As declarações polêmicas de Cármen Lúcia no passado

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Em entrevista ao GGN antes de ser presidente do Supremo Tribunal Federal, a ministra já mostrava falta de cuidado com manifestações pessoais à imprensa
 
Ministra Cármen Lúcia em palestra ao lado de jornalista da Veja
 
Jornal GGN – Apesar de espaço nas manchetes e capas de jornais surgirem somente agora, quando ocupa a Presidência do do Supremo Tribunal Federal (STF), os deslizes manifestados pela ministra Cármen Lúcia não são novidades ou frutos do protagonismo que absorve na cadeira da última instância. Isso porque no passado, quando questionada, já mostrava falta de cuidado com manifestações pessoais, não condizentes com a postura que o posto impõe.
 
Como de costume e da mesma forma que neste ano, a ministra participou de um evento organizado pela Associação Nacional de Editores de Revista (ANER) em 2014. Na ocasião, além de contestar a perguntas gerais feitas pelos jornalistas, também respondeu, ao final, a questionamentos do Jornal GGN.
 
De manifestações contrárias ao “politicamente correto”, a gafes pessoais e outros posicionamentos além da linha que competia à representante do Supremo ali presente, Cármen Lúcia revelava que a espontaneidade de suas respostas, sem cautelas ou maiores cuidados, hoje destacada pela imprensa, já era característica pessoal. 
 
Contra o politicamente correto
 
Se no encontro da ANER deste ano, ela abordou que o “politicamente correto” contraria as “liberdades em geral” e significaria “censuras estabelecidas”, há dois anos, Cármen foi mais direta: “Na década passada introduziram essa coisa, que eu tenho pavor, que se chama ‘politicamente correto’. Com todo respeito pelos que acham que é bom, eu acho que essa ideia de pensamento único é não ser livre.”
 
“Todo mundo não é igual. A intolerância tem gerado uma frustração, essa frustração gera a ira, a ira se transforma em fúria e está indo para a praça pública”, raciocinou, completando: “Na minha juventude, nós estávamos aceitando tudo, desde que fosse a favor da liberdade, é proibido proibir, e a gente queria um Brasil livre. Eu continuo querendo o Brasil livre, até porque eu não consigo viver sem isso.”
 
Heranças da ditadura
 
Se hoje, a ministra dá conta de que pretende redefinir a Segurança Pública, convocando as Forças Armadas, Ministérios da Justiça e da Defesa, apesar de relembrar que se formou em Direito em plena ditadura do regime militar, em 1977, chegando a escolher pelo Direito Constitucional cinco anos depois, como ela mesmo descreveu, “a especialidade mais complicada para o período”, Cármen Lúcia guarda resquícios do conservadorismo da época.
 
Isso porque durante aquele workshop de 2014, defendeu em diversos momentos o que ela aprendeu de Educação Moral e Cívica, disciplina sustentada pelos ditadores para estabelecer valores na sociedade adequados ao ideal de segurança nacional.
 
Mas, contraditoriamente para ela, a “censura” do “politicamente correto” nos meios de comunicação e imprensa e a falta de liberdade no Brasil neste sentido e também em votações e direitos dos cidadãos ocorre por “falta de educação cívica”. “Como é que nós chegamos a isso? Falta educação cívica. Nós brigamos para poder escolher os representantes do diretório acadêmico, não podia, tinha o decreto 477 que proibia”.
 
“Os meus alunos reclamam que na campanha para os candidatos do diretório os colegas não querem votar. Gente, eu voto até para síndico do condomínio. Eu saio de Brasília e vou a BH, e xingo, olho as contas, e falo, e reclamo. Porque foi muito difícil chegar a isso aqui”, completou, em certa contradição.
 
Gafes
 
Em clara demonstração de não medir os limites de suas declarações, Carmen Lúcia relatou naquele workshop um episódio de autoritarismo, em tom de piada:
 
“Outro dia eu falei com um juiz do trabalho, que disse: ministra, mas a senhora não acha… Primeiro, eu não acho, eu voto, eu decido. Ele disse: eu estava falando para florear, para a senhora não ficar de mandona. Não, meu filho, eu obedeci a Madre Superior, minha mãe, meu pai, namorado, professor, agora eu mando. Adoro mandar. Eu mandei, cumpra.”
 
