Os minúsculos apartamentos parisienses

Enviado por Antonio Ateu
 
Da Vice
 
Conheça os Parisienses que Pagam Pequenas Fortunas para Morar em Apartamentos Microscópicos

https://www.youtube.com/watch?v=EhA-fH5N5N4

O autor em sua sala.

junho 17, 2015

por Fotos por FELIX MACHEREZ

Há vários casos de alugueis absurdos, no Brasil e na gringa. Londrinos, nova-iorquinos e são-franciscanos podem até reclamar de seus aluguéis abusivos, mas os parisienses geralmente lidam com espaços ainda menores – mas, mesmo em seus quartos diminutos, eles ainda conseguem parecer despreocupados com essa falta de metros quadrados.

Antes de me mudar para Paris, eu morava no meio do deserto na Califórnia e pagava cerca de US$ 250 (R$ 780) mensais por uma casa de seis quartos. Antes disso, morei em Réunion Island – um lugar onde a mera noção de viver entre quatro paredes quase não existia.

Faz cerca de um ano e meio que me mudei para a capital francesa, onde atualmente alugo um apartamento extremamente compacto que me custa uma pequena fortuna. Tento ficar fora de casa o máximo possível porque, quando estou no meu apartamento, sinto como se as paredes estivessem grudadas na minha pele. Viver assim me deu a ideia de fazer uma série documentando o que os franceses chamam de Chambres de Bonne, ou “quarto de empregada”.

Os quartos de empregada são espaços pequenos no último andar de prédios de apartamentos que foram divididos em pequenos estúdios. Eles apareceram em Paris por volta de 1830 e eram um grande exemplo da hierarquia social da cidade: os ricos viviam em grandes apartamentos nos andares mais baixos, enquanto os servos moravam em quartos bem mais humildes escada acima. Hoje, esses quartos de empregada geralmente são alugados por jovens estudantes sem muito dinheiro ou pela classe trabalhadora baixa. Muitas vezes, esses quartos têm exatamente a metragem mínima autorizada pela lei francesa: uma área de 8,91 metros quadrados. Curioso em conhecer o tipo de pessoa que mora nesses quartos hoje em dia, pedia a alguns amigos e vários estranhos para visitar a casa deles e conversar sobre a quantia exorbitante que eles pagam para viver aqui.

Cathé (estudante) em seu apartamento de 8,91 metros quadrados. Ela paga cerca de R$ 1.700, fora as contas.

Cathé veio do Uruguai. Ela vive em Paris há cerca de quatro anos e se formou recentemente em Artes Plásticas. Ela decidiu ir aoSudeste Asiático no ano que vem porque, como ela diz, “As pessoas de Paris correm mais rápido que o próprio tempo. Tudo caminha muito rápido. Tenho de sair desse tornado”.

Somos amigos há um ano, mas essa foi a primeira vez que visitei a casa dela. Vendo as imagens psicodélicas coladas nas paredes, entendo por que a personalidade dela não é muito compatível com uma cidade agitada como Paris.

 

Arnaud (estudante) em seu apartamento de 9,94 metros quadrados no sétimo andar. Ele paga aproximadamente R$ 1.240 mais as contas.

Arnaud foi o terceiro locatário que fotografei. Ele tem duas paixões na vida: baladas e escalar. Acesso fácil ao telhado foi decisivo para que ele assinasse o contrato de aluguel. Os telhados de Paris são tão bons para escalar quanto para tomar umas cervejas.

No dia em que nos encontramos, ele não tinha nada para beber; além disso, estávamos com preguiça de descer e subir os vários andares para comprar alguma coisa. Então, fomos dar um passeio pelos telhados.

Johanna (estudante) em seu apartamento de 11,98 metros quadrados. Ela paga R$ 1.650, fora as contas.

De todas as pessoas que visitei, Johanna era a mais bem instalada. Seu estúdio parece maior que os 11,98 metros quadrados: o apartamento é tranquilo, com um teto alto e uma janela bem grande que ilumina o quarto. Ela também pode jantar no telhado com uma vista incrível da cidade, que foi exatamente o que fizemos antes de tirar a foto dela.

 

Dominique em seu apartamento de 8,91 metros quadrados no quarto andar. Ele é o proprietário.

