Cid Gomes acredita que eleições presidenciais irão para o segundo turno

Enviado por Alexandre Weber Santos – SP

Do Valor

Para Cid, Dilma vence só em 2º turno
 
Por Letícia Casado | De Fortaleza
 
O governador do Ceará, Cid Gomes (Pros), avalia que a presidente Dilma Rousseff deve se reeleger em outubro, mas alerta que a base aliada deve se “preparar para o pior”: uma disputa em dois turnos, com o senador e presidenciável do PSDB, Aécio Neves (MG), como adversário na segunda consulta. Amanhã, Dilma deve ir à convenção do Pros, em Brasília, onde está prevista a formalização do apoio do partido à sua reeleição.
 
No ano passado, os irmãos Cid e Ciro Gomes deixaram o PSB por discordarem da decisão da legenda de lançar o presidente nacional do partido e então governador de Pernambuco, Eduardo Campos, à sucessão presidencial. Como mostrou o Valor em março, o Ceará ultrapassou Pernambuco em investimentos federais e se tornou o quarto Estado em empreendimentos aprovados no PAC 2 e em transferências voluntárias da União para Estados e municípios.
 
A distância entre Campos e Dilma não é intransponível na avaliação de Cid Gomes. “[O ex-presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva] é o canal para tentar trazer o Eduardo para a Dilma”, disse o governador enquanto fumava um cigarro em seu gabinete no Palácio da Abolição, em Fortaleza.

 
Para Cid, as ofensas contra a presidente em São Paulo durante a abertura da Copa do Mundo podem “vitimar” Dilma ao escancarar uma divisão entre classes sociais no país.
 
Quando o assunto é a sucessão ao governo do Ceará, Cid Gomes desconversa. Diz que a prerrogativa de indicar o nome para sucedê-lo no Palácio é da coligação de 23 partidos de que o Pros faz parte. O governador afirma que sempre esteve “de portas abertas” para conversar com o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira, pré-candidato ao governo, que deve concorrer contra o candidato de Cid e rachar a base de Dilma no Estado.
 
A seis meses do fim de seu segundo mandato, Cid Gomes diz que a violência cresceu no Ceará por causa da proliferação do crack, apesar dos investimentos em segurança no Estado. Após deixar o governo, ele pretende voltar ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), onde já trabalhou como consultor em 2005.
 
A seguir, os principais momentos da entrevista ao Valor:
 
Valor: Quais os seus prognósticos para sucessão presidencial?
 
Cid Gomes: Tenho dito, há algum tempo, que temos que nos preparar para o pior, a eleição em dois turnos. E é por isso que não devemos nos isolar. Acho que a presidente Dilma deve fazer gestos para outras candidaturas, para que, indo para o segundo turno, possamos ter portas abertas para conversar. Não pode virar ela contra todo mundo.
 
Valor: Então é preciso se preparar também para uma eventual derrota da presidente Dilma no segundo turno?
 
Cid: Acho que a Dilma ganhará a eleição. Existe o sentimento, de repúdio, repulsa ao PT. A gente vê claramente em São Paulo e Rio, mas isso se reproduz em Santa Catarina, no Paraná. E há outros focos de resistência ao PT no Brasil: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, ruralistas. As pessoas acham que o governo Dilma deixou a desejar. Mas a comparação é com Lula, não tem mais comparação com [a gestão do ex-presidente] Fernando Henrique [Cardoso]. Sou confiante na vitória da Dilma. Acho que essa percepção as pessoas vão ter no fim da comparação.
 
Valor: A população faz muita comparação com o governo Lula.
 
Cid: Lula tem traços de trato pessoal diferentes de Dilma. Ela diz “não” sem preocupação, enquanto Lula tem traquejo na relação política. Eles têm origem diferente. Mas o governo Dilma avançou e aperfeiçoou as políticas de Lula. Ele implantou o Bolsa Família, ela aprofundou e foi atrás dos mais pobres. Na saúde, Dilma resolveu algo que ninguém acreditava: colocar em um ano milhares de médicos para trabalhar no posto de saúde da periferia. O mesmo com moradia, pelo Minha Casa, Minha Vida, e em saneamento.
 
Valor: Como o senhor acha que pode ser esse eventual segundo turno?
 
