CASCAvel
COBRA CEGA
PAI e FILHO ultimavam os preparativos para uma festa Julina que se realizaria no Sítio da Família no dia seguinte. Já haviam montado a fogueira, pendurado as bandeirolas e balões, e agora se dirigiram para o deposito atrás da capelinha para buscar lenha, onde deveriam armazená-las em compartimento próprio junto ao fogão na casa.
Propositalmente, essa ação ficou agendada como a última providência, já que a mesma se configurava de alto risco, eis que dias antes o Pai havia percebido entre os tocos de lenha uma casca de cobra que fora ali abandonada pela proprietária, por ocasião das trocas que as mesmas fazem periodicamente. Analisando grossura, o tamanho e a coloração da casca, chegou a convicção tratar-se de uma espécie muito peçonhenta. Poderia até ser uma CASCAvel.
Em Alerta sobre o perigo da ação que empreenderiam, acordaram que a melhor forma de administrar a situação seria: num primeiro momento puxar as lenhas utilizando uma enxada para manter-se uma distancia segura , e depois manusear os tocos removidos para levá-los ao destino. Caso a mesma ainda estivesse por ali, o próprio cabo da enxada seria a arma a ser utilizada para eliminar a peçonhenta.
Cautelosamente abriram a porta do deposito. A casca ainda estava lá, no mesmo lugar entre as lenhas amontoadas no chão.
Quando o Pai se preparava para puxar o primeiro lenho, o Filho descobriu que a víbora ainda estava habitando o local, estando naquele momento esticada entre bardelas e ripas no telhado, dormindo despreocupadamente.
Alertado, o Pai instintivamente tratou de abandonar o local . O ATO feito de forma imediata e abrupta como é compreensível nesta situação, veio a resultar no atropelamento do filho, fazendo com que os dois caíssem estatelados ao chão, e cada um querendo levantar-se ao mesmo tempo o mais rápido possível para colocar-se a uma distancia segura e fora do raio de ação do réptil.
Passado o susto, voltaram para analisar a situação.
A cobra era de tamanho razoável, e ameaçadoramente ainda continuava no local em que pese toda a movimentação que alí ocorrera.
Dormia ainda, provavelmente sonhando com a possibilidade de cravar suas compridas e afiadas peçonhas na carne macia de algum humano desavisado que porventura viesse perturbá-la. Assim fosse, inocularia seu veneno, para que aprendessem a não incomodá-la no momento de sua sesta.
Por outro lado, nossos destemidos personagens, agora já ‘totalmente” refeitos do susto inicial, arquitetavam planos para abater o inimigo dorminhoco.
De posse de uma taquara, com aproximadamente uns quatro metros de comprimento e que servia para apanhar as laranjas mais altas, acordaram que a cobra deveria abatida em dois atos: primeiro uma estocada para desalojá-la do teto , e depois ser morta mediante uma paulada para provocar o esmagamento de sua cabeça. Era matar a cobra e mostrar o pau, no caso a taquara.
Partiram para a ação….
Desferiram tamanha e certeira taquarada na região central da serpente, que estranhamente e ao que era de se esperar, ao invés dela cair no chão acordada e contorcendo-se para assumir uma posição de ataque, teve seu corpo dilacerado ao meio, ficando as duas partes penduradas e inertes no telhado. Num processo analítico e agora mais confortável ante a certeza da inoperância inimiga, constatou-se que ali encontrava-se somente a sua casca .
A facínora, diante do perigo e de seu fim iminente, fugiu sorrateiramente deixando sua vestimenta tal qual sua amiga. Provavelmente fez isso aproveitando-se de quando os dois estavam caídos, ou mesmo quando foram buscar a taquara.
A festa foi um sucesso. Quentão, pinhão e fogueira.
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