Catadores ainda se recuperam de crise mundial

Catadores de recicláveis compõem elo mais fraco da cadeia de reaproveitamento de materiais. Essa condição ficou evidente entre novembro de 2008 e fevereiro de 2009, quando a crise financeira internacional teve seu pior momento.

Organização que representa a classe, afirma que os trabalhadores ainda se recuperam do período de baixa atividade econômica. E, ainda, que a estabilidade deve ser garantida com a contratação de grupos organizados de catadores pelas prefeituras.

Em artigo publicado no Boletim “Mercado de Trabalho – Conjuntura e Análise”, em novembro de 2009, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) relata os impactos sofridos pelas organizações decorrentes da apreciação dos insumos recicláveis.

O preço das commodities de materiais recicláveis (aparas de papel, sucata de ferro e plásticos) é cotado na Bolsa de Valores de Londres. Esses componentes são classificados como matérias primas, negociadas em dólar e sujeitas às variações que as indústrias praticam ao redor do mundo.

“São vários os fatores que motivaram a queda, mas ao que tudo indica há uma tendência no mercado de cortar custos e diminuir a produção. Com isso, há também uma preferência em utilizar matérias-primas virgens em vez de recicladas”, analisa o MNCR. “É o que está acontecendo com o papel. Durante a crise, preferiu-se utilizar, para a produção, os estoques de madeira, disponíveis a um custo menor, e cortar a produção derivada de matéria-prima reciclável”, completa.

Consequentemente, os catadores foram afetados. No estado de São Paulo, o ferro, que custava R$ 0,42 o quilo em setembro de 2008, passou a ser vendido a R$ 0,16, em novembro do mesmo ano. Em todo país, o preço do quilo do plástico caiu de R$ 1,00 para R$ 0,60, em média, e do plástico de garrafas PET, de R$ 1,20 para R$ 0,35. Entre setembro de 2008 e janeiro de 2009, o valor do quilo de papelão especial baixou de R$ 0,47 para R$ 0,12.

Empresas que realizam o processamento de sucata e materiais recicláveis acabaram repassando a redução do preço aos catadores. Estima-se que a queda no valor de materiais tenha sido de 62%, impactando diretamente no fechamento de cooperativas e associações. O MNCR calcula que 90% de tudo que é reciclado no país passa pela mão de 800 mil catadores que trabalham nas principais metrópoles.

A renda média nacional da classe varia de R$ 70 a R$ 140 mensais, segundo calculo de 2006, do Departamento de economia da Universidade Federal da Bahia – Grupo de Estudos de Relações Intersetoriais (GERI). No estado de São Paulo, a renda média é calculada em R$ 200 mensais.

O Movimento defende que as prefeituras contratem cooperativas e associações de catadores. A reivindicação é feita com base na Lei Federal nº 11.445, sobre Política Nacional de Saneamento, que permite aos municípios contratarem as organizações sem licitação. O MNCR argumenta que a queda dos preços dos materiais recicláveis também afetou os gestores públicos “que tiveram mais resíduos nas ruas das cidades para recolher”.

“Sem ter onde vender o material, os catadores deixaram de coletar os materiais cujo preço foi prejudicado; além disso, houve o impacto gerado pelo abandono da atividade de catação por milhares de pessoas. Devido à maior quantidade de lixo nas ruas, o município paga a mais pela coleta e destinação do lixo para aterros sanitários privados”, completa.

Algumas cidades brasileiras já realizam o pagamento de catadores pelos serviços de coleta. Belo Horizonte (Minas Gerais), Araraquara, São José do Rio Preto, Diadema, Biritiba Mirim, Arujá, e Assis (São Paulo), são algumas.

Para acessar o Boletim do IPEA na íntegra, clique aqui.

Para acessar o trecho do Boletim com o artigo do MNCR, clique aqui.

Redação

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