ESCRITO POR OLGA RODRÍGUEZ |
SEXTA, 23 DE NOVEMBRO DE 2012 |
Os ataques israelenses a Gaza provocaram mensagens de indignação na caixa de correio do setor jurídico da comunidade do jornal El Diario.es, contra o tratamento do tema em alguns meios de comunicação.
3. A tendência crescente da mídia em repetir o enfoque estabelecido pelo poder político e econômico.
E assim se chega a reduzir o mal chamado conflito palestino-israelense a uma simples animosidade provocada por motivos religiosos ou étnicos, esquecendo que a origem do conflito repousa sobre uma ocupação ilegal, condenada por diversas resoluções das Nações Unidas, e sobre a prática da discriminação de um Estado contra um povo, denunciada reiteradamente por uma multidão de organizações internacionais defensoras dos direitos humanos.
A equidistância é contar versões sem contestar nenhuma. A negação do empirismo histórico. A incredulidade e credulidade juntas. O jornalismo declaratório levado a limites absurdos. Existem tantas verdades quanto pontos de vista.
Exemplos podem ser encontrados quase diariamente na mídia de massa. Dois destes veículos foram muito comentando por estes dias em nossa caixa de correio: 1. “A prefeitura de Madrid calcula em 35.500 os participantes da manifestação de 14 de novembro. Os sindicatos dizem que houve um milhão de pessoas”. “Vários veículos de comunicação difundiram essa afirmação e ficaram tranqüilos e sem remorsos. Meu caro, eu lhes digo que a tarefa de vocês é dizer qual o número real ou mais próximo da realidade. Vendo uma fotografia aérea, é facilmente dedutível que havia mais do que 35 mil pessoas”, comentou José Antonio Montes. 2. “Montoro diz que esses são os orçamentos mais sociais da democracia e o PSOE nega”.
“Assim se intitulava uma matéria de televisão de alguns dias atrás. É sério que informar consiste somente em dizer o que contam uns e outros, e não em relatar com dados e fatos se é mesmo o orçamento mais social, ou não, da democracia?”, reflete Sara Álvarez.
“Judeus dizem que estão sendo massacrados. Goebbels nega”
“O rabino do gueto de Varsóvia denuncia que os nazistas estão massacrando os judeus. Goebbels nega”.
Na África do Sul do apartheid – a que Desmond Tutu comparou com Israel de hoje – a equidistância defenderia esse lead informativo:
“Nelson Mandela denuncia que os negros da África do Sul são vítimas de apartheid. O primeiro-ministro contestou, afirmando que o único racismo que existe no país é aquele praticado pelos negros contra os brancos”.
Aonde está a realidade nestas frases? A equidistância, tão respeitosa, deixa nas mãos do receptor a tarefa de encontrá-la.
Escudando-se nela, numa aparente imparcialidade, certo jornalismo de massas mantém uma posição contínua, reproduzindo narrativas marcadas pelo pensamento dominante e abandonando o compromisso que este ofício exige com os mais fracos.
Não se pode tratar por igual aquele que bombardeia e aquele que é bombardeado, o assassino e a vítima, o estuprador e a mulher estuprada, o opressor e o oprimido, o ocupante e o ocupado, nem dar a mesma credibilidade a uma cifra e a seu contrário.
Ser jornalista é tomar partido pela verdade, estar do lado das vítimas, dos direitos humanos, da justiça. Todo o resto não é jornalismo, é reprodução de propagandas.
Permito-me citar Kapuscinki: “O verdadeiro jornalismo é o intencional”. Nesta intencionalidade, neste desejo de defender um mundo melhor, com uma balança mais equilibrada, reside a nobreza do ofício.
Dizia o escritor francês Albert Camus que há épocas em que toda indiferença é criminosa. Não denunciar os níveis de injustiça, desigualdade e abusos aos que estamos chegando na atualidade, passar por eles na pontinha dos pés, implica fazer parte de um silêncio cúmplice. E, no fim das contas, o medo de tomar partido acaba criando monstros.
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Olga Rodriguez é jornalista e escritora espanhola, vencedora de diversos prêmios jornalísticos por suas coberturas no Oriente Médio. Texto publicado originalmente no El Diário.
Traduzido por Gabriel Brito, jornalista do Correio da Cidadania. |
ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO EM TERÇA, 27 DE NOVEMBRO DE 2012 |
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