E continuou: “Mulheres, depois que passa dos 50, a gente gosta mesmo é do sim senhora, não é do eu te amo. Se tiver o eu te amo junto, aí isso é um Deus. Sim senhora e eu te amo, aí é realização total”.
 
Seleção ao STF
 
Ao comentar ao GGN sobre o atual processo de escolha de ministros para o Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia afirmou que não consegue “pensar num modelo melhor do que o que se tem no Brasil”.
 
Para ela, é positivo todo o processo que ocorre atualmente: “o Senado sabatina, indicou, cortou o cordão umbilical. Não, por acaso, quando você chega ao Supremo, eles mandam escolher qual é o nome que você vai adotar. Aqui, você não é Carminha, Carmen Rocha. Vai ter um nome que o jurisdicional vai conhecer”, comentou.
 
Criticado por organizações e entidades por não possibilitar a participação da sociedade, a atual seleção também mantém o status de que os próprios indicados pelo presidente da República não podem ser “desconhecidos”, devendo carregar certa popularidade. “Para se ter uma ideia da seriedade que se leva a isso, não significa que seja o que o povo quer, nem sequer o que a comunidade jurídica acharia melhor”, defendeu.
 
Independentemente da forma como é feita e partido da indicação do presidente da República, Cármen Lúcia defendeu a isenção dos juízes, fazendo um paralelo polêmico: “eu tenho que deixar meu fígado no congelador lá de casa, antes de ir para o tribunal. E eu não posso ter de prestar contas a um ou outro eleitor, pela singela circunstância de que o dia em que o juiz prestar contas a alguém, a injustiça é certa”.
 
E apelando para relatos pessoais: “Estou brigando a minha vida inteira, exercendo um cargo público muito difícil, porque só – ainda mais com o meu temperamento – quem está lá é que sabe a dificuldade, o sofrimento que é, noites e noites sem dormir, ‘será que eu fiz certo mesmo, era isso?’”.
 
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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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  1. No comentario que fez pela

    No comentario que fez pela manha,Nassif nos trouxe constatacoes,fatos,provas sobre a conduta dessa Ministra Carmen Lucia,uma completa sem nocao.Costumo enxergar em situacoes como essa aquilo que costumo chamar de muito alem do jardim.Aos fatos.Li por diversas vezes,em diversos locais,que o sonho da hoje Ministra, quando jovem,era ser Freira.Nada de mais nem de menos ate ai.Adiante.O que levou a Ministra a escolher como opcao maior se tornar Feira.Tinha em mente ao optar por esse caminho ,de se enclausurar nessas verdadeiras masmorras medievais sob os ditames da Opus Dei,que sao esses Conventos patrocinados pela Igreja Catolica mundo afora.Os propositos nao sao nada edificantes,na maioria dessas escolhas.A historia e as telas de cinemas nos brindam a exaustao o que acontece ou o que aconteceu por tras das muralhas sombrias desses Conventos.Ao optar pelo sonho de se tornar Freira,alguma coisa de errado ja estava enraizada na cabeca da futura Ministra.Magoa,ressentimento,frustracao com a vida a luz da realidade,e principalmente no que diz respeito a sexualidade.Sao poucos os casos que os “habitos”encaminham para uma Madre Tereza de Calcuta ou uma Irma Dulce da Bahia.No quesito da sexualidade,na grande maioria,sao frutos de decepcoes amorosas,ou indefinicao da opcao sexual.Nesse caso especifico,gera uma personalidade irascivel,agressiva,histerica,irada,e sem posicao defenida sobre cousa alguma.Vivem ao sabor das ondas,e dos ventos.Em alguns casos,sao usados para esconder uma personalidade  doentia,em verdade a servico do mal.Sao complexadas,autoritarias,por mais paradoxal que possa parecer,sao intolerantes.O assunto que abordo,na verdade e delicadissimo,um tabu.Longe,muito longe de mim,o proposito de ridicularizar,difamar ou desqualificar a Ministra ou quem quer que seja.Abordagem que me permito fazer,tem carater unica e somente de natureza psicossomatica,e assim deve ser entendido e interpretado.Nada,absolutamente nada alem disso. 

    1. Faço uma constatação

      Faço uma constatação curiosa.Os meus comentarios tem uma peculiaridade curiosa.Ou tem 5 estrelas,ou não tem nemhuma,levando-me a crer,que em alguns entendem tudo,noutros não entendem patavinas.Um horror.

