Uma grata surpresa vinda da imprensa alemã

Por Rogério Maestri, no Portal LN

Ao procurar a reação da imprensa internacional ao caso da FIFA deparei-me com um excelente texto de autoria de Astrid Prange, uma correspondente da DW (Deutsche Welle) no Brasil.

Depois de pesquisar na imprensa inglesa, norte-americana, brasileira, espanhola e norte-americana a grata surpresa veio da reportagem intitulada em português: “A roupa nova do rei Fifa”, que transcreverei a seguir.

Curioso com a excelência da reportagem que não ficou restrita a simplesmente replicar notícias que percorrem as agências internacionais, a opinião de Astrid contextualizou o evento dentro de uma realidade bem maior, a FIFA e as relações internacionais entre os países emergentes e os países da OECD. Seguindo na minha curiosidade pesquisei no nome da correspondente reportagens anteriores e vi que a mesma com um olhar crítico a realidade brasileira mesmo quando a critica procura entender o que ocorre no nosso país, ela não cai nem no oba-oba nacionalistas de alguns jornalistas brasileiros nem nos esteriótipos de alguns correspondentes estrangeiros.

Não a conheço pessoalmente, mas através de sua bela foto que aparece nas suas entrevistas dá para ver, que além de um simpático e belo olhar, muito mais do que a imagem estereotipada que os brasileiros e grande parte da população do mundo tem do povo alemão. Tive o prazer de conviver por dois anos na França com um jovem físico alemão e o mesmo olhar sincero que tem Astrid via no olhar do meu colega, ou seja, me parece que a maioria da nova geração do povo alemão exorcizou um passado que nem merece ser relembrado.

Pena que a nossa “grande” imprensa não siga o mesmo tipo de comportamento.

Da Deutsche Welle

A roupa nova do rei Fifa

Por Astrid Prange

A situação se inverteu: não é mais o Brasil, mas a Fifa que precisa ouvir sérias acusações, opina a jornalista Astrid Prange, da redação brasileira da DW. E a lista é longa.

O rei está nu. A polícia brasileira tornou possível o impossível: ela desnudou a entidade máxima do futebol mundial. Pouco antes do ponto alto da Copa do Mundo no Brasil, a final no Maracanã, a Fifa não está mais no alto do pódio, mas sentada no banco dos réus.

Até pouco tempo atrás, o banco dos réus estava reservado ao país anfitrião, o Brasil. A Fifa não se cansou de criticar a lentidão nos preparativos do espetáculo esportivo. Muitos estádios não corresponderiam aos critérios por ela exigidos. Muitos só ficaram prontos no último minuto. A Fifa argumentava com o conforto e a segurança dos torcedores de todo o mundo.

Mas agora a situação se inverteu. Não é mais o Brasil, mas a Fifa que precisa ouvir sérias acusações. E a lista de transgressões é longa. A empresa Match Services, parceira da Fifa, estaria envolvida na venda ilegal de ingressos da Copa. Árbitros da Fifa são acusados de ignorar entradas duras em campo. E as equipes de segurança da Fifa não foram capazes de garantir a segurança dos espectadores no estádio.

A derrocada da Fifa mostra quão mal informados sobre o maior país da América Latina estão a entidade máxima do futebol e a opinião pública mundiais. A crítica da Fifa aos atrasos nas obras dos estádios e à infraestrutura precária se encaixava muito bem nos clichês vigentes sobre o Brasil. Sol, samba, carnaval e futebol, e, naturalmente, corrupção – essa era a perfeita descrição de um país simpático, mas longínquo.

Mas definitivamente já se foram os tempos em que o planeta estava claramente dividido, com as nações industrializadas no chamado Primeiro Mundo e os países em desenvolvimento no Terceiro Mundo. Não só a economia se globalizou, como também o conhecimento, o anseio pela democracia e naturalmente o futebol.

Há um ano, milhões de pessoas foram às ruas no Brasil para protestar contra a corrupção. A raiva era dirigida não só contra o próprio governo, mas também contra a Fifa.

