Conflito: A Cobertura Monstruosa da Midia Sionista

Mídia opta por monstruosa equidistância no tratamento dos conflitos entre Israel e Palestina



ESCRITO POR OLGA RODRÍGUEZ   

SEXTA, 23 DE NOVEMBRO DE 2012

 

 

Os ataques israelenses a Gaza provocaram mensagens de indignação na caixa de correio do setor jurídico da comunidade do jornal El Diario.es, contra o tratamento do tema em alguns meios de comunicação.


“Dou exemplos do que li nestes dias em algumas mídias sobre o que ocorre em Gaza, nas quais se coloca no mesmo nível uns e outros, como se fossem bandos igualados”; “Continua a luta entre israelenses e palestinos”, “palestinos e israelenses se engalfinham na maior escalada bélica desde 2008”, “A troca de mísseis cresce, etc. e etc.”, diz um leitor, Samuel Córdoba.


E prossegue: “Já que o Diário.es está dando um exemplo de boa informação, creio ser necessário que, no espaço jurídico, se analise a obsessão que há nos meios de comunicação em atribuir a mesma responsabilidade a uns e outros, ocultando contextos, história, passado, dados. Obrigado”.


A equidistância é um dos grandes vícios do jornalismo atual, e o tratamento informativo da ocupação e discriminação que exerce Israel contra os palestinos é um bom exemplo disso, algo que obedece a várias razões:


1. A influência que Israel tem em determinadas esferas de poder, além de suas fronteiras. É aliado preferencial dos Estados Unidos na região (o exército israelense recebe 3 bilhões de dólares anuais de Washington, a maior ajuda que os EUA dão a uma Força Armada em todo o mundo)


2. A preparação de Israel para se defender no plano midiático e fazer frente às críticas. A pressão que exerce para que se aposte em um enfoque informativo favorável a Tel-aviv.


Em 2008, durante a Operação Chumbo Fundido contra Gaza, as embaixadas israelenses enviaram a diversos veículos de comunicação emails nos quais explicavam que bombardeavam Gaza para se defender e nos quais pediam aos jornalistas que não fizessem um “uso cínico de imagens dolorosas como instrumento de propaganda”. Quer dizer, manifestavam seu mal-estar pela publicação de imagens que provavam a morte de mais de 1300 palestinos, entre eles 300 crianças.

 

3. A tendência crescente da mídia em repetir o enfoque estabelecido pelo poder político e econômico.


4. O modo de trabalhar nas redações, onde a rigor os jornalistas se vêem obrigados a tratar a informação como pura mercadoria. Isso deixa escassa a margem para se indagar, contrapor, refletir e esquivar do enfoque majoritário.


5. Os riscos aos que se expõe um jornalista caso rompa com o discurso dominante e o preparo – dados, fontes, experiência, isto é, tempo – que necessita para se atrever a questionar a uniformidade da informação.


O “pós-jornalismo”

A equidistância se confunde com objetividade, imparcialidade, neutralidade. Os jornalistas são eqüidistantes para não “se queimarem”, não se comprometerem, para não parecerem partidários de nada nem ninguém.

É o pós-jornalismo, a democratização levada ao delírio, a relatividade defendida como religião. Ninguém tem mais razão que ninguém, nenhuma visão é mais real que outra, há tantas verdades quanto pessoas.

 

E assim se chega a reduzir o mal chamado conflito palestino-israelense a uma simples animosidade provocada por motivos religiosos ou étnicos, esquecendo que a origem do conflito repousa sobre uma ocupação ilegal, condenada por diversas resoluções das Nações Unidas, e sobre a prática da discriminação de um Estado contra um povo, denunciada reiteradamente por uma multidão de organizações internacionais defensoras dos direitos humanos.


A realidade é que há uma ocupação ilegal e, portanto, um Estado ocupante, mas na prática boa parte dos meios de comunicação de massas opta por ser equidistante e asséptica, situando no mesmo nível o povo palestino e um Exército que invade, ocupa e expulsa, amparado e legitimado por um Estado que concede ajudas a pessoas dispostas a participar da citada ocupação.