  2. ” “Na minha juventude, nós
    ” “Na minha juventude, nós estávamos aceitando tudo, desde que fosse a favor da liberdade, é proibido proibir, e a gente queria um Brasil livre. Eu continuo querendo o Brasil livre, até porque eu não consigo viver sem isso.””

    Desgraça.

    Então porque esta anta quer colocar o exército na segurança pública?

    Tem jeito de burra, cara de burra, falas de burra, então; só pode ser uma burra.
    Ainda vamos ver muita merda nos próximos dois anos.
    Indicação da Dilma.
    Depois não sabe porque foi derrubada.

    1. “Tem jeito de burra, cara de
      “Tem jeito de burra, cara de burra, falas de burra, então; só pode ser uma burra”:

      Vao prohibir Modess no judiciario inteiro cedo cedo…

      Ninguem gosta de juiz tapado. Pra isso, bastava o gilmar mentes e seu Modess supersaturado.

  3. “”eu tenho que deixar meu
    “”eu tenho que deixar meu fígado no congelador lá de casa, antes de ir para o tribunal. E eu não posso ter de prestar contas a um ou outro eleitor, pela singela circunstância de que o dia em que o juiz prestar contas a alguém, a injustiça é certa”.”

    Com certeza. Então parem de prestar contas à globo.

  4. “Eu tenho a força”
    Não há mais qualquer sombra de dúvida.
    O brasileiro, mesmo o mais letrado, acredita mesmo em heróis hollywoodianos e salvadores da pátria. Uma contradição lamentável em relação à importância e significado das instituições do Estado.

  5. “Cruela de Vil” que adora aparecer no JN.
    A “Cruela de Vil” do STF não pode ver uma luz acesa que acha que é câmera e já vai falando. Depois do Torquemada e do Tropeço (o menor pior), agora temos a “Cruela de Vil que ama o JN”. Que fase deste país!

  6. suprema corte sim…
    mas que nunca deixou de sofrer seus bloqueios……………..
    grandes, fortes, mas ainda acorrentados ao passado, como acontece com elefantes………………
    se crescem acorrentados, registram a corrente e não o fato de estarem acorrentados.
    Já adultos, grandes e fortes, pode fixar esta corrente em um graveto fincado no chão que eles não sairão do lugar

    1. deveras preocupante…
      alguém soube muito bem como acorrentar o nosso país e precisamos urgentemente descobrir quem, quando, por onde e como conseguiu com tanta facilidade

  7. Parece que Gilmar Mendes
    Parece que Gilmar Mendes conseguiu uma rival para dividir os holofotes.

    Francamente, esses 2 arruinariam até a milenar democracia escandinava… pobre Brasil!

  8. Será que ela também se incomoda com os juízes larápios?
    Para o povo não tem coisa mais horripilante que juízes criminosos, cuja punição maior é ser afastado com vencimentos integrais. O juiz Lalau fez escola, foi condenado em 2006 por desvios de 170 milhões no TRT , mas continuou recebendo vencimentos integrais por mais sete anos, vejam a lista, e os motivos.

    http://metalrevista.com.br/2016/02/17/veja-quem-sao-os-juizes-corruptos-condenados-com-aposentadoria/

    1. Ela também não se incomoda
      Ela parece que não ficou muito incomodada com a juiza que colocou uma menina na cela de homens. E neste episódio ela nem se sentiu ofendida como mulher.

  9. O quadro clínico do
    O quadro clínico do judiciário indica que se a juiza Carmen Lúcia for tomada como exemplo pelos demais juízes, a coisa melhora.

    1. A Carmen, da ópera de Bizet
      A Carmen, da ópera de Bizet (e, antes, da novela de Merimée), é uma personagem trágica. Essa em pauta é lamentável.

  10. Disse a Ministra que onde um
    Disse a Ministra que onde um juiz for destratado ela tb é. Pois é, Ministra, imagina o que nós, eleitores temos a dizer com relação aos maus tratos sofridos por nossos representantes pelo poder Judiciário. Qtas vezes a senhora mesmo OFENDEU nossos representantes qdo deveria, apenas fazer o que recebe muito bem para fazer, ou seja julgar, de acordo com os autos? Quem a senhora e sua turma da Corte imaginavam estar ofendendo, o Dirceu? O Genoíno? o Lula? Ah, fala sério… Pessoal dá um golpe, detona um país inteiro e ainda se acha em condições de dar lição de moral e exigir respeito. Ministra, onde 54 milhões de cidadãos são destratados não existe judiciário. Respeite, a senhora, o contribuinte que paga o seu super salário reajustado após um golpe que jogará o país na miséria.