Juntamos mais e mais coisas conforme envelhecemos. Esse parece ser o padrão da vida. Porém, quando você vive num quarto de empregada, minimalismo com certeza é preferível ao acúmulo de posses. Dominique foi a pessoa mais velha que conheci enquanto fazia essa série; logo, eu estava ansioso para ver o estúdio dele. Ele é um ilustrador que faz vários trabalhos por fora para ganhar um dinheiro extra.

Ele explicou que comprou esse apartamento alguns anos atrás. Para ele, alugar é “jogar dinheiro num buraco infinito”. Ele reformou todo o espaço e até conseguir colocar uma banheira em seus 8,91 metros quadrados. Ele me contou com orgulho que gosta de assistir a TV enquanto toma banho.

Clara (au pair) em seu apartamento de 9,94 metros quadrados no terceiro andar.

Clara é uma au pair sueca apaixonada por moda. A situação dela é muito parecida com a de 1830: ela trabalha para os proprietários ricos que moram no primeiro andar de seu prédio. Ela não paga aluguel, mas em troca tem de cuidar das crianças da família.

 

Ghislain (estudante) em seu apartamento de 9,94 metros quadrados no quinto andar. Ele paga cerca de R$ 1.710, fora as contas.

Ghislain não ligava que eu fotografasse seu apartamento, mas não conseguia entender por que eu queria que ele estivesse na foto. Ele não ficou feliz em ser parte da série, mesmo quando expliquei que queria que os locatários estivessem presentes.

Na verdade, acho que, sem ninguém para personificar esses espaços, essa série não teria funcionado: Sem ele, esse quarto podia ser apenas parte de um hotel tosco.

 

 

Roksana (recepcionista de hotel) em seu apartamento de 7,98 metros quadrados. Ela paga R$ 1.820.

É ilegal alugar um espaço com menos de 8,91 metros quadrados, a menos que o seu volume seja de 6,99 metros cúbicos. Esse era o caso desse quarto, que parecia mais uma jaula humana. Em situações assim, cada centímetro tem de ser utilizado cuidadosamente.

Roksana é polonesa e adora cozinhar e receber os amigos. No entanto, sua quitinete não é exatamente ideal para oferecer jantares.

 

 

Anca (jornalista) em seu apartamento de 16,9 metros quadrados no quinto andar. Ela paga cerca de R$ 2.090, fora as contas.

Anca é norte-americana. Ela estava em Paris procurando emprego quando conseguiu esse apartamento “por sorte”. Apareci na porta dela às 9 da manhã, logo antes de ela sair para o trabalho.

Dos quartos que fotografei, o dela era o mais espaçoso. Foi estranho me pegar pensando “Caramba! 16,9 metros quadrados – isso que é sorte!”.

Victorienne (modelo) em seu apartamento de 13,93 metros quadrados no quarto andar. Ela paga aproximadamente R$ 2.090.

Notei logo de cara que as coisas de Victorienne estavam posicionadas muito simetricamente. Tomei muito cuidado para me sentar numa cadeira sem estragar todo o arranjo.

Tomamos chá. Quando expliquei meu projeto de fotos, ela entendeu imediatamente. Ela se sentou na cama e posou para mim com a xícara de chá nas mãos.

Saque mais o trampo do Felix em seu site.

Tradução: Marina Schnoor

http://www.vice.com/pt_br/read/conheca-os-parisienses-que-pagam-uma-pequena-fortuna-para-morar-em-apartamentos-microscopicos

Redação

13 Comentários

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  1. Antonio Ateu, meu filho mora em São Paulo, capital, e vive

    de forma bem semelhante, fica bem pouco em casa, pelos mesmos motivos.

    A cada dia tem que gastar mais para sobrevicer, veja bem, sobreviver em Sampa.

    Até que possa ir-se, Deus sabe pra onde.

    1. Não é a mesma coisa.

      Em Paris o transporte coletivo a média distância funciona e funciona bem, é só pegar um RER – (Réseau Express Régional) e rapidamente estará em qualquer local de Paris.

      São trens confortáveis, rápidos e com conexão com o Metrô que tem dezenas de linhas, não tem nada próximo a isto nas cidades brasileiras.

  2. Faz muito tempo –

    Faz muito tempo – infelizmente, perdi o link – li uma pesquisa francesa que afirmava que, na média, uma família parisiense – casal com dois filhos – vivia em 32 m2. Em se baseando em alguns amigos que vivem por lá, é a pura realidade. Viver na cidade-luz é desejo caríssimo.