 

A equidistância é contar versões sem contestar nenhuma. A negação do empirismo histórico. A incredulidade e credulidade juntas. O jornalismo declaratório levado a limites absurdos. Existem tantas verdades quanto pontos de vista.


Os números do 14 de novembro e os orçamentos do governo

Exemplos podem ser encontrados quase diariamente na mídia de massa. Dois destes veículos foram muito comentando por estes dias em nossa caixa de correio:

1. “A prefeitura de Madrid calcula em 35.500 os participantes da manifestação de 14 de novembro. Os sindicatos dizem que houve um milhão de pessoas”.

“Vários veículos de comunicação difundiram essa afirmação e ficaram tranqüilos e sem remorsos. Meu caro, eu lhes digo que a tarefa de vocês é dizer qual o número real ou mais próximo da realidade. Vendo uma fotografia aérea, é facilmente dedutível que havia mais do que 35 mil pessoas”, comentou José Antonio Montes.

2. “Montoro diz que esses são os orçamentos mais sociais da democracia e o PSOE nega”.

 

“Assim se intitulava uma matéria de televisão de alguns dias atrás. É sério que informar consiste somente em dizer o que contam uns e outros, e não em relatar com dados e fatos se é mesmo o orçamento mais social, ou não, da democracia?”, reflete Sara Álvarez.

 

“Judeus dizem que estão sendo massacrados. Goebbels nega”


Na Alemanha de Hitler, o jornalismo equidistante poderia ter defendido frases como essa:

 

“O rabino do gueto de Varsóvia denuncia que os nazistas estão massacrando os judeus. Goebbels nega”.

 

Na África do Sul do apartheid – a que Desmond Tutu comparou com Israel de hoje – a equidistância defenderia esse lead informativo:

 

“Nelson Mandela denuncia que os negros da África do Sul são vítimas de apartheid. O primeiro-ministro contestou, afirmando que o único racismo que existe no país é aquele praticado pelos negros contra os brancos”.

 

Aonde está a realidade nestas frases? A equidistância, tão respeitosa, deixa nas mãos do receptor a tarefa de encontrá-la.

 

Escudando-se nela, numa aparente imparcialidade, certo jornalismo de massas mantém uma posição contínua, reproduzindo narrativas marcadas pelo pensamento dominante e abandonando o compromisso que este ofício exige com os mais fracos.

 

Não se pode tratar por igual aquele que bombardeia e aquele que é bombardeado, o assassino e a vítima, o estuprador e a mulher estuprada, o opressor e o oprimido, o ocupante e o ocupado, nem dar a mesma credibilidade a uma cifra e a seu contrário.

 

Ser jornalista é tomar partido pela verdade, estar do lado das vítimas, dos direitos humanos, da justiça. Todo o resto não é jornalismo, é reprodução de propagandas.

 

Permito-me citar Kapuscinki: “O verdadeiro jornalismo é o intencional”. Nesta intencionalidade, neste desejo de defender um mundo melhor, com uma balança mais equilibrada, reside a nobreza do ofício.

 

Dizia o escritor francês Albert Camus que há épocas em que toda indiferença é criminosa. Não denunciar os níveis de injustiça, desigualdade e abusos aos que estamos chegando na atualidade, passar por eles na pontinha dos pés, implica fazer parte de um silêncio cúmplice. E, no fim das contas, o medo de tomar partido acaba criando monstros.

 

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Olga Rodriguez é jornalista e escritora espanhola, vencedora de diversos prêmios jornalísticos por suas coberturas no Oriente Médio.

Texto publicado originalmente no El Diário.

 

Traduzido por Gabriel Brito, jornalista do Correio da Cidadania.

ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO EM TERÇA, 27 DE NOVEMBRO DE 2012
Redação

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