Delegacia da Mulher, por Clara Averbuck

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Enviado por Fernando J.

por Clara Averbuck, em seu perfil no Facebook

Uma amiga foi agredida pelo marido e hoje fomos prestar queixa na 1a delegacia da mulher, no centro.

Nada me tira da cabeça que aquele lugar foi feito para que as mulheres desistam de fazer denúncia. Começa com um homem te atendendo, um policial civil de meia idade que olha bem na sua cara e pergunta: mas o que aconteceu? Ali mesmo na recepção, sem nenhum acolhimento, nenhum tato, bem alto, sem nenhuma privacidade. Só de ficar ali sentada fiquei sabendo das histórias das mulheres que chegavam lá e que encolhiam cada vez que ele fazia essa pergunta. Parecia mesmo que era de propósito, ele perguntava ALTO, era muito desagradável. sei que o procedimento padrão de uma delegacia é esse, mas na delegacia da mulher deveria ser diferente, a pessoa não vai lá relatar roubo de celular ou furto de carro, é uma delegacia voltada exclusivamente a tratar da violência contra a mulher. só pra começo de conversa, a pessoa que atende não deveria ser homem, né?

Mas piora.

Tinha um grupo de bolivianas esperando pra fazer BO. Uma delas estava sendo ameaçada pelo marido, que dizia que ia meter uma bala na cabeça dela e ia levar o filho pequeno, de um ano e meio, embora do país. Estava ameaçando as tias e primas dela também, todas presentes na delegacia. Ocorre que a escrivã não falava espanhol e não tinha NENHUMA paciência pra ouvir a mulher, apenas fazia “HEIN?” com cara de asco. Minha amiga fala espanhol e tentou intermediar a conversa, e a boliviana ameaçada contou a ela que já tinha ido outra vez na delegacia mas a escrivã se recusou a fazer o BO pois não quis nem se esforçar pra entender. Aí o pai delas, que chegou da bolívia há 4 meses, veio nos contar que as filhas trabalharam em um galpão fechado no brás por quatro meses e o cara não queria pagar. Ele não sabia que no Brasil existia defensoria pública e estava negociando com um advogado para que o sujeito que devia às moças pagasse (?!). Falamos pra ele ir no fórum criminal e explicar a situação. Enquanto isso, o homem que nos atendeu olhava tudo em um misto de desgosto e descaso.

Que PESADELO, caras.

Essa delegacia não podia ser assim. Essas pessoas que nos atenderam não deviam ter contato com as vítimas. Fico imaginando quantas delas desistiram e foram embora sem serem atendidas, sem fazer B.O., sem atendimento, sem chance de fazer justiça.

QUE MUNDO. Que país. Que merda.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

11 Comentários

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  1. Não sei onde foi esse atendimento

    Mas infelizmente é a realidade de muitas delegacias da mulher no país. São lugares intimidantes, hostis, mal-ajambrados.

    Em vários lugares a situação é diferente. Aqui em Brasília, por exemplo, já levei uma moça agredida pelo namorado à delegacia da mulher. Somente mulheres atendiam, a delegada logo a levou pra uma sala reservada, eu não entrei além do balcão e só fui chamado pra assinar uma notificação de que, como testemunha, eu deveria comparecer e depor quando fosse chamado.

    Havia policiais homens, mas a escrivã me explicou que eles só atuavam quando requisitados pelas delegadas, geralmente para conter os denunciados mais exaltados.

    Mas infelizmente em muitos lugares chefes de polícia e secretários de segurança obtusos e ultrapassados ainda insistem em manter essas delegacias da mulher no estilo anti-mulher…

  2. delegacia da mulher

    Sei de um caso aqui no ABC paulista (não sei exatamente em que delegacia, portanto não posso afirmar com certeza) em que as mulheres em vez de acolhidas são intimidadas, como no caso relatado acima. E como se a propria autoridade encarregada de proteger as mulheres lhes jogassem na cara : mulher tem mesmo é que apanhar.

