Bresser-Pereira: a voz moralista da direita

Da Folha

O ataque moralista da direita
 
Durante o governo Dilma, a direita recuperou a voz, mas vazia, de condenação de todos os políticos
 
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
 
Nestes últimos meses vimos a direita recuperar o dom da palavra. Em 2002 ela se apavorara com a perspectiva da eleição de um presidente socialista. O medo foi tanto e contaminou de tal forma os mercados financeiros internacionais que levou o governo FHC a uma segunda crise de balanço de pagamentos.
 
O novo presidente, entretanto, logo afastou os medos dos ricos que então perceberam que não seriam expropriados. Pelo contrário, viram um governo procurando fazer um pacto político com os empresários industriais e que não hostilizava a coalizão política de grandes e médios rentistas e dos financistas.
 
Por outro lado, o novo governo de esquerda pareceu haver logrado retomar o crescimento econômico, ao mesmo tempo que adotava uma politica firme de distribuição de renda. Na verdade, beneficiava-se de um grande aumento nos preços das commodities exportadas pelo país, e da possibilidade (que aproveitou de forma equivocada) de apreciar a moeda nacional que se depreciara na crise de 2002.

 
Lula terminou seu governo com aprovação popular recorde, e com a direita brasileira sem discurso. Deixou, porém, para sua sucessora, a presidente Dilma, uma taxa de câmbio incrivelmente sobreapreciada, que, depois de haver roubado das empresas brasileiras o mercado externo, agora (desde 2011) negava-lhes acesso ao próprio mercado interno.
 
Sem surpresa, os resultados econômicos dos dois primeiros anos de governo foram decepcionantes. E, no seu segundo ano, foram combinados com o julgamento do mensalão pelo STF, transformado em grande evento político e midiático.
 
Com isto o governo se enfraqueceu, e a direita brasileira recuperou a voz. Mas uma voz vazia, liberal e moralista. Liberal porque pretende que a solução dos problemas é liberalizar os mercados ainda mais, não obstante os maus resultados que geraram. Moralista porque adotou um discurso de condenação moral de todos os políticos, tratando-os de forma desrespeitosa, ao mesmo tempo que continuava a apoiar em voz baixa os partidos de direita.
 
Quando, devido às manifestações de junho, os índices de aprovação da presidente caíram, a direita comemorou. Não percebeu que caíam também os índices de aprovação de todos os governadores. Nem se deu conta de que a presidente logo recuperaria parte do apoio perdido.
 
Quando o STF afinal garantiu a doze dos condenados do mensalão um novo julgamento de alguns pontos, essa direita novamente se indignou. Agora era a justiça que também era corrupta.
 
Quando o deputado José Genoino (condenado nesse processo porque era presidente do PT quando as irregularidades aconteceram) manifestou o quanto vinha sofrendo com tudo isso –ele que, de fato, sempre dedicou a sua vida ao país, e hoje é um homem pobre–, essa direita limitou-se a gritar que o Brasil era o reino da impunidade, em vez de perceber que o castigo que Genoino já teve foi provavelmente maior do que sua culpa.
 
Os países democráticos precisam de uma direita conservadora e de uma esquerda progressista. Mas cada uma deve ter um discurso que faça sentido, em vez do mero moralismo que a direita vem exibindo.

 

Redação

11 Comentários

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  1. O discurso da direita vai ser sempre sem sentido

    Não consigo imaginar a elaboração de um discurso – de direita, esquerda, progressista, conservador ou o nome que se queira dar – desvinculado da personalidade e da história do agente ou grupo político formulador dessas idéias.

    Não consigo imaginar, por exemplo, Fernando Henrique acordando pela manhã e convocando o partido para a formulação de “novas idéias”, “novo discurso” com vistas às próximas eleições.

    Isso é possível? Do meu ponto de vista não. Podem passar messes arquitetando estratégias, elaborando frases de efeito, contratando o melhor marqueteiro, mas o conservadorismo, o atraso vai está impregnado nesse chamado “novo discurso”.

    Penso que seria improvável que a direita formule um discurso que faça sentido. Porque é da essência do conservadorismo o destrambelhamento das idéias e propostas.

    1. Não conheço destrambelhamento

      Não conheço destrambelhamento maior que Dilma falando em Dilmês, com aquele “raciocínio” peculiar, ou a linguagem etérea da Marina, ou mesmo algumas digressões da “metamorfose ambulanto”….

  2. Mas é extrema-direita e não direita

    A palavra “direita” é muito civilizada para falar dos marinho’s, frias e civita’s e seus aspones, asseclas e empregados diversos, inclusive os do tal psdb. 

  3. Isto depois daquele artigo em

    Isto depois daquele artigo em que até Fernando Henrique vai à publico pedir a punição dos condenados do mensalão, parece  brincadeira. Um morde e o outro da um assopra. Em que pese minhas desconfianças, Bresser-Pereira não perdeu o rumo.

    A Direita para fazer face à seu opositor, precisa existir no imaginario politico com um discurso que leve confiança e não essas cacofonias sem fim, que desde o fim do PSDB no poder, permeiam o meio politico brasileiro. Ora são a favor da liberalização da maconha, em seguida contra tudo que possibilite mudanças nos direitos civis e sociais. 

    Mas vão precisar de muito tempo para conseguir ter um discurso que faça sentido, pois até aqui, o unico sentido que dão ao fazer politica é o de poder e poder econômico, por isso, o discurso de todos os caciques do PSDB é imensamento vazio. Ocos.

     

  4. A seguir a lógica

    A seguir a lógica bressiniana, é obrigatório que a passagem pelo poder  tranforma politicos em homens prósperos.

    Sem distinção entre direita ou esquerda.