Cid: Acho pouco provável que o Eduardo [Campos, pré-candidato do PSB] desbanque o PSDB, e aí nem é o Aécio [Neves, presidenciável tucano], é o PSDB, a estrutura do PSDB, o DEM, o Solidariedade. A Marina [Silva, pré-candidata a vice na chapa do PSB], se fosse candidata, tinha condições de ocupar esse espaço. Não por força de estrutura partidária, o Rede Sustentabilidade não conseguiu nem colher assinaturas suficientes para fazer um partido. Mas a Marina, teria como entrar em dois grandes colégios brasileiros, o primeiro e o terceiro, que o Eduardo dificilmente conseguirá entrar, São Paulo e Rio de Janeiro. Ela entraria no eleitorado independente. O Eduardo é um político tradicional, não tem capacidade de atrair esse público apolítico, de negação da política. E isso é um sentimento muito forte. Vi agora a pesquisa [para o governo] do Rio. É impressionante. Você pega uma pesquisa estimulada, com variedade de candidaturas, que vai do [Marcelo] Crivella (PRB) ao [Anthony] Garotinho (PR); só de evangélico tem dois. Tem governador, o [Luiz Fernando] Pezão (PMDB); ex-prefeito, o Cesar Maia (DEM); senador, o Lindbergh Faria (PT). E tem 37% [do eleitorado da capital do Rio] que vão votar em branco ou nulo [pesquisa Ibope-Firjan, divulgada na semana passada]. É a negação da política. Tem essa coisa no Brasil inteiro, e mais forte no Rio e em São Paulo. Eduardo não consegue sensibilizar esse público, a Marina conseguiria. Imagina um eleitor falando que vota no Eduardo Campos, num barzinho na Barra da Tijuca? Eu não imagino. Na Marina sim, dizendo “eu não tenho nada com essas coisas, voto na Marina”.
 
Valor: Eduardo Campos não tem chance de chegar ao segundo turno?
 
Cid: Ele não tem chance de crescer nos três maiores colégios eleitorais [São Paulo, Minas e Rio]. Como uma candidatura assim vai para o segundo turno? No Nordeste, é ilusão achar que ele tem penetração. No Ceará, tem menos [intenção de voto] que Aécio, que já tem pouco. Na Bahia, Eduardo não entra, não chega aos 8% [no cenário] nacional. Ele deve ganhar a eleição só em Pernambuco.
 
 
Valor: Em um eventual segundo turno entre Dilma e Aécio, como o senhor acha que fica a participação de Eduardo Campos?
 
Cid: Penso que boa parte da atenção que o Lula tem [com Eduardo Campos] é pensando nisso. Lula é o canal para tentar trazer o Eduardo para a Dilma. Dia desses vi que os amigos do PT em Pernambuco estavam reclamando da forma como Lula se referia ao Eduardo. Queriam que ele o trucidasse, chamasse de ingrato. Imagino eu que [Lula] deve ter carinho por ele [Eduardo], pois conviveram muito tempo, mas penso também que ele queira preservar um canal para o segundo turno.
 
Valor: Como o senhor avalia as ofensas contra a presidente Dilma no estádio durante a abertura da Copa?
 
Cid: Foi algo grosseiro. O silêncio cala, ou fala, muito mais do que uma vaia. Acho que vitimou. É a velha história da divisão entre o país rico e o país pobre e a tentativa de fazer exploração política disso. Mas vê-se que isso é realidade. Tem muita gente incomodada porque tem que dividir o avião e o aeroporto com emergentes. Achei uma coisa de rico, de riquinho, agressivo demais. E foi um tiro no pé. Desperta mais nas pessoas mais simples o sentimento de que há aversão das classes mais ricas com essa instância de poder porque quem está no poder valoriza políticas de atenção aos mais pobres.
 
Valor: O Pros se reuniu com a presidente Dilma na semana passada para formalizar apoio à reeleição. Como foi essa reunião?
 
Cid: Tivemos dois momentos na reunião. No primeiro, os governadores e o presidente do partido convidaram Dilma para a nossa convenção, onde vai ser formalizado, ao que tudo indica, o apoio a ela. Na sequência avaliamos os Estados. No Rio Grande do Sul, o Pros vai ficar com o PT, assim como no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Acre. Em São Paulo, vai ficar com o PMDB. Enfim, trocamos informações sobre cada um dos Estados. O governador [do Amazonas, José Mello] colocou algumas pendências. Eu fiz um convite, para ela vir inaugurar moradias populares. Depois, o presidente [nacional do Pros, Eurípedes Júnior] e o governador foram embora. Eu fiquei e falamos muito sobre o Ceará, mas não ficou nada definido.
 
Valor: Nada?
 
Cid: A preocupação dela, e compreendo, é que sua candidatura tenha apenas uma base aqui. O PR eu não sei se é base ou não. Como o PMDB já saiu desse grupo e está apresentando candidatura própria, é provável que a gente tenha duas candidaturas na base dela. E ela, naturalmente, tem preocupação de que isso possa atrapalhar a campanha aqui. Conversamos sobre isso.
 
Valor: Como fica o palanque da Dilma no Ceará?
 
Cid: Vamos ver ainda. Não tem nada definido. Eu digo: “Presidenta, vamos aguardar”. Não estou fechando porta para o PMDB. Quando ele [Eunício Oliveira] veio aqui comunicar a candidatura, no fim de março, disse que o partido decidiu e queria o meu apoio. Perguntei: “Você vem me comunicar ou pleitear? Pleitear eu acho absolutamente legítimo, mas não posso me comprometer com você. Tem outros partidos que pleiteiam também, então vamos trabalhar essa questão coletivamente no calendário que eu acho correto”. Aparentemente o que ele fez foi isso, colocou a candidatura. Quem discrepou de alguma forma foi ele. Eu nunca fechei porta. Se quiser voltar para conversar neste grupo, as portas estão abertas.
 
