Um projeto de unidade nacional deve superar divisões ideológicas, por J. Carlos de Assis

Movimento Brasil Agora

Um projeto de unidade nacional deve superar divisões ideológicas

por J. Carlos de Assis

Não gosto da expressão “coxinha”. Aliás, nunca entendi direito o que significa. Se é uma metáfora mais ou menos literal da anatomia humana, coxinha evoca algo bastante interessante, ou seja, as coxas bem torneadas e expostas de uma jovem mulher. É um mistério porque, na política brasileira recente, passou a significar pessoas, sobretudo jovens, que estavam a favor do impeachment de Dilma. E ficar a favor do impeachment de Dilma assumiu uma conotação pejorativa, curiosamente sem muita relação com a política.

Uma das prioridades que temos hoje no Brasil é juntar as pessoas honestas e de boa vontade num grande projeto de regeneração nacional, expulsando do templo do Planalto os vendilhões que nele se assentaram. Tenho certeza de que, curadas as feridas do embate do impeachment, milhares, na verdade milhões de coxinhas tem o mesmo objetivo. É possível que tenham errado na questão do impeachment, mas não sem razão. O tema estava dominado pela mídia canalha e dificultava um julgamento criterioso, sobretudo por jovens.

E não me venham dizer, inclusive meus camaradas de esquerda, que não foram enganados, também eles, pela manipulação midiática. Nos dois governos do PT fui, junto com o senador Requião e poucos outros, um crítico implacável da política econômica, embora ressalvando a política social. O problema é que, salvo circunstâncias episódicas como um surto de importação de commodities pela China, nenhuma política social se sustenta por muito tempo sem a âncora de uma política econômica progressista.

Temos sido tratados como escravos da banca durante todos os governos, desde a ditadura. Nos governos do PT não foi diferente. E não foi por isso que Dilma sofreu o impeachment. Foi por um motivo torpe, um crime de responsabilidade inventado por seus detratores, a maioria corrupta na relação com o poder, o que ela rejeitava. O povo, e nele os coxinhas, não podiam escapar da manipulação de uma mídia uníssona que decidiu colocar Dilma para fora na esperança de aumentar o controle da banca sobre a presidência.

Não superaremos a profunda crise em que nos encontramos sem algum grau de unidade nacional. O primeiro passo é uma aproximação da esquerda com os chamados coxinhas, expressando ambos uma completa e cabal rejeição da corrupção, e uma rejeição não menos decidida do domínio quase absoluto que a mídia controlada pela banca tenta estabelecer sobre todos nós. A busca de um projeto nacional passa necessariamente pela unidade nacional de propósitos, não necessariamente pela unidade de ideologias.

O fato é que, na diversidade do mundo, cada um tem sua visão própria. A unidade deve ser estabelecida, sim, mas quanto ao objeto. Nesse campo, não há diferença entre esquerda e o que chamam de coxinha, desde que essa expressão não esconda uma visão egoísta e discriminatória da política. Se esquerda for a busca da justiça social, sou esquerdista. Se coxinha for ser contra a corrupção, pedindo uma administração pública honesta e competente, incluo-me com muito grado entre os coxinhas. Precisamos de todos para derrubar pacificamente o regime corrupto que está aí, totalmente a serviço da banca.

Redação

18 Comentários

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  1. No merci…

    Revanchismo não!

    Até o cretino do jô soares, quando ainda pensava, via na eterna sublimação de conflitos um câncer dessa terra.

    Os canalhas da direita batem, esfolam, torturam, mentem, manipulam, e quando a História vem cobrar a conta dizem: “Opa, temos que ter unidade, saber perdoar para superar as diferenças”.

    E vem o articulista oferecer a “outra face”…

    Ora bolas, até os erros têm direção e motivação diferente: comparar os erros da esquerda, suas ilusões e desilusões, deixando de enxergar o peso da tarefa contra-hegemônica que nos é dada, tabulando da mesma forma os erros de filhos de bolsonaros, malafaias, etc, de gente que tem acesso a toda informação, mas insiste em vomitar os mantras de 64, é algo que nem consigo adjetivar sem ser indelilcado com um articulista de seu quilate e importância nesse blog.

    O que o articulista nos sugere é sentarmos a mesa com os canibais e combinar um menu, mesmo que corramos o risco de sermos o prato principal.

    Com todo respeito democrático, esse texto é um insulto ao que vivemos hoje, e a memória de quem sofreu na pele as dores do autoritarismo, qualquer que seja ele, militar, policial, ou judicário.

