Brasília 03/06, não percam o capítulo final do drama rodoviário, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Aqui mesmo no GGN disse que o golpe midiático contra Dilma Rousseff exigia uma estratégia teatral https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/jean-claude-carrierre-e-o-climax-do-impeachement-midiatico-de-dilma-rousseff. A esquerda patinou, patinou, patinou e caiu. A reação ao golpe foi letárgica. Na última semana finalmente a esquerda criou coragem e embarcou no “drama rodoviário” imposto ao país pelos caminhoneiros que apoiaram o golpe de 2016 e foram abandonados à própria sorte pelo usurpador.

O “drama rodoviário” evoluiu como estava previsto. Michel Temer transformou os oficiais do Exército em manobristas de caminhões, as associações de juízes publicaram notas paranoico-críticas ao movimento e os caminhoneiros tiveram uma vitória que se transformou em derrota da população brasileira. O imposto sobre o combustível será zerado, portanto, o lucro dos acionistas da Petrobras será subsidiado pelos contribuintes brasileiros. Para tapar o buraco deixado no orçamento o usurpador resolveu usar dinheiro da saúde e da educação.

Na prática o Estado brasileiro deixou de existir. Na pior das hipóteses ele se transformou num ventilador de boleia de caminhão. Na melhor virou um puxadinho da NYSE (Bolsa de Valores de New York). As críticas ao usurpador aumentaram e o “drama rodoviário” pode evoluir para uma versão atualizada da campanha O petróleo é nosso. Mas para que isso ocorra será preciso colocar no olho do furacão o principal agente de desestabilização do governo brasileiro. 

Não, não estou me referindo à Rede Globo e sim à Embaixada dos EUA. A esquerda precisa aproveitar a invasão de Brasília pelos caminhoneiros para leva-los a gritar “O petróleo é nosso” na porta da casa do Tio Sam. Além de constituir uma vitória sob as forças pró intervenção militar que existem entre os grevistas, essa ação teatral se transformaria imediatamente em notícia dentro e fora do Brasil.

No Facebook e no Twitter vi muita gente dizendo que Michel Temer criou no Brasil um cenário de Mad Max: Fury Road (2015). Discordo desta interpretação, pois o que caracteriza este filme é a existência de uma terra devastada em que a política não pode ser considerada uma alternativa.

O “drama rodoviário” que será encenado em Brasília no domingo pode ter quatro fins alternativos. Ele pode acabar como os filmes Convoy (1978), Over the Top (1987), Tango e Cash (1989) ou como Lethal Weapon 2 (1989).

No primeiro os caminhoneiros derrotam os corruptos e seguem em frente, pois o American Dream não pode ter fim. No segundo o caminhoneiro ganha o prêmio e fica com seu caminhão novo em folha, porque o sucesso é uma garantia decorrente do esforço individual. No terceiro a injustiça é desfeita com ajuda de uma bela perseguição de caminhões e máquinas de terraplanagem, mas nenhuma transformação social ocorre. No último, porém, um símbolo de poder (a belíssima casa do vilão) é demolido com ajuda de uma caminhonete.  Pessoalmente prefiro ver os caminhões destruindo a casa neoliberal construída pela Embaixada dos EUA entre o Pré Sal e os brasileiros. E vocês?

 
Fábio de Oliveira Ribeiro

6 Comentários

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  1. O grupo do What’sapp

    De onde se esperava, não saiu mesmo.

    Fiquei por um bom tempo analisando cautelosamente o andamento da paralisação dos caminhoneiros. Poderia ser uma cilada.

    Vi de tudo.

    Na grande mídia a condenação de pronto.

    Bem, nesse caso, se eles são contra eu sou  a favor.

    Nas mídias alternativas, grupos de caminhoneiros sendo cooptados por ruralistas da UDR no RGS, defendendo intervenção militar. Pontos contra. Aproveitadores usando a mão do gato. Bando de safados.

    Mas na maioria dos pontos de paralisações dos caminhoneiros, a luta se resumia única e exclusivamente para os seus interesses mais do que justos. Estavam e ainda estão pagando para trabalhar, por isso a invasão à Brasilia no próximo domingo.

    Agora, neste momento Pedro Parente caiu, pedindo demissão. Pontos para o movimento.

