Drummond e as coisas tangíveis e findas

Sugerido por jns

Carlos Drummond de Andrade

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

 

Redação

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  1. As Flores do Mal

    Intangível

    Quero-te como quero à abóbada nocturna, 
    Ó vazo de tristeza, ó grande taciturna! 
    E tanto mais te quero, ó minha bem amada, 
    Por te ver a fugir, mostrado-te empenhada 
    Em fazer aumentar, irónica, a distância 

    Que me separa a mim da celestial estância. 
    Bem a quero atingir, a abóbada estrelada, 
    Mas, se julgo alcançar, vejo-a mais afastada! 
    Pois se eu adoro até – ferro monstro, acredita! – 
    O teu frio desdém, que te faz mais bonita! 

    Charles Baudelaire, in “As Flores do Mal” 
    Tradução de Delfim Guimarães

  2. Entre o tangivel e o inatingivel

    Trecho de Fernando Pessoa, do “Livro do Desassossego”, em que Pessoa se expressa sobre seu estado de espirito por vezes.

    “E assim sou, futil e sensivel, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é uma tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre…”

    1. Clariceando Lispector

      A Hora da Estrela 

      “… o vazio tem o valor e a semelhança do pleno. Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é o de não pedir e somente acreditar que o silêncio que eu creio em mim é resposta a meu – a meu mistério”,

      ‘A Hora da Estrela’ que é, também, uma despedida de Clarice Lispector, foi lançada pouco antes de sua morte em 1977.

      “Minha alma tem o peso da luz.  Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.”

      Clarice escreveu o seu último bilhete no leito no Hospital da Lagoa, no Rio de Janeiro, no dia 7 de Dezembro de 1977.

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