    Para esse país dar seu salto a frente a ordem deve ser clara: 

    Dessa vez, não faremos prisioneiros.

  2. Não há “unidade nacional” nem

    Não há “unidade nacional” nem deve haver. Ou há distribuição de renda ou não há. Ou há defesa do patrimônio público ou não há. Não existe meio termo aí. E as famosas “unidades nacionais” são sempre pensadas e executadas para aumentar os lucros da burguesia às custas da maioria da população. Então, não. As divisões ideológicas é que devem superar a unidade burra em torno de abstrações que não existem.

    No Brasil a direita já decidiu que o país é inimigo do povo, e toma sempre o lado do país (isto é, da taxa de lucros e do caixa do tesouro) contra a população que aqui reside, sempre vista como um problema a ser idealmente eliminado.

    Nenhuma unidade com os inimigos do povo!

  3. Observação precisa: enquanto

    Observação precisa: enquanto “coxalhas” e “petrinhas” se digladiam, os rentistas e outros “istas” fazem a festa, vampirizando as energias criativas e produtivas da maioria esmagadora dos brasileiros, em favor dos ganhos fáceis com os títulos da dívida pública. Por isso, qualquer esforço de regeneração nacional precisa começar pela retomada do controle da política econômico-financeiro-monetária, neutralizando-se o centro de comando do poder real, atualmente situado no Banco Central, e promovendo-se uma ampla reestruturação da dívida pública, que engole 45% do orçamento federal. Se isto não for feito, não haverá qualquer possibilidade de um futuro decente para o País. 

  4. Assis, você é inocente – Divides & Impera

    O que a banca mais teme é a união de forças contra ela. Não pode, nem em sonho, muito menos em novela da Globo, deixar isto acontecer, pois coloca a nu sua fragilidade e a mostra como é, um tigre de papel.

    Dai o porque de um projeto com Norte, Estrela e Rumo não poder ser sequer discutido, pois tem o condão de unir corações e mentes contra os que claramente os escravizam, expoliam e matam.

    Quando fica claro o que deve e precisa ser feito por um governo do Povo para o Povo e a Nação, a banca estremece, pois quer continuar a todo o custo com o controle do DINHEIRO.

     

  5. Voce jamais pode ser

    Voce jamais pode ser considerado um coxinha, caro Assis. De forma alguma coxinha são os que são “contra a corrupção”, nada a ver uma coisa com a outra.

    Coxinha é aquele que “pensa” por clichês do senso comum. Que acredita piamente no que lê na Veja e vê no JN. Tem uma visão rasteira e rastaquera da polítca, da economia e do social. Bolsa família é esmola para comprar voto de ignorante, todo político rouba, um sujeito sem faculdade não pode ser presidente e por aí vai.

    São pessoas, na sua maioria, do bem. Mas sua intrumentalização é muito do mal. Manipula-se esse sentimento de criminalização da política para objetivos extremamente políticos. E no limite, esse sentimento leva ao arbítrio, que é o que o Moro, herói dos coxinhas, representa.

    A dificuldade de unidade nacional, caro Assis, é que enquanto os coxinhas, em sua maioria de classe média, negam a política, o povão sabe que só ela pode melhorar sua vida. Não é o Moro que vai aumentar seu salário, é o Lula. É por isso que eles, o povão, estão saindo da histeria moralista e querendo o Lula na presidência de novo. São eles que mais precisam da política

  6. Um pacto por cima…

    …por cima do povo manietado de bruços.

    Como falar em pacto, em concertación ou em unidade nacional se um dos lados nada tem? O atual governo detém o apoio unânime da mídia industrial, o beneplácito de todas as organizações do capital, maioria esmagadora no congresso nacional e no mínimo a neutralidade dos movimentos e associações (virtuais e reais) que mobilizaram os coxinhas contra o espantalho lulista. 

    Hoje não existe coxinha honesto ou de boa vontade. No início do processo talvez. Como a memória é curta e a zumbificação pelo excesso de informações recebidas é real, concedo um desconto para quem se mobilizou na grande cruzada pela honestidade, a moral e os bons costumes na virada de 2014 para 2015. Para quem nela permanece são possíveis dois diagnósticos: é um traidor apátrida ou um ignorante absoluto e abissal.

    Estamos presenciando a demolição de todo o sistema de seguridade social, de todos os direitos trabalhistas e de qualquer projeto de nação para o Brasil. Uma subordinação internacional comanda por barões ladrões. Estes jamais participarão de qualquer negociação se não forem forçados a isto. Enquanto dispuserem dos meios para avançarem o estupro institucional apenas reforçarão cada vez mais a repressão. Criaram o momento e o estão aproveitando para forçarem as mudanças que jamais serão aprovadas pela maioria dos eleitores.