    1. Falou tudo…
      Só para complementar: a ministra presta contas sim, presta contas para a imprensa golpista. Sabendo que pode vir a ser a próxima vítima, Cármen Lúcia trata de se precaver com sabujices.

    2. A serviço da conservação.
      O judiciário brasileiro sempre foi instrumento de garantia do status quo do formato de sociedade Casa Grande e Senzala. O tal do cidadão jurisdicional de que eles tanto falam sempre foi o último a interessar e o primeiro a ser mandado para a cadeia. Para começar o tal do cidadão comum nem tem nem nunca teve meios de recorrer ao serviço que seria prestado pelo judiciário porque eles inventaram uma “cláusula de barreira” chamada Poder Postulatório que obriga o cidadão a contratar um advogado que o represente. Apenas com essa ferramenta 99% da população já não tem mais condição de buscar na justiça a reparação para qualquer direito lesado. O 1% que sobra, entra na fila e aguarda décadas para ter uma decisão que, quem sabe, proporcionaria reparação para seus herdeiros. Aprenderam que, para subir ainda mais na escala social, deveriam priorizar e selecionar processos pela capa e não pelo conteúdo, conforme observou o Ministro Marco Aurelio. Depois de devidamente selecionados pelas capas, os processos são estocados para serem usados como arma de pressão político partidária. Para coroar e sublimar esse processo de alijamento do interesse público na sua atuação, o judiciário finalmente associou-se às quadrilhas formadas por empresários corruptos controladores de empresas de comunicação. A partir daí, além de serem improdutivos e inúteis para a maioria da população que lhes paga, passaram da inutilidade para atuação deletéria invadindo as atribuições dos poderes eleitos e finalmente anulando a decisão da maioria dos eleitores em favor dos interesses da Casa Grande.

      1. Análise perfeita!
        Assumiram sempre o papel de capitães do mato, zelando pela segurança da casa grande e mantendo a senzala submissa e humilhada!
        Todo o nosso sistema penal foi criado deixando-se brechas para a famosa “interpretação do juiz” nas sentenças, para que fosse facultado ao magistrado o favorecimento dos mais favorecidos!
        Para pagar os favores, criou-se uma série de privilégios para o judiciário, que só se compara à de uma nobreza absolutista. O judiciário brasileiro tornou-se uma monarquia muito bem remunerada pela República!

      2. E aí, sabe o que o advogado contratado faz com os humildes?
        Os trabalhadores rurais que contratam advogados para entrar com ação na justiça (federal) a fim de se aposentar estão sendo expropriados pelos advogados. A expropriação dos pobres trabalhadores rurais acontece da seguinte forma:
        O trabalhador vai a um escritório de advocacia e um advogado entra com a ação, faz o contrato de honorários com o trabalhador e, substabelece os poderes a outro advogado para acompanhar o trabalhador na audiência. O advogado substabelecente e advogado substabelecido cobram, cada um deles, 30% do trabalhador.
        Todos sabem disso e ninguém toma qualquer providência.
        Cadê a Carmem Lúcia, paladina dos Oprimidos?
        Tá lá, suprema, defendendo a cláusula de barreira.

    3. Desculpe
      Cristiana, acho que na linguagem da Carmem Lúcia o correto é chamá-la de Ministro e não de Ministra, assim como de Juiz e não de Juíza, já que ela é presidente e não presidenta, como fez questão de frisar. Ou não?

  11. Mas que mulherzinha burra…
    Mas que mulherzinha burra… não tem a menor coerência. Está deslumbrada com os holofotes repentinos. Se estávamos em maus lençóis com o escárnio chamado “Gilmar Mendes”, agora estamos perdidos com a ministra “premiada”da globo. Triste de um país onde o presidente da república e do supremo agem com o jornal “o globo” debaixo do braço

  12. Tirana
    Carmem Lúcia tem o perfil de tirana, de malvada de Walt Disney ou da Perpétua da novela Tieta.
    Carmem Lúcia deve ser a campeã do “sabe com quem está falando?”. Com a sua toga equivale a homem senil acima de uma moto Harley Davidson. É apenas uma impressão, rs, rs, rs, mas sei o que posso esperar de uma pessoa com esse perfil: sair de perto dela

