Arbitrariedade e prepotência como política de governo, por Janio de Freitas

 
Jornal GGN – Em sua coluna de hoje na Folha de S. Paulo, Janio de Freitas fala sobre as revisões promovidas pelo ministério escolhido pelo presidente interino Michel Temer, que, para ele, compõem um conjunto de atos “caracterizadamente persecutório e policialesco”. “Sua amplitude e prioridade evidenciam tratar-se de arbitrariedade e prepotência como política de governo”, diz o colunista. 
 
Entre os atos citados por Janio, estão a medida do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, de “rever todos os atos deste ano” feitos pelo seu antecessor, e medidas semelhantes no Ministério do Desenvolvimento Social, no Ministério da Educação e Cultura e também na Casa Civil, que podem afetar demarcações de terras indígenas. Leia mais abaixo:
 
Da Folha
 
Ignorância em ação
 
Janio de Freitas
 
A extinção do Ministério da Cultura não foi ocasional. Não foi técnica. Nem é coerente apenas com o nível cultural do grupo que ocupa os postos chamados de “o governo”. Há também uma coerência interna que identifica, uns com os outros, os integrantes desse grupo heterogêneo, caótico e retrógrado. Essa segunda coerência faz, inclusive, uma conexão entre a atualidade e o passado de algumas décadas.
 
O governo fala muito. Ainda que metade seja para desdizer o que foi dito na outra metade. Atos administrativos, para quem sabia tanto do que devia ser feito pelo governo anterior, nem um só. Há providências, porém.

 
Todas na mesma linha, das quais seguem-se alguns exemplos.
 
1) Nas duas dúzias de ministros, há um único indicado por Michel Temer. É o da Justiça, Alexandre Moraes, cuja primeira e solitária medida, divulgada logo ao assumir, é “rever todos os atos deste ano” praticados pelo antecessor, José Eduardo Cardozo.
 
2) No Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra comunica a providência de revisar atos e programas do governo Dilma. E uma investigação no Bolsa Família que pode resultar “no desligamento de 10% dos beneficiários”, ou “mais, de 20% a 30%, se cruzados todos os dados”. De que base respeitáveis vêm tais estimativas? O entra-e-sai faz do Bolsa Família uma população flutuante mês a mês. Parece claro que a intenção é cortar o gasto do Bolsa Família com uma alegação oportunista.
 
3) No Ministério da Educação e Cultura, Mendonça Filho manda rever todas as medidas tomadas nos últimos dias do governo Dilma por Aloizio Mercadante (Educação), Juca Ferreira (Cultura) e respectivos chefes de departamento.
 
4) Na Casa Civil, Eliseu Padilha comanda a revisão de todos os atos baixados por Dilma desde 1º de abril.
 
5) Também na Casa Civil, Padilha procede à revisão das demarcações de terras indígenas. Subprocuradora-geral da República, Deborah Duprat advertiu que a revisão pretendida viola a Constituição. Decisões passadas do Supremo Tribunal Federal foram no mesmo sentido. Mas, desejada por fazendeiros ocupantes de terras indígenas, a revisão continua.
 
6) Na Advocacia-Geral da União, Fábio Medina Osório chega com a determinação de “apurar” a conduta do antecessor José Eduardo Cardozo na defesa de Dilma. Parece-lhe inadmissível que Cardozo tenha se referido a “golpe”, ao falar do golpe.
 
7) O próprio Michel Temer desconsidera a garantia legal do mandato de quatro anos do jornalista Ricardo Melo na presidência da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), empossado no início do mês. E o exonera.
 
As revisões citadas nestes exemplos e os demais casos, que incluem os outros ministérios, compõem um conjunto caracterizadamente persecutório e policialesco. Sua amplitude e prioridade evidenciam tratar-se, não da verificação de eventuais impropriedades, mas de arbitrariedade e prepotência como política de governo. Uma política que expressa a índole do governo e do próprio Temer, no mínimo por se sujeitar, como marionete, a corrompidos, ímprobos e fraudadores à sua volta.
 
É verdade que um ou outro governo tenta valorizar-se à custa de algumas reais ou alegadas acusações ao antecessor. Fernando Henrique, aliás, devia agradecer a Lula por nada ter investigado, com tantas possibilidades. Mas a busca e a perseguição como política e prática geral, vista agora, só teve um precedente no Brasil: o poder instalado pelo golpe de 1964. Não comparadas as dimensões, a sanha é a mesma. Até a covardia que leva a demitir o garçom do gabinete presidencial, José Catalão, porque considerado petista, iguala essa gente de hoje à lá de trás.
 
SENTENÇA
 
Gore Vidal, em “Washington, D.C.” (há edição brasileira da Rocco), sobre o vice: “Pode-se dizer que tem todas as características de um cachorro, menos a lealdade”. 
Redação

12 Comentários

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  1. deja vú….

    … os mesmos assassinos de 64 estão de volta, … e respaldados pelo STF, …. que ainda tem coragem de perguntar o que a Presidente Dilma quis dizer com a palavra GOLPE.

    1. Sem constituição, pra quê STF ?

      A rápida mudança do ministro Barroso sobre o financiamento empresarial de campanhas políticas, repudiando seu próprio voto escrito, teria alguma relação com a divulgada offshore de sua esposa ?

      Como no golpe de 64, a maioria dos membros do STF são também golpistas.

  2. É lamentável que um bando de

    É lamentável que um bando de corruptos, uma quadrilha de achacadores, lambedores de botas do regime militar, passe a governar o país. Pessoas que deveriam, se tivesse justiça, julgados e presos por muitos crimes. Mais uma vez o povo irá abaixar a cabeça?

    1. Tá difícil!

      A diculdade de resistir é imensa!

      A combinação de:

      1) velha imprensa, o oligpólio de comunicação, fechado nesta questão do golpe,

      2) as forças políticas do atraso, representadas por este Congresso espúrio, DEM, PSDB, PMDB e partidos nanicos que estão todos na mão do Cunha;

      3) o Judiciário, incluindo aí o STF…

      4) parte da população que se divide, eu diria em 3 segmentos;

      os alienados “coxinhas” contaminados pelo ódio irracional ao PT, a população neutra, alienada e indiferente que vive como gado e a parte consciente com formação e informação política, seja de esquerda ou simplesmente democrata de fato.

      Como lutar contra todas estas forças? Quais seriam as ferramentas?

       

  3. Primoroso

    Que ‘governo’ feio. Eu disse ha alguns dias que não pressentia nada de bom de um governo que nasce de uma traição através de um golpe. Esta sendo bem pior que do havia imaginando em minha vã filosofia.

    Um salve a José Catalão mais uma vitima da mesquinharia e pobreza intelectual de Michel Temer.

  4. o garçom fica em brasilia

    Fica evidente que esse os papeis vão se inverter em breve, o mordomo vai pra casa grande “sem iptu” e o garçom super-candidato em 2018. 

     

     

     

  5. extinção de ministérios…….

    com a extinção do MinC………………..sugiro tambem :

    a extinção do ministério da justiça………….

    afinal aqui não existe justiça.

  6. O mais lamentável de tudo

    O mais lamentável de tudo isso é a omissão do stf. A população ficou completamente órfã de instituições.

  7. eesses membros deste

    eesses membros deste governoinfame eoilegítimo continuam os mesms golpistas de anes….

    ignorants, persecutórios,arbiotrários e prepontentes…

    e desleais, não só o temer, o modomo de vampifro e 

    exterminador de garçons pólitizados,

    entre poutras aberrações das sua traidora  natureza…

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