    Iniciar uma campanha por um pacto nacional para superar a crise econômica, produzida pelos vitoriosos na política é rendição incondicional. É a perpetuação do status quo pós golpe. Uma idéia à Zé da justiça, o cardosinho republicanista que consentiu com o desmantelamento de toda ordem política e jurídica.

    Fico confortável para falar pois jamais apoei a Dilma enquanto a sua incompetência grassava. Quando a conjuração dos vendilhões da Pátria mostrou-se tornei-me um crítico do impedimento e continuo contra o monstro que ocupa o Planato, do qual o Michel Temer é apenas a face visível. 

    Não é moralmente aceitável patrocinar uma ideia que será a absolvição do estuprador (a elite golpista) forçando a vítima (a grande maioria trabalhadora) a aceitar a violência a que está submetida. 

    1. Tao the King

      Se queres derrotá-lo é preciso 

      primeiro elevá-lo.

      Se queres despojá-lo é preciso

      primeiro presenteá-lo.

       

      Lula – o elevado junto com o povão.

      Bolsa-Família (assistencialismo) o presente.

       

      Fico confortável, como o Rebolla para a crítica, pois nunca poupei nem o Lula, nem a Dilma aqui no forum. Dois cavalos que a banca usou para o golpe à la Tao, que DERAM.

      Denunciei desde antes do Lula 1, logo eles nunca me tapearam.

      Sem usar as mesmas táticas e estratégias que a banca usa é de extrema ingenuidade pensar que os derrotarão.

      Na verdade sou sempre por conquistar uma posição de força para a negociação.

  7. Sou um conciliador por natureza

    Dou um boi para não entrar em uma briga. Mas também dou uma boiada para não sair dela.

    Li o artigo do J. Carlos de Assis com um misto de sentimentos.

    De um lado queria muito acreditar na possibilidade deste projeto de conciliação nacional. Acho-o necessário, sim.

    Mas a realidade se impõe e nos escancara em nossa face a sua impossibilidade.

    Estou muito pessimista e, mais uma vez, gostaria demais de estar errado em minhas percepções.

    O post do JC Assis foi uma boa tentativa para me animar. Mas não deu.

    Continue tentando, Assis.  De minha parte estou fazendo um esforço enorme para me convencer da viabilidade do que você propõe.

    P.S. Gostei do “coxalhas e petrinhas” do Geraldo Lino. Peço permissão para reproduzir alhures.

    1. Prezado, a expressão não é de

      Prezado, a expressão não é de minha autoria, a li em algum lugar e a tenho usado bastante, pois me parece refletir bem o grau de desinformação de uns e outros sobre a natureza do problema real do país: a hegemonia da alta finança, contra a qual Lula & cia. nada fizeram de essencial. Haja vista que os investimentos mais rentáveis nos últimos 15 anos são: 1) títulos da dívida pública (319%); 2) ouro (bem atrás, abaixo de 140%); 3) CDBs; 4) títulos de renda fixa; 5) bolsas (muito atrás, 39%). 

  8. Vale a tentativa mas só a desgraça pode nos unir

    Pouca gente é sinceramente contra a corrupção. Tendo a oportunidade, pouca gente prefere a multa à caixinha ao guarda, prefere aguardar na fila a apelar para um parente ou conhecido funcionário público, poucos são os funcionários públicos que rejeitam a possibilidade de ganhar um extra pelo que já teriam que fazer mesmo sem esse extra, poucos são os médicos, dentistas ou pacientes que preferem “com recibo”, poucos os empresários – de todos os “tamanhos” – capazes de abrir mão do lucro em prol da comunidade. Pouquíssima gente não liga para se sentir VIP, especial, “meu genro é delegado de polícia”, “uma vez falei com a rainha da Inglaterra” e por aí vai. Corrupto é justamente o que pretende, em relação ao estado e a tudo o que é público, ser especial no meio de tanto iguais.

    Corrupção é pretexto, é xingar o outro não porque ele foi corrupto mas porque deixou sua corrupção ser descoberta. Xingar de corrupto serve para tentar a catarse da corrupção que o xingador traz em si, só isso. A gente se aborrece com a corrupção mas não chega a doer na alma.