  13. Demóstenes Torres liberado pelo STF
    http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=328082

    Terça-feira, 25 de outubro de 2016
    2ª Turma invalida interceptações ilegais em ação penal contra Demóstenes Torres
    Em decisão unânime, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal acolheu parcialmente nesta terça-feira (25) o Recurso Ordinário em Habeas Corpus (RHC) 135683, impetrado pela defesa do ex-senador Demóstenes Torres, e invalidou as interceptações telefônicas, realizadas no âmbito das operações Vegas e Monte Carlo, que serviram de base à denúncia contra ele em ação penal que corre no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO). O entendimento foi o de que Torres, à época senador da República, detinha foro por prerrogativa de função, e a manutenção das interceptações exigiria autorização do STF. Tanto as interceptações quanto as demais provas delas derivadas deverão ser retiradas do processo pelo TJ-GO, a quem compete verificar se remanesce motivo para o prosseguimento da ação com base em provas autônomas que possam sustentar a acusação.
    O caso
    As operações Vegas e Monte Carlo foram deflagradas pela Polícia Federal em 2008 e 2009, tendo como objeto a exploração ilegal de jogos e como principal investigado Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira. As interceptações telefônicas, autorizadas pelo juízo de primeira instância, revelaram as relações de Cachoeira com diversos políticos, entre eles Demóstenes Torres, que, em 2012, foi indiciado no Inquérito 3430 no STF.
    Com a cassação de seu mandato, naquele mesmo ano, o processo foi remetido à Justiça goiana. O TJ-GO, foro competente para julgar o caso em razão de Demóstenes Torres ser membro do Ministério Público de Goiás, recebeu a denúncia na qual se imputa ao ex-senador a prática dos crimes de corrupção passiva e advocacia administrativa (artigos 317 e 321 do Código Penal), e ele passou a responder à ação penal.
    Desde o início das investigações, a defesa alega nulidade das interceptações, afirmando que houve usurpação da competência do Supremo. O argumento era o de que as interceptações telefônicas foram feitas sem a autorização do STF, foro competente para processar e julgar o então parlamentar. As tentativas de trancar a ação penal, porém, foram sucessivamente rejeitadas pelo TJ-GO e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
    RHC
    O RHC 135683 foi interposto contra decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que julgou válidas as provas obtidas por meio da interceptação. Os defensores sustentavam que Demóstenes Torres “foi alvo de uma articulada e estratégica teia investigativa ilegalmente promovida” pela Polícia Federal, Ministério Público Federal e juízo federal de primeiro grau, “com anuência e supervisão extraoficial do procurador-geral da República à época”. Alegavam que a investigação se dirigiu a ele a partir de uma descoberta fortuita, mas, em seguida, “prosseguiu por meses a fio” a fim de juntar provas que vieram a integrar a denúncia.
    Relator
    O relator do recurso, ministro Dias Toffoli, leu diversos trechos das degravações das ligações interceptadas para demonstrar que, desde o início das investigações, em 2008, já havia indícios do possível envolvimento de políticos de expressão nacional – inclusive com a produção de relatórios à parte relativos a essas autoridades, com foro por prerrogativa de função – e que o Ministério Público tinha ciência desses fatos. Em alguns trechos, os relatórios sinalizam que a remessa do caso “atrapalharia as investigações”. Apesar desses indícios, somente em junho de 2009 é que a autoridade policial alertou sobre a competência processual do caso, resultando na remessa dos autos ao Supremo.
    “Embora Demóstenes Torres não tenha sido o alvo direto das investigações, o surgimento de indícios de seu envolvimento tornava impositiva a remessa do caso para o STF”, afirmou o ministro. Para Toffoli, o prosseguimento das interceptações configurou “um modus operandi controlado, cujo intuito seria o de obter, por via oblíqua, mais indícios de envolvimento do então senador, sem autorização do STF”.
    Usurpação
    Os ministros que integram a Segunda Turma foram unânimes em ressaltar a gravidade do caso. Para o ministro Teori Zavascki, trata-se de um caso clássico de usurpação de competência. “É lamentável que esses episódios ocorram, e não é a primeira vez”, afirmou. “Se temos constitucionalmente uma distribuição de competência, é preciso que isso seja realmente levado a sério”. Para Teori, este RHC é um exemplo que tem de ser levado em consideração. “Apesar das evidências robustas, as provas são ilícitas”, concluiu.
    O ministro Ricardo Lewandowski, relator do inquérito contra Torres remetido ao TJ-GO, ressaltou que havia mais de mil páginas referentes às interceptações realizadas sem autorização do STF. “É uma situação intolerável, sob pena de desmoronarem as instituições”, avaliou. A invalidação das provas, a seu ver, sinaliza que o Supremo “não tolerará qualquer tipo de usurpação de sua competência”.
    Para o ministro Celso de Mello, o caso revela um “quadro censurável de gravíssimas anomalias de índole jurídica”. Segundo o decano do STF, o caso é de patente desrespeito à ordem constitucional, e a decisão deve servir de referência aos agentes estatais. “Diante do possível cometimento, por um senador da República, de uma suposta prática delituosa, caberia à autoridade judiciária de primeira instância, sob cuja supervisão tramitava o procedimento de investigação, imediatamente, reconhecer sua falta de competência e determinar o encaminhamento dos autos ao STF”, destacou.
    O presidente da Segunda Turma, ministro Gilmar Mendes, ressaltou que se trata de “um bom caso de abuso de autoridade”, no qual, conscientemente e por tempo indeterminado, se deixou que a investigação prosseguisse em relação a pessoas dotadas, à época, de prerrogativa de foro, sem a necessária autorização. “O caso transcende seu próprio objeto”, afirmou. “É fundamental que estejamos estabelecendo um precedente crítico em relação a abusos que se perpetram na seara da proteção dos direitos e garantias individuais, sendo o mais caro deles o direito à liberdade”.
    CF/AD
    Processos relacionados
    RHC 135683