  5. Porta-vóz da direita.

    Entendo a confissão da incapacidade de diálogo da direita, feito pelo Bresser, como uma vã tentativa, desta direita macomunada com o PIG, de admitir que estão tentando mudar o discurso, porem inutilmente.

    O Bresser, que sempre teve uma vóa meia que discordante do extremismo de seus pares, foi o escolhido, para ser o porta-vóz desta direita que sempre utilizou-se dos maus momentos vividos pela situação, para tentar desconstruir, o legado do Lula, e a continuidade dos programas sociais dele, que tendo certos tropêços, jamais deixou de admitir mudanças, e de adaptar-se ao momento reinvindicatório da sociedade civil.

    Oscilações na aprovação da governança, faz parte do negócio, e mesmo que a esta queda tenha sido absorvida e prestígio, rapidamente recuperado,  e nem que isso não tivesse ocorrido, a governabilidade teria mudado de rumo. Ela apenas passou a ouvir a vóz das ruas, enquanto a direita continua com o velho e surrado discurso, e torcida, para o quanto pior, melhor.

    Num partido que tem um FHC, defendendo a punição de pessoas inocentes, e um Bresser admitindo que tá havendo reacionarismo demais, o “morde, depois assopra” não convence a ninguem. 

    1. “… defendendo a punição de

      “… defendendo a punição de pessoas inocentes”

      INOCENTES? Devagar com o andor…. inocentado pelo militante só se for, porque Ministério Público, Procuradoria e o pleno do STF condenaram a todos, NENHUM foi inocentado!

  6. Ele percebeu que ficou sem

    Ele percebeu que ficou sem espaço no meio do moralismo.

    Do que interessa a opinião do Bresser se o oponente é chamado de ladrão?

    Era para um pol´tico de direita dizer isso mas não há ninguém…

  7. O cinismo de FHC, o ético príncipe da privataria

    Viomundo

     

    Altamiro Borges: O cinismo de FHC, o ético príncipe da privataria

     

    publicado em 7 de outubro de 2013 às 3:09

     

    FHC e a ética do príncipe da pirataria

    por Altamiro Borges, em seu blog

    O ex-presidente FHC deve ter ficado meio desnorteado com a aliança pragmática entre Eduardo Campos e Marina Silva, que pode afundar de vez a cambaleante candidatura de Aécio Neves e debilitar ainda mais o seu decadente PSDB. Num dos seus artigos mais rancorosos, publicado neste domingo (6) no Estadão e intitulado “A responsabilidade do STF”, ele destila veneno e pede a imediata prisão dos chamados “mensaleiros do PT”. O “Príncipe da Privataria”, segundo o bombástico livro recém-lançado do jornalista Palmério Dória, posa de ético e carrasco. Patético!

    Na maior caradura, ele diz que “não me movem impulsos punitivos e muito menos vingativos”, mas não perdoa a recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de conceder o direito aos embargos infringentes aos réus do processo. Falando em nome da sociedade, logo ele que foi rejeitado nas três últimas eleições presidenciais e até descartado por seus correligionários tucanos, FHC garante que “é óbvio que existe nas ruas um sentimento de dúvida, quando não de revolta, com os resultados ainda incertos do julgamento”. Para ele, o povo exige justiça!

    “Mesmo sem conhecimento jurídico, a maioria das pessoas formou um juízo condenatório… A opinião pública passou a clamar por castigo. A decisão de postergar ainda mais a conclusão do processo, graças à aceitação dos ‘embargos infringentes’, caiu como ducha de água fria. Por mais que o voto do ministro Celso de Mello tenha sido juridicamente bem fundamentado, ressaltando que o fim dos embargos infringentes no STF foi recusado pela Câmara dos Deputados quando do exame do projeto de lei que suprimiu esses embargos nos demais tribunais, ficou cristalizada na opinião pública a percepção de que se abriu uma chance para diminuir as penas impostas”.

    Para o “ético” FHC, caso este abrandamento ocorra “estará consagrada a percepção de que ‘os de cima’ são imunes e só os ‘de baixo’ vão para a cadeia”. Neste sentido, o ex-presidente exige pressa nas condenações. “Pessoalmente, não me apraz ver pessoas na cadeia. Mas isso vale para todos, não só para os políticos ou para os do ‘andar de cima’. E há casos em que só o exemplo protege a sociedade da repetição do crime. A última decisão do tribunal agrava a atmosfera de descrédito e desânimo com as instituições”.

    No passado recente, o “príncipe da Sorbonne” já pediu para esquecer o que escreveu. É bom guardar o artigo de FHC publicado hoje no Estadão. Se, de fato, houver Justiça no Brasil, um dia ainda será julgado o escândalo do “mensalão tucano” – que a mídia chama de mensalão mineiro. Com base na farta documentação apresentado no livro “A privataria tucana”, do premiado jornalista Amaury Ribeiro Jr., também será apurado como se deu o criminoso processo de privatização no reinado do ex-presidente. E outro livro indispensável, “O príncipe da privataria”, de Palmério Dória, servirá de base para as investigações sobre a compra de votos para a reeleição do “ético” FHC. Haja cinismo!

     

    1. Não nos esqueçamos também da

      Não nos esqueçamos também da compra de votos para a emenda da reeleição que ocorreu no governo desse sujeito. É uma vergonha ter tido um presidente desses em nosso país.

  8. Bresser

    Será que é sincero ? Será que não é combinado ? Para quem viu  e sentiu toda a fúria neoliberal de desconstrução do Estado, tentada pelos demos-tucanos na época em que o sr, bresser pereira era ministro  do governo do governo fhc não é fácil acreditar num “mea culpa” pouco sincero como este.

    É claro que nada do que o (ex ?) tucano está dizendo é novidade, mas descobriu isso agora ? O que andou fazendo durante os últimos onze anos ?

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