Do Opera Mundi
O que eu vi da missão do Ipea na Venezuela
A missão do IPEA na Venezuela custa pouco. E trabalha, sim, pela intensificação das relações econômicas entre os dois países
Wagner Iglecias
Também a convite de Pedro pude viajar a Puerto Ordaz, no Estado de Bolívar, onde situa-se a maior reserva conhecida de petróleo do mundo, para acompanhar reuniões e palestras dadas por ele e pelos bolsistas do Ipea para autoridades e empresários locais, sempre com temas voltados à integração entre os dois países, e sobretudo entre o sul da Venezuela e o norte do Brasil. Fomos ele, quatro bolsistas do Instituto e eu, em seu próprio carro, numa viagem de mais de 8 horas pelos 660 quilômetros que separam as duas cidades. Depois de três dias intensos de atividades em Puerto Ordaz, a missão se separou. Pedro e três dos bolsistas continuaram a viagem, de carro, até Boa Vista, Roraima, para reuniões com autoridades do governo local, que inclusive é do PSDB (vale dizer que o Plano para o desenvolvimento da região de fronteira do estado de Roraima cita várias vezes estudos da missão do Ipea na Venezuela), e de lá dois voltaram de avião a suas cidades no Brasil.
Um quarto bolsista, Flavio Higuchi, e eu voltamos de Puerto Ordaz para Caracas, de ônibus. Alguns dias depois Pedro e o bolsista Felippe Ramos voltaram a Caracas, após passarem também pela Guiana. Aliás, a missão não restringe suas atividades à Venezuela, mas busca também ampliar a presença brasileira nos países próximos, como Suriname e República Dominicana, com os quais ela possui memorandos de entendimento. Além disso ela tem feito aproximações com a Guiana, conforme citado, além do Haiti e países da América Central.
Baixo custo
Mas voltando à vaca fria: a missão do IPEA na Venezuela custa pouco. E trabalha, sim, pela intensificação das relações econômicas entre os dois países. Era para ter sido acompanhada por outras missões similares, na China, na Argentina, no Paraguai e em Angola, conforme projeto de Márcio Pochmann, ex-presidente do Instituto, e que acabaram abortadas por motivos variados. Acusar de cooperar com o governo do país vizinho uma missão oficial de um órgão do governo brasileiro que está lá para desenvolver cooperação bilateral é uma contradição em termos. É exatamente a boa relação entre os governos dos dois Estados que permitiu que o comércio bilateral tenha saltado de US$ 880 milhões em 2003 para mais de US$ 6 bilhões em 2013. Com um saldo comercial de US$ 3,6 bilhões para o Brasil no ano passado, um dos maiores entre todos os países do mundo com os quais mantemos comércio.
E digo mais: se quisermos ser uma potência, ainda que de porte médio e de abrangência regional, precisamos de mais missões como a de Caracas. Já passou da hora do Brasil ter, em suas universidades, especialistas em EUA, Europa, China, Rússia, África, Oriente Médio, Índia e América Latina, assim como tantos dos países desenvolvidos possuem os seus brasilianistas. Mas para além disso nosso país precisa ter, também, pesquisadores seus sediados em Beijing, Moscou, Nova Delhi, Cidade do Cabo, Cidade do México, Havana, Jacarta, Luanda, Istambul e tantas outras capitais e pólos políticos e econômicos importantes. Atacar a iniciativa das missões no exterior, sob o argumento esdrúxulo de que lá estão para legitimar governos, é revelar uma mentalidade tacanha, que imagina que ao Brasil só resta o caminho da inserção mais uma vez subordinada no cenário internacional.
* Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina e do Curso de Gestão de Políticas Públicas da USP.
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