  3. Se eu moro, aqui em minha

    Se eu moro, aqui em minha cidade, em um apartamento pequeno de 2 quartos! Meu Deus, a americana Anca deve estar morando na minha sala de estar, que já acho minuscula.

  4. Agora, porque não moram no subúrbio.

    Paris é considerada a região que fica entre as antigas muralhas da Cidade (atual via periférica), é possível morar a poucos minutos de deslocamento fora de Paris e pagar muito menos por uma área maior.

    Olhei no GOOGLE um apartamento a 22km do centro de Paris (L’etoile), é possível alugar um imóvel com 53m³ (F3) com dois quartos, por 900 Euros (com taxas). Foi o primeiro que encontrei, provavelmente há mais próximos e mais baratos.

    O mais engraçado de tudo isto é que em 1991 a ex-primeira ministra Édith Cresson, do governo socialista de Mitterrand debochou do modo de vida dos Japoneses dizendo que os mesmos “viviam como formigas”, o que ocorre que grande parte dos “Parisienses” moram nos dias atuais pior do que formigas.

  5. Endereço

    Morar dentro do espaço contornado pela via periférica, em Paris, é muito dispensioso mesmo. Não digo caro, porque vale a pena se considerar o custo x benefício. Mas, fora dessa área, os espaços são maiores e os preços bem menores. Sem contar que o transporte público é rápido e eficiente, porque privilegia o serviço e não o lucro. Claro, é estatal. 

  6. Moram como ratos, somente para dizer que moram e Paris.

    Desculpem-me, porém quem mora em Paris nestes cubículos não tem nada a reclamar, o sistema de transporte coletivo na região Parisiense é rápido, confortável e só quem paga caro são os turistas, tem abono disto abono daquilo para todos.

    Logo, morar em Paris é uma verdadeira cretinice para quem quer este “status”.

  7. que inveejaaa! quanta felicidade

    que inveejaaa! 

    quanta felicidade

    um cantinho lar doce lar

    na eterna paris: [ só pra mim ] e a

    cidade iluminista a minha sala de estar.

    1. A cidade não é iluminista coisa nenhuma.

      Paris como é nos dias atuais é uma concepção do Barão Haussmann, o conhecido artista demolidor, era um nobre do tempo de Napoleão III, que fez os famosos boulevards simplesmente para as tropas do exército pudessem atirar de canhão contra futuros revoltosos.

      Logo a cidade por si só não tem nada de excepcional. Quanto a cultura é uma cidade em decadência em relação ao seu passado, mas para quem gosta de recordar aquilo que nunca viveu é a cidade perfeita.

  8. Quero uma casa no campo….

    🙂 Seus invejosos! Queriam todos um cafofo desses em Paris, não é,!  Falando sério, Paris anda muito poluida e cheia de sujeira, de cocô de cachorro pra tudo quanto é lado e a vida é stressante mesmo. Vontade de me aposentar e ir viver no… Rio. Que esta pela hora da morte!!!!!!!!!!! Os preços imobiliarios tão ou mais caros que em Paris. Vou pra Minas, que Minas ainda Ha!

    1. Não tenho a mínima saudades!

      Desde 1972 já fui para França e Paris várias vezes. Morei na França três anos e meio, na província em um local apartamento muito melhor e mais barato do que estes aí, pequena vila agradável. Seguindamente ia a Paris, não acho o Ó do Borogodó, é muito subdesenvolvimento cultural ficar OHHH!, que lindo, OHHH eu queria um apartamentinho destes.

      Se verificarem poucos franceses moram nestes cafofos, não ficam dizendo. OHHH é Paris!

      1. Ai ai ai ai, como dizem as

        Ai ai ai ai, como dizem as crianças na França. Disse a mesma coisa que você veio dizer abaixo, Como comecei com uma brincadeira……….  Não ficou obvio? So que morar em Paris, apesar dos pesares, tem muitas vantagens, principalmente para quem gosta de artes. E para as crianças é sensacional a oferta de atividades e os muitos parques da cidade na primavera-verão são extensão das “cafofos”…  pode ser um lugar bom ou ruim, depende de cada experiência.

         

         

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