Cobra e Espeto

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“COBRA E ESPETO”

por marcio geraldo da silva

Numa comitiva de boiadeiros, quem passa um vidão é o rapazinho cozinheiro. Todos os outros peões ou camaradas lutam com a boiada o dia inteiro, ele só tem de olhar os trens da cozinha e os gêneros que vão numa besta. Também, quando chegam ao pouso, o moço ou moleque ou muchacho tem que “se desenvolver”, correr daqui dali, procura lenha seca, vai buscar água no rio, faz o fogo debaixo do caldeirão de feijão na trempe, passa o café.

Uma ocasião, um destes muchachos chegou ao pouso com muito frio e já meio escuro. O boiadeiro disse para ele fazer uma jacuba e assar no espeto umas linguiças.

Espeto de pau. Ele saiu a procurar um e ali mesmo encontrou perto do rancho, numa moita. Passou a linguiça no espeto e botou fogo.

De repente, foi aquela coisa mais estúrdia no rancho.

— Patrão, patrão, venha ver — gritava o muchacho. — Olhe o espeto que lá vai correndo com a linguiça!

Os boiadeiros ficaram com uma espécie de “paralisia”, olhando aquela mandinga, mas resolveram sair atrás do espeto, e já foram encontrando pedaços de linguiça pelos gravatás e barbas de bode.

Depois, toparam mais adiante com o famoso espeto enrolado e louco de bravo. Deram pauladas a valer na urutu.

O muchacho viu a cobra inteiriçada de frio, pensou que era uma madeira qualquer. Com o calor, ela acordou.

Contada por velho tropeiro — Facécia

(Recolhido pelo cônego Luís Castanho de Almeida, em 1958.)

Em Soares, Doralécio. “Contos populares”. O Estado. Florianópolis, 15 de junho de 1969

Luis Nassif

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