    Parece que os piores burocratas, os policiais e as policiais mais vagabundos e machistas, são deslocados para estas delegacias. Assim o dicurso oficial, a política das casas de acolhimento que aparece na televisão soa falso e hipócrita. Mesmo que o governo federal não tenha nada a ver com isto, pois as policias são responsabilicade dos governos estaduais. Deveria haver uma formação específica para as policiais encarregadas de tocar as delegacias de mulher e elas além de profissionais, deverima ser militantes da causa femina e não os burocratas vagabundos que normalmente estão à frente delas

     

  3. delegacia da mulher

    Sei de um caso aqui no ABC paulista (não sei exatamente em que delegacia, portanto não posso afirmar com certeza) em que as mulheres em vez de acolhidas são intimidadas, como no caso relatado acima. E como se a propria autoridade encarregada de proteger as mulheres lhes jogassem na cara : mulher tem mesmo é que apanhar.

    Parece que os piores burocratas, os policiais e as policiais mais vagabundos e machistas, são deslocados para estas delegacias. Assim o dicurso oficial, a política das casas de acolhimento que aparece na televisão soa falso e hipócrita. Mesmo que o governo federal não tenha nada a ver com isto, pois as policias são responsabilicade dos governos estaduais. Deveria haver uma formação específica para as policiais encarregadas de tocar as delegacias de mulher e elas além de profissionais, deverima ser militantes da causa femina e não os burocratas vagabundos que normalmente estão à frente delas

     

  4. E QUEM NOS PROTEGE DA POLÍCIA?

    Está pichado no prédio da melhoramentos, aqui na Vila Romana, em Sampa. Toda vez que paro ali no farol vejo essa frase. Tem suas verdades…

  5. Minha diarista contou-me ano

    Minha diarista contou-me ano passado que mal chegara em casa após trabalhar mais um dia no pesado e encontra seu marido na porta, com a banca montada, bebendo com companheioros de copo. Mal ela abriu a boca pra falar qualquer coisa, o cara se levantou, e na frente de todos, enfiou-lhe a mão contra seus olhos – ela chegou aqui quase uma semana depois com marca de sangue em um dos olhos. Perguntada por que não teria levado o caso a ua delagacia, ela disse que levou, mas escutou isso de um policial: “Minha senhora, eu sou um homem muito ocupado. Pelo amor de Deus, a senhora vir aqui pra me aborrecer por ter levado uma tapinha do seu marido?” Nem conseguiu fazer BO, nem coisa nenhuma, mas decidiu separar-se do canalha, e está viva.

    Piores são os inúmeros casos em que as mulheres voltam inúmeras vezes às dlagacias, e mesmo registantrando 8, 9, 10, e não sei mais quantos B.O.’s, terminam fuziladas, como se deu com uma cabeleireira em São Paulo: levou 08 tiros no seu salãod e beleza, quando era pro bandido ficar a alguns metros de distância dela. Medidas sem futuro.

    Elízia Samúdio é outro exempl típico. Parece não ter tido dificuldade em abrir um B.O. Por outro lado, outra medidas não foram tomadas para preservar a vida dela, e deu no que deu. E, pra variar, ainda tem a Record, num programa sensacionalista, nojento, de Gugu, que hoje entrevista Bruno, bandido frio e calculista, como se ele merecesse espaço na televisão para chorar, e dizer que nao teve nada com a morte daquela moça, até ao ponto de parecer ser um cara bonzinho.

    Tenho muito nojo desse machismo brasileiro, e principalmente quando ele chega a manifestar-se dentro de uma delagacia, provando a todos nós que a mulher brasileira ainda precisará caminhar muitas estradas pedregosas, calejando seus pés até sangrar, e quem sabe, um dia, possamos ver justiça contra essa corja de homens covardes sentirem na pele o que fazem contra a mulher brasileira.

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