Mas a Fifa parece não ter entendido isso. O Brasil não é um país que se entrega de joelhos para a Fifa, mas uma democracia e um Estado de Direito. Isso ficou mais uma vez comprovado pelo excelente trabalho dos investigadores brasileiros. Se eles tivessem contado com a prometida colaboração da Fifa, pouco teriam avançado.

O Brasil acabou com a onipotência da Fifa. Suas novas roupas são mais transparentes do que ela gostaria que fossem. O rei que tanto abriu a boca agora precisa ouvir. E descobriu que, assim como seus “súditos”, não está acima da lei. É significativo que a Fifa tenha que aprender essa lição justamente no Brasil.

 

Redação

20 Comentários

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  1. Mas isso passou em branco na

    Mas isso passou em branco na onda de vira-latice da mídia patrícia. Aliás, parte dela. Assisti no canal ESPN vários elogios ao papel da polícia brasileira nesse mister de desbancar o esquema criminoso que, parece, tinha ramificações até na própria FIFA. 

    Como brasileiro, me sinto orgulhoso por, finalmente, sermos reconhecidos lá fora não só por clichês depreciativos, mas, ao contrário, por termos evoluído em termos civilizatório. 

  2. com três sujeitos e uma função elástica linear interligando…

    ficou muito fácil de entender e, consequentemente, desnudar que o mais importante apenas obedece

    um no centro, Fifa, e futebol e política ocupando os extremos

     

    similar ao que acontece na economia global; mais ricos no centro, ricos e pobres nos extremos, sendo que, pelo desenvolvimento da função matemática sem regular ou interferir diferentemente no sujeito central, podemos chegar no ponto de origem de todas as bolhas……………………………………………………………….

    mas não se consegue analisando apenas registros, números e indicadores; há que se considerar principalmente a elasticidade comportamental dos sujieitos

     

    mas futebol não tem nada ver com economia, alguém pode pensar, mas certamente e matamáticamente estará sentindo, e não pensando, de um dos extremos do elástico, que dificilmente deixará de ser juntamente com os pobres

     

    os ricos estavam lá, nos estádios, não apenas torcendo, muito mais confirmando a função

    1. única diferença para o futebol…

      quanto mais afastados os extremos, o do centro encolhe, se amiúda………………………….

      tendo toda liberdade para venderem e determinarem preços

  3. A matéria ajuda a

    A matéria ajuda a desmistificar a tão criticada ineficiência da polícia do Brasil , especialmente a polícia do Rio de Janeiro. Aliás , a polícia carioca tem feito tantos gols quanto os gols tomados pela seleção do Felipão/CBF/Globo … 

  4. Mostra o Darf

    Agora, pergunta se o assunto interessa ser aprofundado pela imprensa brasileira, notadamente pelas Organizações Globo, também partícipe dessa roubalheira?

     

  5. Quem acabou levando um

    Quem acabou levando um pontapé na bunda foi a Fifa.

    Não era a vontade de um tal de Walker, representante da FIFa, fazer com o Brasil por causa dos “atrasos” da construção dos estádios ?

    Babaca !

    Sairam com o rabo entre as pernas.

    E mais, todos( mundo do futebol) elogiaram a Copa, e o Presidente Blater deu 9,25 pela sua realização.

    Acham muito ? Para a Copa da Africa do Sul ele deu 9,00.

    Ficou com raivinha que prenderam  membros da sua quadrilha.

    A copa fou 10, nota 10 !

    1. exatamente…

      acredito que pretendiam apontar as obras externas como causa principal dos “atrasos” nos estádios…………..

      como não aconteceram, mesmo com as obras de melhoramentos extracampo sendo executadas a todo vapor, ficaram sem ter como criticar ou culpar o governo

      uma das extremidades ficou sem poder ser esticada como críticas contínuas

  6. Matéria jornalística

    Essa senhora poderia dar cursos de jornalismo  eficiente e isento para os retrógrados e pseudo espertos representantes da velha mídia nacional.

  7. então, a partir de agora,

    então, a partir de agora, além de carnaval, praia e mulher bonita, o mundo sabe que podemos ter orgnização à altura dos grandes eventos….não é pouco….

    e os arrogantes da fifa tiveram uma grande lição..