Valor: O senhor disse que está pedindo uma audiência com o ex-presidente Lula. O que pretende discutir com ele?
 
Cid: Lula é uma liderança querida aqui. Salvo a eleição municipal para Fortaleza em 2012, sempre estivemos juntos. Nas últimas dez eleições para Fortaleza, estadual e federal, estivemos juntos em nove. Vou procurar o companheiro Lula para saber o que ele está pensando para compartilhar com esses partidos da nossa coligação.
 
Valor: Vai convidá-lo para vir ao Ceará na campanha?
 
Cid: Ninguém tem o direito de constranger o outro. Respeito muito o companheiro Lula, acho que foi o melhor presidente da República nos últimos 25 anos, seguramente, da recém-democracia no Brasil. Desejo muito que a gente mantenha nosso projeto, no nível estadual, federal e tanto quanto possível em nível municipal. Desejo ser companheiro dele sempre. Quero ouvi-lo saber qual a posição dele, o que está pensando sobre o Ceará e procurar estar junto a ele. Mas não vou fazer apelo e nem tenho direito de cobrar nada dele.
 
Valor: Quem é o seu candidato ao governo do Estado?
 
Cid: Integro uma base de partidos, e neste momento dialogamos com 23 partidos, que, obviamente têm a expectativa de ter chapa com deputados estaduais e federais, senador e governador. Mas antes do nome [do candidato ao governo estadual] tem que ter um projeto. As coisas precisam ser nesta ordem. Primeiro consolidar a aliança, depois elaborar um projeto e por último indicar um nome. Fala-se em cinco nomes do meu partido: Zezinho Albuquerque, presidente da Assembleia; Domingos Filho, vice-governador; Mauro Filho, que foi secretário da Fazenda e é deputado estadual; Izolda Cela, ex-secretária da Educação; e o ex-ministro dos Portos Leônidas Cristino.
 
Valor: E para o Senado?
 
Cid: Hoje tem, dentro dos partidos, duas manifestações públicas. Ainda não chegou o momento de apresentar os nomes. O PCdoB tem colocado publicamente o desejo de que a coligação avalie a candidatura do senador Inácio Arruda à reeleição. E o PT deliberou pelo nome do deputado federal José Guimarães, líder do PT no ano passado.
 
Valor: Como o senhor explica o crescimento da violência no Estado ao longo de seus dois governos?
 
Cid: Isso é indiscutível. Contra fatos não há argumentos. Os homicídios cresceram no Ceará, a rigor nos últimos dez anos. Não foi omissão do governo, nunca se investiu tanto em segurança como nós investimos. Concomitantemente a isso, há o crescimento do crack, que é responsável por 80% dos homicídios.
 
Valor: Quais os seus planos e os de Ciro para 2015?
 
Cid: O Ciro tem dito que continuará militando na política, mas que não pretende disputar mandatos. Eu estou em busca de uma oportunidade no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), onde já estive. Sucessão é algo delicado, se você está perto não faltam intrigadores.

 

Redação

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. É óbvio que vai haver 2º turno

     

    Vai ter segundo turno, e se ela ganhar será por muito pouco. Esse papo de divisão de classes é negativo até p/ela. Isso é a cabeça de 2010. Não existe bolinha de papel, a administração dela é muito fraca sim, essa história de comparar com Lula x FHC só iria funcionar se pelo menos o Lula, ou o próprio FHC, fossem os candidatos.

    Continuo achando que a chave é o Rio de Janeiro, que sempre deu votações gigantescas ao Lula. Esse história do PTB e do Pezão aqui no RJ desembarcarem da Dilma não tem nada a ver com a candidatura do Lindberg. Os caras estão fazendo a leitura de que a rejeição a ela por aqui só aumenta a cada dia, e acham que a chance da oposição ser eleita é grande. Não se iludam, se a oposição não tivesse chance estava todo mundo com ela por aqui, com ou sem candidatura própria do PT.

    Aliás, o PTB, do “governista” Roberto Jefferson tb caiu fora em nível nacional. Esse caras não entram em furada, a percepção de que a reeleição está indo p/brejo só aumenta.

    Volta a repetir, não conheci nenhum eleitor do Serra aqui no RJ em 2010, mas até esse momento não conheço ninguém que vai votar nela (especialmente dentro do batalhão de pessoas que a elegeram em 2010).

    De qq forma, se o segundo turno servir para ela melhorar a péssima Administração Federal em um eventual segundo mandato, já valeu o esforço; infelizmente o que assistimos é um apelo pelo extremismo. Continuo achando que o Lula ganhou tb por causa da Carta aos Brasileiros. Se a oposição conseguir fazer uma “Carta aos Brasileiros” p/pessoal dos programas sociais, leva esse disputa fácil…

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador