro, ele sabe que ele já não é nada no PSDB. O PSDB é agora exatamente uma agremiação cujos eleitores se sentem identificados com o individualismo narcisista e o partido é bem um agrupamento de ideias neoliberais.

    Político como José Serra já está em um partido que não é o nicho dele, mas não tem alternativa a não ser contemporizar.

    O que se deve verificar é a perda real de votos do PT que me pareceu o mais atingido, mas em todo o território nacional e nas eleições para vereadores. É isso que dá a dimensão do partido em bases nacionais. Os dados do PT na eleição de vereadores em 2012 e agora em 2016 devem ser comparados e apresentando também os dados de uns cinco outros grandes partidos.

    Agora, o que me deixa surpreso é a surpresa de alguns com o crescimento da direita. Nas justificativas que eu dou para queda da ex-presidenta à custa do golpe, Dilma Rousseff, eu menciono três aspectos relevantes para a compreensão dela ter sofrido o impeachment. E são eles: a) o fato de o Brasil ser injusto espacialmente e principalmente em São Paulo ter concentrado a elite econômico-financeira do Brasil, b) o fato de o Brasil ser injusto socialmente e a direita ter uma representação muito acima da sua real dimensão e c) o fato de o país está em crise econômica.

    Eu não entrei no mérito de a crise econômica também levar a um aumento da representação da direita. Eu considerei que no Brasil por si só a direita é super-representada. Agora esta relação do crescimento da direita em momentos de crise econômica é um fato com comprovação de pesquisa. E não deveria ser motivo de surpresa. Nesse sentido eu deixo o link para o post “Recessão alimenta a criação de monstros da intolerância, por Laura Carvalho” de quinta-feira, 28/04/2016 às 14:39, e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/recessao-alimenta-a-criacao-de-monstros-da-intolerancia-por-laura-carvalho

    O post “Recessão alimenta a criação de monstros da intolerância, por Laura Carvalho” consiste da transcrição do artigo de Laura Carvalho na Folha de S. Paulo intitulado “O mar está para monstros”. O importante aqui é lembrar que nele Laura Carvalho faz referência a artigo de 2010 de Hans Grüner e Markus Brückner que mostram um crescimento da direita sempre que há crise econômica. Em comentário que enviei quinta-feira, 28/04/2016 às 20:45, para junto do comentário de ML enviado quinta-feira, 28/04/2016 às 15:40, lá no post “Recessão alimenta a criação de monstros da intolerância, por Laura Carvalho” eu deixo o link para o artigo de Hans Grüner e Markus Brückner e para outro mais recente mostrando a mesma tendência.

    E é claro que se a direita já cresce em períodos de crise econômica imagina-se o que ela deve crescer quando há julgamento da Ação Penal 470 e quando há uma operação como a Lava Jato. Assim, penso que há de se reconhecer a perda da esquerda, mas ela deve ser mais bem dimensionada, computando na integralidade os votos para vereadores de todos os partidos, agrupando-os também entre direita e esquerda em todo o território nacional. E saber considerar essa perda dentro de uma realidade desvavorável à esquerda.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 03/09/2016

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