    O que nos uniria, a meu ver, seria uma dor real que partilhássemos. Por exemplo, a dor do empobrecimento geral. E isso está encaminhado pelas medidas concentradoras de poder econômico e político que a turma que tomou o público de assalto está tomando. Empobrecer e “desempoderar”, despolitizar a classe média, é o que estão providenciando os golpistas – em oposição ao que lutava para fazer o PT¹, que era descentralizar – quando servem aos centralizadores. Isso é um tiro no próprio pé.

    Só espero que, passado esse período de autoritarismo centralizador, a classe média conseguindo retornar ao poder, que quando a democracia, a prosperidade geral e o estado democrático de direito voltarem a vigorar, a classe média não se esqueça disso. E que pare com essa bobagem de se aborrecer com pobre viajando de avião, que saiba, para sempre, que estamos todos no mesmo barco e que nosso país será tão mais próspero quanto mais de nossos cidadãos forem prósperos. Até para rompermos de vez com o “loop” expresso no seguinte fluxograma:

    1 – empobrecida a classe média vota em candidato progressista, socialista e nacionalista

    2 – governo progressista providencia enriquecimento geral

    3 – classe média enriquecida passa a se sentir VIP, diferenciada, quase estrangeira e vota em governo de elite

    4 – governo de elite concentra poderes econômico e político, ora… na elite mesmo

    5 – concentração empobrece a classe média

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  9. Frentismo e bons modos

    É nisso que se resume o “agorismo”: frentismo e bons modos.

    “Honestidade” e “boa vontade” é bandeira moralista e religiosa, não política.

    Consignas salvacionistas que são levantadas pela direita fascista.

    O “agorismo” até agora, na prática, apoiou o senador obscurantista e trânsfuga Marcelo Crivella à prefeitura da mui sofrida São Sebastião do Rio de Janeiro e elogiou o deputado Leonardo Quintão, do PMDB, apenas por ter feito oposição ao Eduardo Cunha na eleição à presidência da Câmara.

    Estas são as práticas, e não o bla-bla-bla, do “agorismo” defendido pelo autor.

    Atenção leitores, muita atenção a essa direita com roupagem de frente política. Esse tipo de abordagem nos trouxe ao ponto em que nos encontramos. E é desse caos que essas propostas sobrevivem.

  10. So faltou combinar com os

    So faltou combinar com os nazistas.

    Unidade nacional os cambal. precisamos é arrebentar com os capitalistas deste pais. Já que não são brasileiros que devolvam nosso capital.

  11. é o formato da coxinha

    O coxinha é o sujeito que tem a cabeça em forma de uma coxinha, quitute de carne de frango com massa em forma de coxa. A parte mais estreita para cima, limitando o espaço para acomodar o cérebro. A parte grossa para baixo, aumentando muito a boca, para falar muito sem pensar, e chegando até a garganta inchada de tanto ingolir tranqueira.

    A imagem que melhor descreve fisicamente é a do Dep. Heráclito Fortes.

     

  12. ” União ” com coxinhas…

    ” Não superaremos a profunda crise em que nos encontramos sem algum grau de unidade nacional. O primeiro passo é uma aproximação da esquerda com os chamados coxinhas “

     

    Ah, caro Assis, sabe de nada inocente… União com coxinhas ? Esta  “união ‘ é simplesmente impossível, pois eles são movidos pelo ódio e pela ignorância. Acreditam que Lula é maior ” corrupto ” do planeta, talvez da galáxia, só porque a mídia assim o disse, mesmo que sem provas… Eles odeiam cegamente ao Lula, e nós a ninguém odiamos

     

    E eles acreditam que um juiz quebrando as maiores empresas do país e destruindo milhões de empregos é um ” gigantesco herói ” que irá salvar o Brasil… Unir a nossa visão à deles é nos fazermos de cegos. Impossível

    Os coxinhas tem ódio no coração e nós não temos, por isto uma união da serenidade com o ódio é impossivel.

    ———-

    Na melhor das hipóteses poderíamos pegar o que há de verdadeiro na visão deles ( por menor que seja este verdadeiro ) e incorporar à nossa visão. Acho que quem está mais próximo de fazer isto é Ciro Gomes.

    ———

    ” Coxinha é um salgadinho vendido em lanchonetes, feito a base de carne de frango e massa. Os ricos costumam comprar com frequencia este salgado, por isto o apelido. Os pobres não compram, pois ganham pouco. “

  13. E quem disse que a divisão é apenas ideológica?

    E quem disse que a divisão é apenas ideológica?!!! Pasme!! A divisão é entre brancos e negros!! Entre pobres e ricos!! Entre homens e mulheres!! Queiram ou não a ferida é esta e não vai sarar enquanto estes assuntos não forem escancarados na mesa de “diálogo”!!

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