Dos blogs do Portal LN
Numa comitiva de boiadeiros, quem passa um vidão é o rapazinho cozinheiro. Todos os outros peões ou camaradas lutam com a boiada o dia inteiro, ele só tem de olhar os trens da cozinha e os gêneros que vão numa besta. Também, quando chegam ao pouso, o moço ou moleque ou muchacho tem que “se desenvolver”, correr daqui dali, procura lenha seca, vai buscar água no rio, faz o fogo debaixo do caldeirão de feijão na trempe, passa o café.
Uma ocasião, um destes muchachos chegou ao pouso com muito frio e já meio escuro. O boiadeiro disse para ele fazer uma jacuba e assar no espeto umas linguiças.
Espeto de pau. Ele saiu a procurar um e ali mesmo encontrou perto do rancho, numa moita. Passou a linguiça no espeto e botou fogo.
De repente, foi aquela coisa mais estúrdia no rancho.
— Patrão, patrão, venha ver — gritava o muchacho. — Olhe o espeto que lá vai correndo com a linguiça!
Os boiadeiros ficaram com uma espécie de “paralisia”, olhando aquela mandinga, mas resolveram sair atrás do espeto, e já foram encontrando pedaços de linguiça pelos gravatás e barbas de bode.
Depois, toparam mais adiante com o famoso espeto enrolado e louco de bravo. Deram pauladas a valer na urutu.
O muchacho viu a cobra inteiriçada de frio, pensou que era uma madeira qualquer. Com o calor, ela acordou.
Contada por velho tropeiro — Facécia
(Recolhido pelo cônego Luís Castanho de Almeida, em 1958.)
Em Soares, Doralécio. “Contos populares”. O Estado. Florianópolis, 15 de junho de 1969
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.