    .desbundamos o pé na bunda do wlaker e ele deve ter voado com os fundilhos esvoaçantes….

  8. Por favor, senhor Maestri,

    Por favor, senhor Maestri, quem são os jornalistas nacionalistas mencionados na frase abaixo ? Restaria algum jornalista oba-oba nacionalista na grande mídia? Quem me dera …

    “ela não cai nem no oba-oba nacionalistas de alguns jornalistas brasileiros nem nos esteriótipos de alguns correspondentes estrangeiros.”

  9. elogio a Astrid Prange

    É raro, mas felizmente existem jornalistas que analisam os fatos e divulgam o que de real existe.

     

    É gostoso ver retratado por correspondente estrangeiro uma visão de progresso do povo brasileiro.

  10. A Fifa está nua

    A jornalista conseguiu ver um pouco além. Sim, lamentavelmente atrasamos obras muito importantes. Cometemos faltas, mas o cartão amarelo ou vermelho que dá somo nós. A Fifa assemelha-se mais ao coronelato dos sertões nordestinos do passado, ainda hoje presentes como almas penadas a assombrar os brasilieros. É isso!

    1. Permita-me discordar

      O senhor insinua que os coronéis nordestinos são coisa do passado, mas que ainda assombram os brasileiros. Permita-me discordar. Me parece que há ai uma visão em relação ao Nordeste semelhante a da FIFA em relação ao Brasil. As duas equivocadas. O que existe no Nordeste ainda hoje é o mesmo que existe nos estados do Sul e do Sudeste. Caciques políticos que resistem à inovação, resistem a ceder espaço às novas gerações, continuam comandando alguns partidos com mão-de-ferro em seus estados. Mas aqui no Nordeste eles estão com os dias contados. Tornaram-se peças de transição. Se o senhor analisar seu estado e seus políticos sob essa ótica e identificar alguns deles neste perfil, então saiba que é a mesma situação que vivemos no Nordeste. Alguns desses políticos ainda tem votos, ainda vencem eleições, mas não assustam pois, no final, as escolhas do povo os estão sepultando um a um.

      1. Permita-me concordar com você

        Permita-me concordar com você Eduardo. O sul-sudeste deita em imagens que não se adequam mais a realidade do Norte-nordeste. Não pela falta de violência, de pobreza, de desmandos… Assim como a globo faz com partidos, aqueles que tem mais  poder no sul-sudeste, e deveriam ter mais responsabilidade por democratizar recursos no país, buscam o pior na amostragem para fazer a imagem do todo e se aliam àqueles que são os principais responsáveis por manter isso, bloqueando as parcelas de classes médias que desejam ascender pelo trabalho, pelo concurso público, e não por redes clientelistas. Se tem uma coisa que assombra o país são os acordos entre a elite tacanha paulista, mineira, carioca, rio grandense com o que historicamente está associado a redes clientelistas no Nordeste, impedindo as classes médias nordestinas prosperarem pelo acesso mais universal a conhecimento, a emprego e a mais secularização. Uma parcela da classe média trabalhadora e intelectual que hoje está morando no Nordeste (pois ela hoje é feita de pessoas do centro-sul alijadas de posições em suas regiões de origem, não necessariamente por processos meritocráticos) é o ser invisível que incomoda as elites tradicionais nordestinas, mas também as elites tradicionais do centro-sul, pois são agentes de transformação que criam mais dificuldades de justificarem mais concentração de recursos com tais imagens depreciativas do Nordeste.

  11. Mas temos que considerar que

    Mas temos que considerar que os alemães em geral tem bronca grande contra a Fifa também… até tinha umas ong’s de esquerda (olha só!…) e ligadas aos verdes e o escambau que andavam incentivando o movimento coxinha tupiniquim “não-vai-ter-copa” (Es wird keinen Fußball-WM geben!…), então a posição da jornalista também reflete um pouco isso. Tem boi nessa linha…

     

    ver aqui https://linksunten.indymedia.org/node/113579

  12. Todo o mundo sabe quais são os jornalistas…

    Sra. Andrea, toda pessoa que tiver senso crítico sabe quais são os jornalistas mencionados pelo Sr. Rogério Maetri.

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