Desembargadores divergiram sobre afastar Appio e apreender aparelhos eletrônicos

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Corregedor do TRF-4 não havia recomendado apreensão de todos os aparelhos eletrônicos funcionais de Appio

O desembargador Roger Raupp não viu necessidade de afastar Eduardo Appio preventivamente. Foto: Divulgação/TRF4
O desembargador Roger Raupp não viu necessidade de afastar Eduardo Appio preventivamente. Foto: Divulgação/TRF4

Houve divergência no colegiado da Corte Especial Administrativa do TRF-4 que analisou o pedido cautelar de afastamento do juiz Eduardo Appio da 13ª Vara de Curitiba, em virtude de uma ligação feita para o filho do desembargador Marcelo Malucelli, que tem relações íntimas com Sergio Moro.

Os desembargadores Celso Kipper, Paulo Vaz, Victor Laus e Roger Raupp não concordaram com o afastamento preventivo de Appio sem que ele tivesse a chance de apresentar defesa. Foram 4 votos vencidos, entre os 17 membros do colegiado que participaram do julgamento.

“(…) não se anunciam presentes as circunstâncias apontadas como justificadoras de deliberação sem oportunizar, ainda que de modo sumário, o exercício do direito de defesa e do contraditório”, observou Raupp.

Da mesma forma, os desembargadores Celso Kipper e Roger Raupp, além do relator e corregedor Cândido Alfredo Silva Leal Júnior, também divergiram da maioria que votou para apreender e lacrar os celulares e os computadores funcionais utilizados por Appio.

Computador de mesa

O relator Leal Junior só havia recomendado ao colegiado que o computador de mesa do gabinete de Appio fosse removido e custodiado. A ideia de estender a medida para todos os aparelhos eletrônicos usados por Appio no exercício da função foi da desembargadora Salise Monteiro Sanchotene, seguida pela maioria.

Appio foi afastado pela maioria da Corte Especial Administrativa do TRF-4 na noite de segunda (22). O juiz tem 15 dias para apresentar sua defesa. O colegiado vai analisar se abrirá um processo administrativo disciplinar para apurar infrações disciplinares de Appio. O Conselho Nacional de Justiça também foi notificado.

Appio é suspeito de ter acessado o sistema interno da justiça federal para pegar o telefone de João Eduardo Malucelli, sócio e namorado da filha de Sergio Moro, e filho do desembargador Marcelo Malucelli, do TRF-4.

Em posse do contato, Appio teria ligado para João Eduardo e travado um diálogo em que tenta confirmar a filiação com o desembargador.

O dedo de Moro na denúncia

João Eduardo gravou a ligação e entregou o material do ex-juiz Sergio Moro, que revelou essa etapa da construção da acusação contra Appio em entrevista ao vivo à GloboNews, na tarde desta terça (23).

Nos autos, porém, o nome de Moro sequer é citado. Consta que foi o desembargador Malucelli quem levou o caso ao TRF-4 em abril, alegando ter sido alvo de tentativa de ameaça ou constrangimento.

A pedido do TRF-4, a Polícia Federal periciou a gravação e concluiu que há grande probabilidade de a voz ser de Appio. Além da perícia, há evidência de que Appio teria obtido o telefone de João Malucelli ao acessar, duas vezes, um processo onde Rosangela Moro advoga. Rosangela e João Malucelli são sócios e o e-mail que constava no processo acessado por Appio, inclusive, prova isso: [email protected].

Sergio Moro agora afirma que Appio ligou para João na tentativa de levantar informações para enquadrar o desembargador Malucelli. No relatório do corregedor do TRF-4, a motivação de Appio seria o fato de que Malucelli deferiu, um dia antes do telefonema, o andamento de correições parciais contra o novo juiz da Lava Jato.

Confira, abaixo, o nome dos desembargadores que participaram do julgamento:

Ricardo Teixeira do Valle Pereira (Presidente)
Maria de Fátima Freitas Labarrère
Paulo Afonso Brum Vaz
Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz
Victor Luiz dos Santos Laus
João Batista Pinto Silveira
Celso Kipper
Luciane Amaral Corrêa Münch
Cândido Alfredo Silva Leal Júnior (Relator e Corregedor Regional)
Sebastião Ogê Muniz
Vânia Hack de Almeida
Roger Raupp Rios
Salise Monteiro Sanchotene
Luiz Carlos Canalli
Taís Schilling Ferraz
Luiz Antonio Bonat
Marcelo De Nardi

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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

7 Comentários

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  1. Lei é lei e as regras devem ser respeitadas, sem distinção. Mesmo que seja contra o lado podre do embate, o uso o devido das armas causa certas punições. A defesa ainda será feita e seja qual for o resultado, ninguém poderá reverter o estado podre de um dos lados para transformá-lo em lado saudável. Se consolidar a substituição de Appio, o processo não para e não muda. Tacla Duran apresentará suas provas/denúncia e só uma intervenção repugnante criminosa e desmoralizadora de todo o Sistema Judiciário poderá golpear, pelas costas, a honra e a credibilidade da Justiça brasileira.
    Já passou da hora de ficar segurando a linha que deram a suspeita justiça Paraná. O que se tem a fazer é cortar a linha e deixar que os indignos se lasquem ou assistir a decadência degradada, desacreditada e merecidamente humilhada da justiça aprisionada pelos cochavos repugnantes do corporativismo delinquente.