  14. Indicações lastimáveis para o STF
    Mais uma indicação lastimável do Lula para o STF. Indicar promotores de justiça para o STF é um grande tiro no pé. Quem conhece a organização sabe que é composta por gente conservadora metida a salvadora da pátria. Acham que todo político é corrupto, principalmente os do PT. Acham que porque passaram em um concurso público com vinte e poucos anos, pertencem a uma casta superior que a tudo tem direito. Inclusive o poder sem votos.
    Se olharmos o STF atual veremos que os mais agressivos são os que vieram dos MPs: Gilmar Mendes, Celso de Melo e Carmem Lúcia. Sem contar o “hors-concours” Joaquim Barbosa.
    Se o PT um dia voltar a presidência, terá que fazer um grande mea culpa no quesito indicações para o STF.

    1. Concordo,

      e acrescento que membros do Ministério Público, pelo menos todos os que conheço, que não são poucos, carregam consigo o indelével cacoete do acusador, de forma que jamais serão verdadeiramente juízes.

  15. Então os comentaristas não
    Então os comentaristas não gostam da Ministra por que ela é contra o “politicamente correto”… e aí desanda comentário machista em cima de comentário machista.

    Afinal, é pra ter politicamente correto, ou não é pra ter politicamente correto?

    Ou a questão é só ser contra a Ministra, independente de, no mérito, concordarmos com ela (xingamento machista deveria ser livre, por que senão é censura)?

    1. Tratar os outros como tu gostaria de ser tratado
      A gente deve tratar os outros como a gente gostaria de ser tratado. Se a $uprema Ministra Carmem Lúcia trata os outros jogando às favas o politicamente correto, é porque ela quer receber um tratamento incorretamente político.
      Você se opõe mas ela gosta. Fazer o que, né?

      1. A sua função na vida é

        A sua função na vida é agradar a Ministra Carmen Lúcia? A minha não é. Se ela gosta de ser insultada, é problema dela. Eu não insulto as pessoas gratuitamente. Muito menos uso da licença que direitistas me dão para criticá-los pela direita.

        Faço como você diz, mas não faz: trato os outros como eu gostaria de ser tratado – não como eles gostariam de ser tratados.

  16. Correção
    Muito boa a matéria, como todas do Nassif. Mas acho que merece uma correção. A Carmem Lúcia não é ministra, é ministro, uma vez que também não é presidenta e sim presidente.

  17. Resumindo?
    Só poderia ser indicada pelo PT, hooo partidinho ruim para indicação.

    Ela só esqueceu de dizer que assim que estes são aceitos pelo Senado, eles levantam da cadeira e vão embora, deixando o CARÁTER lá no Senado e viram todos mariposas, que não podem ver a luz de uma câmera que ficam todos “excitados”.

