Comentário ao post https://jornalggn.com.br/noticia/genoino-e-o-tetraplegico-preso-em-papuda?page=2#100
Casa grande e senzala
Nassif, parabéns pela coragem do texto.
Mais uma demonstração de que o Brasil continua na casa grande e senzala. Toda sociedade que vive em divisões de camadas sociais tão distintas, a crueldade atinge níveis alarmantes e se mantem escondida até que o problema atinja parte dos que se encontram em situações privilegiadas. Por isso a precariedade do nosso sistema de transporte coletivo só veio à tona graças aos grandes engarrafamentos, por isso a violência cotidiana da polícia só foi questionada quando atingiu jornalistas na av.. Paulista. Até hoje a periferia das cidades brasileiras e as favelas não têm saneamento básico.
A crueldade da carceragem se manifesta nas estruturas físicas que propiciam a insalubridade, no pouco preparo dos servidores e na imagem de que presos são bandidos não humanos.
Os poderes legislativo, executivo e judiciário têm total responsabilidade em cada um dos fatos acima, e aqui se constata o quanto eles são representantes exclusivos dos interesses dos mais privilegiados.
A nossa histórica constituinte de 1988 sabia muito bem deste paradigma da casa grande e senzala tanto que se preocupou em estabelecer logo em seu artigo 3º :
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Logo em seguida na parte dos Dos Direitos e Garantias Fundamentais
Art 5º
XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
Portanto é o Estado que não cumpre com suas obrigações constitucionais e pouco ou nenhum respeito tem com os direitos humanos ferindo normas internacionais do qual é signatário.
No caso específico do sistema de carceragem, lotados e insalubres, peca o legislativo por não elaborar leis determinando condições mínimas de funcionamento como lotação, condições estruturais e valores que o governo teria de dispor para investimento, erra o executivo como ente realizador de políticas públicas e erra o judiciário ao encaminhar para presídios, digo mais uma vez lotados e insalubres, presos com problemas de saúde seja cardíaco, de locomoção, e vários tantos outros. Erra o judiciário ao encaminhar para a carceragem criminosos de baixa periculosidade ajudando a superlotar e encarecer a manutenção dos presídios.
Para encerrar, é esse sistema de casa grande e senzala presente até os dias atuais um dos fatores que coibiu a formação de cidadania em nosso povo. E é a falta dela que faz com que a população grite apenas em favor próprio individual ou setorizado. O brasileiro nunca pensa, só quando o seu núcleo é atingido, que o que está acontecendo com o seu semelhante poderia estra acontecendo consigo, é incapaz de gritar por direitos de terceiros fora do seu segmento. E isso pode ser muito bem observado nas manifestações de junho quando tentaram puxar a corda para o lado de cada um dos interesses próprios, mesmo sabendo que as bandeiras levantadas; a corrupção, os transportes, a saúde e a educação, são problemas que atingem mais diretamente exatamente os da senzala. Eram bandeiras “difusas”.
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