  2. Este esforço para impedir que se investigue a lava jato já demonstra que há algo de podre no ar.
    Aquilo não é tribunal, é quadrilha.

  3. Não está muito claro essa história, mas até que seja toda esclarecida temos alguns pontos para basear nossas opiniões: 1 – Tudo o que vem dessa turma de Curitiba é bom que se faça um tripla checagem, nunca foram confiáveis, desde o conluio entre juízes e procuradores, delações forçadas, provas ilegais, escutas clandestinas, o desembargador que não leu a sentença mas a achou irretocável. A lista é enorme; 2 – O juiz estava incomodando certos setores lavajatistas e precisava ser retirado; 3 – Toda a gravação parece que foi armada, desde quando alguém liga de um número sem identificação e quem atende já grava de um outro celular? Estavam esperando? E a fala em que afirma no meio da ligação que é o juiz Appio? Se alguém me liga de número sem id eu cancelo na hora, e eu sou um cidadão comum; 4 – De acordo com o Kakay, pode até ser verdade, mas não grave o suficiente para ensejar o afastamento; 5 – Qual seria o motivo para tal atitude? Os meios e a oportunidade parece que já arrumaram; 6 – Em sendo verdade, que seja punido de acordo com o delito. Teve um juiz que gravou uma presidenta da república e publicou o áudio e somente bastou um pedido de escusa. Nos EUA o juiz provavelmente estaria em Guantánamo por uma atitude dessa; 7 – Em sendo uma acusação falsa deverá ser dada uma punição para que isto não ocorra nunca mais, a imagem da justiça brasileira está na lama e se confirmado uma armação piorará ainda mais. Mas do jeito que é essa turma, será mais um pedido de escusa e tudo voltará ao seu “normal”.

  4. Abre-se um precedente contra toda a magistratura. Segura, Appio. Eles estão tão desesperados para continuarem com seus glúteos escondidos que eles mesmos vão acabar expondo-os na vitrine da hipocrisia e do desespero.

  5. Apreender os aparelhos eletrônicos do Eduardo Appio abre um precedente contra todos os Magistrados. A caixa de pandora pode ser devassada. Olha a podridão

  6. Segundo a decisão que afastou o juiz Eduardo Appio, ele acessou não os autos do processo, mas acessou o próprio processo no qual consta o número de telefone do filho de um dos desembargadores do TRF-4, kkkk, e não uma, mas DUAS VEZES, e, pior, não em HORAS muito próximas àquela da ligação telefônica suspeita, mas em HORÁRIO muito próximo àquele da ligação telefônica suspeita, e após esses DOIS ACESSOS, o juiz Eduardo Appio ligou para o rebento do desembargador, ameaçando, intimidando ou constrangendo o desembargador através de seu filhote. Tem mais: Numa escala até +4, a voz do suposto Eduardo Appio (ou seria a suposta voz do Eduardo Appio?) tem semelhança +3 com a voz do Eduardo Appio. O suposto Appio se identificou como “Fernando Gonçalves Pinheiro” e justificou estar usando o sistema skype para economizar valores da Justiça Federal na ligação. Ora, bolas, vejam só: Se no TRF-4 tivesse algum servidor de nome “Fernando Gonçalves Pinheiro”; se tivessem acessado o processo (e não os respectivos autos do processo) no qual consta o número do telefone do filho do desembargador apenas UMA VEZ; se tivesse no TRF-4, em âmbito institucional, política de contenção de despesas relativa à ligações telefônicas; se a suposta voz do Eduardo Appio não fosse 75% semelhante à voz do Eduardo Appio; se o filho do desembargador que recebeu a ligação não tivesse entendido que a mencionada ligação era CAPAZ de “evidenciar ameaça”; se a ligação telefônica suspeita não tivesse sido interrompida abruptamente, sem qualquer justificativa, então o Eduardo Appio não teria sido afastado das funções jurisdicionais da 13ª Vara Federal de Curitiba. Mas não. Então vocês querem o que, hein? Vão às putas que os deram à luz e cuidaram de vocês com amor e carinho

  7. Vou invocar meu lado noveleiro agora:

    O Senador Moro seria pra mim o equivalente dramatúrgico à Bia Falcão, personagem antagonista vivida pela Grande Fernanda Montenegro da novela Belíssima. A única diferença, talvez pela qualidade da atriz, é que a vilã ainda me gerava simpatias, ao passo que a ardilosidade e a personalidade vazia do Moro, me gera asco! Ambos articulam planos e não medem quaisquer esforços para conseguirem o que quer! As assinaturas invisíveis do Moro estão presentes na maioria dos ofícios e decisões tomadas pelo TRF-4, não tenho dúvida disso. O que ele não tem de prova para acusar, ele tem de si, para nos mostrar o tipo de pessoa que ele é. Suspeito que seu coronelismo pelo TRf-4 só acontece por que muita gente lá dentro tem o rabo preso e não necessariamente são alinhados ideologicamente com o boquinha de CD (é uma suspeita bemmmmm distante). Talvez, os desembargadores saibam do que o Moro é capaz para vender a imagem de bom moço, algoz da luta contra a “cupção”. Algo igualmente comparável ao jeito norte-americano de fazer as coisas!

    Se no final, tal como a Bia Falcao, a PF não bater na porta do ex-juiz e este fugir em um avião para algum outro país, eu não ficarei nada surpreso!

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