    Se o Barroso imaginasse o que dizem e as piadas que fazem dele no meio jurídico, ele teria vergonha de sentar naquela cadeira, mas como disse acima, só tem vergonha quem tem CARÁTER, e o dele ele deixou lá na mesa do Senado, quando foi aceito.

    1. São as cotas….

      Nada como ter representação dos negros e mulheres no STF, não? Tudo bem se a qualificação necessária ao cargo não fosse tão importante. Mas vá você falar em mérito… vai ser rotulado de elitista

      pra mim, cotas deveriam existir só no âmbito de aumentar as oportunidades de acesso. Ter mérito, competência e perfil é indispensável  

  18. Ser juiz

    O que basta para se juiz? Conhecimento, capacidade intelectual de decorar as leis e passar nos concursos, um empurrãozinho da família, se esta já pertencer ao “seleto clube”?

    O papel de um juiz na manutenção da ordem social é tao importante que ele não pode se dar ao luxo de ser exibicionista, vaidoso e ter a tirania acobertada pelo corporativismo. Corporativismo este que sustenta o poder institucional, só que estão perigosamente se esquecendo que será impossível de manter este poder se perderem as qualidades da discrição e imparcialidade. É isto que sustenta a aura de “superioridade” que um juiz tem que ter para manter o respeito da turba.

    É um grande perigo para a sociedade esta percepção crescente de que os juízes são pura e simplesmente uma casta de intocáveis endinheirados que retribuem para a sociedade não um controle segundo as leis, mas sim um controle segundo suas convicções e interesses inconfessáveis 

  19. Calada, o Ministro Carmem Lúcia é um poeta

    A Carmem Lúcia é o Pelé de capa preta e o Pelé é a Carmem Lúcia de chuteiras. Como diria Romário, calados, esses Mineiros são uns poetas.

  20. Não dá para entender nada do

    Não dá para entender nada do que ela fala. Frases soltas, idéias desconexas, parece que saiu de um gerador de lero-lero.

  21. Cínica, sem noção, grosseira e desqualificada.

    Parabenizo a equipe do GGN por expor as entranhas mal-cheirosas da mulher que hoje preside o STF. Cármen Lúcia, assim como Joaquim Barbosa, não apresenta as mínimas condições de ocupar uma cadeira no STF, muito menos de presidir essa côrte. Quanta grosseria, falta de educação, autoritarismo, falta de visão e noção de Estado, de Administração e Segurança Pública! Ademais, Cármen Lúcia é boquirrota e intrometida, dando pitacos onde e quando não é chamada e sobre assuntos que não domina. A maga patalógika do STF se ‘vendeu’ para a mídia, faz o jogo do PIG/PPV e como os colegas de côrte é parte ativa no golpe de Estado em curso; e que visão estreita e curta, ao mencionar entulho autoritário como a disciplina Moral e Cívica! O destino de Cármen Lúcia, após fazer o serviço ‘sujo’ e deixar o STF, será ainda menos nobre que o de Joaquim Barbosa, hoje desprezado pela mídia que o bajulava, enquanto o usava para condenar, SEM PROVAS, e encarcerar os grandes líderes petistas. O ostracismo que JB desejou a José Dirceu foi reservado a ele mesmo, JB.

    Esta série de matérias sobre a presidente do STF é demolidora e não deixa pedra sobre pedra. Parabéns a toda equipe do GGN pelo excelente trabalho de jornalismo crítico e investigativo. Essas reportagens podem ter efeito semelhante ao que tiveram as cipoadas que Rogério Cézar Cerqueira Leite e Elio Gaspari aplicaram em sérgio moro, há poucos dias.

  22. Discordo de absolutamente

    Discordo de absolutamente tudo. Penso que os temas aqui expostos (a figura da Ministra Cármen Lúcia, o “politicamente correto”, “a ditadura brasileira”) são muito ricos, mas foram mal explorados. Lmitaram-se à uma exposição raza de opinião, sem a mínima complexidade. Um jornalismo que tem pouco a dizer. Que vergonha alheia, meu Deus!

  23. Discordo de absolutamente

    Discordo de absolutamente tudo. Penso que os temas aqui expostos (a figura da Ministra Cármen Lúcia, o “politicamente correto”, “a ditadura brasileira”) são muito ricos, mas foram mal explorados. Lmitaram-se à uma exposição rasa de opinião, sem a mínima complexidade. Um jornalismo que tem pouco a dizer. Que vergonha alheia, meu Deus!

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