Abandonados pelo sistema, Moro e Deltan só encontram abrigo na mídia lavajatista, diz Helena Chagas

Carla Castanho
Carla Castanho é repórter no Jornal GGN e produtora no canal TVGGN
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Veículos que ainda não fizeram o mea culpa pela cobertura enviesada da Lava Jato seguem dando espaço às narrativas frágeis de Moro e Deltan

O reconhecimento feito pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre a prisão injusta de Lula no caso triplex, entre outros erros da Lava Jato, já rende boas análises sobre o destino da dupla mais midiática da operação. Em entrevista ao programa TV GGN 20 Horas, a jornalista política Helena Chagas avaliou que, “politicamente, eles [Deltan Dallagnol e Sergio Moro] estão abandonados”, restando-lhes amparo apenas em alguns setores da grande mídia lavajatista que resiste em fazer um mea culpa.

Apesar de “surpresa”, após 9 anos de espera, com a decisão que confirma a percepção do Supremo sobre o conluio da Lava Jato, Chagas explica que o cenário de abandono já era previsto. “O Deltan já perdeu o mandato e o Moro já estava no caminho de perdê-lo por causa de um outro processo no TRE do Paraná, por questões de contas de campanha, de abusos de poder econômico, de caixa 2, etc. Tudo indica que ele perderá. Você não vê, entre políticos no Congresso Nacional, ninguém se levantando [para defendê-los]”, observou.

Autodefesa na mídia lavajatista

Na atual conjuntura, o que resta a Sergio Moro e Deltan Dallagnol, na análise de Helena Chagas, é a autodefesa a ser realizada em espaços ainda cedidos pela mídia lavajatista. 

“Os dois estão indo [aos canais de televisão se defender]. É muito curioso ver isso quando se recorda do que foi a Lava Jato. (…) A Globo, essa mídia que tem esse fundo lavajatista, ainda dá muito espaço para eles. Ela ainda não fez mea culpa. E é na mídia que você vê que eles ainda estão [com o discurso de que] ‘Olha, mas isso [decisão de Toffoli] não quer dizer que não teve corrupção‘.”

É preciso desenhar?

Um dos argumentos adotados pela mídia comercial, que ainda sustenta a operação Lava Jato, é de que houve irregularidades e, portanto, deve-se credibilizar as investigações realizadas à época.

“Então, se teve roubalheira na Petrobras, logo a Lava Jato estava certa. Não é assim! Teve roubalheira na Petrobras [nos governos petistas], como teve em outros períodos também. O que ela [Lava Jato] fez foi imputar ao Lula um conjunto de crimes que ele não cometeu”, acrescentou o jornalista Luis Nassif, apresentador do TVGGN 20 Horas

Helena Chagas afirmou que o que está em jogo não é ser “pró ou contra” a Lava Jato, mas sim reconhecer o conluio entre juiz e procuradores que tinha um objetivo antipetista específico, “de varrer o PT e o Lula da face da Terra”.

Do “Super-heroizinho” ao “bebê chorão”

Também foi pauta do programa o tom suave aderido por Moro e Deltan Dallagnol em meio às derrotas que têm sofrido.

Em um “duelo magnífico” promovido pela GloboNews, entre o jurista Lênio Streck e Dallagnol, o ex-deputado federal e ex-procurador da Lava Jato pareceu ter ficado desconfortável com os apontamentos de Lênio sobre a falta de humildade em assumir uma autocrítica e fazer um pedido de desculpa à Nação. 

Os dois se digladiando, eu achei bem interessante. No fim, Dallagnol terminou até meio nervoso, irritado, eu senti o desespero ali, realmente ele tá se vitimizando porque saiu do Ministério Público achando que era um super-heróizinho, né? Entrou na política muito despreparado para fazer política. Saiu do holofote controlado do Paraná, onde ele manipulava a mídia, e foi para um Congresso, para o mundo político, e aí realmente esse pessoal não sobrevive, né?“, disse Helena.

O jornalista Luis Nassif, ao concordar com a colega analista, relembra as aparições recentes no Twitter (X) de Dallagnol, que se mostrou um “bebê chorão”.

Fiasco?

Segundo Chagas, Moro tem atuado da mesma forma que Deltan, sendo “um fiasco como senador”.

A dupla usou as redes sociais para criticar a decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, que declarou as provas apresentadas pela Odebrecht no acordo de leniência como “imprestáveis” em todas as ações da Lava Jato.

Assista ao programa completo na TV GGN. O ex-ministro Eugênio Aragão também foi entrevistado por Nassif. Leia aqui.

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Carla Castanho

Carla Castanho é repórter no Jornal GGN e produtora no canal TVGGN

3 Comentários

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  1. E o que acontece com todo pistoleiro: depois do crime executado vem o abandono pelo contratante. Sempre será assim. Ninguém respeita a quem não se dá ao respeito. Por isso “procuro a resposta por que criar a dor”, como fiz o poeta.

  2. É muito suspeito o abrigo que juízes(as), procuradores(as), entre outras autoridades, ainda encontram na grande mídia, após a revelação de tanta sujeira, traição, abuso, covardia e crimes em série praticados levianamente pela operação Lava Jato e seus sustentadores e financiadores.
    Só mesmo um imenso rabo preso motivado por participação/conivência/omissão/recebimento de informações privilegiadas/graves segredos secretos ou até mesmo uma auto chantagem, que estejam criando a si próprios devido a um terrível pavor de que as suas tramóias criminosas também sejam descobertas e reveladas, pelo avanço e o aprofundamento das investigações.
    Imagino que se alguma peça importante resolver optar por uma delação premiada, e revelar toda engrenagem que movimentou a operação e as parcerias nada republicanas que ela recebeu como apoio, aí sim a grande mídia teria motivos para perder o sono e mais adiante, a própria liberdade e existência física e moral.

  3. Já ví e ouvi diversos comentaristas da Globo, dizerem que não se pode criticar tudo que a Lava Jato fez, embora reconheçam que o grupo cometeu erros, o que na minha opinião, é uma forma velada de passar pano. O que eles não querem é recenhecerem os crimes cometidos pela lava jato. Pois tudo foi criminosamente planejado, para prender e condenar Lula tendo por trás um projeto que visava desmontar os setores mais competitivos da economia brasileira. Eles alegam que recuperaram mais de 6 bilhões de reais para os cofres públicos, mas não falam dos mais de 150 bilhões de reais de prejuizos com o desmonte das empresas de engenharia e a multa maquinada em conluio com a justiça americana. Em recente declaração, o futuro ex senador disse que a lava jato agiu de acordo com as leis. Só se foi com as leis da terra de Malboro, não às do Brasil.

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