    Conversei com alguns caminhoneiros e fiquei perplexo, admirado pelo grau de comunicação deles via grupos no What’sapp.

    O governo ficou atabalhoado porque não tinha uma única liderança comandando o movimento.

    Que isso sirva de exemplo para as esquerdas.

    O movimento foi deflagrado e se espalhou como rastilho de pólvora.

    Pegou o governo, as elites e a classe média de surpresa e eles selecionavam o que lhes interessavam: difundindo os maus exemplos de grupelhos que aparelharam grupos de caminhoneiros à favor da intervenção militar.

    A essas alturas, com o bater de cabeças do governo, vi no movimento oportunidade única de derrubar esse governo corrupto e ilegítmo.

    As esquerdas ficaram de fora, apenas alguns parlametares do campo progressista se arriscaram a defender o movimento, botando a cara à tapa.

    Mas os candidatos à presidência do espectro centro esquerda e esquerda ficaram na moita só esperando o desenrolar do movimento, temendo (opinião minha) a queda do presidente ladrão e não saber o que poderia acontecer com a posse do Rodrigo Maia. Pontos contra, pois o governo tinha ido à lona.

    O que mais me espantou foi declarações de caminhoneiros convocando a população a aderir ao movimento dizendo simplesmente que o desabastecimento de combustíveis nas cidades era motivo suficiente para a população parar também, não indo trabalhar, pois tinham justificativas mais do que justas.

    Mas não foi isso o que aconteceu.

    Vi filas e filas de automóveis parados em postos de gasolina esperando por horas, só porque alguém informou que em determinado posto iria chegar combustíveis.

    Eu vi. Quem eram eles.

    Classe média sem vergonha. Aquela que gosta de levar vantagem em tudo. E os cominhoneiros se ferrando nas estradas.

    Os esquerdistas ou progressistas de escritórios, de gabinetes ou de suas casas devem muito a esses brasileiros heróicos, pois estes sim, estão sofrendo com essa política de desmonte da Petrobras.

    Vi poucos, muito poucos caminhoneiros fazerem discusrsos políticos com conhecimento de causa.

    Ai eu faço a seguinte pergunta:

    Onde estavam os defensores da Petrobras estatizada?

    Nos seus gabinetes, escritórios ou em casa?

    Por que não foram nos diversos pontos de concentrações de caminhoneiros parados, e lá, dar apoio pessoal e instruí-los, informá-los que só a redução do preço do diesel não resolveria o problema?

    Me parece que ainda dá tempo, mas a classe média está preocupada em estocar alimentos.

    1. Existe uma certa ironia no

      Existe uma certa ironia no seu comentário. Explico: se podemos cobrar da “esquerda caviar” que faça a sua parte e apoie a greve, podemos também cobrar dos caminhoneiros sua falta de conhecimento político e seu apoio ao golpe de 2016.

      Essa greve me deu a certeza do seguinte: o Brasil está mergulhando no caos social sem volta. O movimento dos caminhoneiros teve vários interesses atuando ao fundo, mas foi basicamente uma medida desesperada de uma classe de trabalhadores.

      Esse movimento evidenciou a falta de QUALQUER liderança política no Brasil, o que significa que não existe mais uma saída democrática para essa zona. Não existe um líder de direita ou esquerda que consiga unificar essa baderna. Nem presidencialismo, nem ditadura, nem monarquia, nem comunismo… E isso ocorre porque nossa população não tem o menor  conhecimento sobre política e nenhum preparo para viver como uma sociedade moderna. Nossa maior tragédia é a nação!

      O Brasil virou terra de ninguém. Quem gritar mais alto pega pra si.

    2. Caminhoneiros

      Esse é um dos caminhoneiros a quem me referi.

      Há que ser mais letrados do que eles para sairmos da zona de conforto?

  2. Demorô!
    Já estava triste,

    Demorô!

    Já estava triste, pois faz muito tempo que cito a embaixada gringa e suas empresas como fonte da instabilidade golpista no Brasil, mas raros dão uma curtida. Viralatismo , mesmo! 

    Pela primeira vez leio texto explícito dizendo que devemos ir para frente da embaixada dos istadusunidus.  

    Obrigado!

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