Um salto da economia da Europa, por Laura Tysol

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Referendo do Reino Unido reforça necessidade de novos estímulos e medidas não convencionais

Jornal GGN – Há pouco tempo, a noção de o Banco Central Europeu (BCE) distribuir dinheiro a governos ou diretamente aos cidadãos teria parecido algo estranho. Mas hoje, diversos economistas e políticos centristas estão endossando a ideia de um financiamento monetário e medidas de estímulos em diferentes formas.

“Isto representa uma mudança muito necessária na conversa – que, finalmente, coloca o foco direto em estimular o lado da demanda da economia europeia. Após anos de estagnação do crescimento e do desemprego debilitante, todas as opções, não importa quão não-convencionais , devem estar sobre a mesa”, dizem os articulistas Laura Tyson, ex-presidente do Conselho de Assessores Econômicos da presidência dos Estados Unidos e professora da Universidade de Berkeley, e Eric Labaye, presidente do McKinsey Global Institute, em texto publicado no site Project Syndicate.

Para os economistas, a decisão do referendo do Reino Unido para deixar a União Europeia só reforça a necessidade de mais estímulos e medidas não convencionais na Europa. “Se a grande maioria dos cidadãos da UE é a favor da integração política continuada, o forte crescimento económico é fundamental”, explicam.

Um levantamento elaborado pela consultoria McKinsey mostra que, apesar de flexibilização quantitativa negrito e dos juros reduzidos em patamares recorde, o BCE foi o primeiro banco central importante a introduzir taxas de juros negativas em 2014 – uma vez que “a demanda anêmica continua a afetar o crescimento do PIB em toda a Europa”. Em diversos países europeus, mais de um quarto da população está desempregada há quase uma década, e o descontentamento político está fervendo no extremismo. Segundo os articulistas, a incerteza e volatilidade nos mercados financeiros na sequência do voto Brexit vai paralisar ainda mais a demanda.

Além disso, a onda de investimento das empresas que deveria ser desencadeada por uma combinação de contenção fiscal (para conter a dívida pública) e a flexibilização monetária (para gerar taxas de juros ultrabaixas) nunca se materializou. “Em vez disso, as empresas europeias cortaram um investimento anual de mais de 100 bilhões de euros por ano no período 2008-2015, e têm armazenados cerca de 700 bilhões de euros em caixa em seus balanços”, pontuam os economistas, o que não é algo surpreendente, uma vez que as empresas investem quando estão confiantes sobre a demanda futura e crescimento do produto.

“Mesmo antes da votação Brexit, empresas globais europeus e outros não estavam confiantes nas perspectivas da Europa. Agora eles estão enfrentando riscos elevados de uma recessão europeia e a possibilidade real de que tanto o Reino Unido e a UE poderiam quebrar se o contágio populista toma conta. Os investidores de negócios odeiam incertezas e a votação Brexit criou um mundo dramaticamente mais incerto na Europa e além”, pontuam Laura e Labaye, ressaltando que a austeridade fiscal e as taxas de juros ultrabaixas também tem se mostrado ineficientes para estimular a procura das famílias.

Além de afirmar a necessidade de se reconhecer os limites da política atual, os economistas explicam que a demanda atualmente poderia ter um melhor suporte por meio de outras estratégias de flexibilização quantitativa e juros ultrareduzidos. “Os defensores do capital de resgate – fundos do Banco Central colocados diretamente aos cidadãos, ou créditos de tesouros nacionais paa o financiamento de infraestrutura e outras atividades geradoras de demanda – argumentam com razão que eles tem a vantagem de colocar o dinheiro diretamente nas mãos de quem vai gastá-lo. Um programa de tamanho adequado também pode elevar a inflação de uma forma ponderada, dirigindo fora a possibilidade de uma armadilha deflacionária de estilo japonês”, dizem.

Na verdade, os articulistas dizem que “o impulso para a demanda pode dar aos bancos centrais a abertura que eles precisam para mover as taxas de juro de volta para padrões históricos”. Porém, um programa desse porte também seria uma mudança radical para os decisores políticos, exigindo cautela sobre o cidadão e a percepção do investidor, confiança e sólidas estruturas de governança. E tal abordagem cimentar a noção de que a política do banco central é “o único jogo na cidade”, aliviando os líderes do governo eleitos da sua responsabilidade pelas políticas pró-crescimento e as decisões fiscais que controlam.

“Uma rota menos arriscada e testada pelo tempo para o estímulo da demanda seria um aumento significativo do investimento em infra-estrutura pública financiado pela dívida pública”, explicam os analistas “De uma perspectiva macroeconômica, investimento em infraestrutura reforça a produtividade e competitividade no longo prazo e, onde há capacidade não utilizada, aumenta a demanda, a produção e o emprego, com efeitos multiplicadores significativos no curto prazo”, dizem os economistas. “No entanto, os governos em toda a Europa apertaram o cerco contra os gastos com infraestrutura durante anos, dando prioridade à austeridade fiscal e redução da dívida na crença equivocada de que os empréstimos do governo expulsariam o investimento privado e reduziriam o crescimento. Mas a lógica crowding-out só se aplica a condições de pleno emprego, condições que claramente não existem na maior parte da Europa de hoje”.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

2 Comentários

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  1. IDEIA A SER PENSADA PARA ALAVANCAR O BRASIL

    Hoje, o Banco Central emite títulos da dívida pública, vende aos bancos que, por sua vez, transformam em crédito, sem a emissão de papel-moeda pela Casa da Moeda. Ao invés do BC emitir títulos, emita-se dinheiro vivo para o goveno pagar suas dívidas e investimentos, sem passar pela banca financeira. Vai criar inflação, mas as contas do governo não serão deficitárias e dívida pública não aumentará. Tecnicamente,  toda a população vai pagar a conta.  Mas, e já não pagamos essa conta há décadas??? Sim, pois pagamos a conta aos intermediários do processo: os banqueiros, via taxas de juros escorchantes!

    Esse pensamento não é em nada absurdo ou idiota. Pensemos, pois!

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