Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
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Viva o vibrafone de Ricardo Valverde, por Aquiles Rique Reis

Procure ouvir, leitor, o ótimo CD instrumental Teclas no Choro (CPC-Umes), do vibrafonista Ricardo Valverde. Não se preocupe se você não conhece este instrumento. Alguns não fazem ideia do som nem do formato que tem.

Os que aceitarem a minha sugestão, saibam que seus ouvidos agradecerão. Aos que quiserem conhecer um pouco mais da história do vibrafone, o encarte que acompanha a bela capa do álbum – projeto gráfico da craque Moema Cavalcanti – traz um fundamentado texto de Marcus Vinicius de Andrade (diretor artístico da CPC-Umes). Nele, Andrade descreve a história do vibrafone, instrumento inventado nos EUA no início do século passado. Para que se tenha noção do quão a fundo ele foi na história do instrumento, basta dizer que, dentre outros nomes de vibrafonistas, ele cita Magro Waghabi (1943-2012). Pouquíssimos sabem que, antes de se tornar arranjador do MPB4, ele tocava vibrafone no conjunto de baile Praia Grande.

O CD de Ricardo Valverde tem o vibrafone ora como solista, ora como integrante do conjunto sonoro que conta com um trio presente nas doze faixas do disco: teclado (Silvia Goes), bateria (Pepa D’Lia) e baixo (Ivani Sabino). Em seis delas, temos também algumas participações importantes, como as de Heraldo do Monte (guitarra), Cesar Roversi (saxofones soprano e barítono), Izaias Bueno de Almeida (bandolim) e Oswaldinho do Acordeom.

Com arranjos de Silvia Goes, o protagonismo de Valverde é latente e o seu vibrafone soa soberano – não só em solos e improvisos definitivos, como também em diálogos musicais plenos de suingue dignos de entusiásticos aplausos.

O disco como um todo é um verdadeiro tratado sobre o vibrafone. E outra grande relevância de Teclas no Choro é levar o som cristalino do instrumento para a praia dos chorões.

“Feitiço”, de Jacob do Bandolim, logo na primeira faixa do CD, é contagiante em sua leitura chorona. Traz Heraldo do Monte na guitarra, um instrumentista que faz uso da genialidade em tudo o que toca. Revezando-se com o vibrafone, os dois impulsionam o trio para uma admirável atuação. Exemplos? O solo de piano de Silvia Goes, a pujança do baixo de Ivani Sabino e o pulso firme de Pepa D’Lia.

Em “Enigmático”, de Altamiro Carrilho, Cesar Roversi tocando sax soprano só se compara ao próprio Roversi tocando sax barítono em “Ainda Me Recordo” (Pixinguinha). Nela o choro, de tão belo, chega a emocionar. A faixa também tem o bandolim de Izaias Bueno de Almeida: com eles, o vibrafone não se furta a protagonizar o suingue.

Para tocar “Atlântico” (Ernesto Nazareth), Valverde não poupa inspiração: suas frases melódicas são sempre moldadas às harmonias, resultando em outro grande momento do disco. Aliás, o que não falta são momentos especiais, quando o vibrafone se posiciona na vanguarda do instrumental nacional.

Mas, antes de fechar este comentário, deixo no ar uma pergunta: como pode um instrumento com som tão lindo, não ser mais ouvido nos discos instrumentais brasileiros.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

Aquiles Rique Reis

Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

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